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1 de outubro de 2011

Autodefesa Psíquica




DISTINÇÃO ENTRE ATAQUE PSÍQUICO OBJETIVO E DISTÚRBIO  PSÍQUICO SUBJETIVO


O psiquismo, ainda que genuíno, é uma causa freqüente de auto-ilusão. Um  sensitivo é invariavelmente muito sensível e sugestionável. Essa é a base de  seus dons. Não sendo o psiquismo um desenvolvimento normal, entre os  europeus pelo menos, o sensitivo é, na linguagem dos engenheiros navais,  “superimpulsionado por sua quilha”. Ele é por isso instável, propenso a  violentas reações emocionais, e em geral exibe aquelas aberrações de conduta  que estamos acostumados a associar aos gênios artísticos. A não ser que um  sensitivo seja treinado, disciplinado, protegido e dirigido por aqueles que lhe  compreendem a constituição, o seu psiquismo não é digno de confiança, pois o  sensitivo é arrastado para onde sopram os ventos. O sensitivo e o neurótico são  muito semelhantes em suas reações à vida, mas o neurótico difere do sensitivo  porque, ao invés de ser superimpulsionado por sua quilha, ele é  subimpulsionado pelas máquinas. O resultado, contudo, é o mesmo — uma  discrepância entre a força e a forma com a conseqüente inabilidade para manter  um controle central, ponderado e diretivo. A técnica da disciplina oculta visa  em grande parte a controlar as forças disparatadas, compensando a sensibilidade  do sensitivo e protegendo-o das impressões indesejadas. Não é bom saber como  se abre a porta do Invisível sem ao mesmo tempo aprender a fechá-la e trancá- la .
 Como se observou na Introdução, é relativamente raro que o Invisível venha em  busca de seres humanos. Como disse a Lagarta a Alice a propósito do Cãozinho,  “Deixe-o em paz, e ele a deixará em paz”. Mas se começamos a estudar o  ocultismo ou mesmo a trabalhar com ele, mais cedo ou mais tarde começaremos  a obter resultados, desde que, naturalmente, os sistemas que estamos utilizando  contenham os germes da eficácia .
 No caso de uma pessoa que está trilhando o Caminho pela primeira vez, o  progresso é necessariamente lento e trabalhoso, mas uma alma que recebeu a iniciação em encarnações anteriores pode reabrir as faculdades psíquicas com  tal rapidez que o problema de manter a coordenação harmónica da  personalidade se torna sério. Ë muito comum uma pessoa que está fazendo seu  primeiro contato com o movimento ocultista sofrer um distúrbio psíquico. Essa  perturbação é às vezes atribuídas às más influências, e às vezes às entidades  malignas. Nenhuma dessas inferências deve ser correta. Há uma terceira  possibilidade, que é responsável pelo maior número de vítimas — o fato de que  a consciência está sendo perturbada por uma força diferente. ~ muito comum  uma criança ficar febril e agitada nos primeiros dias das férias no mar. Ela não  está de fato doente. Mas o ar pesado e a comida diferente e a excitação de seu  novo ambiente perturbam o seu sensível equilíbrio físico. Ocorre o mesmo  quando o neófito sofre um distúrbio no início de sua carreira oculta. As  vibrações incomuns o agitam, e ele tem então um ataque de indigestão oculta.  Em ambos os casos, o tratamento é o mesmo — restrição temporária da dieta  que causou a perturbação .
 Uma outra causa do distúrbio psíquico é a recuperação parcial da memória das  encarnações passadas, se essas incluem episódios dolorosos, especialmente  aqueles que se relacionam com os estudos esotéricos. A entrada de conceitos  ocultistas na mente consciente tende a despertar a memória subconsciente de  experiências similares nas vidas passadas. A emoção que cerca uma lembrança  é invariavelmente recuperada antes da imagem real do acidente. (Esse é um dos  melhores testes para a exatidão das memórias das vidas passadas.) Essa emoção  prefiguradora pode permanecer por um longo tempo no limiar da consciência  antes que as imagens se esclareçam o bastante para se tornarem tangíveis. Se a  emoção que está vindo à tona é de natureza dolorosa, ela pode causar uma  considerável perturbação, e, na ausência de um orientador experiente, pode ser  atribuída a um ataque oculto, ou à percepção psíquica de influências malignas  no grupo oculto ao qual o neófito está filiado. Cumpre ter muita cautela na  análise das impressões psíquicas de um estudante inexperiente, que pode estar  tão cheio de receios como um puro-sangue de dois anos .
 Por outro lado, as reações instintivas de uma alma pura e sensível não devem  ser ignoradas. As Lojas Negras e as entidades malignas existem. Não devemos  permitir que o grito de “Lobo! Lobo!” nos torne indiferentes ou descuidados.  Seja como for, a vítima está sofrendo de um desconforto que pode ser  suavizado .
 É muito difícil determinar psiquicamente se o queixoso tem motivos razoáveis  para lamentar-se, pois sua própria imaginação terá preenchido a sua atmosfera  com formas mentais ameaçadoras. Não é coisa simples decidir se essas formas  mentais são subjetivas ou objetivas. O caminho mais sábio é acreditar que tal  prova é suscetível de um exame objetivo e examinar o registro do grupo particular ou do ocultista contra quem os ataques estão sendo dirigidos. Mas é  igualmente necessário examinar o registro da pessoa que está sofrendo os  ataques. Que essa pessoa está imbuída dos ideais mais sublimes não é prova de  que ela  tem uma boa cabeça, um julgamento claro e imparcial, ou uma boa  avaliação da natureza das evidências. Uma pessoa não precisa ser  necessariamente um mentiroso contumaz para fazer afirmações que estão muito  longe da verdade .
 Outro fator que se deve levar em conta são as extravagâncias do instinto sexual  numa pessoa em quem esse instinto é reprimido. Consideremos o caso de uma  mulher, talvez já madura, cujas circunstâncias lhe permitiram pela primeira vez  seguir suas próprias inclinações; um caso muito comum em donas-de-casa que  precisam esperar pela herança dos falecidos antes de iniciarem a jornada da  vida. Ela escolhe o ocultismo, pelo qual pode sempre ter tido uma inclinação, e  junta-se a algum círculo para estudar e para possivelmente obter iniciação ritual.  O dirigente desse círculo será provavelmente uma pessoa de forte  personalidade. A recém--chegada, inexperiente e faminta de amor, está  encantada. O ritual é uma coisa muito estimulante, como o clero anglo-católico  descobriu por sua própria conta. A mulher, que possivelmente ignora os fatos da  vida, sente-se estranhamente agitada. Ela está aterrorizada, sente que algo do  Reino de Pã está se aproximando. Seus instintos a farão descobrir a fonte de que  procede a influência perturbadora. Ela apontará um dedo infalível para o macho  magnético. E raramente levará em consideração as reações da mulher na  presença do homem .
 Se ela é uma mulher que ignora os fatos da vida, a acusação que ela faz tomará  normalmente a forma de uma acusação de influência hipnótica. Ela não  compreende que é a natureza que a está hipnotizando. Se ela é uma mulher que  conhece algo a respeito do mundo, a acusação pode ser de propostas amorosas  impróprias. No mais das vezes, basta apenas olhar para a mulher para descobrir  se há de fato qualquer fundamento nessa acusação. ~ raro uma jovem simpática,  que poderia com razão estar apreensiva, contar tais histórias. Parece que nunca  ocorre às queixosas a idéia de fugir ou de pôr o assunto nas mãos de um  promotor. Se, ao fim de uma longa história, cheia de insinuações tenebrosas e  sugestões execráveis, fazemos a pergunta “Mas o que ele fez, exatamente? “, a  resposta será, quase sempre, “Ele olhou-me de modo significativo” .
 Quando ouvimos uma dessas histórias, deveríamos dar mais atenção à postura  da pessoa que a está narrando do que aos fatos alegados. Isso fornecerá amiúde  a informação mais valiosa. É a coisa mais difícil do mundo conseguir que uma  vítima genuína fale. A mulher que está contando a história de sua própria  vergonha é normalmente uma mulher desprezada, e a fidedignidade de seu  testemunho no assunto está na razão inversa de sua loquacidade. Não esqueçamos que, como nas brigas, é necessário ter duas pessoas para que um  escândalo ocorra, e a pessoa que admite um erro e pede ajuda para voltar atrás  nos passos errados é muito mais digna de auxilio do que aquela que pretende ser  como os anjos do céu, onde não há casamentos ou noivados .
 Tão grande é a necessidade de cautela para avaliar os fatos numa acusação de  imoralidade que as cortes legais não aceitarão o testemunho da vítima, mesmo  sob juramento e sob interrogatório, a menos que ele seja corroborado por  testemunho adicional. O médico deve conhecer o mesmo tipo de mentalidade, e  uma forma comum de distúrbio mental recebe o nome, até mesmo nos manuais,  de Insanidade da Velha Criada .
 Eu poderia citar dezenas de casos que exemplificam as afirmações precedentes,  mas eles não têm suficiente interesse oculto para justificar a sua inclusão nestas  páginas .
 Se quem comanda o grupo é uma mulher, um ramo diferente de reações entra  em jogo, embora as mesmas causas estejam em ação. Não se compreende  geralmente que a fixação, ou a paixão de uma mulher por outra, é na verdade  um caso de amor substitutivo, como o prova o fato de que a jovem que tem  muitos admiradores, ou a mulher que é feliz no casamento nunca se entregam a  ela. Nesse caso, assim como na atração heterossexual normal, “o inferno não  conhece nenhuma fúria como a da mulher desprezada”; não é possível, por  razões óbvias, receber acusações de comportamento impróprio. (Embora em  uma acusação isso tenha sido alegado contra mim, tendo eu sido acusada de ser  um homem disfarçado e de tentar seduzir a queixosa, e houve quem acreditasse  nisso.) A acusação feita em tais casos toma normalmente uma de duas formas,  sendo o seu mecanismo ou “Você não me ama, portanto você é cruel. Eu fui  tratada cruelmente”; e os exemplos mais afetados se alinham de acordo com  essa acusação. Ou “Você não me asna, portanto eu o odeio. A atração que você  tem por mim é hipnótica” .
 Deve-se ter em mente, ao se avaliar essas acusações, que um ocultista treinado,  especialmente de um alto grau, tem uma personalidade extremamente  magnética, e isso pode perturbar aqueles que não estão acostumados com forças  psíquicas de alta tensão. Pois ao passo que uma pessoa que está madura para o  desenvolvimento desabrocha rapidamente uma consciência superior na  atmosfera de um iniciado de alto grau, a pessoa que não está pronta pode  descobrir que essas influências são profundamente perturbadoras. Um adepto  que permite que pessoas inadequadas penetrem o seu campo magnético é digno  de reprovação por sua falta de senso e discrição, mas ele não pode ser  justamente acusado de abusos de poderes ocultos. Ele emana força  involuntariamente e não pode ajudar a si próprio. Os maiores adeptos sempre vivem em reclusão, não só porque precisam de solidão para o seu trabalho, mas  também porque a sua influência sobre almas despreparadas produz uma reação  muito violenta, e isso termina na Cruz ou na taça de cicuta .
 Não devemos negligenciar o fato de que a pessoa que nos chega com uma longa  história de ataque oculto e pede auxilio, especialmente ajuda financeira, pode  estar simplesmente inventando uma lorota, e deveríamos utilizar a mesma  discriminação que empregamos ao ouvir as calamidades de uma outra, tentando  diferenciar entre o falso e o verdadeiro. Conheci um homem que permitiu que  um pretenso adepto que estava sofrendo de um pretenso ataque oculto se  refugiasse em seu estúdio, e ao retornar de uma breve ausência descobriu que o  pretenso adepto havia vendido a mobília para comprar bebida; e ele teve toda a  razão para acreditar que os únicos espíritos que estavam de alguma maneira  envolvidos nos problemas do falso adepto haviam penetrado o estúdio dentro de  garrafas .
 Ás vezes o ataque oculto provém simplesmente das fantasias de um demente, e  isso não invalida necessariamente o fato de que se pode encontrar uma segunda  pessoa que traz evidências corroborativas. Os alienistas conhecem uma curiosa  forma de insanidade chamada folie de deux, na qual duas pessoas intimamente  associadas partilham juntas das mesmas ilusões. Descobre-se comumente em  tais casos que uma é claramente insana, e que a outra é de um tipo histérico e  imbuiu-se das ilusões de sua companheira por meio da sugestão. Utilizo o  feminino porque essa forma de insanidade é rara nos homens. Ela ocorre com  freqüência com duas irmãs ou com duas mulheres que vivem juntas .
 Há outra armadilha que o ocultista experiente deveria observar em suas relações  com a pessoa que se queixa de um ataque oculto. A insanidade pode ser  periódica em suas manifestações, com ataques de mania aguda alternando com  períodos de completa sanidade. Esse caráter periódico deveria ser sempre  observado no caso das mulheres, nas quais qualquer instabilidade  temperamental é grandemente exagerada durante as épocas das regras, na  mudança de vida, durante a gravidez e, de fato, em qualquer período em que a  vida sexual é estimulada à atividade, seja emocionalmente  ou fisicamente.  Deve-se também ter em mente que nos casos patológicos a periodicidade das  funções femininas pode ser grandemente perturbada .
 Eu tive certa vez uma boa lição a esse respeito, que exemplifica a necessidade  de cautela. Na apresentação de um de nossos membros, nós tínhamos recebido  em uma de nossas casas comunitárias uma mulher cujo marido, um homem  bastante conhecido na vida pública, se recusava a viver com ela, como fui  informada, e fizera diversas tentativas para livrar-se dela, ameaçando interditá- la por insânia se ela de alguma maneira lhe resistisse. Esses fatos foram testemunhados por um círculo de amigos que conheciam tanto o homem como a  mulher. Eu mantive essa mulher sob observação durante um mês, para verificar  se havia algo que justificasse a acusação de insanidade e, nada constatando,  assumir o caso. Na sétima semana, contudo, a perturbação se manifestou. Ela  entrou num grande estado de excitação, declarou que estava morrendo de fome  e sendo maltratada pela pessoa que, em minha ausência, era responsável pela  casa. Sete semanas mais tarde tivemos outro ataque, durante o qual ela disse que  as más influências provinham de um certo armário em seu quarto, vagueou pela  casa em trajes extremamente inadequados e perdeu todo o autocontrole. Esse  ataque teve também curta duração. Descobrimos, por fim, que ela sofria de uma  apendicite crônica que envolvia o ovário direito e que, quando a sua  menstruação extremamente irregular ocorria, ela perdia a cabeça por alguns  dias. O caso era ainda agravado pelo fato de que durante os intervalos ela era  em todos os aspectos perfeitamente sã. Após ter deixado a nossa casa  comunitária, ela contou sobre nós exatamente as mesmas histórias que havia  contado anteriormente sobre o marido. O lunático incurável é um problema  muito menos sério para a sociedade do que esses casos limítrofes. É preciso  tratá-los com extrema cautela, pois eles podem causar uma imensa confusão .
 Quando uma insanidade atingiu um estágio avançado, todo aquele que teve  alguma experiência com os lunáticos tem pouca dificuldade para reconhecê-la.  Cada tipo de insanidade tem a sua expressão facial característica e mesmo seu  modo de andar. Mas não é tão simples, mesmo para o especialista, reconhecer  uma insanidade em seus estágios iniciais. Os lunáticos são extremamente  convincentes, e se assimilaram um pouco do jargão ocultista e do espiritualista,  podem apresentar adequadamente as suas razões. Mesmo o alienista experiente  tem amiúde de manter um caso sob observação para certificar-se de que se trata  ou não de uma insanidade real .
 Num campo cm que os especialistas estão freqüentemente em dúvida, o que  deve fazer o leigo diante de um caso que desperta as suas suspeitas? Ele não  pode reconhecer uma insanidade quando a vê, mas seu próprio senso comum  poderia guiá-lo. Em outras palavras, que ele suspenda o julgamento sobre os  fatos alegados e se concentre na questão dos motivos. É aqui que ele encontrará  a sua melhor indicação. Se uma pessoa não pode oferecer nenhuma explicação  válida para as razões de um ataque que a está atingindo, nem para a sua causa  ou origem, podemos estar quase certos de que esse ataque tem origem em sua  própria imaginação .
 Num caso que me veio às mãos em busca de auxilio, a vítima do ataque, um  homem, declarou que estava sendo perseguido por sugestão telepática. Indaguei  sobre a origem de sua perseguição, e ele disse que algumas pessoas que viviam  no apartamento vizinho costumavam sentar-se num círculo e concentrar-se sobre ele. Perguntei-lhe por que elas agiam daquela maneira, e ele não pôde  dizer-me. Ele simplesmente reiterou que elas o faziam, embora admitisse que  nunca estivera no apartamento delas, nem, de fato, jamais lhes falara exceto  para trocar um bom-dia nas escadas. Era evidente que não havia nenhum motivo  razoável para essas pessoas se darem ao trabalho de persegui-lo. Se alguém já  fez experiências com sugestão telepática conhecerá a intensa concentração que  ela requer e o duro trabalho que é executá-la, e não se pode imaginar alguém  dando-se ao trabalho de fazê-la por longos períodos de tempo sem um motivo  bem definido. Ouvi falar, contudo, de um caso bem autenticado de uma mulher  que teve uma ligação com um homem casado que atacava a esposa dessa  maneira. Eu mesma conheci dois casos em que um certo indivíduo, que tinha  bastante influência nos círculos transcendentais, que os jornais chamavam  impolidamente de sua “Loja de Louvor”, e que era igualmente conhecido no  centro financeiro de Londres por seus esforços para obter ouro da água do mar,  utilizava sugestão telepática para induzir a assinatura de cheques e documentos.  Em face de alguém que esperava por uma entrevista, esse homem sentava-se e  concentrava-se sobre seu interlocutor. Tão forte era a influência assim exercida  que um homem de minhas relações renunciou a um posto importante por causa  da influência mental indevida que sentia sobre si, e outro renunciou ao conselho  de uma de suas companhias pela mesma razão .
 Em ambos os casos não é difícil procurar um motivo adequado para o ataque  mental. Comparem esses dois casos com o exemplo anterior, e a diferença pode  ser facilmente percebida. Deveríamos, contudo, ser tão cautelosos em decidir se  não há nada errado quanto em aceitar por seu valor aparente as afirmações que  nos possam ser feitas. Além  disso, deveríamos ter sempre em mente, quando  tratarmos com uma pessoa que está obviamente perturbada e que alega um  ataque psíquico, que o desequilíbrio mental pode ter sido induzido pelo ataque  psíquico. A vida é, na melhor das hipoteses, uma coisa estranha, e muitas coisas  que são mais estranhas do que o normal podem acontecer àqueles que se  movem nos círculos ocultos .


OS PERIGOS NÃO-OCULTOS DA LOJA NEGRA



Os fatos considerados no capítulo anterior, embora nos possam tornar  cautelosos quanto ao exame das provas, não nos devem cegar quanto ao fato de  que há ovelhas negras em todos os rebanhos e de que uma fraternidade que  começou com as melhores intenções pode inadvertidamente, pela ignorância ou  imperfeição de seus dirigentes, desviar-se para o Caminho da Mão Esquerda.  Pessoas perfeitamente inocentes podem associar-se a ela numa fase de  degradação não confessadamente negra, e essas pessoas podem ver-se em águas  que são desagradavelmente turvas, se não realmente perigosas .
 Os perigos esotéricos serão estudados em detalhe no próximo capítulo e  consideraremos aqui os perigos exotéricos que podem ocorrer atrás do Véu do  Templo, pois a natureza humana é sempre a mesma onde quer que a  encontremos, e mostra pouca originalidade em escolher seu caminho para o  Abismo. Poder-se-ia pensar que num livro como este não é necessário abordar  tais assuntos, mas se este livro deve servir ao propósito para o qual foi escrito, é  necessário fazê-lo por três razões; em primeiro lugar, porque a maior parte dos  estudantes de esoterismo são mulheres, e mesmo em nossos dias esclarecidos  elas geralmente ignoram a vida do submundo, e uma Loja Negra conduz por um  caminho direto e estreito para a terra de apaches e mundanas, lado a lado com  as suas outras inconveniências. Em segundo lugar, porque o conhecimento  desses fatos é essencial para a diagnose diferencial. E, em terceiro lugar, porque  os poderes ocultos não são incomumente utilizados para a obtenção de fins  puramente mundanos e, por conseguinte, quando a questão da criminalidade  comum está associada a uma organização oculta, os resultados podem ser  complicados por uma mistura de métodos que pertencem a outro plano .
 Devemos sempre lembrar que uma loja não precisa necessariamente ter sido  formada com o propósito expresso de burlar a lei; ela pode ter-se iniciado com  um fim perfeitamente legítimo, e ter sido explorada por pessoas malévolas para  seus próprios objetivos, pois, devido à natureza secreta de seus procedimentos,  a forma de organização da fraternidade se presta a várias formas de transgressão  da lei .
 Sabe-se muito bem que uma organização oculta se envolveu com o tráfico de  drogas, e que outra estava metida com o vício antinatural. Uma terceira  degenerou num estabelecimento pouco melhor do que uma casa de má fama, e  seu chefe era um experiente aborteiro. Outras se envolveram com políticas  subversivas. Aqueles que se juntam às fraternidades sem investigá-las — a elas  e às credenciais dos dirigentes — criteriosamente, podem ver-se envolvidos em  uma ou em todas essas coisas .
 Atrás do véu do segredo, guardado por impressionantes juramentos, muitas  coisas podem acontecer, e é, portanto, essencial tomar cuidadosas informações a respeito do caráter, das credenciais e da folha-corrida dos líderes de uma  organização .
 Se esses dados não são acessíveis, algo está errado. O Estranho Misterioso, que  acabou de chegar do Oriente ou do continente com referências vagas, é  provavelmente uma fraude .
 Se encontramos alguma dificuldade para descobrir os antecedentes de um  pretenso adepto, podemos consultar o conhecido periódico Truth, da Carteret  Street, S. W. I. Truth foi originalmente fundado para denunciar os abusos na  vida econômica e pública,  e para esse fim ele mantém uma “Lista Negra” de  indivíduos que devem ser evitados. Esse periódico é leal e destemido em seus  métodos, não um perseguidor nem um encomiasta de pessoas. Ele mantém um  olho vigilante sobre o campo do ocultismo e expõe ao ridículo os charlatães,  uma tarefa para a qual ele deveria contar com a gratidão e o apoio de todos os  que têm a causa da Religião da Sabedoria no coração .
 O perigo mais comum a que uma pessoa que entra na companhia de indivíduos  indesejáveis está exposta é o de ser induzida a entregar mais dinheiro do que é  conveniente pelos expedientes tradicionais da trapaça e da chantagem, sendo  esta de longe a forma mais comum de aborrecimento nas Lojas Negras. O único  remédio em todos os casos é colocar o assunto nas mãos da polícia. Em  primeiro lugar, é seu dever como cidadão para que outros não sejam envolvidos  como você. Em segundo lugar, se você não o faz, os perseguidores não o  deixarão até que o tenham sugado por completo, e não o deixarão se  descobrirem que você é  útil como joguete. Jamais nos livramos de um  chantagista dando-lhe dinheiro. Isso é apenas um convite para que ele o faça  novamente. Aja rápida e firmemente no início e você logo estará no fim de seus  aborrecimentos .
 Conseguir dinheiro com ameaças é chantagem, e obrigar alguém a fazer certas  ações por ameaça também é um crime. Acordos fechados ou documentos  assinados em conseqüência de ameaças não têm validade. As ameaças não  precisam ser necessariamente grosseiras e abertas, como as que são feitas com  um  revólver; tudo aquilo que o coaja contra suas inclinações pode ser  interpretado como uma ameaça. Por exemplo, suponha que lhe informaram,  ainda que com tato, que se você não subscrever os fundos de uma organização,  seu interesse pelo ocultismo estará sujeito a ser alvo de comentários, e poderá  envolvê-lo em aborrecimentos com seus parentes ou empregados. Isso, aos  olhos da lei, é chantagem. Qualquer coisa, de fato, que tira vantagem do medo  de uma pessoa é uma chantagem.Consideremos agora qual é a melhor coisa a fazer se você está sendo  chantageado. Dificilmente será sensato responder à chantagem com chantagem.  A melhor coisa a fazer é responder que você pensará no assunto e verá o que  pode ser feito, e então ir direto ao posto policial mais próximo e contar toda a  história. Você pode estar certo de que será atendido com a máxima gentileza e  atenção, e que todo esforço será feito para ajudá-lo, mesmo que você tenha que  admitir que sua conduta não foi irrepreensível. Indo à polícia e contando  francamente o estado de seus negócios, você estará depondo contra o réu, e as  autoridades têm todo interesse em proteger as pessoas que fazem isso .
 Não se desencorage pelo fato de que não pode apresentar nenhum testemunho  adicional em apoio de sua afirmação. A polícia poderá dizer-lhe que não há  prova evidente para solicitar um mandado de prisão; entretanto, eles farão  investigações, e o próprio fato de a polícia estar investigando é suficiente para  tirar o sossego dos chantagistas e provavelmente para espantá-los do país, e eles  normalmente não farão revelações inconvenientes en route, preferindo antes  fugir enquanto é possível. Além disso, a sua queixa irá para os registros da  polícia, e a vigilância será mantida; no devido tempo, outra queixa pode ser  feita, ou, pelo que você sabe, já pode ter sido feita, e então a rede começa a se  fechar .
 Lembre-se sempre de que uni chantagista tem mais medo de expor-se do que  você; por qualquer aborrecimento que possa estar reservado para você, ele tem à  frente um longo período de reclusão. Uma oportuna lembrança desse fato faz  maravilhas com os presumíveis chantagistas .
 O medo de expor as suas próprias falhas não deve detê-lo. A natureza das  acusações feitas contra você pelo chantagista jamais será mencionada. Não é  você quem está sendo julgado. E sua identidade não será revelada. Você será  designado como Sr. A. ou Sra. B. Longe de ser tratado como uni criminoso ou  de ter um dedo acusador apontado contra você, descobrirá que é visto como  uma pessoa que está prestando um serviço público e todo esforço será feito  pelas autoridades para desembaraçar seu caminho. Um esforço deliberado está  sendo feito no presente para extinguir esse crime abominável, e os juizes têm  aplicado sentenças exemplares e procurado proteger os demandantes de todas as  maneira, no propósito de encorajá-los a apresentarem-se .
 Mas além de qualquer forma de coerção, pessoas incautas, cheias de entusiasmo  ou encantadas pela nova revelação, podem despender muito mais dinheiro do  que seria razoável; elas podem mesmo despender tudo que têm, e, depois,  desiludidas pelos eventos posteriores, lamentar grandemente o tê-lo feito. Em  muitos casos, um procurador competente pode conseguir a devolução dos bens. Os tribunais não vêem com bons olhos as contribuições excessivas aos  “movimentos” .
 Não é preciso dizer que nenhuma organização conduzida corretamente  consentiria em aumentar seus fundos às expensas da ruína de um de seus  membros. Cumpre também, naturalmente, proteger-se contra a extravagância e  a malevolência e as maquinações do indivíduo que tenta comprar prestígio por  intermédio das subscrições. Sempre foi nosso costume, na Fraternidade da Luz  Interior, insistir em que qualquer mulher que se propõe a dar uma grande  doação deveria consultar seu conselheiro de finanças antes de fazê-lo. Por uma  razão ou outra, recusamos mais de vinte e cinco mil libras durante os últimos  sete anos. E não temos qualquer razão para lamentar tê-lo feito. A força de uma  organização oculta não está no plano físico .
 Ë bem sabido que há várias drogas que podem ser utilizadas para exaltar a  consciência e induzir um psiquismo temporário. Mas talvez não se saiba que  muitas dessas substâncias estão sujeitas ao controle das autoridades e que obtê- las de fontes irregulares, ou mesmo ter a posse delas para fins ilegítimos,  constitui crime sujeito a prisão, e nesse caso também as autoridades estão  alertas e os magistrados costumam ser extremamente drásticos .
 Todos os iniciados do Caminho da Mão Direita concordam em que exaltar a  consciência por meio de drogas é um procedimento perigoso e indesejável.  Existem pesquisadores que por razões legítimas desejam empreender uma  experiência, mas não posso conceber qualquer razão legítima para introduzir um  neófito no hábito das drogas. Em todo caso, se tais experiências são tentadas,  elas deveriam ser conduzidas sob a supervisão de um médico qualificado, que  estaria em condições de prevenir a catástrofe ou de lidar com ela no caso de sua  ocorrência. As drogas que alteram a consciência afetam também o coração, e o  coração nem sempre é como deveria ser. Além disso, a composição das drogas  raras não está padronizada e varia bastante; elas podem conter várias impurezas,  e as amostras podem tornar-se anormalmente tóxicas. O aborrecimento de  termos sob as mãos um cadáver inesperado e inexplicável só é superado pelo  desgosto de tornarmo-nos nós mesmos o cadáver, e uma dessas eventualidades  pode ocorrer quando as pessoas começam a fazer experiências com drogas que  “afrouxam os laços da mente” .
 A moral da humanidade em geral deixa muito a desejar, do ponto de vista do  puritano, e as organizações ocultas que ocupam as costas marítimas da Boêmia,  mais ainda. As poucas organizações que afirmam que o ocultismo é  essencialmente uma religião mantêm um padrão elevado; as demais são  abençoadas com uma coleção calidoscópica de amantes. Isso não nos diz  respeito. Se as pessoas preferem pular a cerca, elas é que sabem. Não consideraremos por enquanto os abusos ocultos da força do sexo, pois esse tema  será estudado em detalhes no lugar adequado. Analisaremos neste capítulo a  forma absolutamente normal com que a imoralidade é camuflada sob a capa do  ocultismo. A esse respeito, inúmeros casos chegaram ao meu conhecimento. O  chefe de um grupo seduzia sistematicamente as suas pupilas sob o pretexto de  que isso era parte de sua iniciação, e o grupo aceitava a situação num espírito do  mais puro auto-sacrifício. Muitas outras lutavam desagradavelmente contra a  maré, com o resultado de que as “paixonites” e os posteriores colapsos nervosos  eram muito freqüentes. Não é preciso dizer que tais métodos não fazem parte do  Caminho da Mão Direita .
 Ë surpreendente o número de mulheres de ideais elevados, de boa família e de  ampla cultura que podem ser induzidas a aceitar tais teorias e tais práticas. O  perigo que aguarda as jovens ou as mulheres inexperientes que se associam a  esses grupos pode ser facilmente imaginado .
 Eu fui várias vezes acusada de ter uma mente estreita em minha atitude para  com os grupos em que tais acontecimentos eram permitidos, mas o custo em  sofrimento humano é tão grande e a desmoralização geral tão sórdida que a  tolerância chega perigosamente perto do cinismo. Talvez não se saiba, mas os  meninos e os jovens correm tanto o perigo da corrupção numa Loja Negra  quanto, as mulheres. Já houve casos tão flagrantes não só aqui como no  exterior, que a policia foi obrigada a intervir .
 Nos tempos antigos, e entre pessoas primitivas, o sacrifício humano era um  acontecimento comum relacionado com as práticas ocultas. A Europa oriental  conhece esse rito ainda nos dias de hoje. A história do Barba-Azul tem a sua  origem nas práticas do infame Gilles de Rais, marechal de França e  companheiro de Joana d’Arc, que massacrou inúmeras crianças e jovens em  função de suas experiências mágicas. Eu jamais ouvi falar de um desses casos  na Inglaterra, mas dos Estados Unidos nos têm chegado em diferentes ocasiões  os relatos de curiosos assassínios que se assemelham a assassínios rituais;  porém, na ausência de informação adequada, é impossível chegar a uma  conclusão final a esse respeito. Não obstante, chegou-me recentemente às mãos  um livro sobre magia publicado para circulação restrita, no qual se faz a  afirmação de que o sacrifício de sangue ideal é o de uma criança do sexo  masculino .
 O movimento ocultista é com freqüência acusado de entregar-se a atividades  revolucionárias. Há certos aspectos, no entanto, que devem ser considerados  quando se avalia a verdade dessa acusação. Em primeiro lugar, o movimento  ocultista não é um  todo homogêneo. Ele está totalmente desorganizado e pode  ser comparado à situação política da Inglaterra antes da Conquista normanda. A constituição dos vários grupos e associações varia enormemente, e o que é  verdade para um pode não ser verdade para outro. Não há dúvida de que várias  organizações em várias épocas estiveram implicadas com a política, como o  demonstra a associação da Sociedade Teosófica com os movimentos políticos  indianos, mas devemos ter em mente que os revolucionários de uma geração são  os reacionários da próxima geração. Afinal, a política é uma questão de opinião,  e mesmo as pessoas de quem discordamos podem estar, afinal, certas. Eu,  pessoa]mente, acredito que uma fraternidade oculta nunca deve ocupar-se de  política, por razões que apresentei em outro de meus livros, Sane Occultism, e  que não discutirei aqui, por serem irrelevantes nestas páginas. Mas, visto que as  pessoas se têm reunido desde tempos imemoriais visando à ação política, não  podemos fazer objeção a algo que a lei permite. As pessoas que se vinculam a  uma organização fundada para a ação política vinculam-se com os olhos abertos  e presumivelmente para os fins para os quais ela foi fundada. Há razões para  objeção, contudo, quando uma organização é fundada para atividades nãopolíticas e posteriormente os seus dirigentes, sem consultar, ou sequer informar   os seus seguidores empreendem atividades políticas por sua própria conta,  utilizando a organização para esse propósito e envolvendo, assim, os seus  seguidores, sem seu consentimento, nas complicações que podem surgir, e  empregando o dinheiro das contribuições para um fim específico em finalidades  que os doadores não tinham em vista. Poder-se-ia perguntar que uso, na  atualidade, os revolucionários poderiam fazer das organizações ocultas. Quanto  ao que sei, eles utilizaram ou tentaram utilizá-las para enviar as cartas de  pessoas cuja correspondência estava sendo vigiada, e eu mesma recebi certa  feita um pedido para permitir que uma pessoa que havia sido deportada  retornasse ao país sob um nome falso e demorasse em uma de nossas casas  comunitárias como um membro regular, e algumas centenas de libras foram  oferecidas  para que o fizéssemos. Não é preciso dizer que a correspondência  foi envia da imediatamente às autoridades. Os problemas que examinamos neste  capítulo não são peculiares às fraternidades ocultistas, mas são comuns a  qualquer organização que não discrimina os seus membros. As organizações  que fazem publicidade devem forçosamente aceitar todos os que se apresentam  e dar-lhes um destino à luz da experiência posterior, e algumas dessas  experiências podem ser muito bizarras. Não se pode censurar uma organização  que aceita uma ocasional ovelha negra, a não ser que ela mantenha todo um  rebanho com essa cor .
 Uma loja de duvidosa pureza pode ser facilmente reconhecida pelas pessoas que  a freqüentam e que podem muito bem ser comparadas ao aventureiro decadente  com fumos de requinte, que gosta de emoções fortes. As verdadeiras Lojas  Negras são guardadas tão cuidadosamente quanto as Lojas Brancas de grau  elevado, e nenhum estranho tem acesso a elas. O estudante sério de Ocultismo  Negro visa ao conhecimento e à experiência mágica e não vai perder o seu tempo com um aprendiz. Aqueles que preferem graduar-se numa Loja Negra,  depois de cumprirem seu aprendizado na Corte Exterior de uma Loja Branca,  fazem a escolha de olhos abertos, e a experiência deve ser seu mestre. Não  devemos lastimá-los se a experiência é penosa. A pessoa que estou disposta a  auxiliar é a pessoa que é uma vítima, não aquela cujo tiro saiu pela culatra. O  homem ou a mulher que, rejeitando os passos graduais do Caminho da  Iniciação, escolhe subir com um foguete, terá depois que descer apoiado numa  bengala .
 Qualquer solicitação de uma grande soma de dinheiro  deveria ser sempre  encarada como um sinal de perigo. É uma das condições mais estritas da  iniciação que o conhecimento oculto jamais pode- ser vendido ou utilizado para  ganho. Sei de um ocultista que cobra trezentas libras por uma das iniciações que  concede; e ele a dará a quem quer que tenha trezentas libras. Em minha opinião,  a pessoa que paga trezentas libras por tal objetivo faz jus à espécie de iniciação  que vai obter .
 É também um mau sinal quando um ocultista utiliza livremente os prodígios  diante dos não-iniciados. Nenhum adepto genuíno jamais fará isso. A pessoa  que revira os olhos, lê nossas encarnações passadas, descreve nossa aura,  contorce-se e nos dá uma mensagem de seu Mestre assim que lhe somos  apresentados, eis alguém que devemos evitar .
 Quanto mais observo o movimento ocultista, mais me surpreendo com as coisas  que as pessoas podem dizer e fazer sem serem punidas. A pessoa comum não  está no seu normal quando lida com assuntos psíquicos. Ela passa normalmente  por três fases. Em primeiro lugar, pensa que tudo é superstição e fraude. Em  segundo lugar, quando o seu ceticismo se rompe, ela acredita em qualquer  coisa. Em terceiro lugar, se consegue chegar ao terceiro lugar, ela aprende a  discrição e distingue as Fraternidades Negras e as Fraternidades Brancas das  Fraternidades Tolas .




