DISTINÇÃO
ENTRE ATAQUE PSÍQUICO OBJETIVO E DISTÚRBIO
PSÍQUICO SUBJETIVO
O psiquismo,
ainda que genuíno, é uma causa freqüente de auto-ilusão. Um sensitivo é
invariavelmente muito sensível e sugestionável. Essa é a base de seus dons.
Não sendo o psiquismo um desenvolvimento normal, entre os europeus pelo
menos, o sensitivo é, na linguagem dos engenheiros navais,
“superimpulsionado por sua quilha”. Ele é por isso instável, propenso a
violentas reações emocionais, e em geral exibe aquelas aberrações de
conduta que estamos acostumados a associar aos gênios artísticos. A não
ser que um sensitivo seja treinado, disciplinado, protegido e dirigido
por aqueles que lhe compreendem a constituição, o seu psiquismo não é
digno de confiança, pois o sensitivo é arrastado para onde sopram os
ventos. O sensitivo e o neurótico são muito semelhantes em suas reações à
vida, mas o neurótico difere do sensitivo porque, ao invés de ser
superimpulsionado por sua quilha, ele é subimpulsionado pelas máquinas. O
resultado, contudo, é o mesmo — uma discrepância entre a força e a forma
com a conseqüente inabilidade para manter um controle central, ponderado
e diretivo. A técnica da disciplina oculta visa em grande parte a
controlar as forças disparatadas, compensando a sensibilidade do
sensitivo e protegendo-o das impressões indesejadas. Não é bom saber como
se abre a porta do Invisível sem ao mesmo tempo aprender a fechá-la e
trancá- la .
Como se
observou na Introdução, é relativamente raro que o Invisível venha em
busca de seres humanos. Como disse a Lagarta a Alice a propósito do
Cãozinho, “Deixe-o em paz, e ele a deixará em paz”. Mas se começamos a
estudar o ocultismo ou mesmo a trabalhar com ele, mais cedo ou mais tarde
começaremos a obter resultados, desde que, naturalmente, os sistemas que
estamos utilizando contenham os germes da eficácia .
No caso de
uma pessoa que está trilhando o Caminho pela primeira vez, o progresso é
necessariamente lento e trabalhoso, mas uma alma que recebeu a iniciação em
encarnações anteriores pode reabrir as faculdades psíquicas com tal
rapidez que o problema de manter a coordenação harmónica da personalidade
se torna sério. Ë muito comum uma pessoa que está fazendo seu primeiro
contato com o movimento ocultista sofrer um distúrbio psíquico. Essa
perturbação é às vezes atribuídas às más influências, e às vezes às
entidades malignas. Nenhuma dessas inferências deve ser correta. Há uma
terceira possibilidade, que é responsável pelo maior número de vítimas —
o fato de que a consciência está sendo perturbada por uma força
diferente. ~ muito comum uma criança ficar febril e agitada nos primeiros
dias das férias no mar. Ela não está de fato doente. Mas o ar pesado e a
comida diferente e a excitação de seu novo ambiente perturbam o seu
sensível equilíbrio físico. Ocorre o mesmo quando o neófito sofre um
distúrbio no início de sua carreira oculta. As vibrações incomuns o
agitam, e ele tem então um ataque de indigestão oculta. Em ambos os
casos, o tratamento é o mesmo — restrição temporária da dieta que causou
a perturbação .
Uma outra
causa do distúrbio psíquico é a recuperação parcial da memória das
encarnações passadas, se essas incluem episódios dolorosos, especialmente
aqueles que se relacionam com os estudos esotéricos. A entrada de
conceitos ocultistas na mente consciente tende a despertar a memória
subconsciente de experiências similares nas vidas passadas. A emoção que cerca
uma lembrança é invariavelmente recuperada antes da imagem real do
acidente. (Esse é um dos melhores testes para a exatidão das memórias das
vidas passadas.) Essa emoção prefiguradora pode permanecer por um longo
tempo no limiar da consciência antes que as imagens se esclareçam o
bastante para se tornarem tangíveis. Se a emoção que está vindo à tona é
de natureza dolorosa, ela pode causar uma considerável perturbação, e, na
ausência de um orientador experiente, pode ser atribuída a um ataque oculto,
ou à percepção psíquica de influências malignas no grupo oculto ao qual o
neófito está filiado. Cumpre ter muita cautela na análise das impressões
psíquicas de um estudante inexperiente, que pode estar tão cheio de
receios como um puro-sangue de dois anos .
Por outro
lado, as reações instintivas de uma alma pura e sensível não devem ser
ignoradas. As Lojas Negras e as entidades malignas existem. Não devemos
permitir que o grito de “Lobo! Lobo!” nos torne indiferentes ou
descuidados. Seja como for, a vítima está sofrendo de um desconforto que
pode ser suavizado .
É muito
difícil determinar psiquicamente se o queixoso tem motivos razoáveis para
lamentar-se, pois sua própria imaginação terá preenchido a sua atmosfera
com formas mentais ameaçadoras. Não é coisa simples decidir se essas
formas mentais são subjetivas ou objetivas. O caminho mais sábio é
acreditar que tal prova é suscetível de um exame objetivo e examinar o
registro do grupo particular ou do ocultista contra quem os ataques estão sendo
dirigidos. Mas é igualmente necessário examinar o registro da pessoa que
está sofrendo os ataques. Que essa pessoa está imbuída dos ideais mais
sublimes não é prova de que ela tem uma boa cabeça, um julgamento
claro e imparcial, ou uma boa avaliação da natureza das evidências. Uma
pessoa não precisa ser necessariamente um mentiroso contumaz para fazer
afirmações que estão muito longe da verdade .
Outro
fator que se deve levar em conta são as extravagâncias do instinto sexual
numa pessoa em quem esse instinto é reprimido. Consideremos o caso de uma
mulher, talvez já madura, cujas circunstâncias lhe permitiram pela
primeira vez seguir suas próprias inclinações; um caso muito comum em
donas-de-casa que precisam esperar pela herança dos falecidos antes de
iniciarem a jornada da vida. Ela escolhe o ocultismo, pelo qual pode
sempre ter tido uma inclinação, e junta-se a algum círculo para estudar e
para possivelmente obter iniciação ritual. O dirigente desse círculo será
provavelmente uma pessoa de forte personalidade. A recém--chegada,
inexperiente e faminta de amor, está encantada. O ritual é uma coisa
muito estimulante, como o clero anglo-católico descobriu por sua própria
conta. A mulher, que possivelmente ignora os fatos da vida, sente-se
estranhamente agitada. Ela está aterrorizada, sente que algo do Reino de
Pã está se aproximando. Seus instintos a farão descobrir a fonte de que
procede a influência perturbadora. Ela apontará um dedo infalível para o
macho magnético. E raramente levará em consideração as reações da mulher
na presença do homem .
Se ela é
uma mulher que ignora os fatos da vida, a acusação que ela faz tomará
normalmente a forma de uma acusação de influência hipnótica. Ela não
compreende que é a natureza que a está hipnotizando. Se ela é uma mulher
que conhece algo a respeito do mundo, a acusação pode ser de propostas
amorosas impróprias. No mais das vezes, basta apenas olhar para a mulher
para descobrir se há de fato qualquer fundamento nessa acusação. ~ raro
uma jovem simpática, que poderia com razão estar apreensiva, contar tais
histórias. Parece que nunca ocorre às queixosas a idéia de fugir ou de
pôr o assunto nas mãos de um promotor. Se, ao fim de uma longa história,
cheia de insinuações tenebrosas e sugestões execráveis, fazemos a
pergunta “Mas o que ele fez, exatamente? “, a resposta será, quase
sempre, “Ele olhou-me de modo significativo” .
Quando
ouvimos uma dessas histórias, deveríamos dar mais atenção à postura da
pessoa que a está narrando do que aos fatos alegados. Isso fornecerá amiúde
a informação mais valiosa. É a coisa mais difícil do mundo conseguir que
uma vítima genuína fale. A mulher que está contando a história de sua
própria vergonha é normalmente uma mulher desprezada, e a fidedignidade
de seu testemunho no assunto está na razão inversa de sua loquacidade.
Não esqueçamos que, como nas brigas, é necessário ter duas pessoas para que um
escândalo ocorra, e a pessoa que admite um erro e pede ajuda para voltar
atrás nos passos errados é muito mais digna de auxilio do que aquela que
pretende ser como os anjos do céu, onde não há casamentos ou noivados .
Tão grande
é a necessidade de cautela para avaliar os fatos numa acusação de
imoralidade que as cortes legais não aceitarão o testemunho da vítima,
mesmo sob juramento e sob interrogatório, a menos que ele seja
corroborado por testemunho adicional. O médico deve conhecer o mesmo tipo
de mentalidade, e uma forma comum de distúrbio mental recebe o nome, até
mesmo nos manuais, de Insanidade da Velha Criada .
Eu poderia
citar dezenas de casos que exemplificam as afirmações precedentes, mas
eles não têm suficiente interesse oculto para justificar a sua inclusão nestas
páginas .
Se quem
comanda o grupo é uma mulher, um ramo diferente de reações entra em jogo,
embora as mesmas causas estejam em ação. Não se compreende geralmente que
a fixação, ou a paixão de uma mulher por outra, é na verdade um caso de
amor substitutivo, como o prova o fato de que a jovem que tem muitos
admiradores, ou a mulher que é feliz no casamento nunca se entregam a
ela. Nesse caso, assim como na atração heterossexual normal, “o inferno
não conhece nenhuma fúria como a da mulher desprezada”; não é possível,
por razões óbvias, receber acusações de comportamento impróprio. (Embora
em uma acusação isso tenha sido alegado contra mim, tendo eu sido acusada
de ser um homem disfarçado e de tentar seduzir a queixosa, e houve quem
acreditasse nisso.) A acusação feita em tais casos toma normalmente uma
de duas formas, sendo o seu mecanismo ou “Você não me ama, portanto você
é cruel. Eu fui tratada cruelmente”; e os exemplos mais afetados se
alinham de acordo com essa acusação. Ou “Você não me asna, portanto eu o
odeio. A atração que você tem por mim é hipnótica” .
Deve-se
ter em mente, ao se avaliar essas acusações, que um ocultista treinado,
especialmente de um alto grau, tem uma personalidade extremamente
magnética, e isso pode perturbar aqueles que não estão acostumados com
forças psíquicas de alta tensão. Pois ao passo que uma pessoa que está
madura para o desenvolvimento desabrocha rapidamente uma consciência
superior na atmosfera de um iniciado de alto grau, a pessoa que não está
pronta pode descobrir que essas influências são profundamente
perturbadoras. Um adepto que permite que pessoas inadequadas penetrem o
seu campo magnético é digno de reprovação por sua falta de senso e
discrição, mas ele não pode ser justamente acusado de abusos de poderes
ocultos. Ele emana força involuntariamente e não pode ajudar a si próprio.
Os maiores adeptos sempre vivem em reclusão, não só porque precisam de solidão
para o seu trabalho, mas também porque a sua influência sobre almas
despreparadas produz uma reação muito violenta, e isso termina na Cruz ou
na taça de cicuta .
