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3 de abril de 2007

O inferno.


"O amor é um sanguessuga, sugando você por inteiro.O amor é um vampiro, bêbado pelo seu sangue. O amor é a besta que vai arrancar seu coração".


Oi.


Sim, é apenas um sonho. Para que você pense após acordar, me entende?Você tem medo de morrer? Ou tem medo do que vem após a morte?Posso lhe contar sobre o inferno, se você quiser ouvir. Quer saber se é um lugar feio? Aqui existem lugares lindos também... iguaizinhos ao paraíso. Mas acho que servem apenas como lembrança, para você saber o que perdeu, sei lá... O que faz do inferno o pior de todos os lugares é a repetição. O inferno é pura repetição.O que eu quis dizer com isso? Bem... você fuma? Então, seria melhor considerar parar, você não imagina o que é passar a eternidade com um cigarro colado aos lábios. Aqui sofremos uma punição de acordo, parece ser uma coisa justa até, sabia?Quem eu era antes de estar aqui? Pouco importa. Eu também não fiz grandes coisas para merecer este lugar... Lembro-me de ter sido declarado um fornicador, essa foi minha ruína. Mas até que foi ameno. Fico com medo quando vejo os pervertidos sexuais. Eles gritam o tempo todo, sabe? É horrível.E aquela estória de suas tripas serem devoradas por monstros, você ser açoitado por chicotes e tridentes, arder em chamas brandas até o fim dos tempos? Calma, não se preocupe, isso não existe. As coisas são piores. Por exemplo, dia desses encontrei por aqui uma menina linda, linda mesmo. Só que a pele dela era azulada, as unhas roxas, os olhos levemente saltados das órbitas, e, coitada, ela não conseguia guardar a própria língua dentro da boca. Triste sina para uma suicida.Fui humano um dia, sim. Era um fornicador, como já citei antes. Ganhei esse singelo apelido de meus novos amigos, se bem que às vezes até parece ser um título, sei lá... Era um senhor rico, cheio de posses, numa época de superstições, lendas e ignorância.Eu era rico o suficiente para ser abençoado pela igreja, e assim ela fazia vista grossa para minhas excentricidades. Fui muito feliz na minha vida terrena, com dinheiro, status e todas as mulheres do mundo conhecido. Sim, sim... bons tempos. Mas o diabo dá com uma mão e toma com a outra.Era uma noite quente, fora dos padrões, quando eu vi uma agitação fora dos muros de minha casa, no campo, mas ainda dentro de meus domínios. Fiz meus servos averiguarem o que acontecia, pois vi algumas fogueiras acesas, parecia até algo da maldita, e não santa, inquisição.Um servo me disse que uma dócil camponesa estava se casando naquela noite. Os noivos estavam comemorando.-Traga essa mulher para mim. Será minha, antes de ser do marido.Meu servo engasgou seco, mas cumpriu a ordem. Do alto de minha casa, observei toda a ação, a indignação dos camponeses, que só faziam trabalhar de sol a sol para mim.Em menos de vinte minutos, eu estava olhando para a jovem camponesa. Era bela, apesar do olhar furioso. Devia ter entre dezoito a vinte anos. Era loura, a pele dourada de sol, mãos pequenas, porém calejadas do trabalho diário. Tinha algumas cicatrizes pelo corpo, e um jeito rude e dócil ao mesmo tempo de se mexer.-Sabe que posso transar com você antes de seu marido, não? É um direito meu. Sou dono de vocês todos.-O senhor pensa que pode tudo. Tolo. Não sabe com o que está se metendo. Irá pagar por isso. Farei seu jogo, mas sua alma pagará por isso.Eu não temia mais aquelas ameaças vazias de camponesas. A maioria delas se diziam bruxas e que me amaldiçoariam, mas nunca nada me aconteceu. Não por bruxaria de camponesas. Uma delas, quando estava pendurada na forca, tudo o que fez foi pedir clemência e mijar-se toda. Horas antes, tinha me rogado toda uma litânia de pragas e maldições.-Tire as vestes.Estranhamente, ela não tirou. Ao contrário, veio para cima de mim, e começou a tirar as minhas. Como estávamos à sós nos meus aposentos, ela parecia mais... solta.Quando eu estava totalmente nu, minha masculinidade exposta, ela começou a se despir. Tinha mais cicatrizes escondidas, aliás, pelo corpo todo. Tinha também duas estranhas marcas nas costas, o que me enojou. Mas a visão daquele belo corpo nu, da penugem macia entre as coxas, loura como seus cabelos, os seios médios, como duas pêras no ponto e as pernas bem torneadas me excitaram.