O ELEMENTO PSIQUICO NO DISTÚRBIO MENTAL



Vimos num capítulo anterior que os distúrbios nervosos e mentais podem  estimular um ataque psíquico, especialmente se o sujeito está familiarizado com  a terminologia do ocultismo. Devemos considerar também o papel  desempenhado pelo ataque psíquico nas desordens nervosas e mentais. Mas  antes de iniciarmos esta seção de nosso estudo, devemos dar uma breve  explicação sobre a natureza das perturbações nervosas e mentais e sobre a  distinção entre ambas. Não entraremos em considerações acadêmicas, pois estas  páginas não foram escritas para o psicólogo profissional ortodoxo — que tem  inúmeros manuais à sua disposição —, mas para a pessoa cujo interesse está em  primeiro lugar nos temas ocultistas, e que enfrenta o estudo do assunto  desprovida dos tecnicismos da psicologia e da psicofisiologia, duas ciências de  que precisamos ter pelo menos um conhecimento prático para enfrentarmos os  trabalhos ocultos .
 No curso de uma encarnação, a mente está assentada sobre as funções das  características do Eu Superior, ou Individualidade, que é a alma imortal que se  desenvolve no curso de uma evolução. A mente, por conseguinte, é parte da  personalidade — a unidade da encarnação — que começa no nascimento e se  dissolve na morte, sendo a sua essência absorvida pela personalidade, que assim  se desenvolve .
 A mente é essencialmente o órgão de adaptação ao meio ambiente, e é quando  essa adaptação falha que as perturbações neuróticas e histéricas começam. Toda  criatura viva é um canal por onde flui a corrente de força vital que procede do  Logos, o Criador deste universo. Essa corrente divide-se nos três canais  principais, que para nós correspondem aos três grandes instintos naturais, a  Autopreservação, a Reprodução e o Instinto Social. Essas são as três molas  principais de nossas vidas. A própria pressão da vida está atrás desses canais, e  se eles são bloqueados além de seu poder de compensação (por mais  considerável que este seja), eles agem como as correntes cujos canais estão  bloqueados e que, em conseqüência, transbordam e encharcam as terras  adjacentes .
 A emoção é o aspecto subjetivo de um instinto. Ou seja, quando um instinto  está operando, nós sentimos emoção. Toda emoção que sentimos pode ser  referida a um ou outro dos instintos. Nosso ressentimento pela crítica à nossa  dignidade tem suas raízes no instinto da Autopreservação. Nosso amor à arte  tem seu elevado aspecto espiritual e seu aspecto físico elemental, e a  transmutação de um plano ao outro ocorre livremente, de modo que, a não ser  que compreendamos o significado dessas manifestações, poderemos incorrer em  erro. Na compreensão desse ponto está a chave da ciência da vida.Se um desses grandes instintos é tão frustrado que todas as tentativas de  compensação sucumbem; ou se o temperamento é tão inelástico e inflexível que  não modificará suas exigências, o ego faz uma desesperada tentativa final de  ajustamento que ultrapassa os limites em que as relações harmoniosas com o  meio ambiente podem ser mantidas. As relações com o meio ambiente se rompem, e a mente abandona, pelo menos em parte, a esfera. da realidade,  ingressando na esfera da imaginação. A sensação de valores fixos se perdeu, e  as coisas assumem uma importância simbólica. Esse rompimento pode ser  parcial, restringindo-se a certos aspectos da vida, ou pode ser total .
 Na histeria, as forças odiosas da vida permanecem no canal, mas jorram com  força concentrada por qualquer comporta que possa estar aberta para elas.  Conseqüentemente, ao invés de o rio sob obstrução ser um corpo de água que  flui suavemente, ele desce em rápidos e sorvedouros difíceis e perigosos para  navegar, de modo que o barco da vida neles naufraga. O país circunvizinho é  também reduzido a um lamaçal, nem terra nem água. Em outras palavras, o  temperamento torna-se tempestuoso e indevidamente emocional, e os fatores  não-emocionais da mente, como o julgamento e o autocontrole, se  descoordenam. Esse temperamento está perpetuamente em dificuldades com a  vida, e periodicamente as emoções reprimidas transbordam em acessos de gritos  e movimentos musculares convulsivos, que agem como válvulas de segurança e  aliviam temporariamente a pressão .
 O neurótico difere do histérico por certas características marcantes que  precisam ser cuidadosamente consideradas, pois são muito  importantes do  ponto de vista prático. As perturbações neuróticas começam da mesma maneira  que os distúrbios histéricos, pois resultam da emoção reprimida e da falta de  adaptação ao meio ambiente; mas nesse caso, as forças vitais agem para abrir  novos canais que possam circundar o obstáculo que lhe bloqueia o caminho.  Temos, conseqüentemente, o que os psicólogos chamam de deslocamento  emocional. Um assunto relativamente pouco importante torna-se objeto de uma  efusão que não condiz em absoluto com a realidade, pois esse objeto foi  substituído por outra coisa. É esse curioso trilhar subterrâneo da emoção na  mente que causa tanta desordem, pois o sofredor não é insano e, no entanto,  certas seções de seus valores e reações à vida estão pervertidas. Ele é uma  pessoa extremamente difícil de lidar, porque é dado a amores e ódios e medos  inesperados e absolutamente irracionais, e age de acordo com eles .
 Condições semelhantes prevalecem nas insanidades orgânicas; as conseqüências  psicológicas são as mesmas, mas, visto que a origem é física, e não mental, a  psicoterapia pouco pode fazer por elas. Mesmo assim, algo pode ser feito para  trazer-lhes alívio, embora não para curá-las por completo; consideremos então  esse assunto dos pontos de vista psicofísico e ocultista.O corpo é o veículo da mente. Se o veículo é falho, a mente não pode expressarse corretamente; suas reações serão distorcidas. A ciência ortodoxa diz que o  cérebro é o órgão da mente, mas a ciência esotérica diz que o cérebro é o órgão  de percepção das impressões dos sentidos e de coordenação dos impulsos  eferentes. É a estação telefônica do sistema nervoso. É apenas um dos pontos  em que a mente toca o corpo, sendo os outros as glândulas do sistema  endócrino, a pineal, a pituitária, a tireóide, as supra-renais, o timo e as gônadas;  podemos acrescentar-lhes ainda o Plexo Solar e o Plexo Sacro. O estudioso da  fisiologia tântrica terá naturalmente observado que os Chakras coincidem em  sua localização com os órgãos endócrinos .
 As glândulas endócrinas têm por tarefa manter a composição química do  sangue, nele despejando suas secreções, chamadas hormônios, em certas  proporções equilibradas. Se a balança está de alguma maneira desregulada, seja  por um excesso de secreção, seja pela falta de outra, profundas alterações  ocorrem no metabolismo. Todos os processos vitais são regulados pelas  glândulas endócrinas, e elas podem ser apressadas ou retardadas em seus  diferentes aspectos quando a balança das endócrinas se altera. Sabem os  fisiologistas que essa balança endócrina está intimamente associada aos estados  emocionais, e especialmente à vivacidade ou apatia do temperamento. Os  psicólogos não avaliam suficientemente a importância dos recentes trabalhos  sobre as glândulas endócrinas, mas os ocultistas conhecem tanto esse aspecto da  psicofisiologia quanto os ensinamentos tradicionais. Os exercícios de respiração  do sistema yoga baseiam-se nesse conhecimento, e são extremamente  poderosos, como o são todas as práticas ocultistas que são trazidas corretamente  para o plano físico. De fato, podemos dizer que nenhum processo ocultista é  realmente potente, nem que fecha o seu circuito, se não tem pontos de contato  com a matéria densa; eis um ponto que muitos ocultistas não levam em  consideração. O ocultismo, embora basicamente um processo mental, não é  simplesmente um processo mental. É simultaneamente espiritual e material .
 Na grande maioria dos casos de insanidade, as alterações cerebrais orgânicas  não podem ser demonstradas, mas os alienistas estão cada vez mais propensos a  acreditar que podem detectar a sífilis de Hécate no sangue. Sua composição  química pode desviar-se do normal, seja devido a uma alteração no equilíbrio  hormonal ou aos subprodutos da enfermidade. Essa alteração na química do  sangue é imediatamente seguida por uma alteração no tom emocional Este pode  tornar-se superemocional ou deprimido, apático ou irritado. Os antigos  descreviam admiravelmente esses estados como os quatro humores, o  sanguíneo, o bilioso, o linfático e o colérico.Os fisiólogos demonstraram abundantemente que os estados emocionais afetam  a composição química do sangue. Estamos compreendendo gradualmente que  essas alterações são produzidas pela mediação das glândulas endócrinas, que  podem ser chamadas de cérebro emocional, assim como a matéria cinzenta no  crânio pode ser chamada de cérebro sensorimotor. Segue-se, portanto, que se  por alguma interferência em seu funcionamento as glândulas produzem uma  composição química correspondente àquela que produzem quando um estado  emocional particular dá seu estímulo especial, o indivíduo experimentará  sensações físicas associadas ao seu estado emocional correspondente. Sua  mente procurará ajustar-se a essas condições, explicando-as pela imaginação.  Portanto, se houver um estado sanguíneo característico da condição de medo,  imagens de medo se produzirão na mente. É com base nisso que as insanidades  orgânicas produzem os seus estados mentais característicos .
 Seja uma causa mental ou uma causa física a responsável pelo estado  emocional, o resultado é o mesmo para o paciente. As insanidades orgânicas  distinguem-se das insanidades funcionais apenas por sua origem. Uma  insanidade orgânica tende a desviar-se mais do normal do que uma desordem  nervosa funcional, pois nesta última  intervém um grau considerável de  compensação, visto que o paciente pode em grande medida readquirir o  domínio de si e manter-se longe dos extremos desastrosos. Não é esse o caso de  uma insanidade orgânica, que caminha para o seu fim lógico. É por essa razão  que um neurótico, mesmo sofrendo seriamente, nunca tem um colapso total, a  menos que esteja seguro das misérias da vida. O instinto de autoconservação o  mantém sobre os pés .
 Tendo considerado as bases físicas e subjetivas das perturbações mentais,  estamos agora em posição de avaliar exatamente o papel desempenhado pelo  Invisível. O que acontece quando um neurótico abraça o ocultismo? Podemos  responder melhor a essa questão considerando o que acontece quando uma  pessoa normal abraça o ocultismo. Ela aprende pela primeira vez que existem  Mundos Invisíveis e começa a pensar neles. Ao fazê-lo, ela entra em contato  com esses mundos. No início, ela pode não ser capaz de percebê-los  conscientemente; entretanto, ela sente subconscientemente e eles a afetam. Um  observador próximo pode reconhecer esse processo por milhares de maneiras .
 Existem grandes forças que se movem como correntes no Invisível, e somos  lançadas nelas de acordo com a nossa afinidade temperamental. A  personalidade violenta é lançada nas Correntes de Marte; a emocional e  sugestionável, na esfera de Luna. E as influências dessas esferas se exercem  sobre as personalidades. O ocultista que trabalha por um sistema próprio, que  sabe que haverá de encontrar essas forças mais cedo ou mais tarde,  entra  voluntariamente em contato com cada uma delas e, por intermédio de rituais apropriados, sintetiza-as em sua própria natureza. Ele sabe que cada aspecto tem  seu contrário. A Virgem Maria reflete-se na Lilith. Os credos antigos conheciam  essa lei, mas o cristianismo popular, que não tem nenhuma raiz na tradição, a  esqueceu. Durante a Reforma, o cristianismo protestante deitou fora o aspecto  ocultista. Todos os panteões pagãos têm grosseiros aspectos de divindades,  assim como aspectos etéreos. Precisamos procurar no monte de refugos da  história as partes perdidas de nossa própria tradição, se desejamos aperfeiçoar a  nossa fé, e a linha mais proveitosa de procura está na Cabala e na literatura  gnóstica. A literatura dos gnósticos foi grandemente destruída pela perseguição  sistemática, mas na Cabala ainda temos um sistema completo. Os judeus, por  serem estritamente monoteístas, não falam de deuses, mas reconhecem uma  hierarquia de anjos e arcanjos que é o equivalente dos panteões pagãos. É por  intermédio desses mensageiros etéreos que o Pai de Tudo formou os mundos .
 Consideremos mais uma vez a doutrina cabalista do Qlippoth, pois ela tem uma  profunda influência sobre o problema da insanidade. A doutrina dos Dez  Sephiroth Sagrados, dispostos em seu padrão correto para formar a Árvore da  Vida, pode ajudar-nos a conceber o Invisível. A Primeira Sephira foi  concentrada a partir do Imanifesto, o Ponto no Círculo. Ela emana a Segunda,  que por sua vez emana a Terceira. Assim que uma emana a outra, ambas estão  equilibradas; mas quando a emanação está em curso, há um período de  desequilíbrio de forças. Isso, de certo modo, ocorre espontaneamente no Cosmo  e estabelece uma esfera por sua própria conta, que não se relaciona com o  sistema cósmico .
 Conseqüentemente, cada esfera do Cosmo tem a sua contraparte no Caos, em  miniatura, é verdade, mas potente e funcional .
 Cada esfera, no curso de sua evolução, edifica uma Sobrealma, que é chamada  por diferentes nomes em diferentes sistemas. No sistema cabalístico, chamamse Arcanjos, os Espíritos diante do Trono. A esfera do Sol é representada por  Rafael; a esfera da Lua,  - por Gabriel. Os Sephiroth Inversos, ou Qlippoth, se  constroem da mesma maneira. Nas Moradas do Inferno, ambos são conhecidos  como Briguentos e Obscenos, e esses nomes indicam suficientemente o seu  caráter. A esfera do Sol também é o ponto de manifestação do Messias, ou  Salvador, sobre a Terra. O Príncipe da Paz tem Seu oposto nos Briguentos.  Todo aquele que teve a Visão beatifica sabe a reação que lhe segue, e como a  sabedoria, o autocontrole e a paciência são necessários para lidar com as forças  que são libertadas não apenas na alua, mas no meio ambiente. É por essa razão  que os períodos de purgação e disciplina precedem todas as revelações.  Devemos manter a vigília antes de podermos participar do banquete.A consciência, emanada da esfera da Terra, eleva-se diretamente para a esfera  da Lua. Esta é a esfera psíquica, negativa, feminina e receptiva. Daí ela passa  para a esfera do Sol. Esta é a esfera positiva, masculina, da consciência  superior, a visão do profeta que se distingue da do sensitivo. O caminho é  flanqueado em ambos os lados pelas esferas da Sabedoria Hermética e da  Beleza Elemental .
 Essas esferas, que dizem respeito aos graus da iniciação, não devem ocupar-nos  aqui. Vamos nos ater às esferas da Lua, Luna, a Soberana do tique de Luna.  Ora, Luna era representada pelos antigos sob diversas formas, como Diana, a  casta caçadora, símbolo da sublimação, e Hécate, patrona da feitiçaria e dos  partos. Já assinalamos que os Qlippoth da esfera de Luna chamavam-se  Obscenos. É por essa razão que quando a alma instável avança pelo Caminho de  Saturno, que transpõe o Astral e penetra a esfera de Luna, ela toca o seu aspecto  de Hécate e vê-se en rapport com os Demônios, cujo chefe é Lilith, que propicia  sonhos libidinosos. Não surpreende, portanto, que Freud tenha descoberto que  os sonhos do neurótico estão repletos de imagens sexuais em suas formas mais  pervertidas e depravadas. Os Rabinos conheciam tão  bem a sua psicologia  quanto Freud .
 Como já se observou, o neurótico é amiúde um sensitivo, e o sensitivo é amiúde  um neurótico. O que podemos esperar que aconteça à alma que recebeu  iniciação numa vida passada, que reteve subconscientemente o desenvolvimento  psíquico então concedido, e que se vê encarnada numa personalidade neurótica  nesta vida? Ela estará sob o domínio tenebroso da Lua, e Lilith será sua  soberana. As forças do Abismo ingressam pelas portas inadequadas do  temperamento neurótico. Os complexos dissociados do Microcosmo são  reforçados pelos complexos dissociados do Macrocosmo, pois é isso o que são  exatamente os Qlippoth .
 Os ocultistas e os seus admiradores ignorantes, os supersticiosos, sempre  sustentaram que a insanidade está vinculada à possessão demoníaca. A  medicina moderna objeta, e declara que as várias manifestações da mente  enferma devem-se inteiramente a processos psicológicos subjetivos. Na  atualidade, essas duas escolas de pensamento são como dois campos armados,  dispostos para a batalha e brandindo suas armas um contra o outro. Cada um  deles está seguro demais de suas próprias razões para dar ouvidos à outra.  Acredito que um campo comum pode ser encontrado para o encontro desses  dois pontos de vista opostos. A psicologia demonstra o mecanismo da mente e  pode explicar o processo mental por cujo intermédio as idéias do perturbado  assumem suas formas definitivas. Ela pode mostrar a conecção entre essas  idéias e. os sonhos da mente normal. O que ela não pode explicar é a diferença  fundamental entre esses estados subjetivos e a consciência desperta normal. É aqui que o ocultista pode dizer algo que seja digno de atenção ao psicólogo,  pois ele pode mostrar como essas visões podem ser produzidas  experimentalmente e voluntariamente por meio da magia cerimonial. E o que é  mais importante, o ocultista pode mostrar-lhe como essas visões podem ser  dissolvidas e as faculdades psíquicas encerradas e seladas por completo .
 Isso nos conduz à parte prática de nossas considerações. Até onde podem os  métodos da magia ritual ser aplicados à cura do distúrbio mental? Eles são,  indubitavelmente, paliativos, e não produzirão uma cura permanente, a não ser  que a origem do estado mental perturbado seja descoberta e esclarecida. A não  ser que isso se faça, assim que dispersarmos os fantasmas eles se formarão  novamente, pois o estado mental do paciente os está invocando. Nestas  circunstâncias, nenhum círculo mágico pode conservar-se intato. Assim que  rompemos a ligação com o Abismo, o paciente a refaz .
 Mas tais condições constituem um círculo vicioso. As forças qlippóticas com as  quais se estabeleceu contato desenvolver-se-ão ativamente, e agarrar-se-ão à sua  vítima quando se fizerem tentativas para desalojá-las. Nesta nossa época  racionalista, estamos propensos a esquecer que existe um mal organizado e  inteligente. Se as causas físicas dessa perturbação foram esclarecidas, o foco  séptico extirpado, ou o tumor que pressionava a glândula endócrina removido, e  a mente não volta ao normal, um exorcismo produzirá amiúde resultados  imediatos e evidentes.  No caso do neurótico, cuja perturbação está inteiramente na esfera da mente,  um exorcismo é de enorme valor como medida preliminar para o tratamento  psicoterapêutico adequado, porque ele limpa o terreno e previne a reinfecção,  dando ao paciente uma chance para começar de novo. É possível que os  demônios qlippóticos tenham obtido uma influência hipnótica tão poderosa  sobre a vítima, que esta fica sem forças para rompê-la por qualquer esforço de  vontade própria, e o tipo ortodoxo de psicoterapia não consegue tocar a raiz da  perturbação. O exorcismo pode ter que ser repetido duas ou três vezes no curso  do tratamento, pois as ligações podem renovar-se depois de terem sido  quebradas. Mas assim que os complexos do paciente forem esclarecidos, elas  não mais retornarão. Em todo caso, um exorcismo produz evidente benefício  temporário; durante a calmaria, o paciente tem uma chance para readquirir o  domínio de si próprio e as influências malignas estão abaladas. Um paciente  corajoso, que coopera inteligentemente, raramente precisará ser exorcizado  mais do que três vezes, desde que as condições materiais sejam favoráveis. Eu  vi casos que foram esclarecidos por um simples exorcismo, e os pacientes  permaneceram em bom estado enquanto obedeceram às instruções e evitaram o  contato com o Invisível, seja lendo livros sobre ocultismo ou associando-se a  pessoas que se interessavam por tais assuntos; e eu também vi o Abismo restabelecer a sua influência quando o paciente desobedeceu às instruções e  reanimou as vibrações antigas .
 Precisamos compreender que a consciência humana não é um vaso fechado,  mas que, como o corpo, tem uma entrada e uma saída. As forças cósmicas  circulam por ela durante todo o tempo, como a água do mar numa esponja viva.  Qualquer estado emocional que pode penetrar-nos é reforçado do exterior. O eu  subjetivo tem apenas o fósforo, o Cosmo fornece o combustível. Assim que o  fogo se acende, as forças cósmicas do tipo adequado irão atiçá-lo. Assim como  o católico devoto é inspirado pelas influências de seu santo padroeiro, invocado  pela oração, o neurótico é aterrorizado por seu demônio obsessivo, invocado  pelas locubrações mórbidas da subconsciência dissociada. O ocultista afirma  que o princípio generalizado do mal tem seus canais inteligentes, assim como o  Princípio organizado do Bem tem Seus espíritos auxiliares. Todo observador  que considerar o fenômeno do distúrbio mental descobrirá muitas coisas para  corroborar essa hipótese .
 A questão da obsessão é extremamente importante. A palavra é empregada com  muita liberdade nos círculos ocultistas, e significa a retirada de uma alma de seu  corpo e a sua substituição por outra alua, mas tenho dúvidas quanto a se essa é a  verdadeira representação do que acontece. Sempre me pareceu que na obsessão  não temos a substituição real de uma alma por outra, mas o domínio completo  de uma alma por outra. É um domínio hipnótico, e podemos explicá-lo nos  termos da conhecida psicologia da hipnose, sendo o hipnotizador, no caso, uma  entidade astral .
 Existe uma operação na magia conhecida como “obtenção da forma divina”, na  qual o operador se identifica imaginariamente com o deus e, assim, se torna um  canal para o seu poder. Podemos encontrá-la numa das formas da magia egípcia  em que o sacerdote portava uma máscara para significar a cabeça do animal  simbolicamente atribuído ao deus que representava. Essa identificação  imaginária é um método bem conhecido no ocultismo e é amiúde empregado  como um exercício mental para penetrar na vida interior de uma planta ou de  um cristal. Os efeitos desse processo são muito característicos e peculiares.  Estou propensa a acreditar que é esse método, combinado com a hipnose, que é  utilizado pela entidade obsediante, que se identifica em primeiro lugar com a  sua vítima e depois impõe a sua própria personalidade sobre ela, obtendo,  assim, um veículo de manifestação. Acredito também, no entanto, que é apenas  em certos casos anormais — sejam induzidos pela enfermidade da mente ou do  corpo, ou por uma das mais drásticas operações da magia negra — que essa  imposição pode ocorrer.