Não devemos
negligenciar o fato de que a pessoa que nos chega com uma longa história
de ataque oculto e pede auxilio, especialmente ajuda financeira, pode
estar simplesmente inventando uma lorota, e deveríamos utilizar a mesma
discriminação que empregamos ao ouvir as calamidades de uma outra,
tentando diferenciar entre o falso e o verdadeiro. Conheci um homem que
permitiu que um pretenso adepto que estava sofrendo de um pretenso ataque
oculto se refugiasse em seu estúdio, e ao retornar de uma breve ausência
descobriu que o pretenso adepto havia vendido a mobília para comprar
bebida; e ele teve toda a razão para acreditar que os únicos espíritos
que estavam de alguma maneira envolvidos nos problemas do falso adepto
haviam penetrado o estúdio dentro de garrafas .
Ás vezes o
ataque oculto provém simplesmente das fantasias de um demente, e isso não
invalida necessariamente o fato de que se pode encontrar uma segunda
pessoa que traz evidências corroborativas. Os alienistas conhecem uma
curiosa forma de insanidade chamada folie de deux, na qual duas pessoas
intimamente associadas partilham juntas das mesmas ilusões. Descobre-se
comumente em tais casos que uma é claramente insana, e que a outra é de
um tipo histérico e imbuiu-se das ilusões de sua companheira por meio da
sugestão. Utilizo o feminino porque essa forma de insanidade é rara nos
homens. Ela ocorre com freqüência com duas irmãs ou com duas mulheres que
vivem juntas .
Há outra
armadilha que o ocultista experiente deveria observar em suas relações
com a pessoa que se queixa de um ataque oculto. A insanidade pode ser
periódica em suas manifestações, com ataques de mania aguda alternando
com períodos de completa sanidade. Esse caráter periódico deveria ser
sempre observado no caso das mulheres, nas quais qualquer instabilidade
temperamental é grandemente exagerada durante as épocas das regras, na
mudança de vida, durante a gravidez e, de fato, em qualquer período em
que a vida sexual é estimulada à atividade, seja emocionalmente ou
fisicamente. Deve-se também ter em mente que nos casos patológicos a
periodicidade das funções femininas pode ser grandemente perturbada .
Eu tive
certa vez uma boa lição a esse respeito, que exemplifica a necessidade de
cautela. Na apresentação de um de nossos membros, nós tínhamos recebido
em uma de nossas casas comunitárias uma mulher cujo marido, um homem
bastante conhecido na vida pública, se recusava a viver com ela, como fui
informada, e fizera diversas tentativas para livrar-se dela, ameaçando
interditá- la por insânia se ela de alguma maneira lhe resistisse. Esses fatos
foram testemunhados por um círculo de amigos que conheciam tanto o homem como a
mulher. Eu mantive essa mulher sob observação durante um mês, para
verificar se havia algo que justificasse a acusação de insanidade e, nada
constatando, assumir o caso. Na sétima semana, contudo, a perturbação se
manifestou. Ela entrou num grande estado de excitação, declarou que
estava morrendo de fome e sendo maltratada pela pessoa que, em minha
ausência, era responsável pela casa. Sete semanas mais tarde tivemos
outro ataque, durante o qual ela disse que as más influências provinham
de um certo armário em seu quarto, vagueou pela casa em trajes
extremamente inadequados e perdeu todo o autocontrole. Esse ataque teve
também curta duração. Descobrimos, por fim, que ela sofria de uma
apendicite crônica que envolvia o ovário direito e que, quando a sua
menstruação extremamente irregular ocorria, ela perdia a cabeça por
alguns dias. O caso era ainda agravado pelo fato de que durante os
intervalos ela era em todos os aspectos perfeitamente sã. Após ter
deixado a nossa casa comunitária, ela contou sobre nós exatamente as
mesmas histórias que havia contado anteriormente sobre o marido. O
lunático incurável é um problema muito menos sério para a sociedade do
que esses casos limítrofes. É preciso tratá-los com extrema cautela, pois
eles podem causar uma imensa confusão .
Quando uma
insanidade atingiu um estágio avançado, todo aquele que teve alguma experiência
com os lunáticos tem pouca dificuldade para reconhecê-la. Cada tipo de
insanidade tem a sua expressão facial característica e mesmo seu modo de
andar. Mas não é tão simples, mesmo para o especialista, reconhecer uma
insanidade em seus estágios iniciais. Os lunáticos são extremamente
convincentes, e se assimilaram um pouco do jargão ocultista e do
espiritualista, podem apresentar adequadamente as suas razões. Mesmo o
alienista experiente tem amiúde de manter um caso sob observação para
certificar-se de que se trata ou não de uma insanidade real .
Num campo
cm que os especialistas estão freqüentemente em dúvida, o que deve fazer
o leigo diante de um caso que desperta as suas suspeitas? Ele não pode
reconhecer uma insanidade quando a vê, mas seu próprio senso comum
poderia guiá-lo. Em outras palavras, que ele suspenda o julgamento sobre
os fatos alegados e se concentre na questão dos motivos. É aqui que ele
encontrará a sua melhor indicação. Se uma pessoa não pode oferecer
nenhuma explicação válida para as razões de um ataque que a está
atingindo, nem para a sua causa ou origem, podemos estar quase certos de
que esse ataque tem origem em sua própria imaginação .
Num caso
que me veio às mãos em busca de auxilio, a vítima do ataque, um homem,
declarou que estava sendo perseguido por sugestão telepática. Indaguei
sobre a origem de sua perseguição, e ele disse que algumas pessoas que
viviam no apartamento vizinho costumavam sentar-se num círculo e
concentrar-se sobre ele. Perguntei-lhe por que elas agiam daquela maneira, e
ele não pôde dizer-me. Ele simplesmente reiterou que elas o faziam,
embora admitisse que nunca estivera no apartamento delas, nem, de fato,
jamais lhes falara exceto para trocar um bom-dia nas escadas. Era
evidente que não havia nenhum motivo razoável para essas pessoas se darem
ao trabalho de persegui-lo. Se alguém já fez experiências com sugestão
telepática conhecerá a intensa concentração que ela requer e o duro
trabalho que é executá-la, e não se pode imaginar alguém dando-se ao
trabalho de fazê-la por longos períodos de tempo sem um motivo bem
definido. Ouvi falar, contudo, de um caso bem autenticado de uma mulher
que teve uma ligação com um homem casado que atacava a esposa dessa
maneira. Eu mesma conheci dois casos em que um certo indivíduo, que tinha
bastante influência nos círculos transcendentais, que os jornais chamavam
impolidamente de sua “Loja de Louvor”, e que era igualmente conhecido no
centro financeiro de Londres por seus esforços para obter ouro da água do
mar, utilizava sugestão telepática para induzir a assinatura de cheques e
documentos. Em face de alguém que esperava por uma entrevista, esse homem
sentava-se e concentrava-se sobre seu interlocutor. Tão forte era a influência
assim exercida que um homem de minhas relações renunciou a um posto
importante por causa da influência mental indevida que sentia sobre si, e
outro renunciou ao conselho de uma de suas companhias pela mesma razão .
Em ambos
os casos não é difícil procurar um motivo adequado para o ataque mental.
Comparem esses dois casos com o exemplo anterior, e a diferença pode ser
facilmente percebida. Deveríamos, contudo, ser tão cautelosos em decidir se
não há nada errado quanto em aceitar por seu valor aparente as afirmações
que nos possam ser feitas. Além disso, deveríamos ter sempre em
mente, quando tratarmos com uma pessoa que está obviamente perturbada e
que alega um ataque psíquico, que o desequilíbrio mental pode ter sido
induzido pelo ataque psíquico. A vida é, na melhor das hipoteses, uma
coisa estranha, e muitas coisas que são mais estranhas do que o normal
podem acontecer àqueles que se movem nos círculos ocultos .
OS
PERIGOS NÃO-OCULTOS DA LOJA NEGRA
Os fatos considerados
no capítulo anterior, embora nos possam tornar cautelosos quanto ao exame
das provas, não nos devem cegar quanto ao fato de que há ovelhas negras
em todos os rebanhos e de que uma fraternidade que começou com as
melhores intenções pode inadvertidamente, pela ignorância ou imperfeição
de seus dirigentes, desviar-se para o Caminho da Mão Esquerda. Pessoas
perfeitamente inocentes podem associar-se a ela numa fase de degradação
não confessadamente negra, e essas pessoas podem ver-se em águas que são
desagradavelmente turvas, se não realmente perigosas .
Os perigos
esotéricos serão estudados em detalhe no próximo capítulo e
consideraremos aqui os perigos exotéricos que podem ocorrer atrás do Véu
do Templo, pois a natureza humana é sempre a mesma onde quer que a
encontremos, e mostra pouca originalidade em escolher seu caminho para o
Abismo. Poder-se-ia pensar que num livro como este não é necessário
abordar tais assuntos, mas se este livro deve servir ao propósito para o
qual foi escrito, é necessário fazê-lo por três razões; em primeiro
lugar, porque a maior parte dos estudantes de esoterismo são mulheres, e
mesmo em nossos dias esclarecidos elas geralmente ignoram a vida do
submundo, e uma Loja Negra conduz por um caminho direto e estreito para a
terra de apaches e mundanas, lado a lado com as suas outras
inconveniências. Em segundo lugar, porque o conhecimento desses fatos é
essencial para a diagnose diferencial. E, em terceiro lugar, porque os
poderes ocultos não são incomumente utilizados para a obtenção de fins
puramente mundanos e, por conseguinte, quando a questão da criminalidade
comum está associada a uma organização oculta, os resultados podem ser
complicados por uma mistura de métodos que pertencem a outro plano .
Devemos
sempre lembrar que uma loja não precisa necessariamente ter sido formada
com o propósito expresso de burlar a lei; ela pode ter-se iniciado com um
fim perfeitamente legítimo, e ter sido explorada por pessoas malévolas para
seus próprios objetivos, pois, devido à natureza secreta de seus
procedimentos, a forma de organização da fraternidade se presta a várias
formas de transgressão da lei .
Sabe-se
muito bem que uma organização oculta se envolveu com o tráfico de drogas,
e que outra estava metida com o vício antinatural. Uma terceira degenerou
num estabelecimento pouco melhor do que uma casa de má fama, e seu chefe
era um experiente aborteiro. Outras se envolveram com políticas
subversivas. Aqueles que se juntam às fraternidades sem investigá-las — a
elas e às credenciais dos dirigentes — criteriosamente, podem ver-se
envolvidos em uma ou em todas essas coisas .
Atrás do
véu do segredo, guardado por impressionantes juramentos, muitas coisas
podem acontecer, e é, portanto, essencial tomar cuidadosas informações a
respeito do caráter, das credenciais e da folha-corrida dos líderes de uma
organização .
Se esses
dados não são acessíveis, algo está errado. O Estranho Misterioso, que
acabou de chegar do Oriente ou do continente com referências vagas, é
provavelmente uma fraude .
Se
encontramos alguma dificuldade para descobrir os antecedentes de um
pretenso adepto, podemos consultar o conhecido periódico Truth, da
Carteret Street, S. W. I. Truth foi originalmente fundado para denunciar
os abusos na vida econômica e pública, e para esse fim ele mantém
uma “Lista Negra” de indivíduos que devem ser evitados. Esse periódico é
leal e destemido em seus métodos, não um perseguidor nem um encomiasta de
pessoas. Ele mantém um olho vigilante sobre o campo do ocultismo e expõe
ao ridículo os charlatães, uma tarefa para a qual ele deveria contar com
a gratidão e o apoio de todos os que têm a causa da Religião da Sabedoria
no coração .