-Venha, senhor. - ela convidou, deitando-se na cama e abrindo as pernas.Minhas amantes todas reclamavam que eu nunca dava muita atenção ao corpo delas, apenas me concentrava em penetrar e me satisfazer. Com aquela camponesa não seria diferente. E, como todas as outras, inicialmente reclamaria do meu pouco caso com o resto do corpo dela, mas depois de sentir-se penetrada, todas se maravilhavam. Eu era muito bem dotado. Agüentava muito tempo também.Porém antes que eu a penetrasse, a mulher me segurou como nenhuma outra fizera antes. Ajoelhada em minha frente, era quase profano. Sentia a respiração quente em minha genitália quando ela sussurrou, quase um gemido:-Pense em mim como um anjinho tocando a flauta celeste, senhor...Nenhuma mulher antes tinha tocado minha intimidade daquele jeito. Ela chupava como uma fruta madura, segurava firme meus bagos, e fazia movimentos tão excitantes quanto estranhos com a boca. E o barulho que aquilo fazia? Nunca sentira nada igual. Por um momento, meu poderoso garanhão que agüentava firme horas de sexo quase se entregou. Estava quase gozando naquela boca, e parecia ser aquilo mesmo que ela queria, pelo olhar com que me encarava de baixo para cima.Segurei firme os cabelos louros, afastando a boca faminta de mim. Ela grunhia, e me puxava pelas pernas para penetrar a boca quente e ávida novamente. O mundo perdeu o sentido por um instante louco, e eu enfiei tudo.Nem um minuto se passou quando me acabei. Poderosos jatos de meu esperma molharam a boca, o queixo, o rosto todo dela, que se deliciou. Era muito estranho comportamento para uma simples camponesa. Mas o calor da cama me fazia esquecer o raciocínio. Ordenei que lavasse o rosto antes de me cavalgar, e ela atendeu prontamente. Eu precisava de tempo para recompor minha virilidade.Podia ser impressão, mas algumas cicatrizes dela sumiram, enquanto sorria. Lavou o rosto, engoliu água em grande quantidade e gargarejou, cuspindo pela janela. Quando ela se encaixou em cima de mim, disse, sorrindo:-Nunca experimentei um tão grosso e grande como o seu. Esses camponeses que o senhor explora são fracos, mínimos, pequenos. Quero ver quanto tempo você resiste.Estranhei ela não ser mais virgem. Geralmente esses camponeses guardam as filhas com cintos de castidade e vigilância cerrada. Por que essa era tão diferente? A maioria das mulheres de meu tempo pareciam peixes mortos, apenas abriam as pernas, raramente se mexiam, ou falavam algo durante o coito... Ela não! Rebolava, gritava, arranhava minha carne, me falava e pedia coisas que só de ouvir sentia vontade de inundá-la com meu caldo.Foi quase uma hora. Eu suava muito, ela estranhamente não. Só mantinha um ritmo em cima de mim. Pedia para eu fazer as coisas mais estranhas possíveis com meu dedo, enquanto abria gentilmente as nádegas para mim. Para uma maldição, estava sendo muito amável.Mas o diabo mora nos detalhes. Quando me acabei pela terceira vez dentro daquelas carnes úmidas, vi claramente as marcas das costas dela sumirem, até por que eu a estava penetrando por trás. Um pânico instintivo me fez gritar e jogá-la longe!Porém, caí na cama, e me vi incapaz de ao menos andar. A mulher veio novamente para cima de mim, sorriso nos lábios, brilho no olhar, quase que dizendo "Você irá pagar".Me excitava novamente, e tirava tudo o que podia de minha masculinidade. Fazia loucuras que eu nunca antes tinha experimentado. Malabarismos, eu via cada ângulo daquela mulher que nem imaginava que existiam.Dormi. Não sei por quanto tempo. Mas quando abri os olhos, após o merecido descanso, um homem estava ao meu lado na cama. Sim, um homem!Tentei levantar, entender o que acontecia, mas ainda me sentia fraco e debilitado. Olhando direito, parecia-se muito com a camponesa. Era idêntico, de fato. Dormia um sono agitado, e eu vi as mesmas cicatrizes no corpo dele.Antes que minha mente trabalhasse, meu aposento foi invadido. Inquisidores. Tudo demorou duas horas. Me torturaram, mutilaram minha genitália, meus dedos foram quebrados em nome de Deus, pois eles queriam uma confissão. Eu não cometi pecado algum, e me mantive em silêncio. Lembrei das palavras da camponesa. A maldição.Trouxeram o motivo de minha desgraça à minha frente, presa. Era a mulher, também mutilada, e bastante ferida. Ouvi dizerem que se tratava de um demônio chamado de Succubus, ou Incubus. Ele me seduziu na forma de mulher, e após manter relações sexuais comigo, se fortaleceu, enquanto eu me enfraqueci. Após o ato, ele se transforma em homem, até que tenha relações sexuais novamente e volte a ser mulher, e assim indefinidamente vive trocando de forma. Também foi dito que se alimenta de energia sexual.