MÉTODOS EMPREGADOS PARA EFETUAR UM ATAQUE PSIQUICO



Quem quer que leia os antigos livros sobre bruxaria, compilados  freqüentemente pelos caçadores profissionais de bruxas a partir das confissões,  obtidas sob tortura, das pretensas bruxas, descobrirá que os fenômenos descritos  caem em certas categorias gerais que são semelhantes em diferentes épocas e  em diferentes partes do mundo, que ficamos com a impressão de que deve haver  algum fogo sob tanta fumaça. Os registros públicos dos julgamentos de bruxas  na Escócia, os relatórios de um padre encarregado de extirpar a feitiçaria no  norte da Itália, os arquivos da Bretanha, as histórias da magia na literatura  clássica e, finalmente, os relatos dos viajantes sobre as práticas dos povos  primitivos em todo o mundo, todos se explicam mutuamente, concordando, no  que se refere aos fenômenos descritos, com as explicações dadas pelas bruxas  sobre seus métodos e com as divisões gerais em que caem os fenômenos .
 Devemos analisar, em primeiro lugar, a utilização das drogas, de que a  Fraternidade Negra em todas as épocas sempre possuiu um notável  conhecimento. Poções, ungüentos e fumigações foram utilizados amplamente, e  entre todos os ingredientes misteriosos e extraordinários de que eram compostos  podemos redescobrir as substâncias que, como sabemos, têm amplos poderes  medicinais. A papoula, que produz sono e sonhos, o cânhamo, que produz  visões, a datura, que causa a perda da memória, grãos empestados, que  produzem o aborto, insetos, que são poderosíssimos afrodisíacos, cascas de  árvores, que são eficazes anafrodisíacos, e, no Novo Mundo, os brotos de certos  cactos — tudo isso, e muito mais, desempenhou seu papel nas infusões das  bruxas. Paracelso obteve renome por utilizar algumas tradicionais poções  mágicas para fins medicinais. Os Bórgia obtiveram infâmia por empregá-las  como venenos sutis que destruíam a mente sem necessariamente destruir o  corpo. Conta-se que o filósofo romano  Lucrécio perdeu a sanidade devido a uma bebida mágica que sua mulher lhe deu para restaurar a sua afeição por ela.  Existem antigas receitas de ungüentos de bruxas que contêm ópio e cantárida.  Não é difícil imaginar que espécie de sonhos irromperiam no sono assim  induzido. C. S. Ollivier, em seu recente livro Analysis of Magic and Witchcraft,  opina que a assistência ao Sabbat era amiúde obtida através de sonhos induzidos  por drogas .
 Venenos sutis exercem também um papel na eficácia das maldições, sendo o  método favorito fazer um talismã de bronze, cobre ou chumbo, e prendê-lo  discretamente no fundo de um vaso de beber ou de uma panela. Que efeito tinha  o talismã, eis um dado conjectural, mas não há dúvida pelo menos quanto ao  efeito do chumbo, que se dissolve constantemente em pequenas quantidades, e  do verdete nos alimentos .
 Mas embora todas essas coisas fizessem parte, e parte considerável, do culto das  bruxas, não podemos considerá-las estritamente como um método de ataque  psíquico, e referimo-nos a elas nestas páginas apenas para que seus efeitos  possam ser excluídos da diagnose .
 Há três fatores num ataque psíquico, e qualquer um deles — ou todos —, pode  ser empregado numa dada ocasião. O primeiro deles é a sugestão hipnótica  telepática. O segundo é o reforço da sugestão pela invocação de certas forças  invisíveis. O terceiro é o emprego de alguma substância física como um point  d’appui, ponto de contato, ou vínculo magnético. A força empregada pode ser  utilizada como uma corrente direta, transmitida pela concentração mental do  operador, ou pode ser conservada numa espécie de acumulador psíquico, que  pode ser um elemental artificial ou um talismã .
 No Capítulo II, consideramos com alguma extensão a da sugestão, e não  precisamos repetir o que já foi dito, exceto para lembrar ao leitor que a essência  da telepatia consiste na indução simpática da vibração. Os psicólogos  experimentais sempre suspeitaram que a emoção é muito semelhante à  eletricidade; eles provaram conclusivamente que os estados emocionais alteram  a condutividade elétrica do corpo. O ocultista acredita que a emoção é uma  força de tipo elétrico, e que no caso do homem comum ela se irradia dele para  todas as direções, formando um campo magnético; mas no caso do ocultista  treinado ela pode ser concentrada num feixe e direcionada. Suponhamos que  você seja capaz de concentrar toda a sua atenção sobre uma única emoção,  inibindo tudo o mais, você terá alcançado um estado emocional puro, nãoadulterado e não-diluído. Toda a força vital que se juntou à sua alma fluirá, por  conseguinte, nessa simples subdivisão de um único canal, ao invés de espalharse pelas inúmeras ramificações dos três canais comuns anteriormente referidos.  A concentração será tremenda, mas ela será obtida a um preço tremendo. ~ para alcançar essa terrível concentração que os santos do Ocidente e os yogues do  Oriente praticam um ascetismo torturante. Você precisa vender tudo que possui  para adquirir essa pérola valiosíssima, e um eco do método persiste na tradição  dos contos de fada em que a pessoa que descobre a pedra da sorte só pode ter  um único desejo. Tal concentração é boa para um propósito, e apenas para um.  Podemos nos concentrar sobre uma cura, ou sobre uma destruição, mas não  podemos operar as duas simultaneamente;  e não podemos também mudar  facilmente de uma para outra. Não podemos combinar os incompatíveis nos  limites de uma única vida. Ou seja, se nos concentramos num trabalho de maldição e morte para realizar um ato de vingança, e a nossa raiva é saciada, não  podemos imediatamente virar a direção da alma e nos reconcentrar em trabalhos  de sabedoria e redenção. Podemos comparar a alma que se move com a maré  da. evolução a uma roda que gira no sentido dos ponteiros do relógio; e a alma  que se move contra a maré da evolução a uma roda que gira em sentido antihorário. A posição do eixo pode ser alterada de modo que a roda gire qualquer  ângulo sem que a direção de sua revolução seja afetada, mas o volante deve  parar antes que o engenho possa ser invertido, e um grande volante exige um  grande esforço para ser detido. Além disso, para inverter o volante, temos que  parar o mecanismo. O movimento normal da alma é no sentido horário, à frente  da corrente da evolução. Precisamos pensar muito antes de tentar inverter essa  direção, mesmo momentaneamente, a fim de realizar um trabalho de maldição e  morte. O velho refrão “Vai haver o diabo!” diz bem a verdade. Além disso, é  questionável se existe essa inversão momentânea da direção. O impulso deve  ser refreado e iniciado novamente antes que a inversão da direção possa ocorrer .
 Forças poderosas podem ser desenvolvidas por essa concentração subjetiva da  própria mente, mas mesmo as forças mais poderosas podem ser utilizadas se  aplicarmos o equivalente mecânico das marchas; se, em outras palavras,  enquanto essa tremenda concentração está sendo mantida, captamos os contatos  da força cósmica correspondente. Utilizamos os poderes da mente humana  como um arranque automático, e, enquanto a menor roda propulsora está  girando, engatamos a engrenagem do mecanismo principal. Há um breve  período de luta enquanto a pequena peça força as alavancas relutantes da grande  máquina, mas depois o vapor toma impulso e o mecanismo recomeça seu  trabalho. Depois disso é apenas engatar a marcha e dirigir — se você for capaz!  Ocorre o mesmo com a magia cerimonial .
 Examinemos um caso concreto de alguém que deseja servir-se de uma força  belicosa. Ele teria que recorrer a uma cerimônia do planeta Marte. Drapejaria  seu altar com um tecido vermelho e ele próprio vestiria uma túnica escarlate.  Todos os seus utensílios mágicos seriam de ferro e o seu bastão de força seria  uma espada nua. Sobre seu altar ele colocaria cinco velas, pois cinco é o  número de Marte. Sobre seu peito estaria o símbolo de Marte gravado num pentágono de aço. Em sua mão estaria um anel de rubi. Ele queimaria enxofre e  salitre em seu turíbulo. E então, de acordo com o trabalho em vista, invocaria o  aspecto angélico ou demoníaco da Quinta Sephira, Geburah, a esfera de Marte.  Invocaria o nome divino de Geburah, chamando o Deus das Batalhas para ouvilo, ou o arquidemônio da Quinta Morada Infernal. Tendo realizado essa  poderosa invocação, ele se ofereceria então a si próprio no altar como o canal  para a manifestação da força .
 Há ainda muitas fórmulas que ensinam como fazer para que uma força seja  captada sem a necessidade de o próprio mágico ser o canal. Em minha opinião,  elas são absolutamente ineficazes; o único substituto possível para o mágico é  um médium em transe. Ë por essa razão  que a magia ritual não consegue  realizá-la. Você não pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos, e se você  tenciona ser um mágico, você tem que ir até o fim. Quando se trata de captar o  aspecto angélico de uma força, a questão é inteiramente diversa. Ser o canal de  uma tal força constitui um grande privilégio e é uma iniciação em si. O  operador precisa apenas eliminar de sua natureza todas as incompatibilidades e  manter-se concentrado sem vacilações. O pior que pode acontecer é ele não  obter resultado algum. Mas quando ele procura captar o aspecto demoníaco de  uma esfera, o assunto muda de figura. Pouquíssimas pessoas desejam oferecerse para a manifestação de uma força como Asmodeus. Eu não acredito que haja  qualquer esquema para invocar os demônios sem ser obsediado por eles, a não  ser o método de Abramelin, que envolve seis meses de preparação e só é  operado após se ter alcançado o conhecimento e a familiaridade do Anjo  Guardião Sagrado. A beira do Abismo está bem protegida. Não é possível atirar  com o revólver e evitar o coice da arma .
 Tendo invocado e concentrado sua força, o feiticeiro tem em seguida que  considerar seu alvo. Ele precisa entrar em contato astral com a vítima. Para  fazê-lo, ele deve produzir uma relação, o que não é tão fácil quanto se imagina.  Em primeiro lugar, ele tem que encontrar sua vítima e estabelecer um ponto de  contato em sua esfera, e em seguida, operando a partir dessa base, conseguir  penetrar-lhe a aura. Uma força desfocada não é muito útil. Um foco deve ser  obtido. O método comum é obter algum objeto que esteja impregnado com o  magnetismo da vítima visada, uma mecha de cabelos, um cortador de unhas ou  qualquer coisa que ela vista ou manuseie. Tal objeto está vinculado  magneticamente ao seu possuidor, e o feiticeiro pode  seguir a pista e assim  penetrar na esfera de sua vítima e estabelecer uma ligação. Ele procede, então,  como qualquer hipnotizador que conseguiu colocar sua vítima nos primeiros  estágios de hipnose. Por meio do vínculo magnético, ele ganhou a atenção  psíquica de sua vítima, que ouvirá as suas sugestões subconscientemente. Resta,  então, observar se as sementes de pensamento assim plantadas lançarão raízes ou se serão expulsas da mente. Em todo caso, a vítima ficou perturbada e inquieta .
 Se um vínculo magnético não pode ser obtido, o praticante da magia negra  precisa recorrer a outros estratagemas. Um dos mais comuns é o da  Substituição. Um objeto é escolhido e por meio do cerimonial é identificado  com a vítima visada. Por exemplo, um pequeno animal pode ser batizado com o  nome da vítima, e depois imolado, normalmente por tortura, com o operador  concentrando-se entrementes na personalidade do original. O velho estratagema  de fazer uma imagem de cera e derretê-la diante do fogo, ou enfiar cravos numa  estátua de madeira, batizada com o nome da vítima, é freqüentemente  encontrado nos registros dos julgamentos de bruxas. Enfiar cravos não tem, de  fato, nenhum efeito imaginável sobre a vítima, mas ajuda a concentração do  operador .
 O método do talismã é também  empregado de várias maneiras. Um talismã é  um símbolo que representa uma certa força, ou uma combinação de forças,  gravado numa substância conveniente, e magnetizado pelo ritual Ele pode ser  feito de qualquer coisa que retenha o magnetismo; metais, pedras preciosas ou  pergaminho são empregados com freqüencia; o papel é menos eficaz, a não ser  que seja encerrado num estojo de metal. A água e o óleo podem ser  magnetizados eficazmente, mas logo perdem sua potência. Constrói-se um  talismã evocando-se a força  necessária, como já se descreveu, e então  concentrando-a sobre o objeto preparado, que é colocado sobre o altar antes do  início das evocações .
 Um talismã assim preparado deve em seguida ser colocado na esfera magnética  da vitima. Conta-se que a Sra. Burton, desejosa de converter seu marido livrepensador, o famoso Sir Richard Burton, o grande explorador, costumava pedir  ao seu padre para benzer pequenas estátuas de santos e colocava-as nos bolsos  de suas roupas. Um estratagema semelhante é utilizado pelos operadores do  ocultismo negro. Objetos magnetizados são colocados nos quartos  habitualmente ocupados pela vítima, ou enterrados em seu caminho, de modo  que ela deva passar sobre eles com freqüência. Esses talismãs malignos não  apenas agem por seu próprio poder, mas também servem para o feiticeiro como  ponto de concentração para suas meditações .
 Efeitos nocivos são também produzidos por objetos que foram utilizados na  magia negra e que se impregnaram com as forças em cuja geração foram  empregados.  As bugigangas do equipamento mágico aparecem em lugares  muito estranhos. Eu estava presente a um leilão numa cidade rural quando os  doze signos do zodíaco, caprichosamente pintados numa lousa, vieram à venda.  Várias de minhas amigas haviam adquirido tesouros mágicos, tais como lâmpadas de altar e queimadores de incenso que obviamente provinham de lojas  rituais, mas a melhor peça da coleção era uma vara mágica que foi posta em  leilão juntamente com um lote de pás e tenazes. Grandes globos de cristal são  vistos com freqüência nos antiquários. Todos esses objetos devem ser  cuidadosamente desmagnetizados antes de entrarem na esfera psíquica de  alguém .
 Eu estava participando certa vez de uma série de experiências psíquicas que  seguiam seu curso normal, quando, por nenhuma razão aparente, as coisas  começaram a sair errado e houve um verdadeiro cataclismo. Não soubemos  senão depois que o proprietário do apartamento em que as coisas ocorriam  havia adquirido um tapete que havia sido utilizado num ritual mágico por um  ocultista de quem somente a extrema brandura poderia ser considerada  duvidosa .
 O elemental artificial é realmente a base da eficácia das maldições. Nesse caso,  não se emprega nenhuma substância física, mas uma porção do Akasha é  modelada numa forma definida e assim conservada pela vontade do operador,  até que, por assim dizer, “endureça”. Derrama-se nessa forma a energia  concentrada do operador, algo de seu próprio eu vai para ela. Essa forma é a sua  alma, e é como um torpedo autogovernado que se põe a mover contra um alvo  escolhido. Ou o operador, se for um mágico experiente, pode deliberadamente  animar essa forma mental com essência elemental, que é a substância rude e  indiferenciada da vida extraída de um ou outro dos reinos elementais. É para se  fazer isso que se invoca a maldição em nome de algum ser. O amaldiçoador  declara “Eu o amaldiçôo por isso e aquilo”. E essa evocação chama a essência  que anima a forma mental, produzindo assim um elemental artificial que é  dotado de uma vida própria e independente .
 Se desejamos saber algo sobre a eficácia das maldições, devemos apenas  examinar o relato dos homens que estiveram envolvidos na abertura da famosa  tumba de Tut-ankh-amen. Há muitos outros casos igualmente bem  documentados .
 Podemos ser expostos a um aborrecimento oculto, seja contrariando ou de  alguma outra maneira enredando-nos com um ocultista inescrupuloso, seja  envolvendo-nos com uma duvidosa fraternidade oculta. No caso de uma disputa  com um ocultista, além dos motivos humanos comuns para um abuso de poder,  é preciso contar com o fato de que um adepto que não é dos mais puros sempre  sofre da desagradável enfermidade psíquica do “ego hipertrofiado”. Ele amará o  poder para seu próprio bem, e tomará qualquer deserção da parte de um antigo  seguidor, ou qualquer resistência à sua vontade imperiosa, como um insulto  pessoal ou mesmo como uma injúria. Com uma mente treinada, um pensador irado causará danos, e eu soube de casos de ocultistas que, por puro melindre,  chegaram a extremos da maldade. Só podemos esperar que eles não acreditem  na eficácia do que fizeram, e que apenas representaram para a galeria “pour  encourager les autres” e para assegurar-se da lealdade entre seus seguidores .
 Outra coisa que é vista particularmente com maus olhos por esse tipo de adepto  são as tentativas da parte de um pupilo que rompeu com o mestre de fazer uso  daquilo que lhe foi ensinado. Parece não haver nada que o ciumento guru não  faça para destruir fisicamente o seu cheia .
 Num caso que chegou ao meu conhecimento, uma cantora de concerto havia  feito um “tratamento” para melhorar a voz com um adepto medíocre. Ela  finalmente decidiu que não gastaria mais um tostão nesse empreendimento e  disse-lhe na visita seguinte que aquela deveria ser a última. Ele concentrou o  olhar sobre ela e disse-lhe que, se o fizesse, assim que subisse ao palco veria sua  face no ar diante de si e que sua garganta se fecharia e ela seria incapaz de  emitir um som, e que essa horrível experiência ocorreria todas as vezes que ela  tentasse cantar, cessando apenas quando retornasse e prosseguisse o  “tratamento” (a um guinéu a hora). Essa poderosa sugestão hipnótica revelou-se  efetiva, e a sua carreira estava prestes a terminar quando o encanto foi  quebrado .
 A seguinte carta contém uma experiência muito ilustrativa e é muito valiosa,  não apenas por relatar um ataque psíquico, mas também por descrever a  maneira pela qual o ataque foi combatido .
 “No inverno de 1921—1922 recebi a seguinte informação (dos Plano  Interiores): ‘Vemos a sua iniciação na Ordem de Cristo’. Não entendi muito  bem e aguardei .
 “Em julho de 1922, um oriental, o chefe de uma grande Ordem religiosa, veio  visitar-me. (Eu estava morando na Suíça.) Vamos chamá-lo de Z. Eu esperava  grandes coisas dele e via-o como uma espécie de Mestre. Sabendo que ele havia  conhecido Abdul Baha, pensei em agradá-lo colocando a foto de A. B. na  parede, mas quando Z. entrou em minha sala percebi que ele absolutamente não  gostou da idéia. Conversamos durante algum tempo e ele me fez diversas  perguntas. Subitamente, ele se ofereceu para iniciar-me em sua Ordem. Fiquei  confusa e não senti a aprovação interior. Disse-lhe que precisava refletir. Mais  tarde tive uma inspiração (?) e perguntei: ‘A sua Ordem é a Ordem de Cristo?’.  Ele respondeu: ‘Sim, é’. Eu lhe contei a minha experiência (relatada acima) e  aceitei a iniciação; mas eu tinha a convicção interna de que havia algo errado .
 “Não senti nenhuma reação interior aos vários incidentes durante a iniciação, e  comecei a invocar mentalmente e sinceramente ao Cristo, e continuei a fazê-lo até o término da cerimônia. (Soube depois que ele havia dito a um de seus  discípulos que eu aceitara a iniciação mas não o Mestre.) “Seria demais relatar outros detalhes menos importantes, de modo que vou  reportar-me ao segundo encontro durante o qual ele me pediu várias vezes para  deixar a cidade em que eu estava e juntar-me a ele num trabalho ativo. Dessa  vez eu ouvi claramente a voz interior; ela disse ‘Não’. Subitamente, ele disse:  ‘Sente-se à minha frente; eu vou curá-la’. (Eu estava muito doente nessa  ocasião.) Ele me fixou com um forte olhar de comando. Invoquei mentalmente  o Cristo e senti que se formara em torno de mim uma espécie de casca. ‘Pronto’,  disse ele, ‘eu a curei.’ A voz interior disse ‘Não’ .
 “Bem, ele se foi e eu passei por um mau bocado, pois eu tinha a sensação de  que havia algo errado, embora não suspeitasse algo maligno. (Como não  suspeito ainda hoje.) “Escrevi um relato desse encontro a uma amiga, e uma carta enviada por ela  cruzou-se com a minha. Ela contava-me que durante o meu encontro com Z., o  qual ela ignorava, ela fora instada a juntar-se ao nosso mestre espiritual para  auxiliar-me. Ela se retirou dos Planos Externos e percebeu, então, que  poderosas forças hipnóticas estavam chegando até mim em ondas. Ela teve que  usar todo o seu poder espiritual para ajudar-me a resistir a elas, mas finalmente  ‘fincamos pé numa rocha, banhada de luz e livre’. Minha carta deu-lhe a chave  do ocorrido; mas ela replicou: ‘Tome cuidado, Z. tentará novamente. Ele  percebeu que foi impedido; e tentará nos Planos Interiores na próxima vez’ .
 “Aqui começa a grande experiência. Poucas semanas depois, à noite, eu tive  uma visão muito vívida, ao que parecia, mas foi uma experiência real. Eu estava  no meio de um grupo de sete ou oito pessoas, das quais duas eu podia perceber  claramente. À minha esquerda estava uma mulher inteiramente velada de preto,  o que lhe tornava a figura assustadora. A direita estava Z. Ele disse: ‘Eu lhe  darei agora a segunda, a iniciação superior’. E prendeu-me o braço direito com  força. Mas eu me soltei e, permanecendo composta e calma, disse (posso ouvir  ainda a minha voz): ‘Antes que essa cerimônia prossiga, quero dizer algo. Não  posso admitir nada e ninguém entre mim e o Cristo’. Houve um lamento, mãos  em gestos ameaçadores e tudo desapareceu .
 “Pouco depois rasguei. meu cartão de iniciação, tirei Z. da cabeça e não tive  nenhuma experiência pessoal consciente com ele desde então .
 “Mas eu lhe havia apresentado um jovem músico francês de elevada posição  social, de quem ele havia gostado bastante. (Vamos chamá-lo de F.) F. e eu  somos muito amigos, e naquela época ele precisava de alguma música oriental para uma de suas composições  — e por outro lado, ele poderia ter sido  extremamente útil a Z. por quem ele se sentia fortemente atraído. Após a minha  própria experiência, comecei a ficar alarmada, mas senti que eu não era  suficientemente forte para lidar com a situação, de modo que nada disse a F.  mas orei para que ele pudesse ser protegido de todo mal. Pouco depois F. faloume em suas cartas de diversas experiências astrais. Em seus sonhos ele passava  por toda a sorte de coisas desagradáveis e vozes lhe diziam ‘Peça a Z. que o  ajude. Ele o ajudará’. Então ele percebia a minha presença e começava a evocar  o Cristo (tudo isso em seu sonho) e as imagens desapareciam. Isso aconteceu  mais de uma vez. Somente quando nos encontramos novamente eu lhe falei de  minha própria experiência .
 “Devo acrescentar que uma amiga com poder psíquico veio ver-me por esse  tempo e disse: ‘Na semana passada, à noite, eu a vi por três vezes. Você me  pedia para ajudar a salvar um jovem que estava em perigo. O que isso  significa?’ O caso acima indica claramente a utilização deliberada do poder mental por Z.  Sua pretensa “cura espiritual” era uma óbvia tentativa de hipnose. Minha  correspondente diz claramente que nunca suspeitou que ele tivesse qualquer  propósito maligno; e que ele agia corretamente de acordo com as suas luzes. Eu  afirmo, contudo, que qualquer tentativa para dominar os outros, ou manipular  de alguma maneira as suas mentes sem o seu consentimento, é uma intrusão  injustificável em seu livre arbítrio e um crime contra a integridade da alma.  Como podemos julgar as íntimas necessidades espirituais de  uma pessoa,  especialmente se ela preferiu não confiar em nós? Que direito temos de invadir  a sua privacidade espiritual e colocar o nosso nariz nos assuntos de seu ser mais  interior? É tão comum a prática de enviar nomes de pessoas aos círculos de cura  com o pedido de que eles se concentrem nelas, sem se tomar a precaução  preliminar de pedir-lhes sua permissão, que ouvi anunciado da plataforma de  um grande encontro público de espiritualistas que só seriam levados em  consideração os casos em que houvesse um assentimento por escrito do  interessado .
 Felizmente para todos, os procedimentos desses “círculos de cura” são  normalmente tão fúteis que ninguém precisa temer ser o alvo de sua  concentração, mesmo se eles estiverem tentando o assassínio .
 No entanto, resta o princípio, e só posso lembrar a minha opinião mais uma vez,  como já lembrei várias vezes, de que tal procedimento é uma ultrajante falta de  modos e de boa-fé, e contrária a toda a tradição ocultista. Penso que posso dizer  honestamente que nunca desejei dirigir as grandes correntes de destruição para  meus companheiros ocultistas, embora haja alguns dentre eles em quem eu  gostaria muito bem de dar umas palmadas!