O perigo
mais comum a que uma pessoa que entra na companhia de indivíduos
indesejáveis está exposta é o de ser induzida a entregar mais dinheiro do
que é conveniente pelos expedientes tradicionais da trapaça e da
chantagem, sendo esta de longe a forma mais comum de aborrecimento nas
Lojas Negras. O único remédio em todos os casos é colocar o assunto nas
mãos da polícia. Em primeiro lugar, é seu dever como cidadão para que
outros não sejam envolvidos como você. Em segundo lugar, se você não o
faz, os perseguidores não o deixarão até que o tenham sugado por
completo, e não o deixarão se descobrirem que você é útil como
joguete. Jamais nos livramos de um chantagista dando-lhe dinheiro. Isso é
apenas um convite para que ele o faça novamente. Aja rápida e firmemente
no início e você logo estará no fim de seus aborrecimentos .
Conseguir
dinheiro com ameaças é chantagem, e obrigar alguém a fazer certas ações
por ameaça também é um crime. Acordos fechados ou documentos assinados em
conseqüência de ameaças não têm validade. As ameaças não precisam ser
necessariamente grosseiras e abertas, como as que são feitas com um
revólver; tudo aquilo que o coaja contra suas inclinações pode ser
interpretado como uma ameaça. Por exemplo, suponha que lhe informaram,
ainda que com tato, que se você não subscrever os fundos de uma
organização, seu interesse pelo ocultismo estará sujeito a ser alvo de
comentários, e poderá envolvê-lo em aborrecimentos com seus parentes ou
empregados. Isso, aos olhos da lei, é chantagem. Qualquer coisa, de fato,
que tira vantagem do medo de uma pessoa é uma chantagem.Consideremos
agora qual é a melhor coisa a fazer se você está sendo chantageado.
Dificilmente será sensato responder à chantagem com chantagem. A melhor
coisa a fazer é responder que você pensará no assunto e verá o que pode
ser feito, e então ir direto ao posto policial mais próximo e contar toda a
história. Você pode estar certo de que será atendido com a máxima
gentileza e atenção, e que todo esforço será feito para ajudá-lo, mesmo
que você tenha que admitir que sua conduta não foi irrepreensível. Indo à
polícia e contando francamente o estado de seus negócios, você estará
depondo contra o réu, e as autoridades têm todo interesse em proteger as
pessoas que fazem isso .
Não se
desencorage pelo fato de que não pode apresentar nenhum testemunho
adicional em apoio de sua afirmação. A polícia poderá dizer-lhe que não
há prova evidente para solicitar um mandado de prisão; entretanto, eles
farão investigações, e o próprio fato de a polícia estar investigando é
suficiente para tirar o sossego dos chantagistas e provavelmente para
espantá-los do país, e eles normalmente não farão revelações
inconvenientes en route, preferindo antes fugir enquanto é possível. Além
disso, a sua queixa irá para os registros da polícia, e a vigilância será
mantida; no devido tempo, outra queixa pode ser feita, ou, pelo que você
sabe, já pode ter sido feita, e então a rede começa a se fechar .
Lembre-se
sempre de que uni chantagista tem mais medo de expor-se do que você; por
qualquer aborrecimento que possa estar reservado para você, ele tem à
frente um longo período de reclusão. Uma oportuna lembrança desse fato
faz maravilhas com os presumíveis chantagistas .
O medo de
expor as suas próprias falhas não deve detê-lo. A natureza das acusações
feitas contra você pelo chantagista jamais será mencionada. Não é você
quem está sendo julgado. E sua identidade não será revelada. Você será
designado como Sr. A. ou Sra. B. Longe de ser tratado como uni criminoso
ou de ter um dedo acusador apontado contra você, descobrirá que é visto
como uma pessoa que está prestando um serviço público e todo esforço será
feito pelas autoridades para desembaraçar seu caminho. Um esforço
deliberado está sendo feito no presente para extinguir esse crime
abominável, e os juizes têm aplicado sentenças exemplares e procurado
proteger os demandantes de todas as maneira, no propósito de encorajá-los
a apresentarem-se .
Mas além
de qualquer forma de coerção, pessoas incautas, cheias de entusiasmo ou
encantadas pela nova revelação, podem despender muito mais dinheiro do
que seria razoável; elas podem mesmo despender tudo que têm, e, depois,
desiludidas pelos eventos posteriores, lamentar grandemente o tê-lo
feito. Em muitos casos, um procurador competente pode conseguir a
devolução dos bens. Os tribunais não vêem com bons olhos as contribuições
excessivas aos “movimentos” .
Não é
preciso dizer que nenhuma organização conduzida corretamente consentiria
em aumentar seus fundos às expensas da ruína de um de seus membros.
Cumpre também, naturalmente, proteger-se contra a extravagância e a
malevolência e as maquinações do indivíduo que tenta comprar prestígio por
intermédio das subscrições. Sempre foi nosso costume, na Fraternidade da
Luz Interior, insistir em que qualquer mulher que se propõe a dar uma
grande doação deveria consultar seu conselheiro de finanças antes de
fazê-lo. Por uma razão ou outra, recusamos mais de vinte e cinco mil
libras durante os últimos sete anos. E não temos qualquer razão para
lamentar tê-lo feito. A força de uma organização oculta não está no plano
físico .
Ë bem
sabido que há várias drogas que podem ser utilizadas para exaltar a
consciência e induzir um psiquismo temporário. Mas talvez não se saiba
que muitas dessas substâncias estão sujeitas ao controle das autoridades
e que obtê- las de fontes irregulares, ou mesmo ter a posse delas para fins
ilegítimos, constitui crime sujeito a prisão, e nesse caso também as
autoridades estão alertas e os magistrados costumam ser extremamente drásticos
.
Todos os
iniciados do Caminho da Mão Direita concordam em que exaltar a
consciência por meio de drogas é um procedimento perigoso e indesejável.
Existem pesquisadores que por razões legítimas desejam empreender uma
experiência, mas não posso conceber qualquer razão legítima para
introduzir um neófito no hábito das drogas. Em todo caso, se tais
experiências são tentadas, elas deveriam ser conduzidas sob a supervisão
de um médico qualificado, que estaria em condições de prevenir a
catástrofe ou de lidar com ela no caso de sua ocorrência. As drogas que
alteram a consciência afetam também o coração, e o coração nem sempre é
como deveria ser. Além disso, a composição das drogas raras não está
padronizada e varia bastante; elas podem conter várias impurezas, e as
amostras podem tornar-se anormalmente tóxicas. O aborrecimento de termos
sob as mãos um cadáver inesperado e inexplicável só é superado pelo
desgosto de tornarmo-nos nós mesmos o cadáver, e uma dessas
eventualidades pode ocorrer quando as pessoas começam a fazer
experiências com drogas que “afrouxam os laços da mente” .
A moral da
humanidade em geral deixa muito a desejar, do ponto de vista do puritano,
e as organizações ocultas que ocupam as costas marítimas da Boêmia, mais
ainda. As poucas organizações que afirmam que o ocultismo é
essencialmente uma religião mantêm um padrão elevado; as demais são
abençoadas com uma coleção calidoscópica de amantes. Isso não nos diz
respeito. Se as pessoas preferem pular a cerca, elas é que sabem. Não
consideraremos por enquanto os abusos ocultos da força do sexo, pois esse tema
será estudado em detalhes no lugar adequado. Analisaremos neste capítulo
a forma absolutamente normal com que a imoralidade é camuflada sob a capa
do ocultismo. A esse respeito, inúmeros casos chegaram ao meu
conhecimento. O chefe de um grupo seduzia sistematicamente as suas
pupilas sob o pretexto de que isso era parte de sua iniciação, e o grupo
aceitava a situação num espírito do mais puro auto-sacrifício. Muitas
outras lutavam desagradavelmente contra a maré, com o resultado de que as
“paixonites” e os posteriores colapsos nervosos eram muito freqüentes.
Não é preciso dizer que tais métodos não fazem parte do Caminho da Mão
Direita .
Ë
surpreendente o número de mulheres de ideais elevados, de boa família e de
ampla cultura que podem ser induzidas a aceitar tais teorias e tais
práticas. O perigo que aguarda as jovens ou as mulheres inexperientes que
se associam a esses grupos pode ser facilmente imaginado .
Eu fui
várias vezes acusada de ter uma mente estreita em minha atitude para com
os grupos em que tais acontecimentos eram permitidos, mas o custo em
sofrimento humano é tão grande e a desmoralização geral tão sórdida que a
tolerância chega perigosamente perto do cinismo. Talvez não se saiba, mas
os meninos e os jovens correm tanto o perigo da corrupção numa Loja Negra
quanto, as mulheres. Já houve casos tão flagrantes não só aqui como no
exterior, que a policia foi obrigada a intervir .
Nos tempos
antigos, e entre pessoas primitivas, o sacrifício humano era um
acontecimento comum relacionado com as práticas ocultas. A Europa
oriental conhece esse rito ainda nos dias de hoje. A história do
Barba-Azul tem a sua origem nas práticas do infame Gilles de Rais,
marechal de França e companheiro de Joana d’Arc, que massacrou inúmeras
crianças e jovens em função de suas experiências mágicas. Eu jamais ouvi
falar de um desses casos na Inglaterra, mas dos Estados Unidos nos têm
chegado em diferentes ocasiões os relatos de curiosos assassínios que se
assemelham a assassínios rituais; porém, na ausência de informação
adequada, é impossível chegar a uma conclusão final a esse respeito. Não
obstante, chegou-me recentemente às mãos um livro sobre magia publicado
para circulação restrita, no qual se faz a afirmação de que o sacrifício
de sangue ideal é o de uma criança do sexo masculino .
O
movimento ocultista é com freqüência acusado de entregar-se a atividades
revolucionárias. Há certos aspectos, no entanto, que devem ser
considerados quando se avalia a verdade dessa acusação. Em primeiro
lugar, o movimento ocultista não é um todo homogêneo. Ele está
totalmente desorganizado e pode ser comparado à situação política da
Inglaterra antes da Conquista normanda. A constituição dos vários grupos e
associações varia enormemente, e o que é verdade para um pode não ser
verdade para outro. Não há dúvida de que várias organizações em várias
épocas estiveram implicadas com a política, como o demonstra a associação
da Sociedade Teosófica com os movimentos políticos indianos, mas devemos
ter em mente que os revolucionários de uma geração são os reacionários da
próxima geração. Afinal, a política é uma questão de opinião, e mesmo as
pessoas de quem discordamos podem estar, afinal, certas. Eu,
pessoa]mente, acredito que uma fraternidade oculta nunca deve ocupar-se
de política, por razões que apresentei em outro de meus livros, Sane
Occultism, e que não discutirei aqui, por serem irrelevantes nestas
páginas. Mas, visto que as pessoas se têm reunido desde tempos imemoriais
visando à ação política, não podemos fazer objeção a algo que a lei
permite. As pessoas que se vinculam a uma organização fundada para a ação
política vinculam-se com os olhos abertos e presumivelmente para os fins
para os quais ela foi fundada. Há razões para objeção, contudo, quando
uma organização é fundada para atividades nãopolíticas e posteriormente os seus
dirigentes, sem consultar, ou sequer informar os seus seguidores
empreendem atividades políticas por sua própria conta, utilizando a
organização para esse propósito e envolvendo, assim, os seus seguidores,
sem seu consentimento, nas complicações que podem surgir, e empregando o
dinheiro das contribuições para um fim específico em finalidades que os
doadores não tinham em vista. Poder-se-ia perguntar que uso, na
atualidade, os revolucionários poderiam fazer das organizações ocultas.