-Mas... Se fez sexo comigo e virou homem, com quem mais fez para voltar a ser mulher?Nenhum inquisidor me respondeu. Ao contrário, queimaram minha língua com brasas quentes.Naquele entardecer, três forcas estavam prontas em minha propriedade. Uma era para mim, outra para a succubus que me possuiu, e a terceira, provavelmente para o coitado que transou com o demônio depois de mim. Estávamos em celas separadas, apenas esperando nossa hora chegar...Ao anoitecer, todo o povoado estava de frente para mim. Como sempre estiveram, a única diferença agora era que eu estava pendurado, com a corda no pescoço e eles riam. Ao meu lado, um ex-inquisidor também surrado, pendurado, e na terceira forca, a mulher-demônio. Não parecia nada poderosa agora. Sua arena era no sexo mesmo, onde impunha sua vontade e sua força. Maldita seja que me seduziu!O inquisidor começou por ela. Apesar de saber que se tratava de um demônio verdadeiro, preferia pensar que era uma mulher comum possuída. A ladainha começou, enquanto ele a forçava beijar um crucifixo bento:"Sit haec sancta et innocens creatura, libera ab omini impugnatoris incursu et totius nequitiae purgata discessu. Sit fons vivus aqua regenerans, unda purificans: ut omnes hoc lavacro salutifero diluenti, operante in eis Spiritum Sancto, perfactae purgationis indulgentian consequantur. Unde benedicto te, creatura aquae, per Deum vivum, per Deum verum, per Deum Sanctum: Per Deum qui in principio verbo separavit ab arida: cuius spiritus super te ferebatur."No fim do exorcismo, a mulher cuspiu no Inquisidor. O homem, um velho com cara de santo, tratou de tirar o apoio dela pessoalmente, quase que automaticamente, e o demônio pendurou-se pelo pescoço. Gritou blasfêmias, babou, tentou segurar-se, mas seu pescoço cedeu, e mesmo assim a criatura demorou a morrer, e o velho decidiu que seria melhor queimá-la também.Ganhei mais meia hora de vida, enquanto os inquisidores arrumavam montes de palha embaixo de mim e do outro condenado. Este, aliás, talvez por ter sido um inquisidor como eles, teve uma morte rápida e menos sofrida. Nem chegaram a acender o fogo para ele. Bom, até por que o cheiro da mulher até hoje incomoda minhas narinas. Odeio carne queimada!Eu ainda ouvia os estalos da fogueira da succubus quando o crucifixo foi encostado em meus lábios. O velho me olhou com desgosto, e começou a oração novamente. Quando terminou, perguntou sério:-Você se arrepende perante à igreja de seus pecados, homem?Minha história não seria diferente se eu tivesse dito outras palavras. Disse-lhe que não havia cometido pecado algum, lembrei-o dos meus generosos donativos à igreja que ele tanto prezava, e sorri.Ele sorriu de volta, mas chutou meu apoio enquanto isso. Foi tudo rápido. Dizem que toda a vida passa ante seus olhos no momento derradeiro da morte, mas eu só consegui lembrar de todas as mulheres que possuí na vida, antes de meu pescoço quebrar e as chamas me queimarem...Quando acordei novamente, ganhei lindas asas de anjo negro. Sou um fornicador, e aqui é onde vivo. Pense nisso.Talvez você esteja se perguntando o que faço no seu sonho...? Eu estou sempre com você. Principalmente quando está transando. Sei de todos seus desejos mais íntimos. Seus sonhos, fantasias e perversões. Apenas hoje você descobriu que existo porque eu decidi me mostrar.Ah, como cheguei até você?Bem, os fornicadores eu sinto pelo cheiro... Sempre que alguém deseja um parceiro que não é seu, um homem ou uma mulher alheia, lá eu estarei. Sei tudo sobre fantasias negras, sobre desejos escondidos, sobre traição e culpa.Hoje em dia não existe mais a inquisição. Vivemos numa época cínica, e eu adoro isso. Os culpados fingem ignorância. O pecado se alastra das mais doces maneiras.Mas, chega de devaneios. É hora de você acordar. Pense bem no que anda aprontando de sua vida...

Um comentário:

minha arte disse...

adorei seu blog... fantástico