OS MOTIVOS DO ATAQUE PSÍQUICO



Já observamos num capítulo anterior que a maneira mais simples para descobrir  se a vítima de um pretenso ataque psíquico está fantasiando ou não é procurar  os motivos e, não sendo eles discerníveis, dar à imaginação o benefício da  dúvida. Motivos muito comuns como cobiça, luxúria, vingança e medo de  traição não precisam passar por uma investigação psíquica para serem  descobertos, pois  são perceptíveis a olho nu. Há outros motivos, contudo, que  podem ser importantes nos círculos ocultistas, mas que passariam como  insuspeitos por um investigador comum .
 Os antigos livros de encantamentos que nos chegaram, mormente através do  refeitório dos criados, estão repletos de receitas para obter o amor do sexo  oposto. As antigas grimoires fornecem muitas prescrições rituais, e os registros  dos julgamentos de bruxas contêm freqüentes acusações à mulher ladina que,  por algum motivo, se incumbia de dirigir as afeições de alguém para uma  pessoa pela qual aquele aparentemente não tinha nenhuma predileção natural.  Devemos encarar seriamente essas operações, ou devemos classificá-las entre as  pílulas contra a obesidade que emagrecem sem dieta? Já nos referimos aos antigos filtros do amor. Os antigos conheciam muito bem  as drogas afrodisíacas que excitam a paixão sexual. Mas os modernos também  as conhecem, como o revelam os anúncios cuidadosamente redigidos de certas  publicações astrológicas. Existem firmas francesas especializadas na confecção  de chocolates que contêm doses disfarçadas dessas drogas. Esses produtos  ganharam publicidade recentemente devido à morte de duas jovens e de um  homem, causada por ingestão de doses excessivas. Existem aperitivos  em uso  nesse país que contêm esses ingredientes “tônicos”, cujo efeito é bem  conhecido. Se essas beberagens não são “filtros de amor”, o que são?Não nos preocupamos nestas páginas com os métodos que pertencem apenas ao  plano físico, mas esses assuntos precisam ser mencionados porque há razões  para crer que em mais de uma ocasião, mesmo em nosso país, os afrodisíacos  foram empregados como auxiliares das práticas ocultas. Uma certa firma  começou certa vez a anunciar amplamente que planejava comerciar o que poderíamos chamar de “variedades para ocultistas”. Entre outros preparados  anunciados, havia um “Incenso para a operação de Vênus”. Contudo, a firma  teve um fim prematuro com a intervenção da polícia, e a prisão dos  proprietários .
 Mas além da utilização de meios puramente materiais, não é difícil perceber que  uso se poderia fazer, neste sentido, da influência mental. Já pude observar  inúmeros casos que pareciam extremamente suspeitos, mas nesses assuntos é  muito difícil chegar aos fatos. O modo do ataque é intangível e não deixa traços,  e a vítima pode não suspeitar de nada e ignorar totalmente não apenas o lado  psíquico do sexo, mas também os seus aspectos físicos e sutilmente emocionais.  Além disso, aqueles que mais sofrem geralmente menos falam. Podemos  ocasionalmente ouvir falar de uma tentativa que foi frustrada. A tentativa que  obteve êxito raramente vem à luz, pois a vítima tem tantos motivos para ocultá- la quanto o agressor .
 Quando chegamos às práticas puramente ocultistas, há duas maneiras pelas  quais o fim almejado pode ser alcançado; a pressão psíquica pode ser exercida  sobre a pessoa desejada de modo que ele ou ela caia sob a influência do  operador; ou então pode-se utilizar a operação psíquica conhecida como  congressus subtilis .
 O que é exatamente o congressus subtilis? Devemos saber um pouco mais sobre  o lado oculto do sexo antes que possamos responder a essa questão. Em  primeiro lugar, quais são os fatos, ou os pretensos fatos, do assunto? Os antigos  tinham crenças muito definidas sobre  o tema, e essas crenças podem amiúde  dar-nos uma pista, mesmo se não aceitarmos as explicações antropomórficas  que as acompanhavam .
 Acreditava-se que o arquidemônio Lilith estava estreitamente relacionado com  esses assuntos. Segundo os cabalistas, Lilith foi a primeira mulher de Adão, a  qual costumava visitá-lo em seus sonhos enquanto ele ainda estava só no Jardim  do Éden, e o Senhor Deus ficou tão preocupado com esse comportamento que  criou Eva como uma contra-atração. As bruxas recebiam atenções semelhantes  provindas do Demônio. Santa Tereza de Ávila anota que a Própria Divindade a  visitava. A Virgem Maria recebeu o Espírito Santo. Santo Antônio foi tentado  pelas aparições de belos demônios femininos. Há muitos casos registrados que  falam de conventos atacados pelo Demônio e de freiras visitadas por este ser.  George Moore, em seu interessantíssimo estudo sobre a vida do convento, Sister Theresa, relata um ataque de “Contrapartes” entre as jovens freiras, no qual elas  formaram ligações com noivos angélicos, ou seja, com as supostas almas dos  homens que se afogaram durante o Dilúvio. Lemos no Gênese e no Livro de  Enoch que os Filhos de Deus se casaram com as filhas dos homens, e que uma  raça demoníaca surgiu dessa união. O folclore de todos os países fala de  casamentos entre humanos e elementais, normalmente com desastrosas  conseqüências. A literatura clássica está repleta de histórias das visitas de  deuses e deusas ao gênero humano. O que podemos dizer sobre tais histórias?  Há algo mais nelas além do conto de fadas e da satisfação do desejo? Podemos  compreender o motivo da freira que, desejando ocultar a identidade de seu bemamado, declara-se estar grávida do Demônio. Podemos igualmente entender a  psicologia dos demais membros do convento, que aceitam a história e vêem o  Demônio em cada canto .
 Citarei alguns casos que chegaram ao meu conhecimento e veremos se à sua luz  podemos joeirar os fatos entre a fantasia. Certa feita, veio visitar-me um jovem  que estava de amores com uma mulher casada. Ele me contou que em várias  ocasiões sonhava um sonho muito vívido no qual a visitava, e ela sonhava  simultaneamnente que recebia a sua visita. Ele estava ansioso para aperfeiçoar a  técnica dessa operação, daí o fato de vir procurar-me. Receio que fui pouco  simpática, e conseqüentemente não obtive qualquer informação posterior a  respeito dessa curiosa experiência .
 Um caso ainda mais curioso veio ao meu conhecimento alguns anos atrás. Uma  mulher contou-me que em sua juventude havia ficado noiva de um homem a  quem estava profundamente ligada, e que foi assassinado enquanto trabalhava  como missionário na África Ocidental. Tendo perdido o único homem que  sentia que poderia amar, ela consentiu em casar-se com um primo em segundo  grau que há muito estava apaixonado por ela e que era semi-inválido. Todas as  vezes que tinha relações com o marido, ela visualizava a forma de seu antigo  noivo. Ela era pequena, morena e delicada. Seu marido, um parente  consanguíneo, era semelhante a ela quanto ao tipo. Mas seus três filhos saíram  homens loiros, altos e encorpados, do tipo nórdico, e apresentavam uma forte  semelhança com o homem morto. A veracidade dessa história me foi garantida  por um amigo da família .
 Eu conheci pessoalmente dois pretensos changelings. O menino tinha as orelhas  pontudas de Pã, e se alguém alguma vez pareceu ser o filho do Demônio, era  ele. A menina era uma criatura curiosa e fascinante, essencialmente nãohumana, e quando seu filho nasceu ele veio ao mundo com tanta facilidade  quanto um gatinho. Ambos os seres foram concebidos quando suas mães  estavam sob a influência da bebida, e ambos se caracterizaram por uma  acentuada insensibilidade que, num dos casos, se desenvolveu em deliberada crueldade. Embora muito peculiares de se ver, nenhum deles era deficiente,  possuindo ambos, de fato, um cérebro superior ao da média .
 Quem quer que tenha algum conhecimento do aspecto esotérico do sexo, sabe  que a união é tanto etérea quanto física. É esse fato que constitui a diferença  real entre a união normal e a masturbação, e explica por que a primeira é  vitalizante e harmônica e a segunda é exaustiva e arruína os nervos. Não  podemos imaginar que seja possível, para alguém que pode projetar o corpo  etéreo ou para um ser cujo veículo mais denso é etéreo, exercer sob certas  condições um papel nas uniões sexuais? E se aceitamos a teoria da  mediunidade, ou da obsessão, que é uma forma patológica de mediunidade, o  que podemos dizer a respeito da possibilidade de uma relação sexual enquanto  um ou outro dos parceiros está sob controle? Que tipo de alma poderia  encarnar-se sob tais condições? A tradição medieval reconhecia duas classes de demônios que invadem o sono,  e chamava-os de Íncubos e Súcubos. Eram ambos os responsáveis pelos sonhos  lascivos. A psicologia moderna despreza seus serviços e dá vôos menos altos. O  sensitivo acredita, no entanto, que a tradição antiga tem a sua parte de verdade e  que os pensamentos libidinosos dos corações dos homens (e das mulheres,  naturalmente) podem de fato produzir elementais artificiais de acordo com o  método descrito num capítulo anterior, e que esses elementais são algo mais do  que imagens subjetivas, mas têm uma existência etérea objetiva e desempenham  seu papel na gênese de certas experiências. Por exemplo, uma pessoa pode ter  sonhos e fantasias de natureza lasciva, e esses podem dar origem às suas formas  mentais características; essas formas mentais, que agora existem  independentemente da mente que as concebeu, penetram a aura dessa mesma  pessoa e dão-lhe sugestões do mesmo modo  como quaisquer outras formas  mentais projetadas telepaticamente da mente de outra pessoa poderiam fazê-lo.  Não percebemos absolutamente o quanto nos sugestionamos telepaticamente  por meio de formas mentais projetadas. Somos, na verdade, envolvidos por  nossas próprias atmosferas, emanadas por nós mesmos. Lembro-me de que  quando eu era criança disseram-me que se uma gaiola fosse suspensa bem  acima do dossel de uma antiga cama de quatro colunas, o pássaro seria  encontrado morto na manhã seguinte, envenenado pelo gás carbônico que as  pessoas adormecidas sob a gaiola exalaram. Pouco percebendo o quanto somos  envenenados pelas nossas próprias emanações de pensamentos imprudentes e  maculados .
 É sabido que o orgasmo ocorre durante os sonhos, acompanhado de imagens  oníricas apropriadas. Os antigos acreditavam que tal experiência resultava da  ação dos demônios. Os modernos acreditam que ela se deve à tensão física. Não  é tão sabido, porém, que existem pessoas, homens e mulheres, que podem produzir voluntariamente a mesma reação apenas por meio de sonhos. Não  podemos perguntar se essa reação pode também ser produzida por meio da  sugestão telepática, e se esta não pode ter desempenhado algum papel nas  operações de muitos bandos de treze feiticeiras? Há uma outra fase curiosa desse aspecto do Caminho da Mão Esquerda, de que  tive conhecimento através de um caso que me chegou às mãos. Uma jovem  ingênua e simples, que levava uma vida muito isolada com a mãe viúva, foi  consultar-se com um médico muito conhecido, que chamaremos de Sr. X. No  círculo em que a Srta. Y. e o Sr. X. se moviam havia uma outra figura ilustre, a  quem chamaremos de Sr. Z., e que era muito reputado por seus conhecimentos  de magia. O Sr. X. disse à Srta. Y. que havia lido os registros de suas vidas  passadas, e que existia um laço cármico entre ela e o Sr. Z., e que ela deveria  ajudá-lo em seu trabalho, derramando amor e magnetismo sobre ele. Ela foi  instruída a meditar sobre o Sr. Z. todas as noites quando já estivesse na cama,  até adormecer. A pobre moça, solitária e crédula, entregou-se sem reservas a  essa tarefa. Logo em seguida, contudo, ela começou a ficar agitada. O senso  comum fazia valer seus direitos, pois ela descobriu que as meditações  solicitadas estavam causando um efeito perturbador sobre ela; mas o Sr. X.  dissipou seus temores e reconquistou sua obediência, assegurando-lhe que ele  havia olhado o futuro e vira que o Sr. Z. poderia eventualmente desposá-la. Ela  se defrontava, assim, com um caso de amor pungente que a estava tornando muito infeliz e incapaz para o trabalho. Muitas cartas sobre o assunto foram  trocadas entre a Srta. Y. e o Sr. X., sei disso porque eu mesma as li. Fiz o que  pude para persuadi-la a pôr um fim em todo o caso. O Sr. X. continuou a  persuadi-la a continuar, aproveitando-se de seus sentimentos e dizendo-lhe quão  terrível seria a situação do Sr. Z. se ela retirasse seu apoio psíquico, e renovando  a sua afirmação de um laço cármico que resultaria, por fim, num casamento, se  ela fosse fiel. A Srta. Y., angustiada de dar pena e desnorteada, dirigiu-se a  certos líderes da organização à qual os três pertenciam. Esses líderes secundaram meu conselho de que ela deveria parar com essas práticas, mas  persuadiram-na a entregar-lhes as cartas comprometedoras que estavam em sua  posse. Quando a Srta. Y. lhas entregou, porém, eles declararam que todo o  ocorrido era imaginação de sua parte, e, ao invés de expulsarem esse par de  canalhas de suas fileiras, permitiram que ambos continuassem normalmente em  suas funções .
 Esse seria um caso estranho se fosse apenas um caso isolado, mas não é. Outra  mulher veio a mim por essa mesma época num estado que beirava a insanidade,  e disse-me que ela também havia consultado o Sr. X., que lhe disse que ela já  havia recebido a iniciação nos  Planos Interiores, embora ela não fosse  consciente disso, e que suas faculdades psíquicas estavam prestes a desabrochar  (uma observação rotineira de sua parte), mas que se ela desejasse fazer um progresso real no Caminho deveria abandonar o marido, e ele (Sr. X.) a poria  em contato com o seu companheiro astral. Esse precioso conselho teve por  resultado quebrar o seu lar e transtorná-la. Um dia, caminhando no parque, ela  encontrou o Sr. Z., e declarou-lhe ser a sua amante astral, afirmação que o Sr.  X. confirmou e embelezou com a informação de que o Sr. Z era também o  Mestre que a iniciaria .
 Tentei persuadi-la a dar um fim sumário a toda a aventura e a voltar ao seu  marido, mas ela replicou que nunca poderia fazê-lo depois das experiências  astrais por que  tinha passado. O Sr. X. restabeleceu a sua influência sobre ela,  ela deixou o endereço no qual eu a conhecera e nunca soube o que lhe  aconteceu depois. Seu estado, quando a vi pela última vez, era deplorável — emaciada, fora de si e contorcendo-se em movimentos convulsivos .
 Acreditaria alguém na história de uma mulher assim? Obviamente, não, a  menos que visse as curtas que eu vi. E esse não é um caso isolado; uma  companheira de trabalho contou-me dois casos exatamente iguais que chegaram  ao seu conhecimento, relacionados com o Sr. X. São casos como esses que  fazem o investigador honesto dos fenômenos ocultos agradecer a existência de  uma lei nos códigos jurídicos que permite aos magistrados lidarem efetivamente  com os ocultistas que prostituem seus poderes. É geralmente tão sabido que  nenhum iniciado pode utilizar as artes ocultas para o ganho, que é difícil  simpatizar com as pessoas que pagam a algum ocultista de anúncios a sua meiacoroa ou o seu meio-guinéu e depois se vêem em apuros .
 Que conclusões podem ser tiradas dos incidentes que relatei, para cujos fatos  posso dar o testemunho do conhecimento pessoal? Quatro mulheres foram  persuadidas a envolver-se num processo de meditação cujo objetivo é emitir  força. A natureza da força que foi emitida é indicada pelo fato de que as  mulheres casadas foram instruídas a não viverem com os maridos e a jovem  solteira foi encorajada a apaixonar-se pelo homem que era o foco da operação.  Esse homem é o cabeça de um grupo de pessoas que se ocupam sabidamente de  ocultismo prático e cerimonial. A conclusão que extraio é a de que uma  experiência oculta estava em curso e que, indiferentes às conseqüências para  elas, essas mulheres foram utilizadas na execução da experiência, sendo o  alcoviteiro o famoso médico, Sr. X., e o operador o notório Sr. Z .
 O mesmo grupo tem a seu crédito uma série reincidente de escândalos  relacionados com vícios desnaturais. Se se tratasse apenas de um vício como  esses, ele não estaria no raio de ação destas páginas, mas parece que ele foi  utilizado sistematicamente para obter poder oculto. Aqueles que possuem algum  conhecimento dos aspectos mais profundos do ocultismo sabem que a força do  sexo é uma das manifestações da kundalini, o fogo da serpente que, de acordo com a filosofia tântrica, jaz enrolada na base da espinha, ou, nos termos do  ocultismo ocidental, no plexo sacro. O controle e a concentração da força  kundalini é uma parte importante da técnica do ocultismo prático. Há uma  maneira correta de dirigi-la por meio do controle mental, cuja técnica expliquei  em meu livro Time Problem of Purity (Rider); mas há também outro método,  que consiste em estimular essa força, e assim dirigi-la para canais anormais  onde ela não será absorvida, mas permanecerá disponível para propósitos mágicos. É por essa razão que em certas formas da Missa Negra o altar é o corpo nu  de uma mulher que pode ainda estar viva ou foi assassinada sacrificalmente. A.  E. W. Mason dá um relato de tal operação em seu livro, ThePrisoner in the  Opal .
 Operadores menos experientes, contudo, não conseguem controlar essa forma  de força; assim que eles a geram, ela se encaminha ao seu fim lógico. Por  conseguinte, esses operadores empregam outro tipo de estímulo, não a mulher,  mas o menino ou o rapaz. A prática da pederastia relacionada com o ocultismo é  muito antiga, e foi uma das causas da degeneração dos Mistérios gregos .
 Cuidei em detalhes desse assunto em outro livro meu, Sane Occultism.  Pormenores dos casos reais podem ser encontrados pela referência nos  catálogos de Truth, o jornal a que já me referi anteriormente .



OUTROS MOTIVOS DO ATAQUE PSÍQUICO



Sabem muito bem os ocultistas que não é coisa agradável ir alguém contra uma  fraternidade oculta da qual se tornou membro por meio da iniciação cerimonial  e à qual se vinculou por juramento. Como já vimos, a mente maligna de um  ocultista treinado é uma arma asquerosa; quanto não o será a mente grupal  formada por várias mentes treinadas, especialmente quando concentradas  através do ritual? Mas além da força mental individual dos membros de uma fraternidade, e além  da força coletiva de sua mente grupal, há um outro fato a considerar quando  uma genuína organização oculta está envolvida em operações de proteção ou destruição. Toda organização oculta depende para seu poder de iniciar aquilo  que se chamam seus “contatos”, ou seja, de um ou mais de seus líderes estarem  em contato com certas forças. Se, além disso, a organização tem uma longa  linha de tradição atrás de si, uma potentíssima coleção de formas mentais estará  reunida em sua atmosfera. Toda cerimônia de iniciação contém, de uma forma  ou outra, o Juramento dos Mistérios, que proibe o candidato de revelar o  segredo dos mistérios ou de abusar dos conhecimentos que eles fornecem. Esse  juramento sempre contém uma Cláusula de Penalidade e uma Invocação, em  que o candidato de submete à penalidade quando há abuso de confiança, e  invoca algum Ser para cumprir a penalidade. Alguns desses juramentos são  coisas formidáveis, e eles são administrados com toda a solenidade que a  encenação pode arquitetar. A maneira pela qual as fraternidades ocultas  conseguiram preservar os seus segredos mostra como raramente esses  juramentos foram quebrados .
 No caso de uma disputa com uma fraternidade oculta, a força invocada nesse  juramento pode entrar em ação automaticamente. Se o irmão recalcitrante está  no espírito da tradição e são seus líderes que estão errados, o poder invocado no  juramento será uma poderosa influência protetora contra a qual os próprios  líderes colidirão. Se, por outro lado, o irmão falta com a palavra aos Mistérios,  essa corrente punitiva entrará em ação, embora a sua defecção possa passar  despercebida. Contou-me uma testemunha ocular um incidente que ocorreu  numa iniciação, na qual o candidato, um homem absolutamente normal, ao que  parecia, depois de fazer o juramento da maneira usual, subitamente gritou de  maneira terrível, espantando a todos, e ficou enfermo por algumas semanas  como se tivesse sofrido um severo choque nervoso, e nunca mais se dedicou a  nada que se relacionasse ao ocultismo. Nenhuma explicação jamais foi dada  para o incidente. Eu estava presente numa certa ocasião em que um grupo de  três candidatos estava sendo preparado, e subitamente fomos informados no  curso da cerimônia que o número dos candidatos havia se reduzido a dois.  Soubemos depois que o terceiro se apavorara e fugira .
 O que aconteceu nesses dois casos, eu não sei; se houve uma quebra de palavra  ou se uma estava planejada, ninguém pode dizer; mas algo lançou o medo do  Senhor sobre esses dois indivíduos e de modo bastante efetivo. Que esse choque  não é inerente à cerimônia, prova-o o fato de que há apenas dois casos em  minha experiência, e posso afirmar que presenciei um grande número de  cerimônias. Pessoalmente, quando recebi minha própria iniciação, senti como se  tivesse chegado ao porto após uma viagem tempestuosa .
 Outro homem de minhas relações, que eu acreditava ser um ocultista superior,  foi expulso da Ordem à qual pertencia, por que eu não sei, mas pelo que vi  depois posso imaginar que houve razões suficientes. Em desafio ao seu juramento de iniciação, ele começou a edificar uma loja independente.  Aconselharam-no a desistir, e ele o fez, desmantelando o templo. Mas começou  imediatamente a construir outro templo num lugar cuidadosamente oculto; e  dessa vez ele foi mais ambicioso, pois se achou pronto para tentar os Grandes  Mistérios. Ele era um artesão muito hábil e fez todo o equipamento do templo  com as próprias mãos, de modo que ninguém podia saber o que estava em ação.  Escondido atrás de cortinas de renda de Nothingham, numa rua comum de West  London, levantava-se um belo e pequeno templo dos Mistérios Maiores. Ele  completou sua obra após meses de árduo trabalho, e ninguém sabia dela, a não  ser os seus amigos íntimos. Mas antes de começar o trabalho ritual verdadeiro,  ele foi à costa para um pequeno descanso, e lá sofreu um ataque do coração  enquanto estava deitado na praia e morreu em quatro horas. Os segredos da  Ordem não foram revelados .
 Outro homem que tivera uma disputa com a mesma famosa Ordem imprimiu e  divulgou seus segredos como um ato de vingança. Ele era um homem de boa  posição social, riquezas consideráveis e brilhantes habilidades literárias, e  alcançara um nome como escritor. Desde então ele começou a declinar, e  chegou à pobreza e à desgraça. A maldição de Ahasuerus parecia tê-lo  alcançado, e ele foi acossado de país em país, não encontrando um lugar para  morar. Nenhum editor publicou seus livros, nenhum jornal os noticiou .
 Contarei, por fim, as minhas próprias experiências numa escaramuça astral. Eu  escrevera uma série de artigos sobre os abusos que ocorrem nas fraternidades  ocultas, e eles foram publicados na Occult Review.* Minha escrita é largamente  inspirada, e muito do que escrevo me “vem”  sem que eu tenha um  conhecimento prévio do assunto, e nesse caso particular eu divulgara muito  mais do que sabia, e me vi em sérios apuros. O primeiro sinal disso foi uma  sensação de desassossego e inquietação. Passei depois a ter a sensação de que as  barreiras entre o Visível e o Invisível estavam, por assim dizer, cheias de  fendas, e continuei tendo vislumbres do Astral misturando-se com a minha  consciência desperta. Isso, para mim, é incomum, pois eu não sou naturalmente  sensitiva, e na técnica em que  fui treinada aprendemos a manter os diferentes  níveis de consciência rigorosamente separados e a utilizar um método  específico para abrir e fechar as portas. É raro alguém obter um psiquismo  espontâneo. A nossa visão assemelha-se ao emprego de um microscópio no qual  examinamos material preparado .
 A sensação de vaga inquietação transformou-se gradualmente numa sensação  definida de ameaça e antagonismo, e comecei, então, a ver rostos demoníacos  em lampejos que se assemelhavam àquelas imagens-retratos que os psicólogos  chamam pelo nome antipático de hipnagógicas, lampejos de sonhos que  aparecem no limiar do sono. Eu não suspeitava em absoluto de nenhum indivíduo particular, embora estivesse ciente de que meus artigos haviam  irritado profundamente alguém; qual não foi a minha surpresa então, quando  recebi de uma pessoa a quem considerava uma amiga e por quem tinha o maior  respeito uma carta que não me deixou dúvida alguma quanto à fonte do ataque e  sobre o que eu poderia esperar se mais artigos fossem publicados. Posso  honestamente dizer que até receber essa carta eu nunca tivera a menor suspeita  de que essa pessoa estava implicada nos escândalos que eu atacara .
 Eu estava numa posição delicada; havia lançado uma carga de artilharia sobre  princípios gerais, e havia aparentemente “apanhado” muitos amigos e confrades  e causado um grande reboliço no pombal. Minha posição era ainda mais  delicada porque eu não sabia o tanto que eles suspeitavam que eu soubesse; eu  sabia, é claro, que esses abusos existiam esporadicamente no campo do  ocultismo como todos no movimento o sabem; mas saber dessa maneira vaga é  uma coisa, e pôr o dedo na ferida de casos específicos é outra. Eu descobrira  evidentemente algo muito mais considerável do que supunha. Eu me sentia  como um menino que, pescando peixinhos, fisgasse um tubarão. Eu tinha que  decidir se tentaria recuperar os meus artigos da Occult Review, ou se os  deixaria correr o seu curso natural e sofrer as conseqüências. Eu tinha tido um  fortíssimo impulso para escrever esses artigos, e agora eu podia ver por que isso  ocorria. Direi algo, em outro capítulo, a respeito dos Vigilantes, essa curiosa  seção da Hierarquia Oculta que cuida do bem-estar das nações. Uma parte de  seu trabalho está aparentemente relacionada com o policiamento do Plano  Astral. Pouco se sabe realmente sobre eles. Deparamo-nos esporadicamente  com o seu trabalho e juntamos as peças. Eu cruzei seu caminho em várias  ocasiões, como contarei mais adiante. Sempre que a magia negra está em ação,  eles se põem em  ação para entravar-lhe os planos. Seja como for, cheguei à  conclusão de que, em face do que havia transpirado, o impulso que eu tivera  para fazer aquele trabalho poderia ter emanado dos Vigilantes. De qualquer  maneira, o trabalho precisava continuar. Alguém tinha que atacar esses pontos  empesteados, a fim de purificá-los, de modo que resolvi manter minhas idéias e  resolver a questão, e, portanto, deixar os artigos em questão seguirem o seu  curso .
 Algumas coisas realmente curiosas começaram a acontecer. Passamos a sofrer  uma desagradável invasão de gatos negros. Não eram gatos alucinatórios, pois  nossos vizinhos partilhavam da mesma aflição, e trocávamos lamentos com o  vigia da casa ao lado, que se empenhava em retirar bandos de gatos negros dos  degraus da porta e do peitoril da janela com uma vassoura, e que declarava  nunca ter visto em sua vida tantos e tão medonhos espécimes. Toda a casa foi  invadida pelo terrível mau cheiro dos animais. Dois membros de nossa  comunidade saiam para trabalhar diariamente, e em seus escritórios, em  diferentes partes de Londres, eles encontravam o cheiro penetrante dos gatos.No início, atribuímos essa perseguição a causas naturais, e concluímos que  éramos parentes próximos de alguma fascinante felina, mas os incidentes se  sucediam e sentimos que as coisas não estavam absolutamente no curso  ordinário da natureza. Estávamos nos aproximando do Equinócio Vernal, que é  sempre um tempo difícil para os ocultistas; havia uma sensação de pressão e  tensão na atmosfera, e todos nós nos sentíamos decididamente inquietos. Certa  manhã, subindo ao andar de cima após o desjejum, eu subitamente vi, descendo  as escadas em minha direção, um gigantesco gato malhado, de duas vezes o  tamanho de um tigre. Ele parecia absolutamente sólido e tangível. Eu o encarei  petrificada por um segundo, e então ele desapareceu. Compreendi  instantaneamente que era um simulacro, ou uma forma mental que estava sendo  projetada por alguém com poderes ocultos. Não que a aparição fosse de alguma  maneira agradável, mas era muito melhor do que um tigre real. Sentindo-me  realmente inquieta, pedi a uma de minhas companheiras para juntar-se a mim, e  quando nos sentamos em meu quarto em meditação ouvimos o grito de um gato  vindo de fora. Esse grito foi respondido por outro, e outro. Olhamos pela janela,  e a rua, como podíamos ver, estava salpicada de gatos negros, e eles gemiam e  gritavam em plena luz do dia como o fariam nos telhados à noite. Eu me  levantei, reuni minha parafernália e realizei um exorcismo. Ao terminar,  olhamos novamente pela janela. Não havia nenhum gato à vista, e jamais os  vimos novamente depois. As visitas tinham chegado ao fim. Apenas a  população normal de ratos convivia normalmente conosco .
 O Equinócio Vernal estava então sobre nós. Devo explicar que essa é a estação  mais importante do ano para os ocultistas. Grandes ondas de força flutuam nos  Planos Internos, e elas são difíceis de manipular. Se há algum distúrbio astral  para eclodir, ele normalmente arrebenta como uma tempestade nessa estação.  Há também certos encontros que ocorrem no Plano Astral, e muitos ocultistas a  eles comparecem fora de seus corpos. Para fazer isso, o indivíduo precisa entrar  em transe, pois dessa maneira a mente fica livre para trabalhar. É comum pedirse a alguém que compreende esse método de trabalho para vigiar o corpo  enquanto este está desocupado e impedir que lhe sobrevenha qualquer dano .
 Via de regra, quando um ataque oculto está sendo executado, procuramos  manter a consciência a todo custo, dormindo de dia e permanecendo despertos e  meditando enquanto o sol está sob o horizonte. Por azar, contudo, fui obrigada a  fazer uma dessas viagens astrais nessa estação. Minha atacante sabia disso tanto  quanto eu. Portanto, fiz meus preparativos com todas as precauções em que  pude pensar, reuni um grupo cuidadosamente escolhido e fechei o local da  operação com a cerimônia comum. Eu não tinha muita fé nessa operação em  face das circunstâncias, pois a minha atacante era de um grau muito mais elevado do que o meu, e poderia romper qualquer selo que eu colocasse.  Contudo, esse procedimento dava proteção contra aborrecimentos menores .
 O método de fazer essas viagens astrais é altamente técnico, e não posso entrar  neste assunto aqui. Na linguagem da psicologia, trata-se de uma auto-hipnose  obtida por meio de um símbolo. O símbolo age como uma porta para o  Invisível. De acordo com o símbolo escolhido, assim será a seção do Invisível  cujo acesso é obtido. O iniciado experiente, portanto, não erra no astral como  um fantasma inquieto, mas caminha por corredores bem conhecidos .
 A tarefa de minha inimiga não era, portanto, difícil, pois ela sabia a ocasião em  que eu deveria empreender essa viagem e o símbolo que eu deveria utilizar para  sair do corpo. Preparei-me, por conseguinte, para sofrer a oposição, embora não  soubesse a forma que ela tomaria .
 Essas viagens astrais são na verdade sonhos lúcidos nos quais o indivíduo  conserva todas as suas faculdades de escolha, força de vontade e julgamento. As  minhas sempre começam com uma cortina de cor simbólica por cujas dobras eu  passo. Nem bem eu tinha atravessado a cortina nessa ocasião quando vi minha  inimiga esperando por mim, ou, se preferirmos outra terminologia, comecei a  sonhar com ela. Ela surgiu com todos os trajes de seu  grau, que eram  magníficos, e barrou minha entrada, dizendo-me que graças à sua autoridade ela  me proibia de fazer uso dessas viagens astrais. Repliquei que não admitia o seu  direito de me fechar os caminhos astrais apenas porque ela fora pessoalmente  ofendida, e que eu apelara aos Chefes Interiores, por quem éramos  responsáveis. Seguiu-se então uma batalha de vontades, na qual experimentei a  sensação de ser girada pelo ar e cair de uma grande altura, e achei-me em  seguida de volta ao meu corpo. Mas meu corpo não estava onde eu o deixara, e  sim num dos cantos da sala, a qual parecia ter sofrido um bombardeio. Através  do fenômeno bem conhecido da repercussão, a batalha astral tinha aparentemente se comunicado ao corpo, que havia dado um salto mortal enquanto  um agitado grupo retirava a mobília de seu caminho .
 Fiquei abalada por essa desagradável experiência. Reconheci que havia levado a  pior e que fora efetivamente expulsa dos caminhos astrais; mas eu também  compreendi que se aceitasse essa derrota minha carreira oculta estaria no fim.  Assim como uma criança que foi derrubada de seu pônei precisa imediatamente  retomá-lo e remontar, se pretende montá-lo novamente, eu sabia também que eu  devia a todo custo empreender essa viagem astral se quisesse conservar meus  poderes. De modo que pedi a meu grupo para recompor-se e refazer o círculo  porque devíamos fazer outra tentativa; invoquei os Chefes Interiores, e saí  novamente. Desta vez houve uma pequena e brusca batalha, mas consegui terminar o trabalho. Tive a Visão dos Chefes Interiores e retornei. A batalha  havia terminado. Desde então, nunca mais tive qualquer complicação .
 Mas ao tirar minhas roupas para ir à cama, senti que minhas costas estavam  muito doloridas e, tomando um espelho de mão, descobri que eu estava marcada  de arranhões do pescoço à cintura, como se tivesse sido arranhada por um gato  gigantesco .
 Contei essa história a alguns amigos, ocultistas experientes, que àquela época  estavam estreitamente associados à pessoa com quem eu tivera esse transtorno,  e eles me disseram que ela era bem conhecida por esses ataques astrais, e que  uma pessoa de quem eram amigos havia tido uma experiência exatamente igual,  tendo sido coberta, após uma disputa com ela, pelas mesmas marcas de  arranhões. Em seu caso, contudo, ela ficou enferma por seis meses e jamais teve  qualquer contato novamente com o ocultismo .
 Há um curioso epílogo para essa história, que pode ou não explicá-la. Já contei  a história da morte misteriosa que ocorreu em lona. E que o corpo nu da infeliz  jovem foi descoberto sobre uma cruz cortada na relva. Nenhuma causa pôde ser  descoberta para a sua morte, e o veredicto foi de que ela morreu por exposição  ao frio. Mas se ela estivesse perdida, como viria ela a morrer de maneira ritual,  e não andando? Por que despiu ela todas as roupas antes de deixar a casa,  cobrindo-se apenas com uma capa negra? E por que conservou consigo uma  grande faca com a qual cortou a cruz na relva? Não conheço a sua história  posterior, pois eu a perdi de vista durante os dois ou três últimos anos de sua  vida, mas na época em que a conheci ela estava associada com a mulher à qual  me referi. As únicas marcas que se encontraram em seu cadáver eram  arranhões .