Quanto ao que sei, eles utilizaram ou tentaram utilizá-las para enviar as
cartas de pessoas cuja correspondência estava sendo vigiada, e eu mesma
recebi certa feita um pedido para permitir que uma pessoa que havia sido
deportada retornasse ao país sob um nome falso e demorasse em uma de
nossas casas comunitárias como um membro regular, e algumas centenas de
libras foram oferecidas para que o fizéssemos. Não é preciso dizer
que a correspondência foi envia da imediatamente às autoridades. Os
problemas que examinamos neste capítulo não são peculiares às
fraternidades ocultistas, mas são comuns a qualquer organização que não
discrimina os seus membros. As organizações que fazem publicidade devem
forçosamente aceitar todos os que se apresentam e dar-lhes um destino à
luz da experiência posterior, e algumas dessas experiências podem ser
muito bizarras. Não se pode censurar uma organização que aceita uma
ocasional ovelha negra, a não ser que ela mantenha todo um rebanho com
essa cor .
Uma loja
de duvidosa pureza pode ser facilmente reconhecida pelas pessoas que a
freqüentam e que podem muito bem ser comparadas ao aventureiro decadente
com fumos de requinte, que gosta de emoções fortes. As verdadeiras Lojas
Negras são guardadas tão cuidadosamente quanto as Lojas Brancas de grau
elevado, e nenhum estranho tem acesso a elas. O estudante sério de
Ocultismo Negro visa ao conhecimento e à experiência mágica e não vai
perder o seu tempo com um aprendiz. Aqueles que preferem graduar-se numa Loja
Negra, depois de cumprirem seu aprendizado na Corte Exterior de uma Loja
Branca, fazem a escolha de olhos abertos, e a experiência deve ser seu
mestre. Não devemos lastimá-los se a experiência é penosa. A pessoa que
estou disposta a auxiliar é a pessoa que é uma vítima, não aquela cujo
tiro saiu pela culatra. O homem ou a mulher que, rejeitando os passos
graduais do Caminho da Iniciação, escolhe subir com um foguete, terá
depois que descer apoiado numa bengala .
Qualquer
solicitação de uma grande soma de dinheiro deveria ser sempre
encarada como um sinal de perigo. É uma das condições mais estritas da
iniciação que o conhecimento oculto jamais pode- ser vendido ou utilizado
para ganho. Sei de um ocultista que cobra trezentas libras por uma das
iniciações que concede; e ele a dará a quem quer que tenha trezentas
libras. Em minha opinião, a pessoa que paga trezentas libras por tal
objetivo faz jus à espécie de iniciação que vai obter .
É também
um mau sinal quando um ocultista utiliza livremente os prodígios diante
dos não-iniciados. Nenhum adepto genuíno jamais fará isso. A pessoa que
revira os olhos, lê nossas encarnações passadas, descreve nossa aura,
contorce-se e nos dá uma mensagem de seu Mestre assim que lhe somos
apresentados, eis alguém que devemos evitar .
Quanto
mais observo o movimento ocultista, mais me surpreendo com as coisas que
as pessoas podem dizer e fazer sem serem punidas. A pessoa comum não está
no seu normal quando lida com assuntos psíquicos. Ela passa normalmente
por três fases. Em primeiro lugar, pensa que tudo é superstição e fraude.
Em segundo lugar, quando o seu ceticismo se rompe, ela acredita em
qualquer coisa. Em terceiro lugar, se consegue chegar ao terceiro lugar,
ela aprende a discrição e distingue as Fraternidades Negras e as
Fraternidades Brancas das Fraternidades Tolas .
O
ELEMENTO PSIQUICO NO DISTÚRBIO MENTAL
Vimos num
capítulo anterior que os distúrbios nervosos e mentais podem estimular um
ataque psíquico, especialmente se o sujeito está familiarizado com a
terminologia do ocultismo. Devemos considerar também o papel desempenhado
pelo ataque psíquico nas desordens nervosas e mentais. Mas antes de
iniciarmos esta seção de nosso estudo, devemos dar uma breve explicação
sobre a natureza das perturbações nervosas e mentais e sobre a distinção
entre ambas. Não entraremos em considerações acadêmicas, pois estas páginas
não foram escritas para o psicólogo profissional ortodoxo — que tem
inúmeros manuais à sua disposição —, mas para a pessoa cujo interesse
está em primeiro lugar nos temas ocultistas, e que enfrenta o estudo do
assunto desprovida dos tecnicismos da psicologia e da psicofisiologia,
duas ciências de que precisamos ter pelo menos um conhecimento prático
para enfrentarmos os trabalhos ocultos .
No curso
de uma encarnação, a mente está assentada sobre as funções das
características do Eu Superior, ou Individualidade, que é a alma imortal
que se desenvolve no curso de uma evolução. A mente, por conseguinte, é
parte da personalidade — a unidade da encarnação — que começa no
nascimento e se dissolve na morte, sendo a sua essência absorvida pela
personalidade, que assim se desenvolve .
A mente é
essencialmente o órgão de adaptação ao meio ambiente, e é quando essa
adaptação falha que as perturbações neuróticas e histéricas começam. Toda
criatura viva é um canal por onde flui a corrente de força vital que
procede do Logos, o Criador deste universo. Essa corrente divide-se nos
três canais principais, que para nós correspondem aos três grandes
instintos naturais, a Autopreservação, a Reprodução e o Instinto Social.
Essas são as três molas principais de nossas vidas. A própria pressão da
vida está atrás desses canais, e se eles são bloqueados além de seu poder
de compensação (por mais considerável que este seja), eles agem como as
correntes cujos canais estão bloqueados e que, em conseqüência, transbordam
e encharcam as terras adjacentes .
A emoção é
o aspecto subjetivo de um instinto. Ou seja, quando um instinto está
operando, nós sentimos emoção. Toda emoção que sentimos pode ser referida
a um ou outro dos instintos. Nosso ressentimento pela crítica à nossa
dignidade tem suas raízes no instinto da Autopreservação. Nosso amor à
arte tem seu elevado aspecto espiritual e seu aspecto físico elemental, e
a transmutação de um plano ao outro ocorre livremente, de modo que, a não
ser que compreendamos o significado dessas manifestações, poderemos
incorrer em erro. Na compreensão desse ponto está a chave da ciência da
vida.Se um desses grandes instintos é tão frustrado que todas as tentativas de
compensação sucumbem; ou se o temperamento é tão inelástico e inflexível
que não modificará suas exigências, o ego faz uma desesperada tentativa
final de ajustamento que ultrapassa os limites em que as relações
harmoniosas com o meio ambiente podem ser mantidas. As relações com o
meio ambiente se rompem, e a mente abandona, pelo menos em parte, a esfera. da
realidade, ingressando na esfera da imaginação. A sensação de valores
fixos se perdeu, e as coisas assumem uma importância simbólica. Esse
rompimento pode ser parcial, restringindo-se a certos aspectos da vida,
ou pode ser total .
Na
histeria, as forças odiosas da vida permanecem no canal, mas jorram com
força concentrada por qualquer comporta que possa estar aberta para elas.
Conseqüentemente, ao invés de o rio sob obstrução ser um corpo de água
que flui suavemente, ele desce em rápidos e sorvedouros difíceis e
perigosos para navegar, de modo que o barco da vida neles naufraga. O
país circunvizinho é também reduzido a um lamaçal, nem terra nem água. Em
outras palavras, o temperamento torna-se tempestuoso e indevidamente
emocional, e os fatores não-emocionais da mente, como o julgamento e o
autocontrole, se descoordenam. Esse temperamento está perpetuamente em
dificuldades com a vida, e periodicamente as emoções reprimidas transbordam
em acessos de gritos e movimentos musculares convulsivos, que agem como
válvulas de segurança e aliviam temporariamente a pressão .
O
neurótico difere do histérico por certas características marcantes que
precisam ser cuidadosamente consideradas, pois são muito
importantes do ponto de vista prático. As perturbações neuróticas começam
da mesma maneira que os distúrbios histéricos, pois resultam da emoção
reprimida e da falta de adaptação ao meio ambiente; mas nesse caso, as
forças vitais agem para abrir novos canais que possam circundar o
obstáculo que lhe bloqueia o caminho. Temos, conseqüentemente, o que os
psicólogos chamam de deslocamento emocional. Um assunto relativamente
pouco importante torna-se objeto de uma efusão que não condiz em absoluto
com a realidade, pois esse objeto foi substituído por outra coisa. É esse
curioso trilhar subterrâneo da emoção na mente que causa tanta desordem,
pois o sofredor não é insano e, no entanto, certas seções de seus valores
e reações à vida estão pervertidas. Ele é uma pessoa extremamente difícil
de lidar, porque é dado a amores e ódios e medos inesperados e
absolutamente irracionais, e age de acordo com eles .
Condições
semelhantes prevalecem nas insanidades orgânicas; as conseqüências
psicológicas são as mesmas, mas, visto que a origem é física, e não
mental, a psicoterapia pouco pode fazer por elas. Mesmo assim, algo pode
ser feito para trazer-lhes alívio, embora não para curá-las por completo;
consideremos então esse assunto dos pontos de vista psicofísico e
ocultista.O corpo é o veículo da mente. Se o veículo é falho, a mente não pode
expressarse corretamente; suas reações serão distorcidas. A ciência ortodoxa
diz que o cérebro é o órgão da mente, mas a ciência esotérica diz que o
cérebro é o órgão de percepção das impressões dos sentidos e de
coordenação dos impulsos eferentes. É a estação telefônica do sistema
nervoso. É apenas um dos pontos em que a mente toca o corpo, sendo os
outros as glândulas do sistema endócrino, a pineal, a pituitária, a tireóide,
as supra-renais, o timo e as gônadas; podemos acrescentar-lhes ainda o
Plexo Solar e o Plexo Sacro. O estudioso da fisiologia tântrica terá
naturalmente observado que os Chakras coincidem em sua localização com os
órgãos endócrinos .
As glândulas
endócrinas têm por tarefa manter a composição química do sangue, nele
despejando suas secreções, chamadas hormônios, em certas proporções
equilibradas. Se a balança está de alguma maneira desregulada, seja por
um excesso de secreção, seja pela falta de outra, profundas alterações
ocorrem no metabolismo. Todos os processos vitais são regulados pelas
glândulas endócrinas, e elas podem ser apressadas ou retardadas em seus
diferentes aspectos quando a balança das endócrinas se altera. Sabem os
fisiologistas que essa balança endócrina está intimamente associada aos
estados emocionais, e especialmente à vivacidade ou apatia do
temperamento. Os psicólogos não avaliam suficientemente a importância dos
recentes trabalhos sobre as glândulas endócrinas, mas os ocultistas
conhecem tanto esse aspecto da psicofisiologia quanto os ensinamentos
tradicionais. Os exercícios de respiração do sistema yoga baseiam-se
nesse conhecimento, e são extremamente poderosos, como o são todas as
práticas ocultistas que são trazidas corretamente para o plano físico. De
fato, podemos dizer que nenhum processo ocultista é realmente potente,
nem que fecha o seu circuito, se não tem pontos de contato com a matéria
densa; eis um ponto que muitos ocultistas não levam em consideração. O
ocultismo, embora basicamente um processo mental, não é simplesmente um
processo mental. É simultaneamente espiritual e material .
Na grande
maioria dos casos de insanidade, as alterações cerebrais orgânicas não
podem ser demonstradas, mas os alienistas estão cada vez mais propensos a
acreditar que podem detectar a sífilis de Hécate no sangue. Sua
composição química pode desviar-se do normal, seja devido a uma alteração
no equilíbrio hormonal ou aos subprodutos da enfermidade. Essa alteração
na química do sangue é imediatamente seguida por uma alteração no tom
emocional Este pode tornar-se superemocional ou deprimido, apático ou
irritado. Os antigos descreviam admiravelmente esses estados como os
quatro humores, o sanguíneo, o bilioso, o linfático e o colérico.Os
fisiólogos demonstraram abundantemente que os estados emocionais afetam a
composição química do sangue. Estamos compreendendo gradualmente que
essas alterações são produzidas pela mediação das glândulas endócrinas, que
podem ser chamadas de cérebro emocional, assim como a matéria cinzenta no
crânio pode ser chamada de cérebro sensorimotor. Segue-se, portanto, que
se por alguma interferência em seu funcionamento as glândulas produzem
uma composição química correspondente àquela que produzem quando um
estado emocional particular dá seu estímulo especial, o indivíduo
experimentará sensações físicas associadas ao seu estado emocional
correspondente. Sua mente procurará ajustar-se a essas condições,
explicando-as pela imaginação. Portanto, se houver um estado sanguíneo
característico da condição de medo, imagens de medo se produzirão na
mente. É com base nisso que as insanidades orgânicas produzem os seus
estados mentais característicos .
Seja uma
causa mental ou uma causa física a responsável pelo estado emocional, o
resultado é o mesmo para o paciente. As insanidades orgânicas
distinguem-se das insanidades funcionais apenas por sua origem. Uma
insanidade orgânica tende a desviar-se mais do normal do que uma desordem
nervosa funcional, pois nesta última intervém um grau considerável
de compensação, visto que o paciente pode em grande medida readquirir o
domínio de si e manter-se longe dos extremos desastrosos. Não é esse o
caso de uma insanidade orgânica, que caminha para o seu fim lógico. É por
essa razão que um neurótico, mesmo sofrendo seriamente, nunca tem um
colapso total, a menos que esteja seguro das misérias da vida. O instinto
de autoconservação o mantém sobre os pés .
Tendo
considerado as bases físicas e subjetivas das perturbações mentais,
estamos agora em posição de avaliar exatamente o papel desempenhado pelo
Invisível. O que acontece quando um neurótico abraça o ocultismo? Podemos
responder melhor a essa questão considerando o que acontece quando uma
pessoa normal abraça o ocultismo. Ela aprende pela primeira vez que
existem Mundos Invisíveis e começa a pensar neles. Ao fazê-lo, ela entra
em contato com esses mundos. No início, ela pode não ser capaz de
percebê-los conscientemente; entretanto, ela sente subconscientemente e
eles a afetam. Um observador próximo pode reconhecer esse processo por
milhares de maneiras .
Existem
grandes forças que se movem como correntes no Invisível, e somos lançadas
nelas de acordo com a nossa afinidade temperamental. A personalidade
violenta é lançada nas Correntes de Marte; a emocional e sugestionável,
na esfera de Luna. E as influências dessas esferas se exercem sobre as
personalidades. O ocultista que trabalha por um sistema próprio, que sabe
que haverá de encontrar essas forças mais cedo ou mais tarde, entra
voluntariamente em contato com cada uma delas e, por intermédio de
rituais apropriados, sintetiza-as em sua própria natureza. Ele sabe que cada
aspecto tem seu contrário. A Virgem Maria reflete-se na Lilith. Os credos
antigos conheciam essa lei, mas o cristianismo popular, que não tem
nenhuma raiz na tradição, a esqueceu. Durante a Reforma, o cristianismo
protestante deitou fora o aspecto ocultista. Todos os panteões pagãos têm
grosseiros aspectos de divindades, assim como aspectos etéreos.
Precisamos procurar no monte de refugos da história as partes perdidas de
nossa própria tradição, se desejamos aperfeiçoar a nossa fé, e a linha
mais proveitosa de procura está na Cabala e na literatura gnóstica. A
literatura dos gnósticos foi grandemente destruída pela perseguição
sistemática, mas na Cabala ainda temos um sistema completo. Os judeus,
por serem estritamente monoteístas, não falam de deuses, mas reconhecem
uma hierarquia de anjos e arcanjos que é o equivalente dos panteões
pagãos. É por intermédio desses mensageiros etéreos que o Pai de Tudo
formou os mundos .
Consideremos
mais uma vez a doutrina cabalista do Qlippoth, pois ela tem uma profunda
influência sobre o problema da insanidade. A doutrina dos Dez Sephiroth
Sagrados, dispostos em seu padrão correto para formar a Árvore da Vida,
pode ajudar-nos a conceber o Invisível. A Primeira Sephira foi
concentrada a partir do Imanifesto, o Ponto no Círculo. Ela emana a
Segunda, que por sua vez emana a Terceira. Assim que uma emana a outra,
ambas estão equilibradas; mas quando a emanação está em curso, há um
período de desequilíbrio de forças. Isso, de certo modo, ocorre
espontaneamente no Cosmo e estabelece uma esfera por sua própria conta,
que não se relaciona com o sistema cósmico .
Conseqüentemente,
cada esfera do Cosmo tem a sua contraparte no Caos, em miniatura, é
verdade, mas potente e funcional .
Cada
esfera, no curso de sua evolução, edifica uma Sobrealma, que é chamada
por diferentes nomes em diferentes sistemas. No sistema cabalístico,
chamamse Arcanjos, os Espíritos diante do Trono. A esfera do Sol é representada
por Rafael; a esfera da Lua, - por Gabriel. Os Sephiroth Inversos,
ou Qlippoth, se constroem da mesma maneira. Nas Moradas do Inferno, ambos
são conhecidos como Briguentos e Obscenos, e esses nomes indicam
suficientemente o seu caráter. A esfera do Sol também é o ponto de
manifestação do Messias, ou Salvador, sobre a Terra. O Príncipe da Paz
tem Seu oposto nos Briguentos. Todo aquele que teve a Visão beatifica
sabe a reação que lhe segue, e como a sabedoria, o autocontrole e a
paciência são necessários para lidar com as forças que são libertadas não
apenas na alua, mas no meio ambiente. É por essa razão que os períodos de
purgação e disciplina precedem todas as revelações. Devemos manter a
vigília antes de podermos participar do banquete.A consciência, emanada da
esfera da Terra, eleva-se diretamente para a esfera da Lua. Esta é a
esfera psíquica, negativa, feminina e receptiva. Daí ela passa para a
esfera do Sol. Esta é a esfera positiva, masculina, da consciência
superior, a visão do profeta que se distingue da do sensitivo. O caminho
é flanqueado em ambos os lados pelas esferas da Sabedoria Hermética e da
Beleza Elemental .
Essas
esferas, que dizem respeito aos graus da iniciação, não devem ocupar-nos
aqui. Vamos nos ater às esferas da Lua, Luna, a Soberana do tique de
Luna. Ora, Luna era representada pelos antigos sob diversas formas, como
Diana, a casta caçadora, símbolo da sublimação, e Hécate, patrona da
feitiçaria e dos partos. Já assinalamos que os Qlippoth da esfera de Luna
chamavam-se Obscenos. É por essa razão que quando a alma instável avança
pelo Caminho de Saturno, que transpõe o Astral e penetra a esfera de
Luna, ela toca o seu aspecto de Hécate e vê-se en rapport com os
Demônios, cujo chefe é Lilith, que propicia sonhos libidinosos. Não
surpreende, portanto, que Freud tenha descoberto que os sonhos do
neurótico estão repletos de imagens sexuais em suas formas mais
pervertidas e depravadas. Os Rabinos conheciam tão bem a sua
psicologia quanto Freud .
Como já se
observou, o neurótico é amiúde um sensitivo, e o sensitivo é amiúde um
neurótico. O que podemos esperar que aconteça à alma que recebeu
iniciação numa vida passada, que reteve subconscientemente o
desenvolvimento psíquico então concedido, e que se vê encarnada numa
personalidade neurótica nesta vida? Ela estará sob o domínio tenebroso da
Lua, e Lilith será sua soberana. As forças do Abismo ingressam pelas
portas inadequadas do temperamento neurótico. Os complexos dissociados do
Microcosmo são reforçados pelos complexos dissociados do Macrocosmo, pois
é isso o que são exatamente os Qlippoth .
Os
ocultistas e os seus admiradores ignorantes, os supersticiosos, sempre
sustentaram que a insanidade está vinculada à possessão demoníaca. A
medicina moderna objeta, e declara que as várias manifestações da mente
enferma devem-se inteiramente a processos psicológicos subjetivos. Na
atualidade, essas duas escolas de pensamento são como dois campos
armados, dispostos para a batalha e brandindo suas armas um contra o
outro. Cada um deles está seguro demais de suas próprias razões para dar
ouvidos à outra. Acredito que um campo comum pode ser encontrado para o
encontro desses dois pontos de vista opostos. A psicologia demonstra o
mecanismo da mente e pode explicar o processo mental por cujo intermédio
as idéias do perturbado assumem suas formas definitivas. Ela pode mostrar
a conecção entre essas idéias e. os sonhos da mente normal. O que ela não
pode explicar é a diferença fundamental entre esses estados subjetivos e
a consciência desperta normal. É aqui que o ocultista pode dizer algo que seja
digno de atenção ao psicólogo, pois ele pode mostrar como essas visões
podem ser produzidas experimentalmente e voluntariamente por meio da
magia cerimonial. E o que é mais importante, o ocultista pode mostrar-lhe
como essas visões podem ser dissolvidas e as faculdades psíquicas encerradas
e seladas por completo .
Isso nos
conduz à parte prática de nossas considerações. Até onde podem os métodos
da magia ritual ser aplicados à cura do distúrbio mental? Eles são,
indubitavelmente, paliativos, e não produzirão uma cura permanente, a não
ser que a origem do estado mental perturbado seja descoberta e
esclarecida. A não ser que isso se faça, assim que dispersarmos os
fantasmas eles se formarão novamente, pois o estado mental do paciente os
está invocando. Nestas circunstâncias, nenhum círculo mágico pode
conservar-se intato. Assim que rompemos a ligação com o Abismo, o
paciente a refaz .
Mas tais
condições constituem um círculo vicioso. As forças qlippóticas com as
quais se estabeleceu contato desenvolver-se-ão ativamente, e agarrar-se-ão
à sua vítima quando se fizerem tentativas para desalojá-las. Nesta nossa
época racionalista, estamos propensos a esquecer que existe um mal
organizado e inteligente. Se as causas físicas dessa perturbação foram
esclarecidas, o foco séptico extirpado, ou o tumor que pressionava a
glândula endócrina removido, e a mente não volta ao normal, um exorcismo
produzirá amiúde resultados imediatos e evidentes. No caso do
neurótico, cuja perturbação está inteiramente na esfera da mente, um
exorcismo é de enorme valor como medida preliminar para o tratamento
psicoterapêutico adequado, porque ele limpa o terreno e previne a
reinfecção, dando ao paciente uma chance para começar de novo. É possível
que os demônios qlippóticos tenham obtido uma influência hipnótica tão
poderosa sobre a vítima, que esta fica sem forças para rompê-la por
qualquer esforço de vontade própria, e o tipo ortodoxo de psicoterapia
não consegue tocar a raiz da perturbação. O exorcismo pode ter que ser
repetido duas ou três vezes no curso do tratamento, pois as ligações
podem renovar-se depois de terem sido quebradas. Mas assim que os
complexos do paciente forem esclarecidos, elas não mais retornarão. Em
todo caso, um exorcismo produz evidente benefício temporário; durante a
calmaria, o paciente tem uma chance para readquirir o domínio de si
próprio e as influências malignas estão abaladas. Um paciente corajoso,
que coopera inteligentemente, raramente precisará ser exorcizado mais do
que três vezes, desde que as condições materiais sejam favoráveis. Eu vi
casos que foram esclarecidos por um simples exorcismo, e os pacientes
permaneceram em bom estado enquanto obedeceram às instruções e evitaram o
contato com o Invisível, seja lendo livros sobre ocultismo ou
associando-se a pessoas que se interessavam por tais assuntos; e eu
também vi o Abismo restabelecer a sua influência quando o paciente desobedeceu
às instruções e reanimou as vibrações antigas .