MÉTODOS DE DEFESA CONTRA O ATAQUE PSIQUICO



Distinguimos já vários tipos de ataque psíquico, descrevemos os métodos que  podem ser empregados para executá-los, e observamos também as várias formas  de delírio, de fraude e de auto-sugestão que podem complicar o problema.  Estamos, agora, em posição para discutir a questão da diagnose. Consideremos  todo o assunto do ponto de vista prático. Supondo-se que um estranho nos  venha com uma história de ataque psíquico, qual deveria ser o nosso  procedimento? Devemos em primeiro lugar ter em mente que é preciso ter cautela em presumir  que um ataque psíquico está sendo efetuado. Os ataques psíquicos são coisas  relativamente raras. Não devemos presumir que estamos lidando com um até  que tenhamos excluído todas as outras hipóteses. Não muito tempo atrás  deparei-me com um caso de pretensa obsessão, que era na verdade uma  constipação negligenciada e que foi efetivamente exorcizada com óleo de  rícino. Quando se observam sintomas físicos no caso, mesmo que eles se  resumam a uma cor má ou a um mau hálito, um médico qualificado deveria  fazer um diagnóstico, pois mesmo que a perturbação tenha um elemento  psíquico predominante, a sua origem pode ser física. Os focos sépticos são  realmente centros de decomposição, e como tal eles abrem a porta para formas  inferiores de vida elemental cuja função é tomar parte na volta do pó ao pó. As  impurezas da corrente sanguínea podem envenenar o cérebro. Tumores e  abscessos podem desregular suas funções. Essas coisas só podem ser  reconhecidas pelo homem que compreende o corpo; diante de sintomas  semelhantes, o homem treinado é o melhor homem, e o homem com o melhor  treinamento é o homem certo, e o único lugar em que um treinamento adequado  em diagnose pode ser obtido é um hospital geral. Além disso, se as coisas não  correrem bem, a única pessoa que pode tirar a sardinha com a cauda do gato é a  pessoa cuja assinatura as autoridades aceitarão num certificado. Supondo-se que  o paciente se revele um lunático, o que é que o praticante não-qualificado pode  fazer com ele? Muitos casos de pretenso ataque psíquico são na verdade casos  de insânia e histeria. A sandice incipiente é algo muito difícil de detectar; a  histeria é muito astuciosa e plausível; um médico que lida com a natureza  humana todos os dias de sua vida detectará esses dois estados muito mais  rapidamente do que o leigo que jamais os viu antes .
 Pode-se objetar que é muito difícil encontrar um médico que tenha uma atitude  simpática para com o ocultismo. Utilizar esse argumento é falsear a questão .
 Não se pede ao médico que coopere com qualquer operação oculta, mas que examine o distúrbio físico e, quando o encontrar, que o cure. Ele está tão  preocupado com as medidas ocultas que se tomam em benefício do paciente  quanto com a igreja que este freqüenta .
 Se o médico não encontra nenhuma evidência de um distúrbio orgânico, ou de  alguma doença como veias varicosas, que obviamente nada tem a ver com o  estado mental, pode-se dizer que o caso passou pelo primeiro teste, e podemos  estar certos de que cumpre-nos passar à investigação psíquica. Se o caso tem  mau aspecto, ou se a perturbação dura já há muito, o médico provavelmente  descobrirá que o paciente está debilitado, mesmo que não haja nada  definitivamente errado, e irá proceder ao tratamento adequado. Isso é muito  bom, pois, quanto melhor for o estado físico do paciente, maior controle mental  e resistência ele terá. Os soporíferos deveriam ser evitados, se possível, mas, se  forem necessários, o paciente deverá então ser vigiado enquanto dorme por  alguém que saiba como manter uma guarda ocultista, e o quarto em que ele  dorme deverá ser purificado e selado. Normalmente, se uma pessoa que está no  astral depara com um ataque oculto, ela volta para o seu corpo como um coelho  para a toca e desperta como que  de um pesadelo; mas se o sono se tornou  artificialmente profundo devido à ingestão de um soporífero, ela não poderá  despertar, e ficará presa no astral, por assim dizer, que é a última coisa que se  deseja no caso de um ataque psíquico. Se o soporífero é considerado  absolutamente necessário, já que é impossível ficar sem dormir  indefinidamente, a pessoa que está vigiando o paciente deverá observar  cuidadosamente todos os sinais de que o sono está sendo perturbado por sonhos,  e se ela perceber resmungos e contorções, deverá imediatamente realizar os  esconjuros necessários e sussurrar em seus ouvidos sugestões calmantes e  tranqüilizadoras como as que Coué recomenda que se façam no caso das  crianças. Uma das características mais aflitivas de um ataque psíquico consiste  no fato de que a vítima teme dormir porque sente que no sono ela está indefesa.  Aqueles que leram a terrível história de Kipling, “The End of Passage”, devem  lembrar-se de que a vítima do ataque oculto nela descrito sempre ia para a cama  usando  esporas para que com elas pudesse ferretear-se e despertar na  eventualidade de estar pelejando com o seu inimigo invisível durante o sono .
 Há muitas coisas que se podem fazer no piano físico para auxiliar a pessoa que  está sofrendo um ataque oculto, e esses métodos físicos estão dentro das  providências que um médico pode tomar quando o caso está aos seus cuidados.  A luz do sol é extremamente valiosa porque fortalece a aura e a toma muito  mais resistente., As pessoas são sempre aconselhadas a se retirarem para o  campo por essa razão, mas, para a vítima de um ataque oculto, a reclusão no  campo pode não ser a atitude mais sábia, pois as forças elementais são muito  mais potentes fora das cidades, e se essa vítima corre o perigo de sofrer uma  investida de forças atávicas, o melhor que ela tem a fazer é agarrar-se à morada dos homens. O mar é igualmente uma força elemental que será melhor evitar,  pois a água é um elemento que está intimamente associado ao psiquismo.  Quando se recomenda uma recuperação saudável para uma pessoa que sofre de  um distúrbio psíquico, as grandes massas de água e as montanhas elevadas  devem ser evitadas. O melhor lugar é um balneário no interior do país. Jogos,  treinamento físico, massagens, tudo que melhora o estado do corpo é útil, mas  as longas caminhadas solitárias devem ser evitadas porque ela sempre o risco do  suicídio. A pessoa que sofre de um ataque psíquico deveria a todo custo evitar a  solidão .
 Há uma outra medida simples que proporciona imenso alívio nos casos de  interferência psíquica. E óbvio que o ataque é feito através dos centros  psíquicos, portanto tudo que feche esses centros tornará a vítima relativamente  imune. É sabido que uma pessoa embotada e materialista pode viver  impunemente em casas assombradas que levam o  sensitivo à loucura e ao  suicídio. É também sabido que o trabalho psíquico não pode ser realizado se há.  alimento no estômago; os melhores resultados são sempre obtidos em jejum. O  corolário óbvio desses fatos é que, se desejamos manter os centros psíquicos  fechados, não deveríamos permitir que o estômago ficasse vazio. A pessoa que  está enfrentando um ataque psíquico não deveria ficar mais do que duas horas  sem ingerir algum alimento .
 Certos importantes centros psíquicos localizam-se na cabeça. Uma das maneiras  mais simples de testar a sua atividade é retirar o sangue da cabeça. Isso pode ser  feito tomando-se um banho quente ou colocando-se os pés em água e mostarda  quente. Outro importante centro psíquico é o plexo solar; durante um ataque  psíquico, sente-se que ele está quase sempre tenso e confrangido. Uma grande  garrafa de água quente, bem cheia de modo que seja tão pesada quanto quente,  deposta sobre o plexo solar, que é o espaço da largura da mão entre a boca do  estômago e as costelas, aliviará efetivamente a tensão nesse ponto. Além disso,  a pressão sem calor trará alívio, e eu soube de casos em que uma almofada  firme presa no local por um cinto de espartilho trouxe muito conforto .
 Acima de tudo, os intestinos deveriam ser mantidos livres enquanto se enfrenta  um ataque psíquico, porque não há nada que ponha alguém em tão grande  desvantagem quanto a acumulação de matéria estéril no corpo .
 Todos esses simples remédios físicos são absolutamente úteis. Eles não darão  uma cura para as patologias psíquicas, nem uma completa defesa contra o  ataque psíquico, mas podem trazer um grande alívio para a aflição; eles  permitem à vítima oferecer uma resistência muito mais efetiva, e aliviando a  tensão eles aumentam a sua resistência. Em muitos casos de ataque psíquico,  aquele que resiste por mais tempo triunfa; os ataques psíquicos realizados por seres humanos não são coisas que podem ser mantidas indefinidamente, pois  utilizam muita energia .
 Diz um velho adágio: “Nunca utilize uma grande pá se uma pequena pá pode  fazer o serviço”. Os métodos físicos de defesa envolvem muito menos  dispêndio de energia do que os métodos psíquicos, portanto é psiquicamente  econômico fazer tanto uso dela quanto possível. Por que devemos nos  preocupar com exorcizar os elementos da terra por meio de um ritual se  podemos fazê-lo com uma pílula? A questão da dieta também precisa ser considerada a esse respeito. A  propaganda muito difundida da Sociedade Teosófica fez com que o  vegetarianismo fosse visto como um sine qua non do treinamento ocultista. Isso,  contudo, não é verdade. A Tradição Esotérica ocidental não inclui o  vegetarianismo como parte de seu sistema, mas ensina que um homem deveria  comer frugalmente e moderadamente os alimentos da terra em que se acha.  Pessoalmente, estou propensa a pensar que ocultismo e vegetarianismo podem  constituir uma mistura insensata para um europeu, tendo como conseqüência  uma super-sensibilidade que torna a vida muito difícil em nossa árdua  civilização .
 O vegetarianismo deve ser absolutamente bem compreendido e extremamente  bem realizado para ser bem sucedido, e mesmo assim há muitas pessoas que são  incapazes de digerir as proteínas vegetais, que não são tão facilmente  assimiláveis quanto as substâncias animais. Nada a não ser a experiência pode  mostrar se uma dieta vegetariana se adapta a uma dada pessoa. A indigestão não  é o único indício de que algo não vai bem. A perda de apetite, a perda de  energia, a perda de peso ou uma flácida corpulência podem causar uma má  saúde crônica. Uma pessoa pode dar-se muito bem com o vegetarianismo no  início, mas pode descobrir, depois de um considerável período de tempo,  possivelmente anos, que estão se tomando sujeitas a neurites, a nevralgias, a  dores ciáticas ou a uma ou outra das dores nevrálgicas. Essa é uma indicação  segura de que uma dieta vegetariana está fornecendo insuficiente nutrição, não  porque ela não contenha as unidades alimentícias necessárias, mas porque a  digestão é incapaz de assimilá-las e elas estão passando inalteradas pelo  organismo. Sempre que há uma história de dores nevrálgicas complicando um  caso de distúrbio psíquico, costumo suspeitar de uma má nutrição crônica como  causa de um psiquismo hipertrofiado. Nesses casos, descobrir-se-á  provavelmente que uma volta gradual à dieta mista trará uma redução da hipersensiblidade, os contatos indesejáveis que se formaram desaparecerão e o estado  orgânico voltará ao normal. A mudança de dieta, no entanto, deveria ser sempre  feita gradualmente para que a digestão não seja perturbada.Todo aquele que está tendo problemas com um distúrbio psíquico deveria  imediatamente cessar todas as práticas ocultistas e abandonar suas meditações  habituais, retornando às preces de sua infância ou aos métodos do Novo  Pensamento. Não é hora de abrir os centros psíquicos quando há uma  perturbação astral. A coisa a fazer nesses casos é regressar ao plano físico e aí  ficar, resolutamente. Havia um desenho num velho número de Punch que no  meu modo de ver expressa a atitude correta para uma pessoa atormentada pela  perturbação psíquica. Á frente de uma antiga cama de baldaquino está uma  feroz mulher armada com um rolo de pastel, e embaixo da sanefa aponta a  cabeça do marido, que diz: “Você pode me bater e me quebrar, mas não pode  reprimir a minha personalidade, pois eu não sairei”.  Se a vítima de um ataque oculto se concentra em coisas mundanas, ela se  transforma num osso duro de roer para qualquer feiticeiro. O que pode o  feiticeiro fazer se no momento em que opera a arte negra, a sua vitima está no  cinema rindo às gargalhadas com as momices de Carlitos? Reza o velho ditado  que um prego empurra o outro. Se você tem medo de perigos invisíveis,  dedique-se a um esporte que tenha algum elemento de risco .




DIAGNOSE DA NATUREZA DE UM ATAQUE



Após termos considerado os fatores puramente físicos de uma perturbação  psíquica, podemos agora passar à consideração dos fatores genuinamente  psíquicos. Devemos ter sempre em mente, contudo, que descobrir o distúrbio  físico não elimina necessariamente o fator psíquico. Um fator físico, tal como  um estado anormal do sangue, pode causar uma forma inferior de psiquismo e  pôr a sua vítima em contato com más condições astrais. A ciência pode chamá- lo de delírio ou alucinação, mas o ocultista chama-o de psiquismo patológico e  pode muito fazer para suavizá-lo, seja fechando os centros psíquicos, seja  extirpando as más influências psíquicas do meio ambiente do paciente, de modo  que os espíritos que ele vê sejam angélicos em vez de demoníacos, e lhe causem alegria e não angústia. Os centros psíquicos abertos à força por uma corrente  sanguínea enferma percebem tudo que está no âmbito de sua visão. Portanto,  asseguremo-nos de que nada, a não ser o que seja agradável, se aproxime deles.  Podemos não ser capazes de afastá-los inteiramente do Astral, mas pelo menos  podemos nos assegurar de que as suas viagens se fazem numa parte segura e  agradável do Astral. As pessoas não compreendem o quanto as peregrinações  dos delírios podem ser dirigidas e controladas pelas sugestões sussurradas nos  ouvidos de uma pessoa doente. Podemos acompanhar o homem doente em suas  viagens astrais e fazer com que a nossa voz seja ouvida entre as suas visões,  com o nosso conhecimento expulsando as presenças maléficas que o ameaçam e  guiando os seus sonhos no caminho da paz .
 No início de nossa diagnose, devemos distinguir as três classes principais de  distúrbio psíquico: aqueles que são um subproduto do distúrbio físico, aqueles  que se devem à ação humana maligna, e aqueles que se devem à interferência  não-humana. O primeiro tipo seria prontamente detectado pelo médico, se,  como já se aconselhou, recorrêssemos a ele como medida essencial. Além disso,  o médico seria útil também para eliminar as fraudes, pois as pessoas que se  movem nos círculos psíquicos e estão familiarizadas com a sua terminologia  podem simular um ataque psíquico, seja para ganhar dinheiro ou obter  hospitalidade, seja por puro amor à notoriedade, um motivo muito mais comum  para as aberrações humanas do que geralmente se pensa. As fraudes  normalmente desaparecem com muita rapidez quando ameaçadas por um exame  físico. Aqueles que decidem arriscar a sorte são rapidamente apanhados pelo  homem que trabalhou no ambulatório de um hospital geral .
 O diagnóstico que o ocultista deve fazer consiste, portanto, em distinguir o  ataque de uma mente encarnada e o ataque de uma mente desencarnada. Há  duas maneiras pelas quais o ocultista pode fazê-lo, e ele deveria utilizar ambas,  para que elas se contraprovem mutuamente .
 Ele deveria recorrer pelo menos a dois sensitivos independentes para  psicometrizarem o caso, e ele próprio deveria fazer seu diagnóstico a partir da  história do caso interpretada à luz dos primeiros princípios. É um grande erro  misturar o sensitivo e o cientista. Eles podem neutralizar-se mutuamente.  Deixemos que uma pessoa faça o psiquismo e a outra, a observação, e tomemos  as precauções adequadas para impedir que os resultados da investigação do  clarividente sejam viciados pela sugestão, ou pela leitura mental das opiniões  previamente concebidas e conservadas no cérebro de qualquer uma das pessoas  envolvidas. É, portanto, uma boa coisa enviar os sujeitos para um exame  psicométrico no início de uma investigação ocultista, antes de formar qualquer  opinião.Não é a coisa mais simples do mundo manipular adequadamente os objetivos  para exame psicométrico. Eu vi certa vez um homem tirar um cacho de cabelos,  pertencente a outra pessoa, de seu bolso, onde ele o tinha mantido por alguns  dias, e o entregar para a psicometria. O cacho estava naturalmente tão  impregnado com as suas próprias emanações que era inútil. Um espécime  encaminhado para exame deve ser algum objeto que esteja completamente  impregnado com as vibrações de uma pessoa. Uma roupa usada recentemente e  habitualmente, um cacho de cabelos, uma peça de joalheria, todos esses objetos  podem servir, desde que adequadamente preservados. Substâncias cristalinas,  tais como pedras preciosas, conservam o magnetismo melhor do que tudo o  mais; os metais são igualmente bons; preciosos ou não. Um canivete, por  exemplo, conservará adequadamente o magnetismo. A madeira conserva-o mal,  assim como o papel, a lã, o algodão e a seda artificial, especialmente esta  última. A seda e o linho  são bons. A borracha é inútil. O vidro depende da  forma para manter seus poderes. Se está cortado de modo que refrate a luz, ele é  muito bom; se é liso e transparente, como o vidro das janelas, é quase inútil. A  pedra é média. A cerâmica, pobre. Um artigo trabalhado não é tão bom quanto  um artigo simples. Por exemplo, um anel cravejado não é tão bom quanto um  anel de sinete. As cartas podem confundir porque contêm tanto do magnetismo  do envelope quanto do autor. Alguns sensitivos podem trabalhar a partir de uma  fotografia, mas esse método não é, estritamente falando, psicométrico, pois a  imagem mental evocada pela fotografia é utilizada para apanhar a imagem  correspondente no éter refletor .
 É preciso ter muito cuidado para manipular um espécime a psicometrizar, pois  ele será facilmente contaminado pelo magnetismo de quem o tocar ou  permanecer nas suas proximidades, ou mesmo pensar nele com concentração.  Por exemplo, se enquanto estiver embrulhando esse espécime para enviá-lo,  você pensar no problema que ele apresenta e elaborar a sua própria teoria, o  psicometrista pode apanhar a sua forma mental ao invés de ler o estado da  pessoa a quem pertence o objeto. Os materiais que são utilizados no embrulho  deveriam também estar livres de magnetismo. Num certo caso, de que tive  conhecimento, o sensitivo afirmou que um certo berloque pertencia ou a uma  enfermeira ou a alguém que trabalhava em hospitais. Na verdade, ele não  pertencia a nenhum dos dois, mas havia sido embrulhado em algodão cirúrgico .
 Quando embrulhar um espécime psicométrico, faça-o da maneira mais rápida  possível e manipulando-o o menos que puder. Pegue um pedaço de seda  “virgem” branca ou preta (não colorida), grande o bastante para servir como um  invólucro. Coloque-a sobre o artigo e embrulhe-a  rapidamente, manipulando-o  através da seda. Em sentido oculto, “virgem” significa algo que nunca foi  utilizado para qualquer outro propósito. Por exemplo, você não deve utilizar um  retalho de um velho vestido ou de uma capa de almofada. Um artigo que não se presta para manipular por esse método pode ser seguro por pinças ou pelas  pontas de um par de tesouras e colocado no pedaço de seda no qual será enrolado. Guarde o artigo embrulhado numa caixa de madeira, assegurando-se de  que todo enchimento utilizado seja também virgem. Não se deve confiar no  relato de um único psicometrista. É também conveniente, ao enviar os  espécimes, e especialmente ao enviar uma hora de nascimento para um  horóscopo, que o nome do paciente não seja conhecido, para que o boato não se  espalhe. Os astrólogos gostam muito de traçar mapas circulares e de discuti-los.  Eu soube de coisas muito desagradáveis que ocorreram por essa razão .
 Um horóscopo feito por alguém que compreende a natureza desse trabalho é de  grande valor, pois a posição dos planetas nas casas celestes não apenas serve  para auxiliar o diagnóstico, mas é também um guia muito importante para o  tratamento. É melhor, portanto, explicar ao astrólogo a natureza do caso, e a  espécie de informação desejada, para que ele possa estudar a carta de acordo  com esses dados. Um horóscopo é para um terapeuta ocultista o mesmo que  uma chapa de raio X para um médico .
 Enquanto espera esses relatórios, e enquanto a sua mente ainda não está  influenciada por eles, o ocultista deve fazer o  seu próprio diagnóstico  independente. Para fazê-lo, ele deveria ter pelo menos duas entrevistas com o  paciente. Na primeira, deveria ouvir a história do caso, deixando o paciente  apresentar os fatos à sua própria maneira, sem direção ou questões condutoras.  Assim que o paciente saísse, o operador deveria escrever a história do caso com  todos os detalhes de que possa se lembrar. É extremamente indesejável tomar  notas na presença do paciente, pois isso o deixa nervoso, por pressentir que, nas  palavras dos tribunais, “tudo que disser poderá ser utilizado como prova contra  ele” .
 Ao se preparar para a segunda entrevista, o ocultista deveria estudar  cuidadosamente o seu registro e ter bem claro em mente os seus pontos e a sua  seqüência. Agora é a hora de questionar os pacientes a respeito das  discrepâncias e dos hiatos. Esse procedimento revelará a mentira, deliberada ou  histérica, mais rapidamente do que qualquer outro método, pois as discrepâncias  de sua segunda história se chocarão claramente contra o registro escrito da  primeira. Se ele está falando a verdade, as duas histórias concordarão. Se está  distorcendo os fatos, ele logo cairá em contradição .
 Lembre-se de que você está lidando com uma pessoa que tem características  sensitivas ou neuróticas, ou talvez ambas, em sua personalidade, e que sua  atitude para com ele, e mesmo seus pensamentos não-expressos, o influenciarão  profundamente. Se ele sente que você está duvidando de suas palavras, ele  perderá a autoconfiança e começará a pensar que suas experiências podem, afinal, ser fruto de sua própria imaginação. Conseqüentemente, ele suprimirá  coisas que podem ser importantíssimas do ponto de vista do diagnóstico. É  nesse despejar de detalhes relevantes e irrelevantes que você descobrirá suas  pistas .
 Há certos pontos de referência em que você precisa prestar atenção ao ouvir  esse histórico, mas não deixe que o seu paciente compreenda que você os está  buscando, pois se você ganhou a sua confiança ele poderá perceber o seu ponto  de vista, e se ele descobrir que você já tem uma opinião formada, distorcerá  inconscientemente os acidentes para que concordem com essa opinião. Não  permita que ele adivinhe o propósito de suas questões, e assim você obterá dele  respostas imparciais. Para impedir que ele adivinhe o que você pretende dizer,  não faça uma série de perguntas que elucidem a informação sobre um ponto  especifico. Faça perguntas primeiro sobre um ponto e depois sobre outro. Por  exemplo, se você suspeita que a perturbação pode ser devida à casa em que o  paciente mora, a última coisa que você deve fazer é despertar-lhe as suspeitas a  esse respeito, a menos que você esteja numa pista falsa. E mesmo se você  descobrir que está na trilha correta, você não deve apresentar-lhe os fatos antes  de estar pronto para agir, pois aumentando suas apreensões você aumentará seus  sofrimentos. Se você suspeita que o sexo exerce um papel em sua perturbação, e  o paciente desconfia do rumo de suas perguntas, ele imediatamente ocultará as  pistas, e você descobrirá que é muito difícil obter todos os fatos. Ao passo que  se as suspeitas do paciente não forem despertadas, ele se revelará a um  estrevistador astuto e experiente que se aproxima indiretamente sem que ele se  dê por isso. Aproxirnando-se indiretamente, você não apenas obtém todos os  fatos reais do caso, mas poupa os seus sentimentos .
 Ao tomar o histórico de um caso, você deve buscar pelas correlações entre a  experiência psíquica de seu paciente e as circunstâncias de sua vida. Datas e  lugares, por conseguinte, devem ser diligentemente pesquisados. Quando  começou a perturbação, e onde? Tendo obtido todas as informações que puder  sobre esses dois pontos, comece a investigar se elas apresentam qualquer  significado oculto. Verifique cuidadosamente as datas, e examine-as numa  efeméride daqueles anos, e observe como estava a lua em relação a elas, e  também os planetas. Observe se as datas caíram nos equinócios ou nos  solstícios. Observe também os dias da semana que lhes correspondem. Se você  descobrir que todas as crises do caso ocorreram nas quintas-feiras, ou por  ocasião do Equinócio Vernal, ou na lua cheia, você terá uma informação de  extraordinário significado. Você terá a certeza, pelo menos, de que está lidando  com um caso em que as marés psíquicas invisíveis desempenharam algum  papel.É preciso procurar informações também a respeito do lugar ou lugares em que  as diferentes crises da perturbação ocorreram e especialmente as circunstâncias  que acompanharam a sua primeira manifestação. É extremamente útil visitar, se  possível, o lugar e sentir a sua atmosfera. Pode-se saber muita coisa visitando-se  os lugares em que o paciente está vivendo .
 Tendo obtido toda a informação geográfica que conseguir, estude-a  cuidadosamente em um mapa de artilharia de grande escala. Pode-se facilmente  ter acesso a ele, e a todas as informações desejadas, numa biblioteca pública.  Observe se há qualquer vestígio pré-histórico na vizinhança e, se houver, qual a  relação existente entre a casa e ele. Levante a história do distrito, e veja se ela  traz qualquer informação adicional. Os vestígios romanos estão amiúde no  fundo da perturbação, pois as legiões trouxeram consigo alguns cultos muito  estranhos nos dias da decadência de Roma. Deve-se suspeitar também dos  vestígios druidas, se há algum deles nas cercanias .
 Informe-se também sobre quaisquer objetos incomuns da casa, como imagens  de divindades de cultos primitivos ou armas selvagens .
 É possível que poderosos elementais estejam relacionados com eles. Pergunte se  a perturbação desaparece quando o paciente se vai para outro lugar. Se a  resposta é afirmativa, pode-se com segurança presumir que as condições  ambientais estão no fundo da perturbação. Mas se a resposta é negativa, isso  não significa necessariamente que o contrário é verdadeiro. Pode ser que a  perturbação não dependa do local, mas de alguma pessoa que reside no local.  Nunca se esqueça de que na grande maioria dos casos essa influência nociva da  pessoa deve-se antes a uma constituição psíquica infeliz do que ao abuso  deliberado do conhecimento oculto. Demore para aceitar esta última hipótese,  pois a sua ocorrência é relativamente rara. E mesmo que se saiba que a pessoa  suspeita tem conhecimentos ocultos e que se possa provar que ela é hostil ao  paciente, isso não significa necessariamente que o ataque é consciente e  deliberado. Ele pode ser inconsciente e reflexo. E bem verdade que um ocultista  deveria ter suficiente controle sobre seus veículos para impedi-los de agir  independentemente de sua vontade e de sua consciência; mas esse nem sempre  é o caso. As pessoas estão em estágios muito diferentes de desenvolvimento. Há  sempre um período difícil entre o despertar dos poderes superiores e o pleno  controle sobre eles .
 Dever-se-ia investigar, também, a natureza dos sonhos, e se o paciente é sujeito  a pesadelos, mesmo fora da questão estrita do ataque oculto. E também se ele já  teve outras experiências psíquicas, e, em caso positivo, de que natureza.Finalmente, uma cuidadosa pesquisa deveria ser feita a respeito dos amigos do  paciente, para se saber se algum deles é sensitivo ou estudioso do ocultismo.  Seja muito cauteloso, contudo, para não lançar suspeitas sobre qualquer pessoa,  a menos que você tenha provas conclusivas, e é essencial fazê-lo para poupar o  paciente. Lembre-se de que é sempre possível que você possa estar errado. Os  jornais relataram, não faz muito tempo, o caso de um homem que cometeu  suicídio porque um médico o informou de que sofria de uma doença cardíaca  congênita e que não deveria desposar a jovem de quem estava  noivo. Na  autópsia, descobriu-se que ele nada tinha em absoluto no coração. Imagine os  sentimentos do médico que deu esse precipitado diagnóstico. Uma pessoa já  transtornada por um ataque psíquico terá medo da própria sombra. É preciso  tratá-la muito discretamente. Seja muito cauteloso ao anunciar suas suspeitas,  mesmo que elas já estejam conclusivamente comprovadas. Quanto tudo foi dito  e feito, o objetivo principal de seu trabalho é uma cura, não uma explicação. É  de pouco valor para seu paciente apurar a responsabilidade, a menos que o  assunto possa ser esclarecido. Ele ficará consideravelmente pior se as suas  suspeitas forem dirigidas contra alguma pessoa de seu ambiente, de quem ele  não pode escapar, e é melhor deixá-lo atribuir a sua perturbação e influências  psíquicas não-identificadas. O ditado “onde a ignorância é bem-aventurança é  loucura ser sábio” é mais verdadeiro nos assuntos psíquicos do que em qualquer  outro. Nunca abra os olhos de seu paciente a um perigo para o qual você não  pode lhe dar uma defesa eficaz. O cirurgião que está prestes a operar cobre os  seus instrumentos com uma toalha para que o paciente não os veja. O ocultista  sábio faz o mesmo. Não esqueça que o invisível é sempre suspeito para o nãoiniciado .
 Tendo conduzido a pesquisa nas linhas esboçadas nas páginas anteriores, você  terá adquirido uma considerável quantidade de material para investigação.  Examine-o cuidadosamente em busca de correlações de causa e efeito. Observe  se qualquer exacerbação da perturbação está regularmente associada a qualquer  incidente, lugar ou pessoa. Considere também os vários casos típicos que dei  como exemplos nos capítulos anteriores, e veja se você pode descobrir algum  que se assemelhe ao caso que está investigando. Observe as explicações dadas,  e veja se elas lançam alguma luz sob o problema, ou se sugerem linhas pelas  quais a pesquisa possa ser desenvolvida .
 Trabalhando dessa maneira, você será capaz de chegar a um diagnóstico  provisório. Se ele é confirmado pelas descobertas dos sensitivos  a quem você  enviou espécimes para psicometria, então você pode confiar em que está na  trilha correta e prosseguir confiantemente .
 Lembre-se, contudo, de que embora os sensitivos possam concordar quanto aos  pontos principais de sua investigação, você não pode esperar uma concordância completa quanto aos detalhes. Eles inspecionam uma fotografia composta de  toda a vida do paciente, e há tanto para ver que não é provável que eles vejam  tudo. As coisas que eles confirmam podem ser dadas por estabelecido, mas as  coisas que um vê, e o outro não, não são necessariamente ilusórias .