Precisamos
compreender que a consciência humana não é um vaso fechado, mas que, como
o corpo, tem uma entrada e uma saída. As forças cósmicas circulam por ela
durante todo o tempo, como a água do mar numa esponja viva. Qualquer
estado emocional que pode penetrar-nos é reforçado do exterior. O eu subjetivo
tem apenas o fósforo, o Cosmo fornece o combustível. Assim que o fogo se
acende, as forças cósmicas do tipo adequado irão atiçá-lo. Assim como o
católico devoto é inspirado pelas influências de seu santo padroeiro, invocado
pela oração, o neurótico é aterrorizado por seu demônio obsessivo,
invocado pelas locubrações mórbidas da subconsciência dissociada. O
ocultista afirma que o princípio generalizado do mal tem seus canais
inteligentes, assim como o Princípio organizado do Bem tem Seus espíritos
auxiliares. Todo observador que considerar o fenômeno do distúrbio mental
descobrirá muitas coisas para corroborar essa hipótese .
A questão
da obsessão é extremamente importante. A palavra é empregada com muita
liberdade nos círculos ocultistas, e significa a retirada de uma alma de seu
corpo e a sua substituição por outra alua, mas tenho dúvidas quanto a se
essa é a verdadeira representação do que acontece. Sempre me pareceu que
na obsessão não temos a substituição real de uma alma por outra, mas o domínio
completo de uma alma por outra. É um domínio hipnótico, e podemos
explicá-lo nos termos da conhecida psicologia da hipnose, sendo o
hipnotizador, no caso, uma entidade astral .
Existe uma
operação na magia conhecida como “obtenção da forma divina”, na qual o operador
se identifica imaginariamente com o deus e, assim, se torna um canal para
o seu poder. Podemos encontrá-la numa das formas da magia egípcia em que
o sacerdote portava uma máscara para significar a cabeça do animal
simbolicamente atribuído ao deus que representava. Essa identificação
imaginária é um método bem conhecido no ocultismo e é amiúde empregado
como um exercício mental para penetrar na vida interior de uma planta ou
de um cristal. Os efeitos desse processo são muito característicos e peculiares.
Estou propensa a acreditar que é esse método, combinado com a hipnose,
que é utilizado pela entidade obsediante, que se identifica em primeiro
lugar com a sua vítima e depois impõe a sua própria personalidade sobre
ela, obtendo, assim, um veículo de manifestação. Acredito também, no
entanto, que é apenas em certos casos anormais — sejam induzidos pela
enfermidade da mente ou do corpo, ou por uma das mais drásticas operações
da magia negra — que essa imposição pode ocorrer.
MÉTODOS
EMPREGADOS PARA EFETUAR UM ATAQUE PSIQUICO
Quem quer que
leia os antigos livros sobre bruxaria, compilados freqüentemente pelos
caçadores profissionais de bruxas a partir das confissões, obtidas sob
tortura, das pretensas bruxas, descobrirá que os fenômenos descritos caem
em certas categorias gerais que são semelhantes em diferentes épocas e em
diferentes partes do mundo, que ficamos com a impressão de que deve haver
algum fogo sob tanta fumaça. Os registros públicos dos julgamentos de
bruxas na Escócia, os relatórios de um padre encarregado de extirpar a
feitiçaria no norte da Itália, os arquivos da Bretanha, as histórias da
magia na literatura clássica e, finalmente, os relatos dos viajantes
sobre as práticas dos povos primitivos em todo o mundo, todos se explicam
mutuamente, concordando, no que se refere aos fenômenos descritos, com as
explicações dadas pelas bruxas sobre seus métodos e com as divisões
gerais em que caem os fenômenos .
Devemos
analisar, em primeiro lugar, a utilização das drogas, de que a
Fraternidade Negra em todas as épocas sempre possuiu um notável
conhecimento. Poções, ungüentos e fumigações foram utilizados amplamente,
e entre todos os ingredientes misteriosos e extraordinários de que eram
compostos podemos redescobrir as substâncias que, como sabemos, têm
amplos poderes medicinais. A papoula, que produz sono e sonhos, o
cânhamo, que produz visões, a datura, que causa a perda da memória, grãos
empestados, que produzem o aborto, insetos, que são poderosíssimos
afrodisíacos, cascas de árvores, que são eficazes anafrodisíacos, e, no
Novo Mundo, os brotos de certos cactos — tudo isso, e muito mais, desempenhou
seu papel nas infusões das bruxas. Paracelso obteve renome por utilizar
algumas tradicionais poções mágicas para fins medicinais. Os Bórgia
obtiveram infâmia por empregá-las como venenos sutis que destruíam a
mente sem necessariamente destruir o corpo. Conta-se que o filósofo
romano Lucrécio perdeu a sanidade devido a uma bebida mágica que sua
mulher lhe deu para restaurar a sua afeição por ela. Existem antigas
receitas de ungüentos de bruxas que contêm ópio e cantárida. Não é
difícil imaginar que espécie de sonhos irromperiam no sono assim
induzido. C. S. Ollivier, em seu recente livro Analysis of Magic and
Witchcraft, opina que a assistência ao Sabbat era amiúde obtida através
de sonhos induzidos por drogas .
Venenos
sutis exercem também um papel na eficácia das maldições, sendo o método
favorito fazer um talismã de bronze, cobre ou chumbo, e prendê-lo
discretamente no fundo de um vaso de beber ou de uma panela. Que efeito
tinha o talismã, eis um dado conjectural, mas não há dúvida pelo menos
quanto ao efeito do chumbo, que se dissolve constantemente em pequenas
quantidades, e do verdete nos alimentos .
Mas embora
todas essas coisas fizessem parte, e parte considerável, do culto das
bruxas, não podemos considerá-las estritamente como um método de ataque
psíquico, e referimo-nos a elas nestas páginas apenas para que seus
efeitos possam ser excluídos da diagnose .
Há três
fatores num ataque psíquico, e qualquer um deles — ou todos —, pode ser
empregado numa dada ocasião. O primeiro deles é a sugestão hipnótica
telepática. O segundo é o reforço da sugestão pela invocação de certas
forças invisíveis. O terceiro é o emprego de alguma substância física
como um point d’appui, ponto de contato, ou vínculo magnético. A força
empregada pode ser utilizada como uma corrente direta, transmitida pela
concentração mental do operador, ou pode ser conservada numa espécie de
acumulador psíquico, que pode ser um elemental artificial ou um talismã .
No
Capítulo II, consideramos com alguma extensão a da sugestão, e não
precisamos repetir o que já foi dito, exceto para lembrar ao leitor que a
essência da telepatia consiste na indução simpática da vibração. Os
psicólogos experimentais sempre suspeitaram que a emoção é muito
semelhante à eletricidade; eles provaram conclusivamente que os estados
emocionais alteram a condutividade elétrica do corpo. O ocultista
acredita que a emoção é uma força de tipo elétrico, e que no caso do
homem comum ela se irradia dele para todas as direções, formando um campo
magnético; mas no caso do ocultista treinado ela pode ser concentrada num
feixe e direcionada. Suponhamos que você seja capaz de concentrar toda a
sua atenção sobre uma única emoção, inibindo tudo o mais, você terá
alcançado um estado emocional puro, nãoadulterado e não-diluído. Toda a força
vital que se juntou à sua alma fluirá, por conseguinte, nessa simples
subdivisão de um único canal, ao invés de espalharse pelas inúmeras
ramificações dos três canais comuns anteriormente referidos. A concentração
será tremenda, mas ela será obtida a um preço tremendo. ~ para alcançar essa
terrível concentração que os santos do Ocidente e os yogues do Oriente
praticam um ascetismo torturante. Você precisa vender tudo que possui
para adquirir essa pérola valiosíssima, e um eco do método persiste na
tradição dos contos de fada em que a pessoa que descobre a pedra da sorte
só pode ter um único desejo. Tal concentração é boa para um propósito, e
apenas para um. Podemos nos concentrar sobre uma cura, ou sobre uma
destruição, mas não podemos operar as duas simultaneamente; e não
podemos também mudar facilmente de uma para outra. Não podemos combinar
os incompatíveis nos limites de uma única vida. Ou seja, se nos
concentramos num trabalho de maldição e morte para realizar um ato de vingança,
e a nossa raiva é saciada, não podemos imediatamente virar a direção da
alma e nos reconcentrar em trabalhos de sabedoria e redenção. Podemos
comparar a alma que se move com a maré da. evolução a uma roda que gira
no sentido dos ponteiros do relógio; e a alma que se move contra a maré
da evolução a uma roda que gira em sentido antihorário. A posição do eixo pode
ser alterada de modo que a roda gire qualquer ângulo sem que a direção de
sua revolução seja afetada, mas o volante deve parar antes que o engenho
possa ser invertido, e um grande volante exige um grande esforço para ser
detido. Além disso, para inverter o volante, temos que parar o mecanismo.
O movimento normal da alma é no sentido horário, à frente da corrente da
evolução. Precisamos pensar muito antes de tentar inverter essa direção,
mesmo momentaneamente, a fim de realizar um trabalho de maldição e morte.
O velho refrão “Vai haver o diabo!” diz bem a verdade. Além disso, é
questionável se existe essa inversão momentânea da direção. O impulso
deve ser refreado e iniciado novamente antes que a inversão da direção
possa ocorrer .
Forças
poderosas podem ser desenvolvidas por essa concentração subjetiva da
própria mente, mas mesmo as forças mais poderosas podem ser utilizadas se
aplicarmos o equivalente mecânico das marchas; se, em outras palavras,
enquanto essa tremenda concentração está sendo mantida, captamos os
contatos da força cósmica correspondente. Utilizamos os poderes da mente
humana como um arranque automático, e, enquanto a menor roda propulsora
está girando, engatamos a engrenagem do mecanismo principal. Há um breve
período de luta enquanto a pequena peça força as alavancas relutantes da
grande máquina, mas depois o vapor toma impulso e o mecanismo recomeça
seu trabalho. Depois disso é apenas engatar a marcha e dirigir — se você
for capaz! Ocorre o mesmo com a magia cerimonial .
Examinemos
um caso concreto de alguém que deseja servir-se de uma força belicosa.
Ele teria que recorrer a uma cerimônia do planeta Marte. Drapejaria seu
altar com um tecido vermelho e ele próprio vestiria uma túnica escarlate.
Todos os seus utensílios mágicos seriam de ferro e o seu bastão de força
seria uma espada nua. Sobre seu altar ele colocaria cinco velas, pois
cinco é o número de Marte. Sobre seu peito estaria o símbolo de Marte
gravado num pentágono de aço. Em sua mão estaria um anel de rubi. Ele queimaria
enxofre e salitre em seu turíbulo. E então, de acordo com o trabalho em
vista, invocaria o aspecto angélico ou demoníaco da Quinta Sephira,
Geburah, a esfera de Marte. Invocaria o nome divino de Geburah, chamando
o Deus das Batalhas para ouvilo, ou o arquidemônio da Quinta Morada Infernal.