MÉTODOS DE DEFESA



Ao escrever para o leitor comum uma exposição dos métodos a utilizar no  combate a um ataque psíquico, eu me lembro daqueles excelentes manuais de  medicina e cirurgia que um esclarecido Ministério da Indústria e do Comércio  insiste que devem ser fornecidos aos capitães de navio, juntamente com um  armário cheio de remédios, inofensivos ou não. Quando surge uma emergência,  o digno capitão lê do princípio ao fim o capítulo que ele acredita ser indicado  para o caso em questão e se põe ao trabalho como melhor pode .
 Assim é quando se lida com a perturbação psíquica. Para se fazer um  diagnóstico é necessário ter uma larga experiência e para se enfrentar os  possíveis acidentes cumpre ter sobretudo faculdades treinadas e, mais do que  isso, poderes desenvolvidos. Este livro tem mais a natureza de um manual de  primeiros socorros do que de um tratado sobre o tratamento .
 Devemos ter também em mente que assim como a droga potente é eficaz nas  mãos de um perito mas perigosa nas mãos do amador, do mesmo modo as  fórmulas ocultas mais poderosas exigem um equipamento especial para a sua  utilização. Além disso, uma fórmula que é utilizada indiscriminadamente pelo  não-iniciado tende a perder a sua potência e a tornar-se inútil. A imprecação  popular que Bernard Shaw introduziu na sociedade cortês em sua peça  Pigmaleão é o retalho puído da adjudicação outrora poderosa “Por Nossa  Senhora”. Além disso, dois casos nunca são iguais, e o caso típico e bem  definido é uma raridade e um tesouro. O senso comum, a aptidão natural e a experiência são o melhor equipamento do exorcista.Tendo feito seu diagnóstico e estando pronto para cuidar do caso, o exorcista  deverá cumprir três obrigações: precisará reparar a aura do paciente, clarear a  atmosfera de seu ambiente e quebrar o seu contato com as forças que estão  causando a perturbação. Essas três coisas são interdependentes, e nenhuma  delas é a primeira ou a última. É quase impossível levar uma aura avariada à  cura se você não purificar a atmosfera; e a atmosfera não permanecerá limpa  por muito tempo se você não conseguir quebrar os contatos .
 Teoricamente, o ideal é quebrar os contatos como ponto de partida. Mas  infelizmente, na prática real, é às vezes muito difícil descobri-los, e é muito  difícil manipulá-los depois que foram descobertos. Entretanto, algo deve ser  feito para manter o paciente vivo. Compete ao exorcista purificar o local em que  trabalha. Ou, se a vitima do ataque está se defendendo sem ajuda, cumpre-lhe  construir rapidamente algumas defesas temporárias enquanto cava trincheiras .
 A primeira coisa a fazer quando se lida com um ataque oculto é fazer uma  purificação temporária da atmosfera e, assim, ganhar uma pausa para respirar e  refazer as fileiras destruídas. Isso é obtido mais prontamente por um ritual  organizado do que pela força de vontade sem auxilio, Todo ato realizado com  intenção torna-se um rito. Podemos tomar um banho tendo em mente apenas a  limpeza física; nesse caso o banho limpará nossos corpos e nada mais. Ou  podemos tomar um banho visando à limpeza ritual, e nesse caso sua eficácia se  estenderá para além do plano físico. Portanto, realizamos certas ações físicas  não apenas como um meio de purificar as condições etéreas, mas também como  um meio para produzir definitivamente pela imaginação as condições astrais  necessárias, uma arma potentíssima em todas as operações mágicas .
 Os objetos físicos impregnam-se com as emanações etéreas e as retêm por  períodos consideráveis como uma faca retém o odor de cebolas e contamina  tudo que cortamos com ela. Essas emanações, ou magnetismo como são  chamadas na terminologia da ciência oculta, afetam profundamente toda pessoa  sensitiva que está em contato com elas. Há um fundo de verdade na velha  superstição de que traz desgraça colocar as botas sobre uma mesa. É igualmente  desaconselhável colocar roupas externas sobre uma cama. Você não sabe em  quem roçou os ombros no ônibus ou no trem, então por que dar ao magnetismo  de alguém a chance para contaminar o seu lugar de dormir? Felizmente para todos nós, o magnetismo é uma força muito fugidia, e embora  essa força possa ser poderosa quando fresca, ela desaparece rapidamente, a não  ser que tenha sido deliberadamente criada por meio do ritual. Não é difícil  livrar-se da terrível atmosfera que cerca a vítima de um ataque oculto e permeia  todos os seus pertences, embora ela rapidamente se recomponha quando as  condições que a originaram não foram purificadas.O meio mais eficaz de livrar a vítima do magnetismo é movê-la para um local  fresco e não deixá-la levar nenhum de seus pertences. Isso, contudo, é uma  coisa muito difícil para muitas pessoas. Felizmente, há outros expedientes que  nas permitem atingir nossos fins tão rapidamente quanto eficazmente. Se for  possível, deixemos que a vítima de um ataque oculto se mude temporariamente  para outro ambiente, levando consigo apenas os pertences indispensáveis, e  façamos com que ele se mude com novas roupas, ou em roupas que acabaram  de chegar da lavanderia. Obriguemo-lo, além disso, a manter o seu paradeiro tão  secreto quanto lhe seja possível .
 Diz uma velha superstição que uma bruxa pode ser expulsa da trilha se  encontrar em seu caminho água corrente. Sou da opinião de que muitas dessas  antigas crenças populares têm uma base real, embora revestida pela superstição.  Certa vez eu tive uma curiosa experiência que dá apoio a essa opinião. Eu  estava prestes a tomar parte num importante trabalho oculto ao qual eu sabia  que haveria oposição. Uma amiga que estava a par do assunto pediu-me para  jantar com ela na noite anterior ao dia fixado para a operação. Estávamos ambas  conscientes da tensão da atmosfera, e ela sugeriu que eu deveria permanecer à  noite em seu apartamento em vez de retornar ao meu, não informando a  ninguém do meu paradeiro a fim de tirar o ataque da trilha. A manobra não foi  inteiramente bem sucedida, e tivemos uma noite exasperante, e no dia seguinte  eu podia perceber a grande tensão psíquica que me oprimia. Decidi, portanto,  caminhar no Hyde Park a fim de me refrescar. Quando tinha caminhado parte  do caminho, senti subitamente que a tensão diminuíra, e pude entregar-me ao  trabalho sem interferências. Narrei esta experiência à minha amiga, e ela me fez  perguntas quanto ao local em que eu estava quando isso ocorreu. Observamos o  ponto num mapa e descobrimos que eu  havia atravessado a tubulação  subterrânea pela qual passa a água oriunda da Serpentina. Eu não conhecia a  antiga superstição concernente à água corrente, nem sabia da existência da  tubulação. Não obstante, a sensação de alivio foi suficientemente forte para  fazer-me falar dela quando vi novamente minha amiga, e para poder indicar o  ponto em que ele havia ocorrido .
 Temos pouco conhecimento exato a respeito dessas forças sutis que são a base  do ataque oculto e da cura espiritual, mas temos boas razões para acreditar que  em sua natureza elas são estreitamente análogas à eletricidade. Não são forças  inanimadas, mas têm em sua natureza algo que é afim à vida, embora de um  tipo inferior. Sei por experiência que se trabalhamos numa analogia entre a  eletricidade e a bacteriologia, chegamos mais perto dos fatos; tão perto, pelo  menos, quanto o permite o estado atual. de nossos conhecimentos. Em outras  palavras, se agirmos como se possuíssemos as qualidades combinadas da  eletricidade e da bactéria, poderíamos ter um método suficientemente acurado de governar por vôo cego na ausência de certo conhecimento e de compreensão  real. Se analisamos os vários métodos utilizados na magia popular de todas as  épocas e raças, poderíamos observar que elas concordam com essas hipóteses .
 A água corrente, como sabemos, tem peculiares qualidades elétricas, como o  testemunha o efeito que ela causa sobre uma varinha de rabdomante nas mãos  de uma pessoa sensitiva. Seja o que for que afete o adivinho, trata-se  provavelmente da mesma coisa que afeta o ataque oculto. Quando nos  lembramos, contudo, de que a água corrente afasta os sabujos da pista assim  como a pretensa bruxa, não podemos ser acusados de superstição grosseira se  minamos a antiga tradição popular e observamos os seus resultados .
 A água, além disso, é o veículo da purificação. Ela é utilizada no rito do  batismo pela Igreja e na Preparação do Lugar pelo ocultista antes do início de  uma cerimônia. Estritamente falando, deve haver um pouco de sal na água  empregada para esse fim, e o sal e a água são abençoados pelas poderosas  invocações quando o sacerdote prepara água benta, seja para um batismo, ou  para colocá-la na pia para uso da congregação .
 No que concerne ao ocultista, o sal é para ele o emblema do elemento da terra.  É também uma substância cristalina, e as substâncias cristalinas, em suas  diferentes formas, recebem e mantêm o magnetismo etéreo melhor do que  qualquer outro veículo. A água, por outro lado, é o emblema da esfera psíquica.  Esses dois remos, entre todos, contêm, sem dúvida alguma, o maior quinhão do  mal oculto. É de fato raro que a maldade espiritual em lugares elevados chegue  até os reinos aéreos da mente ou os reinos ardentes do espírito. Se desejamos  entrar em contato com uma esfera particular ou operar por seu intermédio,  utilizamos como base uma substância que lhe seja apropriada.  Consequentemente, uma solução de sal e água fazem uma base melhor do que o  fariam a água e o sal em separado, porque isso nos permite cobrir toda a esfera  das operações prováveis num único ato. É interessante notar, a propósito das  propriedades mágicas das substâncias cristalinas, que os cristais são utilizados  nos aparelhos de rádio para captar as vibrações sutis do éter. Mais uma vez  estamos perto da trilha de nossa analogia eletrobacteriológica .
 É um ótimo expediente, quando se tenta quebrar um contato psíquico  indesejável, imergir o paciente num banho de água que foi especialmente  consagrada para esse fim; vesti-lo em seguida com roupas novas ou pelo menos  limpas, e, se for possível, mudá-lo para um quarto diferente. Se isso não pode  ser feito, desloque a cama de lugar, cuidando para que ela fique num ângulo  diferente do anterior; ou seja, se o paciente tinha o hábito de dormir deitado no  sentido norte-sul, coloque sua cama de modo que ele agora durma no sentido  leste-oeste.As seguintes preces podem ser utilizadas na bênção do sal e da água: “(Apontando o primeiro e o segundo dedos para o sal.) Eu te exorcizo, ó  criatura da terra, pelo Deus vivo ( ), pelo Deus sagrado ( ), pelo Deus onipotente  ( ), para que te purifiques de todas as influências malignas, em Nome de  Adonai, Que é o Senhor dos Anjos e dos homens .
 “(Estendendo a mão sobre o sal.) (Ó criatura da terra, adora teu Criador. Em  Nome de Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, e no de Jesus  Cristo, Seu Filho, nosso Salvador, eu te consagro ( ) para o serviço de Deus, em  Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém .
 “(Apontando o primeiro e o segundo dedos para a água.) Eu te exorcizo, ô  criatura da água, pelo Deus vivo ( ), pelo Deus sagrado ( ), pelo Deus onipotente  ( ), para que te purifiques de todas as influências malignas, em Nome de Elohim  Sabaoth, Que é o Senhor dos Anjos e dos homens .
 “(Estendendo a mão sobre a água.) (ó criatura da água, adora teu Criador. Em  Nome de Deus, Pai Todo-Poderoso, Que estendeu um firmamento no meio das  águas, e de Jesus Cristo, Seu Filho, nosso Salvador, eu te consagro ( ) para o  serviço de Deus, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém .
 “(Derramando o sal na água.) Nós te suplicamos, ó Deus, Senhor do Céu e da  Terra, e de tudo que existe neles, visível e invisível, que Tu possas estender a  mão direita de Teu poder sobre essas criaturas dos elementos e santificá-las em  Teu santo Nome. Permite que este sal ajude a saúde do corpo e esta água a  saúde da alma, e que todo poder da adversidade e toda ilusão e artifício do mal  sejam banidos no lugar em que ambos forem utilizados, por amor a Jesus Cristo  nosso Salvador. Amém.” A água assim consagrada pode ser utilizada num banho, ou para fazer o Sinal da  Cruz sobre a testa, ou para espargir sobre algum local. No momento de sua  utilização, pode-se empregar a seguinte oração: “Pelo Nome que está acima de todos os outros nomes, e pelo poder do Pai, do  Filho e do Espírito Santo, eu exorcizo todas as influências e sementes do mal e  derramo sobre elas o conjunto da Santa Igreja de Cristo, para que possam ser  presas rapidamente com as correntes e arrojadas nas trevas exteriores, que elas  não perturbem os servos de Deus.” Apontando ou fazendo o Sinal da Cruz ( ), os dedos indicador e médio são  estendidos e o anular e o mínimo são dobrados contra a palma da mão, com o polegar repousando sobre suas unhas. Quando a mão é estendida para abençoar  o sal e a água, conservamo-la plana, com os dedos juntos e paralelos, o polegar  estendido em ângulo reto ao indicador .
 Se há bastante força oculta em ação para produzir fenômenos físicos, é  aconselhável precaver contra a ocorrência de materializações. Os fenómenos  físicos apresentam vários tipos de manifestação. Eles podem tomar a forma de  ruídos, normalmente rangentes ou surdos, ou mais raramente notas de sinos ou  sons de lamentos. Se a vítima ouve palavras reais, devemos suspeitar de  alucinações auditivas, pois, na ausência de um médium, as mensagens dos  espíritos são comunicadas ao ouvido interno, e não ao nervo auditivo. Luzes  podem também ser vistas, tomando comumente a forma de esferas opacas de  névoa luminosa levitando como bolhas de sabão. Essas esferas podem ser de  qualquer tamanho, desde pequenos pontos de luz até corpos de dimensões  consideráveis, atingindo seis pés ou mais de diâmetro. Nessas esferas de  luminosidade opaca, os sensitivos costumam ver formas humanas ou do reino  animal. Nuvens de cor cinzento-esbranquiçada podem também às vezes ser  vistas, emergindo do chão na forma de colunas de fumaça. Essas nuvens se  fixam num lugar e não se movem sobre o quarto como o fazem as esferas de  luz, mas giram sobre si mesmas como redemoinhos de fumaça dentro de um copo. Pode-se observar mais raramente um odor marcante. Pode haver também  precipitações de substâncias polvorentas ou de lama, mas esses casos são ainda  mais raros. Objetos luminosos podem também cair e espalhar-se pelo quarto .
 Há certas substâncias que a experiência provou serem eficazes para impedir a  condensação de energia etérea. Sal consagrado dissolvido em vinagre e  colocado num pires no quarto poderá dissolver baixos graus de força, mas para  potências mais elevadas é conveniente utilizar ácido nítrico, derramando uma  pequena quantidade deste num pires e expondo-o ao ar. Convém utilizá-lo em  forma diluída para prevenir acidentes, pois não é a força do ácido no pires que é  eficaz, mas sim a sua evaporação no ar, e o ácido evaporará tanto diluído quanto puro. De que maneira ele opera, eu não tenho a menor idéia, mas seu valor é  bem conhecido entre os sensitivos .
 Os métodos do ataque oculto empregados na Europa moderna são  exclusivamente mentais, pelo menos no âmbito de minha experiência. Ou seja,  neles a mente opera sobre a mente, e só incidentalmente afeta os estados físicos.  No Oriente e entre os povos primitivos, contudo, outros, aspectos devem ser  considerados, pois muitos tipos etéreos de magia são utilizados sob condições  primitivas de vida e sob solos virgens. Nessas operações etéreas, lança-se mão  de substâncias materiais para utilizar o magnetismo que lhes é afim. Fios de  cabelo, aparas de unhas, roupas usadas, objetos de uso familiar, tudo isso  contém magnetismo. Conseqüentemente, é preciso cuidar para que essas coisas sejam efetivamente destruídas quando fora de uso. Fios de cabelo e aparas de  unha deveriam ser rapidamente queimados. As roupas usadas nunca deveriam  sair da posse de seu proprietário senão depois de três dias de exposição ao sol e  ao ar livre. O magnetismo dispersar-se-á mais eficazmente se as roupas ficarem  sobre a terra, especialmente sobre terra recém-revolvida, e não penduradas num  varal. O mesmo se aplica à mobília. A poltrona que era o assento costumeiro da  vítima e, acima de tudo, a cama, devem ser arejadas e postas ao sol antes de  partirem. As mesmas precauções são úteis se qualquer objeto de segunda mão  foi adquirido .
 A destinação de excrementos humanos deveria ser cuidadosamente organizada e  confiada a criados dignos de confiança, com a utilização constante e farta de  desinfetantes e desodorantes. Devem-se tomar precauções para impedir que  algum nativo tenha acesso a excrementos frescos. Depois que o calor animal  saiu deles, o seu valor mágico diminui grandemente. Um lenço sujo é também  um vínculo magnético efetivo, e assim também os curativos de uma ferida. Em  suma, tudo que tem os traços de qualquer um dos subprodutos do corpo .
 Mas, à parte a questão do ataque psíquico, há duas substâncias que são  especialmente apreciadas para objetivos mágicos, a saber, o líquido seminal e o  sangue menstrual. O primeiro é utilizado nos ritos da fertilidade e o segundo,  em certas formas de evocação. Constitui extremo perigo essas substâncias  caírem em terras primitivas, pois os nativos, que conhecem o seu significado,  guardam-nas com muito escrúpulo; mas a mem-sahib * de nada suspeita, e  permite que as roupas do corpo e das camas vão às mãos do lavandeiro para que  faça delas o que bem entender, satisfazendo-se simplesmente com que as roupas  retornem a salvo no fim da semana, e jamais pensando em investigar o que  acontece à água na qual foram lavadas. Há muitas partes do mundo em que a  venda dessas substâncias mágicas é uma rendosa atividade suplementar das  lavanderias .
 Na Europa, o sangue menstrual e as fezes fazem parte das substâncias mágicas  na Missa Negra, sendo preparados nas pátenas com farinha de trigo .
 Um método tradicional de purificar a má atmosfera psíquica de uma casa,  método que posso dizer que é eficaz devido à minha própria experiência, é  espalhar alho sobre o local, deixá-lo durante a noite e recolhê-lo e queimá-lo.  Entre as pessoas do campo, quando se aguardam visitas desagradáveis, uma  cebola é às vezes colocada num vaso sobre o consolo da lareira, como se fosse  um bulbo de jacinto, e solenemente queimada no fogo da cozinha após a partida  dos visitantes, pois se acredita que a cebola tem a propriedade de absorver  emanações nocivas. É curioso observar a esse propósito que numa mina de  carvão que conheço os mineiros foram proibidos de trazer cebolas para o trabalho como parte de seus lanches, porque as cebolas absorvem os gases  subterrâneos e se tornam venenosas. Meu informante me disse que ele e outros  haviam levado cebolas escondidas para baixo e aprenderam  por amarga  experiência a sabedoria dessa norma .



OUTROS MÉTODOS DE DEFESA



Há dois tipos de trabalho prático que podem ser utilizados em separado ou em  combinação, e o segundo método, em minha opinião, dá melhores resultados,  embora os representantes de um estejam prontos para depreciar o outro. O  método que distinguiremos como meditativo consiste na meditação sobre  qualidades abstratas, tais como paz, harmonia, proteção e o amor de Deus. É o  método da escola do Novo Pensamento, e seu valor reside no efeito  harmonizador que exerce sobre o estado emocional e na sua capacidade de  neutralizar as auto-sugestões nocivas. O outro método, que chamaremos de  invocativo, consiste na invocação das potências externas e no emprego de  métodos  formais para a concentração de sua força. Esse método tem muitas  gradações de complexidade e uma infinita variedade de técnicas. Elas vão desde  a oração mais simples que evoca o Cristo com o Sinal da Cruz até os rituais  mais elaborados de exorcismo realizados com sineta, livro e vela. A essência do  sistema reside no esforço de extrair da força geral do bem o aspecto particular  de energia necessário, e na utilização de algum símbolo para agir como veículo  mágico dessa força no plano da forma. Esse símbolo pode ser um retrato mental  do manto azul de Nossa Senhora; pode ser o ato de fazer o Sinal da Cruz; pode  ser a água consagrada espargida em sinal de limpeza; ou pode ser algum objeto  especialmente magnetizado para agir como um talismã. No método invocativo, o objetivo é concentrar a força, e por conseguinte algum símbolo de forma deve  ser empregado. No método meditativo, o objetivo é penetrar, para além das  amarras da forma, na atmosfera do puro espírito, glorioso demais para que o mal possa nela entrar, e portanto a utilização de qualquer forma ou fórmula é  descartada, uma vez que impede a alma de elevar-se a esse puro ar .
 Em minha opinião, e com todo o respeito aos praticantes desse último método,  resultados muito melhores seriam obtidos se o método invocativo, com o seu  emprego das fórmulas, fosse utilizado para permitir que a mente subisse ao ar  puro da consciência espiritual, onde o mal não existe. Somente aqueles que  estão altamente treinados na meditação conseguem elevar-se aos planos sem  ajuda. É extremamente difícil “decolar” da consciência dos sentidos sem a  utilização de alguma espécie de estratagema psicológico para agir como  trampolim. Há pouco sentido em recusar por razões puramente acadêmicas um  método de comprovada eficácia. Se compreendemos que a utilização de formas  e simbolos é simplesmente um estratagema para permitir à mente controlar o  intangível, não cairemos no erro das observâncias supersticiosas. Uma  superstição pode ser definida como a utilização cega de uma forma cujo  significado foi esquecido .
 Por outro lado, seríamos insensatos se contássemos exclusivamente com  métodos formais ou cerimoniais sem dispor ao mesmo tempo de métodos  meditativos para purificar e harmonizar a nossa própria consciência. Se  negligenciamos esse aspecto de nosso trabalho, recontaminaremos tão  rapidamente o círculo mágico com as nossas próprias vibrações quanto o  purificamos. De nada nos vale selar um círculo com os Nomes protetores, se  permitimos que uma imaginação em pânico se descontrole, retratando toda  espécie concebível de mal e deixando espaços em branco para a possibilidade  de espécies inconcebíveis. Da mesma forma, contudo, descobriremos que é  muito mais fácil realizar a meditação harmonizadora se estamos trabalhando  com a proteção de um círculo mágico. Tentar realizar um trabalho de exorcismo  apenas por meio da meditação é como levantar um peso pelo esforço apenas de  nossas mãos. O emprego do método mágico assemelha-se à utilização de uma  alavanca, ou uma roldana e uma plataforma. Nossos músculos são ainda a única  fonte de energia, mas pelo emprego de princípios mecânicos redobraremos o  seu poder. Utilizemos, portanto, na meditação, símbolos que concentrem nossa  atenção; descobriremos que isso é muito mais fácil do que a meditação nos  termos do pensamento abstrato. Além disso, em épocas de cansaço e crise, o  pensamento abstrato pode ser impossível para nós, a não ser que tenhamos  muita experiência em sua utilização; mas raramente atingiremos um estado  quando não imaginamos a Cruz e invocamos o Nome de Cristo .
 Os ataques ocultos podem ser divididos em dois tipos, aqueles que ocorrem por  meio das formas mentais, e aqueles que operam por meio de uma corrente de  força. Mas mesmo neste último caso a corrente de força reúne ou germina  formas mentais semelhantes à sua natureza. Por conseguinte, em todo distúrbio psíquico a forma mental é um fator que deve ser considerado e enfrentado, e  que constitui, na verdade, um dos dados mais disponíveis para a diagnose, pois  é pela percepção das formas mentais associadas que o sensitivo experiente é  capaz de detectar a natureza do ataque .
 A força mental é algo que não tem relação com a posição geográfica, pois é um  assunto de pura consciência e de sintonia com a sua nota tônica. Podemos  captar as forças de crenças mortas uma centena de anos depois da morte de seu  último devoto, e no lado oposto do globo daquele em que floresceram. Mas as  formas mentais são uma coisa diferente. Elas têm uma posição no espaço, e  embora possam mover-se com a velocidade do pensamento, e possam ser  lançadas ao nível mais sutil do astral e aí ancorar-se numa idéia, evitando assim  os choques com os planos da forma, não obstante, para todos os propósitos  práticos, embora essas formas mentais não ocupem espaço, elas podem prenderse a posições definidas no espaço. Elas podem, por exemplo, associar-se a um  objeto particular e, permanecendo em seu campo magnético, seguir-lhe as  deslocações. O campo magnético imediato tem cerca de quatro a dez metros; o  campo magnético remoto, cem a trezentos metros. Locais santos poderosos,  como Glastonbury ou Lourdes, têm um campo magnético bem maior do que  isso, estendendo-se possivelmente a um par de milhas; esses centros interligamse também entre si por linhas de força. Essas coisas devem ser consideradas no  trabalho oculto prático .
 Quando nos defrontamos com uma influência que emana de um foco de força,  como o sítio de um velho templo, temos que enfrentar o campo magnético  remoto por meio do rito. Como isso é um método que só pode ser utilizado por  um iniciado de grau superior, não o consideraremos aqui Para os fins práticos,  num ataque psíquico é o campo magnético imediato que deve ser considerado .
 O melhor método para enfrentá-lo é fazer um círculo mágico. Um simples  esconjuro não é tão eficaz quanto um esconjuro realizado dentro de um círculo,  pois este impedirá efetivamente as forças banidas de retornarem. Há várias  maneiras de realizar essa operação, mas o princípio de todos os métodos válidos  é o mesmo. As conjurações mais potentes não podem ser dadas nestas páginas,  porque a sua utilização efetiva depende do grau de iniciação da pessoa que se  propõe a utilizá-las, e possuir uma fórmula sem o grau ao qual ela pertence é tão  inadequado quanto possuir um revólver sem qualquer conhecimento de seu  manejo. A fórmula dada a seguir será efetiva em todas as condições ordinárias.  As condições extraordinárias só podem ser conjuradas por uma pessoa  experiente .
 Ao fazer o círculo mágico, o operador permanece de pé, com a face voltada  para o leste. Ele encara o leste porque a corrente magnética sobre a qual pretende operar corre no sentido leste-oeste. Como primeiro procedimento, ele  deve fixar as próprias vibrações e purificar a sua aura. Para isso, ele desenha a  Cruz Cabalística sobre o peito e sobre a testa. Tocando a fronte, ele diz: “Para  ti, ô Deus (tocando o plexo solar) seja o Reino, (Tocando o ombro direito) e o  Poder (tocando o ombro esquerdo) e a Glória, (juntando as mãos) para os  séculos dos séculos. Amém” .
 Por meio dessa fórmula, o operador afirma o poder de Deus como único criador  e lei suprema do universo diante de quem todas as coisas devem curvar-se, e ele  instala magneticamente essa fórmula em sua aura pelo ato de fazer o Sinal da  Cruz sobre si. Este sinal não é um símbolo exclusivamente cristão, e pode ser  utilizado tanto pelo judeu quanto pelo católico, pois a cruz empregada é a Cruz  de quatro braços iguais e não a Cruz do Calvário, cuja haste tem o dobro do  comprimento da trave e que é o símbolo do sacrifício. A Cruz de quatro braços  uniformes refere-se aos quatro pontos cardeais do globo e aos quatro elementos,  e a fórmula que lhe está associada proclama o domínio de Deus sobre eles,  estabelecendo dessa forma o Seu reino na esfera do operador .
 A seguir, o operador imagina estar segurando em sua mão direita uma grande  espada em forma de cruz, tal como é representada nas imagens dos cruzados.  Ele a levanta com a ponta para cima e diz: “Em Nome de Deus, detenho a  Espada do Poder que defende contra o mal e a agressão”, e imagina ter o dobro  de sua altura, uma poderosa figura armada e vestida com cota de malha,  vibrando com a força do Poder de Deus com a qual foi investida pela  formulação da Espada do Poder .
 Ele traça em seguida, no chão, com a ponta da Espada do Poder, o Círculo  Mágico, e deve ver em sua imaginação uma linha de chamas seguindo a ponta  da Espada, iguais àquelas que o álcool metilado produz quando é aceso, mas de  cor ouro-pálido. Com um pouco de prática, esse círculo de luz será formulado  eficazmente. Continue a traçar o círculo até que ele seja completado. O círculo  deverá ser sempre traçado de leste para sul, de sul para oeste, de oeste para  norte, da mesma maneira que os ponteiros de um relógio se moveriam se o  relógio estivesse com a face para cima no chão. A direção contrária é como as  bruxas dançavam nos Sabás. O movimento horário afirma o governo da lei de  Deus sobre a Natureza, porque é o Caminho do Sol; o movimento anti-horário  nega-lhe o governo sobre a Natureza, movendo-se contra o sol. Ao resistir a um  ataque oculto, toda a fórmula deveria ser sintonizada pela nota tônica da  afirmação do domínio de Deus sobre toda a existência, sendo o objetivo do  operador alinhar-se com a Lei Cósmica e fazer com que o Poder de Deus  destrua a interferência.Tendo formulado o círculo, o operador cessa de visualizar a espada, mas, ainda  visualizando o círculo, junta as mãos em oração e, erguendo-as sobre a cabeça  para o leste, ora: “Que o poderoso arcanjo Rafael me proteja de todo mal que se  aproxima do leste”. Voltando-se para o sul, ele repete a mesma fórmula numa  prece a Miguel. Voltando-se para o oeste, invoca Gabriel. Voltando-se para o  norte, invoca Uriel. Encarando o leste novamente, e assim completando o  círculo, ele repete a fórmula da Cruz cabalística .
 Esta formulação do círculo mágico é especialmente valiosa para proteger o local  onde se dorme, traçando-se o círculo em redor da cama. Não precisamos nos  mover de um lado para outro do quarto, ou mudar a disposição- da mobilia para  traçar o círculo, pois este será formulado onde quer que o visualizemos .
 É necessário reafirmar este círculo todas as vezes que as correntes mudam, ou  seja, um círculo feito depois do poente se manterá até o nascer do sol, e um  círculo feito após o nascer do sol manterá a sua potência até o ocaso. Depois de  o círculo ter sido afirmado várias vezes no mesmo lugar, a sua influência  persistirá por um período considerável, mas é aconselhável reformulá-lo de  manhã e à tarde durante a fase ativa do ataque .
 Queimar incenso no círculo é uma medida útil, mas é preciso tomar cuidados ao  escolhê-lo. Incensos chineses de composição desconhecida jamais deveriam ser  utilizados, pois eles são geralmente compostos visando a prestar auxílio à  manifestação. Incenso eclesiástico de boa qualidade,  tal como o que pode ser  adquirido em muitos fornecedores de igreja, é seguro e satisfatório, pois é  composto de acordo com receitas tradicionais; qualidades inferiores podem não  preencher essas condições .
 Para enfrentar entidades elementais ou não-humanas, o Pentagrama, ou  Pentalfa, é a melhor arma. Trata-se de uma estrela de cinco pontas desenhada de  modo particular. Apontando o primeiro e o segundo dedo da mão direita e  dobrando os outros na palma e tocando suas pontas com o polegar, comece a  traçar o Pentagrama no ar, mantendo o cotovelo rijo e suspendendo os braços  em toda a extensão. Comece com o braço direito ao lado do corpo, a mão ao  nível do quadril esquerdo, os dedos estendidos, apontando para baixo e para  fora. Dirija a mão para o alto, como se desenhasse uma linha reta no ar, até que  os dedos apontem para cima, sobre a cabeça, na extensão do braço. Deslize-a  para baixo novamente, mantendo o cotovelo preso, até que a mão ocupe a  posição oposta no lado direito, àquela com que começou à esquerda. Você  traçou um gigantesco V de cabeça para baixo. Em seguida, levante  diagonalmente o braço ao lado do corpo, até que ele atinja o mesmo nível do  ombro esquerdo, apontando para a esquerda. Conduza-o através do corpo  horizontalmente, até que ele esteja na mesma posição na direita, com os dedos apontando para fora do corpo. Desça o braço pelo corpo até que a mão volte ao  ponto no quadril esquerdo de onde começou. Esse é um sinal  extraordinariamente potente. O valor da Estrela de Cinco Pontas, o símbolo da  Humanidade, é amplamente conhecido entre os ocultistas, mas seu poder  depende da maneira pela qual é traçado. O método que  ensinei é o método  correto para o esconjuro. A potência do sinal pode ser ilustrada por uma  experiência pela qual eu mesma passei, mas os céticos estão livres para duvidar  de sua veracidade; eu a menciono apenas em beneficio daqueles que podem  estar interessados .
 Eu participava certa vez de um trabalho com um ocultista indiano, quando  suspeitei que algo não estava certo, fiz meu protesto e fui convidada a me  retirar. Eu o fiz, determinada a observar os acontecimentos à distância, e, caso  as minhas suspeitas se confirmassem, a ter um exposé. Poucos dias depois,  estava eu sentada em meu quarto numa tarde, conversando com uma amiga;  escurecera há pouco e falávamos à luz de gás. Repentinamente, tomamos ambas  consciência ao mesmo tempo de uma presença no quarto e nos voltamos  espontaneamente para a mesma direção. Minha amiga sentiu uma presença  adversa, e eu, sendo mais sensível, vi quem era, e não tive nenhuma dificuldade  para perceber a forma de meu confrade indiano numa esfera ovalada de difusa  luz amarela. Pedi a minha amiga para deixar o quarto e esperar no corredor, e  assim que a porta se fechou atrás dela fiz uso do Pentagrama que descre vi,  juntamente com certos Nomes de Poder que não é conveniente divulgar nestas  páginas. Imediatamente, a aparição no canto próximo à porta se desfez e  desapareceu, e ao mesmo tempo houve um forte estalo, que minha amiga ouviu  no corredor. Chamei-a de volta e quando entrou ela exclamou: “Veja o que  aconteceu à porta!”, e descobrimos que uma de suas almofadas se havia partido  inteiramente em dois. Foi isso que causou evidentemente o forte estalo que  ambas ouvimos. Não ofereço nenhuma explicação para esse incidente pela boa  e suficiente razão de que não sei qual possa ser. Eu simplesmente relatei o que  aconteceu. Meus leitores podem explicá-lo como bem entenderem .
 Quando não é possível selar o quarto, a melhor coisa a fazer é selar a aura.  Fique de pé e faça o sinal da cruz, tocando a testa, o peito, o ombro direito e o  ombro esquerdo, dizendo “Pelo poder do Cristo de Deus em mim, a quem sirvo  com todo o meu coração e com toda a minha alma e com toda a minha força”  (estenda ambas as mãos para a frente  até alcançar o nível do plexo solar,  juntando a ponta dos dedos, e dirija-as para trás das costas, tocando novamente  as pontas dos dedos atrás de si), e diga “Eu me cerco com o Círculo Divino de  Sua proteção, em torno do qual nenhum pecado mortal ousa colocar seu pé”.  Essa é uma antiga fórmula monacal. É muito eficaz, mas seu poder dura apenas  cerca de quatro horas.Há vários outros estratagemas que são úteis, não apenas para enfrentar os  ataques psíquicos, mas em qualquer caso de influência ou domínio indevidos .
 Se você tem que entrevistar-se com pessoas cuja influência você acha  irresistível, imagine que elas estão separadas de você por uma folha de vidro  laminado. Você pode vê-las e ouvi-las, mas o magnetismo delas não pode  alcançá-lo. Visualize essa folha de vidro até que ela lhe pareça ser  absolutamente tangível. Se você tem que associar-se a pessoas que o afligem, e  que não estão em sua presença, imagine que elas se acham separadas de você  por um muro de tijolos, e diga a si mesmo “Você não está aqui. Eu não posso  vê-lo ou ouvi-lo, e você simplesmente não existe” .
 Quando estiver negociando com uma pessoa que mina a sua vitalidade, cruze os  dedos, e deponha as mãos entrelaçadas sobre o plexo solar, mantendo os  cotovelos pressionados contra os flancos. Conserve os pés juntos. Assim você  pôs em contato todos os seus terminais e fez de seu corpo um circuito fechado.  Nenhum magnetismo escapará de você enquanto mantiver essa atitude. Seu  amigo provavelmente se queixará de seus modos, mas você pode sempre falar  com gentileza .
 Se alguém tenta dominá-lo fixando-o propositadamente nos olhos, não tente  retribuir olhar com olhar, pois isso apenas conduz a uma exaustiva batalha na  qual você pode levar a pior, mas olhe fixamente o ponto imediatamente acima  do nariz de seu adversário, entre as pontas internas das sobrancelhas. Se você  estiver enfrentando apenas um valentão ordinário, você imediatamente terá o  domínio da situação. Se, no entanto, o seu antagonista tem conhecimentos do  poder mental, você pode não ser capaz de dominá-lo, mas ele certamente não  será capaz de dominar você, e o resultado será um empate. Não tente dominá-lo,  mantenha simplesmente os seus olhos no ponto e espere que ele se canse de sua  tentativa. Você não precisará esperar muito tempo .
 Utilizando os métodos descritos nas páginas anteriores, qualquer pessoa de  coragem e mentalidade normal, desde que evite drogas, álcool e longos períodos  de jejum, pode, se não perder o sangue-frio, vencer qualquer ataque psíquico  ordinário; ou, no caso dos ataques de potência anormal, pode pelo menos  ganhar tempo para conseguir escapar e buscar ajuda .
 Os sacramentos são também uma fonte muito potente de poder espiritual, e uma  igreja em que o Santo Sacramento é conservado, ou que é suficientemente  antigo para ter sido consagrado antes da Reforma, é um santuário eficaz.



METODOS AVANÇADOS DE DEFESA



 Não é incomum que a perturbação psíquica ocorra devido à formação de um  vínculo indesejável. Para compreender a natureza desse problema, devemos  considerar o tema dos vínculos .
 Já analisamos com algum detalhe a questão da sugestão telepática. Poderíamos  considerar o vínculo como o aspecto passivo daquilo de que a sugestão  telepática é o aspecto ativo. Ele forma, de fato, a condição básica necessária  para que a sugestão telepática ocorra. Duas pessoas que estão relacionadas  poderiam ser descritas como irmãs gêmeas astrais. Embora os corpos físicos  sejam unidades independentes, os corpos astrais estão ligados de tal maneira  que a força astral circula livremente entre ambas, assim como o sistema  circulatório da mãe está ligado pelo cordão umbilical à criança que vai nascer,  com o mesmo sangue circulando livremente entre ambas .
 Esse fato explica muitos fenômenos ocultos importantes. É a chave real para o  matrimônio, e explica muitos fatos no relacionamento entre pais e filhos. Ele  justifica também alguns aspectos importantes da relação entre professor e aluno .
 Mas um vínculo pode estabelecer-se não apenas entre dois indivíduos, mas  entre um indivíduo e um grupo. Esse fato exerce um papel importante no  trabalho das fraternidades. É também possível estabelecer--se um vínculo entre  um ser humano e outros reinos da natureza; com entidades desencarnadas, com  seres super-humanos, e, de fato, com qualquer forma de vida com a qual um  indivíduo pode formar um entendimento simpático. Deve haver alguma razão  de simpatia como base para a formação de um vínculo, mas, uma vez formado,  ele pode ser desenvolvido até o extremo. É um fato curioso que se um vínculo  persiste por muito tempo, as pessoas assim unidas começam a se tornar  gradualmente semelhantes. Todos conhecemos o homem de aspecto “cavalar”;  e também o filho da terra sobre quem se disse expressivamente: “O pai está no  chiqueiro. Você o reconhecerá por seu chapéu” .
 Quando dois seres estão vinculados, o menos positivo dos dois tende a perder  sua própria individualidade, tornando-se um pálido reflexo do outro. É por essa razão que o ocultista ocidental, que valoriza altamente a individualidade, não  tem discípulos pessoais da mesma maneira que o guris oriental, mas prefere  trabalhar pelo ritual com um grupo, porque esse método é mais impessoal. Mas  mesmo assim os membros individuais de um grupo sofrerão certas mudanças,  através das quais eles se afinam com o tom do grupo, de modo que haverá um  certo denominador comum que todos possuem. Quem não pode reconhecer a  marca do Cientista Cristão, do Teósofo, do Quacre? Todo sistema que tem  meditação grupal imprime rapidamente uma marca sobre seus membros .
 Nesse fato, naturalmente, reside muito do valor da associação com um grupo  digno. E nele, igualmente, reside o prejuízo da associação com um grupo  indigno. Consideremos o que acontece quando uma pessoa de caráter comum se  associa com um grupo de tom moral degenerado. Ele se verá em tal  antagonismo com a mente do grupo que não terá opção a não ser retirar-se, ou  então se afinará rápida mas inconscientemente com o diapasão de seus novos  associados. Sem se aperceber do fato, seu senso moral se tornará embotado e ele  aceitará na verdade aquilo de que teria originalmente fugido enojado .
 Uma vez estabelecido o vínculo, outras coisas além do tom geral dos  sentimentos podem ser partilhadas. Idéias reais podem ser transferidas de uma  mente à outra como na telepatia; e, da mesma maneira, a força vital pode ser  transmitida. É esse fato que explica certos tipos de cura espiritual. Quando a  vitalidade etérea está sendo transmitida, é necessário que as pessoas envolvidas  estejam no campo magnético imediato uma da outra; mas quando a força astral  está em questão, a proximidade não é necessária. A transmissão independe do  espaço .
 Não estamos considerando agora o uso legítimo dessa força para curar, ou para  ensinar e desenvolver os neófitos, de modo que não analisaremos em detalhes o  seu modus operandi. Já dissemos o bastante para mostrar de que maneira ela  opera. Passaremos agora à consideração dos métodos práticos para quebrar esse  vínculo se por qualquer razão se deseja desfazê-lo .
 Para a visão astral, o vínculo telepático surge como um raio de luz, ou como um  fio brilhante, ou alguma forma mental semelhante, pois é assim que ele é  comumente formulado pela pessoa que produz o vínculo magnético. Acontece  às vezes, no entanto, se o operador tem um elevado grau de iniciação, que ao  invés de ligar o raio diretamente à pessoa com quem deseja entrar em contato,  ele formula um animal astral para o qual transfere uma pequena quantidade de  sua própria consciência. Essa forma animal chama-se Observador; ele não age  por sua própria iniciativa, a não ser quando atacado, e nesse caso ele se defende  com a natureza das espécies a cuja semelhança foi feito. Utiliza-se o  Observador para obter-se um relato do que está acontecendo sem a necessidade de concentrar a consciência sobre um foco. Quando a substância psíquica do  Observador é reabsorvida pelo adepto, este fica a par do conteúdo da  consciência da forma que criou. A desvantagem desse método repousa na  vulnerabilidade do Observador ao ataque psíquico, e no fato de que seu projetor  é afetado se ele for injuriado ou desintegrado .
 Ao lidar com uma forma mental, tenha sempre em mente que ela é produto da  imaginação,, e que não tem em absoluto uma vida independente. O que a  imaginação fez a imaginação pode desfazer. Se o criador da forma mental lhe  deu vida retratando-a imaginariamente, você também pode tirar-lhe a vida  retratando-a claramente e imaginando que ela está se desfazendo em mil  pedaços, ou que está se consumindo em chamas, ou se dissolvendo na água e  sendo absorvida pela terra. O que vem à vida pela imaginação pode sair dela  pela imaginação .
 Se o que se tomou por uma forma mental resiste à destruição por esse método,  trata-se então, provavelmente, de um elemental artificial. Há dois tipos de tais  elementais, uma espécie que é animada pela invocação da essência elemental  numa forma mental, e a outra pela projeção sobre ela de algum elemento da  própria natureza do mágico. Se ela é animada pela essência elemental, a  utilização do Pentagrama servirá para expulsá-la; mas se é da espécie que é  animada pela própria força do mágico, deve-se utilizar outro método, conhecido  como absorção .
 A absorção é um método de grau muito elevado, e a sua utilização proveitosa  depende do estado de consciência de quem a emprega. Cada indivíduo deve  decidir por si próprio se num dado caso, num dado momento, está em condições  de tentá-la. A não ser que possa fixar completamente as suas próprias vibrações  e chegar a um estado de perfeita serenidade, livre de toda sensação de esforço,  ele não deve fazer a tentativa .
 Não obstante, descreveremos o método em proveito daqueles que desejem  tentá-lo .
 Harmonizando-se pela meditação em Cristo, o adepto, assim que estiver  convencido de que as suas próprias vibrações estão firmes, começa por invocar  diante de sua visão astral a imagem da forma que pretende destruir. Ele a vê  claramente em todos os seus detalhes e procura adivinhar-lhe a natureza, se é  um veículo para o mal ou para a luxúria, ou para a ação vampiresca: esses são  os três tipos mais comuns, e pode-se com muita certeza atribuí-la a uma ou  outra dessas classes. Tendo discernido o tipo da força com a qual tem de lidar, o  adepto começa então a meditar sobre o seu posto, concentrando-se na pureza e  na generosidade se a força for luxuriosa; na compaixão e no amor, se for maligna; e em Deus como criador e mantenedor de toda a vida, se for  vampiresca .
 Ele continua essa meditação até sentir-se banhado com a qualidade em que está  meditando, até sentir-se tão imbuído de pureza e generosidade que a luxúria não  o faz sentir nada a não ser piedade, que a malignidade não o faz sentir nada a  não ser compaixão, e em face do vampirismo, que está tão seguro de que sua  vida está abrigada com Cristo em Deus que ele deixaria de bom grado o  vampiro terminar sua refeição em paz se pudesse ajudá-lo dessa forma. Na  realidade, o adepto que se propõe a realizar uma absorção mágica deve atingir o  ponto em que compreende claramente a nulidade do mal que está disposto a  absorver, e não mais tenha nenhum sentimento para com ele a não ser piedade  pela ignorância que pensa poder obter algo bom para si dessa maneira. Ele  deseja enaltecer, educar e libertar a alma desencaminhada de seu cativeiro.  Enquanto o adepto não chegar ao ponto em que não tem nenhum outro  sentimento além desse para com o seu perseguidor, não lhe é seguro tentar uma  absorção .
 Estando seguro de que está pronto para a tentativa, ele começa por atrair a  forma mental, puxando o cordão prateado que a liga ao seu plexo solar se for  uma forma mental vampiresca, ou abrindo a sua aura e envolvendo-a se ela for  de um dos outros dois tipos. Ele a suga, literalmente. Esse processo deve ser  feito lenta e gradualmente, durante alguns minutos. Se for feito rapidamente, o  adepto pode não conseguir manter firmes as suas próprias vibrações, e então  estará numa situação deveras desagradável .
 Quando a forma mental for absorvida, o adepto sentirá uma reação em sua  própria natureza que corresponde ao tipo da forma mental. Se esta é uma força  luxuriosa, ele sentirá o desejo despertar dentro de si; se é uma força maligna, ele  sentirá raiva; e se é um vampiro, ele sentirá desejo de sangue. O adepto precisa  dominar imediatamente esse sentimento e retornar à sua meditação sobre a  qualidade oposta, conservando-a até que as suas vibrações sejam uma vez mais  completamente harmonizadas. Ele saberá, então, que a força maligna foi  neutralizada e que há muito menos mal no mundo. Ele sentirá um grande acesso  de vigor e uma sensação de força espiritual, como se pudesse dizer a uma  montanha: “Jogue-se ao mar”, e isso se realizasse. É essa sensação de exaltação  e poder espiritual que o informa que o trabalho foi realizado com sucesso. No  entanto, é aconselhável repetir a meditação em intervalos de dois ou três dias no  caso de outra forma mental ter sido formulada e enviada após a primeira .
 Quanto ao emissor da forma mental, quando a absorção tiver lugar, ele sentirá  que “a virtude o abandonou”, e poderá mesmo ser reduzido temporariamente a  um estado de semicolapso. Ele se recuperará em breve, mas com o seu poder para o mal de seu tipo particular consideravelmente reduzido por algum tempo,  e se ele tem a possibilidade de reformar a sua natureza, pode ocorrer que ele  próprio fique permanentemente livre desse tipo de mal .
 A  grande vantagem desse método é que ele destrói realmente o mal, por  completo, ao passo que a simples destruição de uma forma mental é como  cortar a ponta de uma erva daninha. Por outro lado, esse método só pode ser  realizado por um ocultista de alto grau afinado por sublime diapasão. Se alguém  se perturbou ou se esgotou ou perdeu de alguma maneira o sangue-frio, não  deve tentá-lo de novo .
 Se percebemos que o vínculo se estabeleceu na forma de uma linha de luz, um  cordão ou outra forma similar, presa ao plexo solar, à fronte, ou a qualquer  outra parte do corpo, a melhor maneira de cortá-lo é forjar uma aura mágica. De  fato, se percebemos um vínculo, a primeira coisa a fazer é visualizar o cordão e  tentar ver onde ele está preso; o plexo solar é o local mais comum .
 Formule em seguida a espada em forma de cruz, como se descreveu  anteriormente, e invoque a bênção de Deus sobre ela. Visualize então uma tocha  flamejante, e invoque o poder do Espírito Santo, cujo símbolo é essa mesma  tocha. Com a espada, serre o cordão ou o raio até que todo ele tenha sido  cortado. Em seguida, queime a sua ponta com o fogo consagrado da tocha até  que ele murche e caia do ponto em que se liga ao seu corpo .
 Após efetuar esse corte, deve-se, naturalmente, tomar as precauções humanas  ordinárias para impedir que o vínculo seja reformado. Recuse encontrar-se com  a pessoa responsável por sua formulação, ou ler ou responder a suas cartas.  Corte de fato, por um período de alguns meses pelo menos, as comunicações  físicas, da mesma maneira completa e resoluta como se cortaram as  comunicações astrais .
 Há ocasiões, contudo, quando uma pessoa está tão completamente ofuscada e  dominada, que ela não pode realizar por si mesma essa operação. A operação  mágica da Substituição pode, então, ser executada se se pode encontrar um  amigo apto a empreender a tarefa .
 Para executar essa operação, os dois amigos concordam que ela será feita, mas  aquele que será o substituto não deve dizer à vítima original quando pretende  realizar a operação, pois ela pode estar tão completamente nas mãos do  dominador que correria o risco de revelar involuntariamente o segredo .
 Escolhendo uma hora em que esteja certo de que o amigo está dormindo, o  substituto se concentra nele e imagina estar ao seu lado, e visualiza o fio ou cordão do vínculo que se estende do amigo ao espaço. Se puder visualizar o  outro ponto de ligação no dominador, tanto melhor .
 Ele então formula a espada e a tocha acima descritas e, empunhando as duas,  imagina colocar-se no meio do cordão do vínculo, de modo a parti-lo com o  corpo. Ele não deve utilizar a espada ou a tocha nesse processo, mas quebrá-lo  com a sua própria carne, por assim dizer. Tendo assim cortado o cordão de seu  amigo, ele deve então atingi-lo com a espada e a tocha com toda a  sua força,  quando o cordão tentar envolvê-lo, pois certamente o fará, uma vez que se  assemelha exatamente aos tentáculos de um polvo. O substituto deve atingi-lo  violentamente, apresentando em zelo o que lhe falta em conhecimento, até que  ele tenha tido o bastante, e comece a se enrolar e a retirar-se. O combate,  naturalmente, ocorre na imaginação, mas se uma imagem clara e vivida for  produzida ele será eficaz .
 Para ilustrar esse método, posso mencionar um caso que manipulei certa vez por  esse meio. Perguntaram-me se podia ajudar uma mulher que era uma inválida  vitalícia, mas cujo caso os vários médicos que ela havia consultado não eram  capazes de diagnosticar satisfatoriamente, nem de trazer-lhe ajuda. Todos  concordavam em que nada havia de orgânico com ela, e depois de tentar em vão  curá-la, diziam geralmente em uníssono que era um caso de histeria pura. Ela  sofria de um crônico estado de exaustão, de indigestão, de ataques de vômito,  de dores de cabeça enceguecedoras e de palpitações cardíacas. Ela não  tinha,  contudo,’ nenhuma disposição neurótica, sendo, ao contrário, uma mulher  tranqüila, sensível e intelectual, que suportava seus sofrimentos com coragem .
 Fiz um diagnóstico psíquico e cheguei à seguinte conclusão. Durante muitas  vidas passadas, ela  trilhou o Caminho e, em sua última vida, uma encarnação  masculina, a fim de apressar o seu progresso, ela viajou para o Oriente, e  recebeu a iniciação numa das Ordens Tibetanas, que infelizmente revelou ser do  Caminho da Mão Esquerda. Aí ela aprendeu o Hatha Yoga, que dá controle  sobre as funções do corpo .
 Em sua vida atual, ela reteve os poderes que o seu treinamento lhe havia dado,  mas não a lembrança da técnica. Consequentemente, os seus estados emocionais  afetavam os sistemas automáticos do controle nervoso, cujas funções não estão  normalmente sob a direção da mente. Portanto, todas as vezes que ela era  emocionalmente perturbada, sua atividade mental subconsciente transbordava  para a mente automática e desregulava alguns dos sistemas funcionais do corpo.  Acredito que esta explicação dá uma chave para muitos casos de distúrbio  funcional. Muitas pessoas no curso das práticas meditativas ocultas obtêm  controle da mente automática que controla o funcionamento dos órgãos físicos.  Pode-se lembrar que o famoso cientista, Sir Francis Galton, o fundador da ciência da eugenia, fazia experiências com o controle mental da respiração, e  que, ao consegui-lo, descobriu que a função automática havia caído num estado  de latência, e ele teve que despender três ansiosos dias respirando pelo poder da  vontade e por atenção voluntária até que a função automática fosse  restabelecida .
 Nesse caso particular, contudo, havia mais do que um distúrbio de função; havia  uma exaustão crônica peculiar e muito marcante. Concluí que ainda existia um  vínculo entre ela e a Ordem tibetana da qual ela havia sido uma iniciada em sua  vida anterior. Como sabem os ocultistas, o indivíduo retorna vida após vida à  Ordem da qual é um iniciado, pois o vínculo é muito forte. Essa é uma das  razões por que as grandes Escolas de Mistério não precisam fazer-se conhecidas  pela publicidade; elas conhecem os seus, e os arrebanham no plano astral .
 Mas se é uma coisa valiosíssima estar sob a proteção de uma Ordem respeitável,  é extremamente desagradável persistir num relacionamento similar com uma  Ordem infame. Nesse caso particular, eu era da opinião de que a Ordem à qual  essa senhora havia pertencido numa vida anterior mergulhara em profunda  decadência e de que os seus dirigentes estavam deliberadamente drenando a  vitalidade dos membros que pertenciam a ela .
 Trabalhando com base nessa hipótese, projetei-me astralmente da maneira que  já descrevi, e visitei essa senhora à noite. Percebi que, enquanto dormia, de seu  plexo solar emanava uma substância negra, elástica e viscosa, que se  assemelhava muitíssimo a um bastão de alcaçuz espanhol que foi mascado por  uma criança. Essa substância se perdia no espaço. Ao tentar descobrir a sua  outra extremidade, tive uma breve e longínqua visão de um monastério com um  telhado chinês empoleirado num penhasco entre grandes montanhas .
 Enfrentei a situação pelo simples expediente de passar meu corpo astral pela  linha de substância negra, quebrando-a. Ela se transferiu imediatamente para o  meu plexo solar, e por um instante senti uma onda de pensamentos tentadores  instigando-me a deixar essa mulher sob o meu domínio e a explorá-la em toda a  sua capacidade financeira. Expulsei essa idéia e “ataquei” a corda de alcaçuz  astral da maneira que descrevi, cortando-a e queimando-lhe a ponta, e tive a  satisfação de vê-la enroscar-se e desaparecer nas trevas. Caí, então, no que  considerei um sono bem merecido .
 Nada falei a essa senhora de minhas idéias, porque desejava descobrir se podia  esclarecer o caso trabalhando sem ajuda na hipótese oculta e sem deixar-me  induzir por qualquer sugestão. Na manhã seguinte, eu a visitei para saber como  estava passando, e a encontrei sentada na cama comendo um farto desjejum e com o semblante de uma mulher completamente diferente da criatura pálida e  exausta que havia visto no dia anterior .
 Sem esperar por qualquer pergunta de minha parte, ela disse: “Não sei o que  houve, mas sinto-me como se algo tivesse sido quebrado e estou livre” .
 Depois do desjejum ela se levantou, saiu para um passeio e encontrou o médico  que a estava atendendo, na rua. Tão grande era a mudança de sua aparência que  este não conseguiu reconhecê-la até que ela lhe dirigisse a palavra .
 Eu lhe disse que em minha opinião ela não deveria dedicar-se aos estudos  ocultos para não refazer o vínculo magnético com a antiga Ordem, e também  lhe ensinei como impedir que a sua mente subconsciente enviasse sugestões  destruidoras aos seus sistemas orgânicos de controle funcional. Por alguns anos,  ela se manteve com boa saúde, mas depois, infelizmente, retomou o estudo do  ocultismo e recaiu num estado semelhante ao anterior, tendo provavelmente  refeito os contatos com a Fraternidade tibetana que tantos transtornos lhe  causara .