Tendo realizado essa poderosa invocação, ele se ofereceria então a si próprio
no altar como o canal para a manifestação da força .
Há ainda
muitas fórmulas que ensinam como fazer para que uma força seja captada
sem a necessidade de o próprio mágico ser o canal. Em minha opinião, elas
são absolutamente ineficazes; o único substituto possível para o mágico é
um médium em transe. Ë por essa razão que a magia ritual não
consegue realizá-la. Você não pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos,
e se você tenciona ser um mágico, você tem que ir até o fim. Quando se
trata de captar o aspecto angélico de uma força, a questão é inteiramente
diversa. Ser o canal de uma tal força constitui um grande privilégio e é
uma iniciação em si. O operador precisa apenas eliminar de sua natureza
todas as incompatibilidades e manter-se concentrado sem vacilações. O
pior que pode acontecer é ele não obter resultado algum. Mas quando ele
procura captar o aspecto demoníaco de uma esfera, o assunto muda de
figura. Pouquíssimas pessoas desejam oferecerse para a manifestação de uma força
como Asmodeus. Eu não acredito que haja qualquer esquema para invocar os
demônios sem ser obsediado por eles, a não ser o método de Abramelin, que
envolve seis meses de preparação e só é operado após se ter alcançado o
conhecimento e a familiaridade do Anjo Guardião Sagrado. A beira do
Abismo está bem protegida. Não é possível atirar com o revólver e evitar
o coice da arma .
Tendo
invocado e concentrado sua força, o feiticeiro tem em seguida que
considerar seu alvo. Ele precisa entrar em contato astral com a vítima.
Para fazê-lo, ele deve produzir uma relação, o que não é tão fácil quanto
se imagina. Em primeiro lugar, ele tem que encontrar sua vítima e
estabelecer um ponto de contato em sua esfera, e em seguida, operando a
partir dessa base, conseguir penetrar-lhe a aura. Uma força desfocada não
é muito útil. Um foco deve ser obtido. O método comum é obter algum
objeto que esteja impregnado com o magnetismo da vítima visada, uma mecha
de cabelos, um cortador de unhas ou qualquer coisa que ela vista ou
manuseie. Tal objeto está vinculado magneticamente ao seu possuidor, e o
feiticeiro pode seguir a pista e assim penetrar na esfera de sua
vítima e estabelecer uma ligação. Ele procede, então, como qualquer
hipnotizador que conseguiu colocar sua vítima nos primeiros estágios de
hipnose. Por meio do vínculo magnético, ele ganhou a atenção psíquica de
sua vítima, que ouvirá as suas sugestões subconscientemente. Resta,
então, observar se as sementes de pensamento assim plantadas lançarão
raízes ou se serão expulsas da mente. Em todo caso, a vítima ficou perturbada e
inquieta .
Se um
vínculo magnético não pode ser obtido, o praticante da magia negra
precisa recorrer a outros estratagemas. Um dos mais comuns é o da
Substituição. Um objeto é escolhido e por meio do cerimonial é
identificado com a vítima visada. Por exemplo, um pequeno animal pode ser
batizado com o nome da vítima, e depois imolado, normalmente por tortura,
com o operador concentrando-se entrementes na personalidade do original.
O velho estratagema de fazer uma imagem de cera e derretê-la diante do
fogo, ou enfiar cravos numa estátua de madeira, batizada com o nome da
vítima, é freqüentemente encontrado nos registros dos julgamentos de
bruxas. Enfiar cravos não tem, de fato, nenhum efeito imaginável sobre a
vítima, mas ajuda a concentração do operador .
O método
do talismã é também empregado de várias maneiras. Um talismã é um
símbolo que representa uma certa força, ou uma combinação de forças,
gravado numa substância conveniente, e magnetizado pelo ritual Ele pode
ser feito de qualquer coisa que retenha o magnetismo; metais, pedras
preciosas ou pergaminho são empregados com freqüencia; o papel é menos
eficaz, a não ser que seja encerrado num estojo de metal. A água e o óleo
podem ser magnetizados eficazmente, mas logo perdem sua potência.
Constrói-se um talismã evocando-se a força necessária, como já se
descreveu, e então concentrando-a sobre o objeto preparado, que é
colocado sobre o altar antes do início das evocações .
Um talismã
assim preparado deve em seguida ser colocado na esfera magnética da
vitima. Conta-se que a Sra. Burton, desejosa de converter seu marido
livrepensador, o famoso Sir Richard Burton, o grande explorador, costumava
pedir ao seu padre para benzer pequenas estátuas de santos e colocava-as
nos bolsos de suas roupas. Um estratagema semelhante é utilizado pelos
operadores do ocultismo negro. Objetos magnetizados são colocados nos
quartos habitualmente ocupados pela vítima, ou enterrados em seu caminho,
de modo que ela deva passar sobre eles com freqüência. Esses talismãs
malignos não apenas agem por seu próprio poder, mas também servem para o
feiticeiro como ponto de concentração para suas meditações .
Efeitos
nocivos são também produzidos por objetos que foram utilizados na magia
negra e que se impregnaram com as forças em cuja geração foram
empregados. As bugigangas do equipamento mágico aparecem em lugares
muito estranhos. Eu estava presente a um leilão numa cidade rural quando
os doze signos do zodíaco, caprichosamente pintados numa lousa, vieram à
venda. Várias de minhas amigas haviam adquirido tesouros mágicos, tais
como lâmpadas de altar e queimadores de incenso que obviamente provinham de
lojas rituais, mas a melhor peça da coleção era uma vara mágica que foi
posta em leilão juntamente com um lote de pás e tenazes. Grandes globos
de cristal são vistos com freqüência nos antiquários. Todos esses objetos
devem ser cuidadosamente desmagnetizados antes de entrarem na esfera
psíquica de alguém .
Eu estava
participando certa vez de uma série de experiências psíquicas que seguiam
seu curso normal, quando, por nenhuma razão aparente, as coisas começaram
a sair errado e houve um verdadeiro cataclismo. Não soubemos senão depois
que o proprietário do apartamento em que as coisas ocorriam havia
adquirido um tapete que havia sido utilizado num ritual mágico por um
ocultista de quem somente a extrema brandura poderia ser considerada
duvidosa .
O
elemental artificial é realmente a base da eficácia das maldições. Nesse caso,
não se emprega nenhuma substância física, mas uma porção do Akasha é
modelada numa forma definida e assim conservada pela vontade do operador,
até que, por assim dizer, “endureça”. Derrama-se nessa forma a energia
concentrada do operador, algo de seu próprio eu vai para ela. Essa forma
é a sua alma, e é como um torpedo autogovernado que se põe a mover contra
um alvo escolhido. Ou o operador, se for um mágico experiente, pode
deliberadamente animar essa forma mental com essência elemental, que é a
substância rude e indiferenciada da vida extraída de um ou outro dos
reinos elementais. É para se fazer isso que se invoca a maldição em nome
de algum ser. O amaldiçoador declara “Eu o amaldiçôo por isso e aquilo”.
E essa evocação chama a essência que anima a forma mental, produzindo
assim um elemental artificial que é dotado de uma vida própria e
independente .
Se
desejamos saber algo sobre a eficácia das maldições, devemos apenas
examinar o relato dos homens que estiveram envolvidos na abertura da
famosa tumba de Tut-ankh-amen. Há muitos outros casos igualmente bem
documentados .
Podemos
ser expostos a um aborrecimento oculto, seja contrariando ou de alguma
outra maneira enredando-nos com um ocultista inescrupuloso, seja
envolvendo-nos com uma duvidosa fraternidade oculta. No caso de uma
disputa com um ocultista, além dos motivos humanos comuns para um abuso
de poder, é preciso contar com o fato de que um adepto que não é dos mais
puros sempre sofre da desagradável enfermidade psíquica do “ego
hipertrofiado”. Ele amará o poder para seu próprio bem, e tomará qualquer
deserção da parte de um antigo seguidor, ou qualquer resistência à sua
vontade imperiosa, como um insulto pessoal ou mesmo como uma injúria. Com
uma mente treinada, um pensador irado causará danos, e eu soube de casos de
ocultistas que, por puro melindre, chegaram a extremos da maldade. Só
podemos esperar que eles não acreditem na eficácia do que fizeram, e que
apenas representaram para a galeria “pour encourager les autres” e para
assegurar-se da lealdade entre seus seguidores .
Outra
coisa que é vista particularmente com maus olhos por esse tipo de adepto
são as tentativas da parte de um pupilo que rompeu com o mestre de fazer
uso daquilo que lhe foi ensinado. Parece não haver nada que o ciumento
guru não faça para destruir fisicamente o seu cheia .
Num caso
que chegou ao meu conhecimento, uma cantora de concerto havia feito um
“tratamento” para melhorar a voz com um adepto medíocre. Ela finalmente
decidiu que não gastaria mais um tostão nesse empreendimento e disse-lhe
na visita seguinte que aquela deveria ser a última. Ele concentrou o
olhar sobre ela e disse-lhe que, se o fizesse, assim que subisse ao palco
veria sua face no ar diante de si e que sua garganta se fecharia e ela
seria incapaz de emitir um som, e que essa horrível experiência ocorreria
todas as vezes que ela tentasse cantar, cessando apenas quando retornasse
e prosseguisse o “tratamento” (a um guinéu a hora). Essa poderosa
sugestão hipnótica revelou-se efetiva, e a sua carreira estava prestes a
terminar quando o encanto foi quebrado .
A seguinte
carta contém uma experiência muito ilustrativa e é muito valiosa, não
apenas por relatar um ataque psíquico, mas também por descrever a maneira
pela qual o ataque foi combatido .
“No
inverno de 1921—1922 recebi a seguinte informação (dos Plano Interiores):
‘Vemos a sua iniciação na Ordem de Cristo’. Não entendi muito bem e
aguardei .
“Em julho
de 1922, um oriental, o chefe de uma grande Ordem religiosa, veio
visitar-me. (Eu estava morando na Suíça.) Vamos chamá-lo de Z. Eu
esperava grandes coisas dele e via-o como uma espécie de Mestre. Sabendo
que ele havia conhecido Abdul Baha, pensei em agradá-lo colocando a foto
de A. B. na parede, mas quando Z. entrou em minha sala percebi que ele
absolutamente não gostou da idéia. Conversamos durante algum tempo e ele
me fez diversas perguntas. Subitamente, ele se ofereceu para iniciar-me
em sua Ordem. Fiquei confusa e não senti a aprovação interior. Disse-lhe
que precisava refletir. Mais tarde tive uma inspiração (?) e perguntei:
‘A sua Ordem é a Ordem de Cristo?’. Ele respondeu: ‘Sim, é’. Eu lhe
contei a minha experiência (relatada acima) e aceitei a iniciação; mas eu
tinha a convicção interna de que havia algo errado .
“Não senti
nenhuma reação interior aos vários incidentes durante a iniciação, e
comecei a invocar mentalmente e sinceramente ao Cristo, e continuei a
fazê-lo até o término da cerimônia. (Soube depois que ele havia dito a um de
seus discípulos que eu aceitara a iniciação mas não o Mestre.) “Seria
demais relatar outros detalhes menos importantes, de modo que vou
reportar-me ao segundo encontro durante o qual ele me pediu várias vezes
para deixar a cidade em que eu estava e juntar-me a ele num trabalho
ativo. Dessa vez eu ouvi claramente a voz interior; ela disse ‘Não’.