Anjos, heróis e outros agentes de defesa



Há tantas histórias a respeito do aparecimento de anjos da guarda-nos  momentos de crise, que mesmo os mais céticos devem admitir que esse é um  caso a ser considerado .
 Existe uma tradição em Devon, de acordo com a qual, se o Tambor de Drake,  conservado na Abadia de Buckland, nas proximidades de Tavistock, é batido num tempo de crise, o próprio Drake retornará para conduzir a armada  britânica. Newbolt imortalizou essa lenda em seu famoso poema: ‘Toma meu tambor em Devon e leva-o para o litoral. Toca-o quando tua força  escasseia .
 Se os Dons mirarem Devon, deixarei o porto do Céu, E como outrora reunirei a  toque de tambor o Canal da Mancha.” A idéia do herói que retorna para conduzir o seu povo, ou a do anjo da guarda  que aparece nas horas de crise, está profundamente entranhada no coração de  todas as nações, e nada a extirpará. Inúmeros exemplos foram relatados pelos  homens que retomavam das trincheiras durante a guerra .
 Voltemos uma vez mais à antiga sabedoria da Cabala, esse depósito de  conhecimentos ocultos. Aprendemos aqui sobre o Anjo Bom e o Anjo Mau da  alma do homem, que ficam atrás de seu ombro direito e esquerdo, um tentandoo e o outro inspirando-o. Traduzamos o Anjo Sombrio nos termos do  pensamento moderno e teremos o subconsciente freudiano .
 Mas os freudianos não compreendem que há também um Anjo Luminoso que  permanece atrás do ombro direito de todos os homens. Trata-se da  superconsciência ou, em outras palavras, do Eu Superior, o Santo Anjo da  Guarda que Abramelin buscava com tanto ardor e esforço .
 Todos sabemos que quando baixamos nossa guarda uma negra tentação surge  das profundezas de nosso eu inferior, que algo atávico se agita e  que temos  pensamentos, ou mesmo fazemos coisas de que nunca nos teríamos julgado  capazes. Ouvimos a voz do Anjo Sombrio falando .
 Da mesma maneira, nas horas de terrível tensão, quando estamos encostados na  parede e estamos lutando por mais do que nossas vidas físicas, outra Voz se faz  ouvir, a voz do Anjo Luminoso. Eu nunca soube que isso tenha ocorrido quando  um homem estava lutando simplesmente por sua vida física. Para aqueles que  vêem além do véu, a morte não é nenhum grande mal; mas nas horas de crise  espiritual, quando o verdadeiro eu está sendo arrebatado, então é o grito da alma  que é ouvido, e Algo se manifesta das névoas do Invisível, manifesta-se numa  forma que é compreensível a quem chama. Se  a pressão intensa provoca uma  expansão temporária da consciência, um psiquismo fugidio, ou se um Ser de sua  própria vontade atravessa o véu e se manifesta, eu não sei; nunca há detalhes  disponíveis desses incidentes. Eles ocorrem apenas nas horas de terrível tensão  e vão tão rapidamente quanto vieram, não deixando nenhum traço a não ser  sobre a alma.Eu afirmo que assim como o Ser Inferior pode elevar-se em momentos de  tentação, o Eu Superior pode descer nos momentos de crise espiritual. O  objetivo do místico é viver exclusivamente no Eu Superior. O objetivo do  ocultista é trazer esse Eu Superior para manifestar-se na consciência do cérebro:  “Em minha carne verei a Deus”. Assim como o Eu Inferior pode levantar-se e  induzir-nos a algum ato horrível, o Eu Superior pode vir em nosso socorro,  “terrível’ como um exército embandeirado” .
 Já falei da voz misteriosa que me instruiu sobre como livrar-me de grave perigo  psíquico. Em outras ocasiões de tensão e violento esforço experimentei uma  súbita expansão ou alteração do nível de consciência. O Eu Superior desceu e  assumiu o controle. Quando estamos no meio do tumulto, somos subitamente  elevados para cima deste e vemos todas as circunstâncias da vida desenrolaremse num relance, como se víssemos uma região de um local elevado, e sabemos  intuitivamente o resultado do assunto. Todo tumulto emocional cessa, e somos  como um navio à capa, suportando seguramente a tempestade. Quando isso me  ocorre, as lembranças de minhas encarnações passadas são sempre muito  vividas. É esse ‘despertar simultâneo do passado que me faz sentir que a voz é a  do meu Eu Superior, e não de outra entidade .
 Creio que nas horas de crise espiritual o homem que tem fé na lei de Deus pode  levantar-se e invocar a sua proteção e um aparente milagre será realizado em  seu benefício. Entretanto, pode não haver nenhuma infração da lei natural;  portanto, esse milagre deve simplesmente ser um exemplo da operação de uma  lei com a qual ainda não estamos familiarizados, como um eclipse se afigura ao  selvagem como um milagre, mas ao astrônomo como um fenômeno natural que  pode ser previsto com exatidão .
 O que induz essa mudança de controle em nossas vidas? Estamos famiiarizados  com o fato de que o motor de um carro tem três marchas à frente e uma à ré.  Não é possível que as nossas mentes também tenham marchas, e que é uma  mudança de marcha que induz o psiquismo? Não há ocasiões em que  marchamos à ré e o macaco e o tigre em nós assumem o comando? Atrás do plano físico está o plano astral, e atrás do plano astral está o plano  mental, e atrás do plano mental está o plano espiritual, e cada plano age como  um plano causal para o plano inferior, e cada um por sua vez é controlado do  plano mais sutil. Quando “mudamos de marcha”, a consciência é deslocada de  um plano mais denso para um mais sutil e começamos a pôr em movimento  causas muito remotas de que os acontecimentos no plano físico são resultados  finais; manipulamos essas causas e os resultados se produzem imediatamente.Quando mudamos de marcha do físico para o astral, achamo-nos no plano da  consciência psíquica e da magia menor. Supondo-se que um combate psíquico  ocorra entre dois ocultistas, se um deles é de um grau que lhe permite mudar a  marcha, de modo que a consciência se eleva do plano astral para o mental, ele  estará na esfera da magia maior e terá pleno controle da situação. O outro nada  pode fazer contra ele. Mas o que acontece no caso da rara e mística alma que  pode mudar outra vez a consciência e engatar a marcha de um poder puramente  espiritual? Ele desbanca o adepto. Há muitas almas que têm essa mística  consciência espiritual, embora não tenham nenhum conhecimento oculto. Entre  os modos de pensamento superiores e inferiores, há um grande abismo que elas  saltam temerariamente. Se numa hora de crise elas são capazes de elevar-se na  fé e penetrar essa consciência mística e ficar em silêncio, elas terão o ar superior  de qualquer ocultista que não conta com nada a não ser a técnica do ocultismo .
 A questão da consciência mística está, contudo, fora do objetivo de nossa  presente investigação, que diz respeito aos métodos psíquicos e à técnica  tradicional do ocultismo. Temperamentos diferentes empregarão métodos  diferentes, e o método místico não interessa a todos .
 O ocultista não ignora a força de Cristo; ele sabe que ela se enquadra na  hierarquia das forças supremas do universo, embora possa não estar preparado  para conferir-lhe a posição exclusiva que essa força ocupa no coração do  místico cristão. Na Tradição ocidental ela é simbolizada por Tiphareth, a  Sephira central dos Dez Sephiroth Sagrados da Árvore da Vida Cabalística .
 A força de Cristo é o fator equilibrante, compensador, curativo, redentor e  purificador do universo. Ela deveria ser invocada em toda operação de  autodefesa psíquica, na qual qualquer elemento humano, encarnado ou  desencarnado, está envolvido. Quando se tem que enfrentar elementos nãohumanos, tais como elementais, formas da mente ou o Qlippoth, é o poder de  Deus Pai, como Criador do universo, que é invocado, afirmando-se a Sua  supremacia sobre todos os remos da natureza, visível e invisível. Deus Espírito  Santo é a força que é empregada nas iniciações, e não deve ser invocada durante  as horas de dificuldade psíquica, pois sua influência tenderá a intensificar o  estado e tornar o Véu ainda mais fino .
 Há um aspecto muito curioso do mundo oculto a respeito do qual se deve dizer  algo nas presentes páginas, embora não muito possa ser revelado e, para ser  franca, eu própria não saiba o bastante sobre ele, mas apenas os aspectos com  que, deparei realmente. Eu já ouvi chamarem-no de Polícia Oculta; outros  podem conhecê-lo por nomes diferentes, mas acredito que se trata de uma coisa  real e concreta, embora a sua organização não esteja no plano físico, nem, até  onde eu saiba, estejam as suas atividades mundanas concentradas num único par de mãos. Eu cruzei o seu caminho em várias ocasiões, e cumpri meu papel em  suas atividades, e conversei com outras pessoas que também estiveram  envolvidas com ela, e todos disseram o que eu disse, que é a voz interior e as  circunstâncias que dirigem as nossas atividades quando cooperamos com essa  misteriosa organização .
 Penso que ela está organizada em unidades nacionais, pois as pessoas parecem  entrar e sair das jurisdições, ou passar de uma para outra. Pelo que sei, ela não  tem nenhuma tendência política particular, estando envolvida exclusivamente  com os métodos ocultos aplicados para fins criminosos e ofensivos à sociedade .
 Um ou dois casos ilustrativos podem nos ajudar a esclarecer o assunto. Um  ocultista indiano que estava visitando a Inglaterra, a fim de fundar uma escola,  experimentou alguns problemas. Ele estava profundamente envolvido na  política de seu próprio país e não havia dúvida de que antipatizava radicalmente  com os ingleses. Penso que fui a única anglo-saxônica de sangue puro a entrar  em contato com ele. Até onde sei, ele não se interessava pelas atividades  políticas mundanas, mas era sua idéia organizar um grupo de meditação que  deveria despejar a força espiritual regenerativa do Oriente sobre a alma grupal  do Império Britânico, que, segundo afirmou, estava em péssimo estado. Eu  afirmei, contudo, que a alma grupal não estava morrendo, como ele afirmava,  mas exausta, pois havíamos saído há pouco da Guerra. Além disso, eu não  podia ver como alguém que antipatizava tanto com ela poderia ser capaz de  regenerá-la. Eu não estava certa também de que a regeneração seria de nosso  agrado, caso a recebêssemos. Esse homem, que chamarei de X., tinha um  intenso orgulho espiritual, e sua idéia básica era que a Inglaterra devia  reconhçcer a supremacia espiritual da índia e receber sua inspiração espiritual  do Oriente. Eu era jovem e inexperiente, mas comecei a me perguntar que  espécie de força espiritual estava para ser despejada através do canal que  estávamos construindo. Supondo-se que durante a Guerra um grupo de  ocultistas ingleses tivesse tentado realizar um serviço semelhante para a Alemanha, que linha teria sido adotada? Não teriam eles tentado influenciar a mente  grupal alemã a abandonar seus ideais militaristas e a concentrar-se na Liga das  Nações? Não era exatamente o mesmo que tentava fazer o nosso amigo indiano  ao tentar dissuadir-nos de nossas tendências imperialistas? Não lhe teria  parecido, sofrendo como sofria sob o preconceito racial do homem branco, que  o mundo seria um lugar bem melhor para a humanidade se o inglês cuidasse de  seu próprio jardim e deixasse os outros povos em paz? Fiquei mais e mais  inquieta e X., sendo um bom sensitivo, detectou minha inquietação, e fui  convidada a me retirar do grupo que ele estava organizando .
 Eu sentia que algo sinistro estava sendo tentado contra a mente grupal de minha  raça, mas não tinha meios de avaliar a sua extensão ou potência. Essa não era uma história que se pudesse contar à Scotland Yard; além disso, muitos de meus  amigos pessoais acreditavam na bona fides de X. e estavam tomando parte no  grupo que ele organizava, e eu estava aflita para não envolvê-los em qualquer  aborrecimento. Em minha perplexidade, resolvi nada fazer no plano físico e  invocar os Mestres dos Planos Internos .
 Nessa época, eu não era de um grau que tem acesso direto aos Mestres, mas  resolvi tentar entrar em contato telepático com eles, embora não soubesse se  aqueles com quem procurava comunicar-me telepaticamente fossem entidades  humanas ou não, encarnadas em corpos físicos ou desencarnadas, pois àquele  tempo eu não havia avançado muito em meus estudos ocultos .
 A única coisa em que podia basear-me era uma idéia abstrata e o  reconhecimento de que nas dificuldades anteriores eu tinha sido capaz de entrar em contato com Algo nos Planos Internos que mostrara ser um amigo poderoso .
 Na telepatia, o método usual para estabelecer contato é visualizar a pessoa com  quem se deseja comunicar e chamá-la pelo nome. Eu nada tinha para visualizar  e não conhecia nenhum nome. Entretanto, resolvi fazer a tentativa o melhor que  podia e, falando metaforicamente, pus minha cabeça para fora da janela deste  tabernáculo carnal e chamei a polícia. E recebi uma resposta. A Voz Interior  respondeu-me clara e distintamente: “Procure o Coronel.” Fiquei muito surpresa, pois o Coronel Y. era uma pessoa muito ilustre a quem  eu fora apresentada uma vez, e a última pessoa no mundo a quem alguém  convidaria para’ contar coisas do arco da velha. Eu não tinha a menor intenção  de passar ridículo enfrentando esse formidável guerreiro em sua toca. Meus  estudos psicológicos me haviam familiarizado com os trabalhos da mente  subconsciente e o que ela pode fazer quando dissociada, e senti que a situação  precisava ser tratada com extrema cautela, pois os resultados de um passo em  falso poderiam ser desagradáveis .
 Repliquei, portanto, à Voz Interior: “Não acredito em você, a menos que me dê  um sinal” .
 A réplica não tardou: “O Coronel Y. estará em sua próxima conferência. Falelhe então” .
 Repliquei: “Eu sei que o Coronel Y. não irá à minha conferência, pois o seu  regimento está no exterior e ele não voltará antes que a conferência se realize”.A resposta foi: “O Coronel Y. estará em sua próxima conferência” .
 “Muito bem”, disse eu, “esse será o meu sinal. Se o Coronel Y. estiver lá, eu lhe  falarei, e se não estiver, deixarei que o caso siga o seu curso” .
 Quando chegou o dia aprazado, fui dar a minha conferência numa certa cidade.  Cheguei ao salão na hora devida, e a primeira pessoa que vi foi o Coronel Y.  subindo as escadas! Resolvi, portanto, pegar o touro à unha e imediatamente  após a conferência fui diretamente a ele e lhe disse: “Tenho uma mensagem  para o senhor .
 “Eu sei”, respondeu ele, “pois me disseram para aguardá-la” .
 Parece que ele estava em seus aposentos uma tarde com seus dois cães. Eles  subitamente ficaram perturbados e começaram a investigar algo que não estava  lá. O Coronel Y. ouviu’ uma voz dizer-lhe distintamente ao ouvido interior que  eu pediria sua ajuda e que ele deveria dá-la. Ele ficou tão impressionado com  essa ocorrência que se dirigiu a uma amiga comum e lhe perguntou se eu estava  em alguma confusão. A seu pedido, ela me escreveu para saber como eu estava  passando, mas não mencionou nenhum nome, e eu, não compreendendo o  significado do incidente, dei-lhe uma resposta evasiva .
 Ele ouviu a minha história e pediu-me para deixar o assunto em suas mãos, o  que eu fiz .
 Essa é uma história de coincidências bastante estranhas, mas a conclusão é  ainda mais estranha. Depois de deixar o Coronel Y., perguntei uma vez mais ao  Invisível se eu deveria fazer mais alguma coisa. A resposta que chegou era a de  que no momento eu não devia fazer nada, mas que eu seria informada quando a  ação posterior devesse ser empreendida. Soube, depois, que X. havia deixado o  país poucos dias após a minha entrevista com o Coronel Y .
 Nada aconteceu durante cinco meses, e então uma tarde, estando eu sentada  diante da lareira na penumbra, ouvi distintamente a Voz Interior dizer-me que  agora era a hora de tomar providências em relação ao caso de X., e que eu devia  ir ao Sr. Z. e contar a minha história. Ora, o Sr. Z. era uma pessoa muito ilustre,  que eu sabia ser um ocultista elevado, mas a quem eu nunca havia encontrado.  Repliquei à voz interior que  era impossível aproximar-me do Sr. Z., que me  mostrariam a porta e que a não ser que abrissem o caminho para esse fim, eu  não via como isso pudesse se realizar. A resposta, muito nítida, foi de que o  caminho estaria livre. E foi verdade.Dois dias depois  anunciaram uma visita, um velho amigo a quem eu via  ocasionalmente, e após as saudações usuais e a troca das novidades, ele disse:  “Eu gostaria muito que você encontrasse um amigo meu que, acredito, teria  muito interesse por seu trabalho. Posso apresentá-la a ele? Seu nome é Sr. Z.”.  Não é preciso dizer que concordei .
 Quando cheguei ao encontro combinado, disse ao Sr. Z., após ter sido  apresentada: “Tenho uma mensagem para o senhor”, pensando que me  poderiam tomar tanto por uma demente quanto por uma basbaque. Ele me ouviu  atentamente, e quando mencionei o nome do indiano, meu amigo, que estava  presente, exclamou: “E curioso que você esteja tratando desse assunto neste  momento. X. regressou à Inglaterra há dois dias” .
 Note-se que assim que X. deixou a Inglaterra, eu fui instruída a nada fazer, e  que assim que ele retornou, após uma ausência de cinco meses, eu fui instruída  a agir novamente. A não ser que estejamos preparados para arrancar o longo  braço da coincidência de seu bolso, devemos concluir que alguma inteligência  diretiva estava em ação. Esse é apenas um exemplo entre muitos de minha  experiência. As limitações de espaço me proibem mencionar muitos outros .
 Além da Policia Oculta, que funciona apenas nos Planos Internos, existem  também certos grupos de ocultistas que se reúnem no propósito de combater o  Ocultismo Negro. Suponho que eles se dêem diferentes nomes, mas não sei  quais são; já ouvi referirem-se genericamente a eles como Pavilhões de Caça.  Em várias ocasiões, travei escaramuças em seus  flancos e presenciei algumas  animadas pilhagens. Imagino que eles estão organizados em associação com a  Polícia Oculta, pois possuem meios de obter informação que sugerem uma  cooperação oriunda dos Planos Internos. Eles parecem possuir alianças em  quadrantes inesperados e ser capazes de puxar um considerável número de fios.  Não sei que armas psíquicas utilizam, mas no plano físico parecem contar  grandemente com os relatos dos jornais, vigiando os indesejáveis em trânsito e  nunca os deixando estabelecer-se e organizar-se. Sabendo o que sei de seus  métodos, de tempos em tempos reconheço a sua marca em várias transações  pelas quais os cidadãos decentes têm toda a razão de serem gratos .
 Eu os encontrei certa vez numa circunstância que serve para ilustrar a maneira  pela qual os ocultistas podem “pedir” as informações de que necessitam, e a  trilha fortuita de circunstâncias as fornece .
 Quando eu era jovem, no início do meu interesse pelo ocultismo, entrei em  contato com um adepto que logo compreendi estar no Caminho da Mão  Esquerda, e com quem logo cortei o meu contato. Pouco depois de ter rompido  com ele, eu estava assistindo a uma gincana com alguns amigos, entre eles um estudante de ocultismo, e começamos a discutir assuntos de interesse mútuo.  Impelida por não sei que impulso para confiar a ele o que jamais havia falado a  ninguém, contei-lhe as minhas experiências com o adepto a que me referi. Para  minha surpresa, ele sabia tudo sobre essa pessoa. Parece que meu novo amigo  estava ligado a um grupo de ocultistas que tinha por tarefa caçar as Lojas  Negras; eles já haviam cruzado o caminho de meu adepto negro e o haviam  obrigado a cessar totalmente as atividades, e ele havia jurado não reorganizar a  sua Ordem. Eles haviam tido razões recentemente para acreditar que esse juramento não estava sendo mantido e que ele tinha novamente organizado uma  Loja e estava operando seus rituais, mas não sabiam onde lhe pôr as mãos. E aí  fui eu, um pedaço dos destroços lançados num campo esportivo, a dar-lhe a  informação de que precisavam no exato momento em que dela precisavam.  Essas coisas acontecem regularmente demais no ocultismo para que alguém  possa considerá-las como fortuitas .
 Acredito que é possível, para quem quer que dela tenha necessidade, entrar em  contato telepático com essa força policial oculta. O símbolo que me ensinaram a  usar era uma Cruz do Calvário negra sobre um círculo escarlate. Devemos  formulá-la na imaginação, e enquanto a miramos mentalmente o pedido é  enviado para o Invisível, emanando do centro da testa .
 Várias tentativas foram feitas para provar que as fraternidades ocultas são  dirigidas de algumas sedes, pretensamente situadas na Alemanha, no Tibete, na  Mongólia e na América do Sul. Pessoalmente, não acredito nisso. Suponho que  tenho um conhecimento bastante variado dos trabalhos interiores do movimento  oculto, e nunca vi qualquer coisa que indicasse um controle centralizado, seja  para o bem, seja para o mal. Na verdade, tudo aponta para o contrário, e indica  que não há um vínculo unificador, a não ser o de uma literatura comum, um  idealismo comum e um conjunto de símbolos que, se não são comuns a todas as  seções, são facilmente traduzíveis por meio de equivalentes bem compreendidos. A situação no mundo oculto é análoga à da Cristandade Protestante, não  à da Cristandade Romana. O ocultista não tem um Papa .
 Penso também que o bolchevismo jamais instalou qualquer cabeça de ponte nas  Lojas, embora eu acredite que tenha tentado, como o testemunha a solicitação à  minha própria fraternidade. O ocultista comum não se interessa por política, seu  interesse é pelas coisas invisíveis. Além disso, as fraternidades ocultas estão  desorganizadas e dispersas demais para constituírem formidáveis armas  políticas, mesmo se fossem imbuídas de bolchevismo .
 Diz-se também que as fraternidades ocultas são controladas pelos judeus no  interesse do sionismo. Isso é totalmente falso. Há pouquíssimos judeus no  movimento oculto. É verdade, no entanto, que a Cabala, o misticismo tradicional da raça judia, é uma das fontes principais do ocultismo ocidental, e  que todo ocultista que trabalha sobre essa tradição deve pelo menos conhecer  um pouco de hebraico para poder transliterar a escrita hebraica. O estudo da  moderna Cabala mística está quase exclusivamente nas mãos dos gentios e os  eruditos judeus ortodoxos pouco ou nada sabem de sua literatura e  absolutamente nada de seu sentido místico .
 Ninguém disse coisas mais pesadas sobre o movimento ocultista do que eu, e se  eu pensasse que há qualquer sistema organizado de más influências, não  hesitaria em dizê-lo, pois prezo bastante a integridade do movimento; mas não  acredito honestamente que exista qualquer organização generalizada do  movimento ocultista, seja para o bem ou para o mal, qualquer que seja a  concepção de bem e mal que tenhamos. Só podemos, naturalmente, falar  daquilo que vemos, mas penso que seria impossível para mim estar tão  intimamente associada ao movimento como estive e nunca ter cruzado o seu  caminho em algum lugar. Eu cruzei muitos caminhos, e vi, não o negarei,  muitas coisas más, mas esse mal particular eu jamais testemunhei, e não  acredito que ele exista a não ser na imaginação das pessoas que vêem a mosca  azul. O verdadeiro vínculo do movimento ocultista é a devoção a um ideal  comum, mas esse ideal é alcançado por uma infinita diversidade de caminhos,  tantos quanto as vidas dos filhos dos homens .
 Lamento pela hipotética pessoa que tem a tarefa de organizar o movimento  ocultista, pois os ocultistas das diferentes escolas não podem ser induzidos a  cooperar. Toda técnica que difere da que eles utilizam é suspeita; todo contato  estranho é negro. A grande maioria dos líderes das escolas que conheci senta-se  cada qual em seu próprio círculo de luz e amaldiçoa tudo o mais. Como a velha  senhora que observava o filho desfilar com os soldados, eles exclamam: “Estão  todos em passo errado, menos o meu João”. Eu sonhei outrora com uma  federação de sociedades ocultas com uma convenção anual, mas logo  compreendi que ela era impraticável. Se os ocultistas não podem ser  convencidos a se organizar para servirem aos seus próprios interesses, é muito  improvável que eles se organizem para servir aos de outros .
 Os abusos que mais ocorrem no ocultismo ocidental são a imoralidade, o uso de  drogas e a mistificação  de mulheres estúpidas. Suas piores faltas são a  credulidade, uma cultura relaxada que raia à ignorância, e uma tolice intelectual  muito difundida. A leitura da sorte em todas as suas formas e algumas curas  espirituais espúrias constituem outra mancha sobre o que deveria ser um campo  santo. É difícil fazer justiça aos ideais que não partilhamos, mas sempre me  pareceu que o humanitarismo grandemente colorido de que certas seções do  movimento estão saturadas não é um ornamento. “Há de conhecê-los por seus  frutos.” Os frutos desse que eu vi pareceram-me um tanto quanto passados.As mentes mais finas do ocultismo são totalmente desconhecidas fora de suas  próprias Ordens. Uma cláusula muito comum nos juramentos de iniciação  intima o candidato a não revelar os nomes de seus companheiros. Se esse  juramento fosse quebrado, o público em geral teria uma grande surpresa. Como  o ocultismo não tem uma boa reputação para o público em geral, os homens em  posições públicas não podem permitir que os seus nomes se associem a ele; seu  interesse é, portanto, cuidadosamente dissimulado, e eles só falam disso àqueles  com cuja simpatia e discrição podem contar .
 Aqueles que sabem o que buscar, contudo, podem reconhecê-los facilmente.  Todo aquele que está acostumado com a análise do estilo literário pode detectar  o leitor habitual da Bíblia. Todo aquele que conhece os rituais ocultistas  detectará o seu aroma no estilo literário ou oratório do homem que está  habituado à sua utilização. Será que depois de tanto tempo eu possa ser  perdoada se quebrar o Juramento dos Mistérios que proíbe a divulgação dos  nomes dos iniciados e sugerir que a chave para a controvérsia BaconShakespeare pode residir no fato de que Bacon e Shakespeare eram membros da  mesma Ordem?





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