Subitamente, ele disse: ‘Sente-se à minha frente; eu vou curá-la’. (Eu
estava muito doente nessa ocasião.) Ele me fixou com um forte olhar de
comando. Invoquei mentalmente o Cristo e senti que se formara em torno de
mim uma espécie de casca. ‘Pronto’, disse ele, ‘eu a curei.’ A voz
interior disse ‘Não’ .
“Bem, ele
se foi e eu passei por um mau bocado, pois eu tinha a sensação de que
havia algo errado, embora não suspeitasse algo maligno. (Como não
suspeito ainda hoje.) “Escrevi um relato desse encontro a uma amiga, e
uma carta enviada por ela cruzou-se com a minha. Ela contava-me que
durante o meu encontro com Z., o qual ela ignorava, ela fora instada a
juntar-se ao nosso mestre espiritual para auxiliar-me. Ela se retirou dos
Planos Externos e percebeu, então, que poderosas forças hipnóticas
estavam chegando até mim em ondas. Ela teve que usar todo o seu poder espiritual
para ajudar-me a resistir a elas, mas finalmente ‘fincamos pé numa rocha,
banhada de luz e livre’. Minha carta deu-lhe a chave do ocorrido; mas ela
replicou: ‘Tome cuidado, Z. tentará novamente. Ele percebeu que foi
impedido; e tentará nos Planos Interiores na próxima vez’ .
“Aqui
começa a grande experiência. Poucas semanas depois, à noite, eu tive uma
visão muito vívida, ao que parecia, mas foi uma experiência real. Eu estava
no meio de um grupo de sete ou oito pessoas, das quais duas eu podia
perceber claramente. À minha esquerda estava uma mulher inteiramente
velada de preto, o que lhe tornava a figura assustadora. A direita estava
Z. Ele disse: ‘Eu lhe darei agora a segunda, a iniciação superior’. E
prendeu-me o braço direito com força. Mas eu me soltei e, permanecendo
composta e calma, disse (posso ouvir ainda a minha voz): ‘Antes que essa
cerimônia prossiga, quero dizer algo. Não posso admitir nada e ninguém
entre mim e o Cristo’. Houve um lamento, mãos em gestos ameaçadores e tudo
desapareceu .
“Pouco
depois rasguei. meu cartão de iniciação, tirei Z. da cabeça e não tive
nenhuma experiência pessoal consciente com ele desde então .
“Mas eu
lhe havia apresentado um jovem músico francês de elevada posição social,
de quem ele havia gostado bastante. (Vamos chamá-lo de F.) F. e eu somos
muito amigos, e naquela época ele precisava de alguma música oriental para uma
de suas composições — e por outro lado, ele poderia ter sido
extremamente útil a Z. por quem ele se sentia fortemente atraído. Após a
minha própria experiência, comecei a ficar alarmada, mas senti que eu não
era suficientemente forte para lidar com a situação, de modo que nada
disse a F. mas orei para que ele pudesse ser protegido de todo mal. Pouco
depois F. faloume em suas cartas de diversas experiências astrais. Em seus
sonhos ele passava por toda a sorte de coisas desagradáveis e vozes lhe
diziam ‘Peça a Z. que o ajude. Ele o ajudará’. Então ele percebia a minha
presença e começava a evocar o Cristo (tudo isso em seu sonho) e as
imagens desapareciam. Isso aconteceu mais de uma vez. Somente quando nos
encontramos novamente eu lhe falei de minha própria experiência .
“Devo
acrescentar que uma amiga com poder psíquico veio ver-me por esse tempo e
disse: ‘Na semana passada, à noite, eu a vi por três vezes. Você me pedia
para ajudar a salvar um jovem que estava em perigo. O que isso
significa?’ O caso acima indica claramente a utilização deliberada do
poder mental por Z. Sua pretensa “cura espiritual” era uma óbvia
tentativa de hipnose. Minha correspondente diz claramente que nunca
suspeitou que ele tivesse qualquer propósito maligno; e que ele agia
corretamente de acordo com as suas luzes. Eu afirmo, contudo, que
qualquer tentativa para dominar os outros, ou manipular de alguma maneira
as suas mentes sem o seu consentimento, é uma intrusão injustificável em
seu livre arbítrio e um crime contra a integridade da alma. Como podemos
julgar as íntimas necessidades espirituais de uma pessoa,
especialmente se ela preferiu não confiar em nós? Que direito temos de
invadir a sua privacidade espiritual e colocar o nosso nariz nos assuntos
de seu ser mais interior? É tão comum a prática de enviar nomes de
pessoas aos círculos de cura com o pedido de que eles se concentrem
nelas, sem se tomar a precaução preliminar de pedir-lhes sua permissão,
que ouvi anunciado da plataforma de um grande encontro público de
espiritualistas que só seriam levados em consideração os casos em que
houvesse um assentimento por escrito do interessado .
Felizmente
para todos, os procedimentos desses “círculos de cura” são normalmente
tão fúteis que ninguém precisa temer ser o alvo de sua concentração,
mesmo se eles estiverem tentando o assassínio .
No
entanto, resta o princípio, e só posso lembrar a minha opinião mais uma vez,
como já lembrei várias vezes, de que tal procedimento é uma ultrajante
falta de modos e de boa-fé, e contrária a toda a tradição ocultista.
Penso que posso dizer honestamente que nunca desejei dirigir as grandes
correntes de destruição para meus companheiros ocultistas, embora haja
alguns dentre eles em quem eu gostaria muito bem de dar umas palmadas!
OS
MOTIVOS DO ATAQUE PSÍQUICO
Já observamos
num capítulo anterior que a maneira mais simples para descobrir se a
vítima de um pretenso ataque psíquico está fantasiando ou não é procurar
os motivos e, não sendo eles discerníveis, dar à imaginação o benefício
da dúvida. Motivos muito comuns como cobiça, luxúria, vingança e medo de
traição não precisam passar por uma investigação psíquica para serem
descobertos, pois são perceptíveis a olho nu. Há outros motivos,
contudo, que podem ser importantes nos círculos ocultistas, mas que
passariam como insuspeitos por um investigador comum .
Os antigos
livros de encantamentos que nos chegaram, mormente através do refeitório
dos criados, estão repletos de receitas para obter o amor do sexo oposto.
As antigas grimoires fornecem muitas prescrições rituais, e os registros
dos julgamentos de bruxas contêm freqüentes acusações à mulher ladina
que, por algum motivo, se incumbia de dirigir as afeições de alguém para
uma pessoa pela qual aquele aparentemente não tinha nenhuma predileção
natural. Devemos encarar seriamente essas operações, ou devemos
classificá-las entre as pílulas contra a obesidade que emagrecem sem
dieta? Já nos referimos aos antigos filtros do amor. Os antigos conheciam muito
bem as drogas afrodisíacas que excitam a paixão sexual. Mas os modernos
também as conhecem, como o revelam os anúncios cuidadosamente redigidos
de certas publicações astrológicas. Existem firmas francesas
especializadas na confecção de chocolates que contêm doses disfarçadas
dessas drogas. Esses produtos ganharam publicidade recentemente devido à
morte de duas jovens e de um homem, causada por ingestão de doses
excessivas. Existem aperitivos em uso nesse país que contêm esses
ingredientes “tônicos”, cujo efeito é bem conhecido. Se essas beberagens
não são “filtros de amor”, o que são?Não nos preocupamos nestas páginas com os
métodos que pertencem apenas ao plano físico, mas esses assuntos precisam
ser mencionados porque há razões para crer que em mais de uma ocasião,
mesmo em nosso país, os afrodisíacos foram empregados como auxiliares das
práticas ocultas. Uma certa firma começou certa vez a anunciar amplamente
que planejava comerciar o que poderíamos chamar de “variedades para
ocultistas”. Entre outros preparados anunciados, havia um “Incenso para a
operação de Vênus”. Contudo, a firma teve um fim prematuro com a
intervenção da polícia, e a prisão dos proprietários .
Mas além
da utilização de meios puramente materiais, não é difícil perceber que
uso se poderia fazer, neste sentido, da influência mental. Já pude
observar inúmeros casos que pareciam extremamente suspeitos, mas nesses
assuntos é muito difícil chegar aos fatos. O modo do ataque é intangível
e não deixa traços, e a vítima pode não suspeitar de nada e ignorar
totalmente não apenas o lado psíquico do sexo, mas também os seus
aspectos físicos e sutilmente emocionais. Além disso, aqueles que mais
sofrem geralmente menos falam. Podemos ocasionalmente ouvir falar de uma
tentativa que foi frustrada. A tentativa que obteve êxito raramente vem à
luz, pois a vítima tem tantos motivos para ocultá- la quanto o agressor .
Quando
chegamos às práticas puramente ocultistas, há duas maneiras pelas quais o
fim almejado pode ser alcançado; a pressão psíquica pode ser exercida
sobre a pessoa desejada de modo que ele ou ela caia sob a influência do
operador; ou então pode-se utilizar a operação psíquica conhecida como
congressus subtilis .
O que é
exatamente o congressus subtilis? Devemos saber um pouco mais sobre o
lado oculto do sexo antes que possamos responder a essa questão. Em
primeiro lugar, quais são os fatos, ou os pretensos fatos, do assunto? Os
antigos tinham crenças muito definidas sobre o tema, e essas
crenças podem amiúde dar-nos uma pista, mesmo se não aceitarmos as
explicações antropomórficas que as acompanhavam .
Acreditava-se
que o arquidemônio Lilith estava estreitamente relacionado com esses
assuntos. Segundo os cabalistas, Lilith foi a primeira mulher de Adão, a
qual costumava visitá-lo em seus sonhos enquanto ele ainda estava só no
Jardim do Éden, e o Senhor Deus ficou tão preocupado com esse
comportamento que criou Eva como uma contra-atração. As bruxas recebiam
atenções semelhantes provindas do Demônio. Santa Tereza de Ávila anota
que a Própria Divindade a visitava. A Virgem Maria recebeu o Espírito
Santo. Santo Antônio foi tentado pelas aparições de belos demônios
femininos. Há muitos casos registrados que falam de conventos atacados
pelo Demônio e de freiras visitadas por este ser. George Moore, em seu
interessantíssimo estudo sobre a vida do convento, Sister Theresa, relata um
ataque de “Contrapartes” entre as jovens freiras, no qual elas formaram
ligações com noivos angélicos, ou seja, com as supostas almas dos homens
que se afogaram durante o Dilúvio. Lemos no Gênese e no Livro de Enoch
que os Filhos de Deus se casaram com as filhas dos homens, e que uma raça
demoníaca surgiu dessa união. O folclore de todos os países fala de
casamentos entre humanos e elementais, normalmente com desastrosas
conseqüências. A literatura clássica está repleta de histórias das
visitas de deuses e deusas ao gênero humano. O que podemos dizer sobre
tais histórias? Há algo mais nelas além do conto de fadas e da satisfação
do desejo? Podemos compreender o motivo da freira que, desejando ocultar
a identidade de seu bemamado, declara-se estar grávida do Demônio. Podemos
igualmente entender a psicologia dos demais membros do convento, que
aceitam a história e vêem o Demônio em cada canto .
Citarei
alguns casos que chegaram ao meu conhecimento e veremos se à sua luz
podemos joeirar os fatos entre a fantasia. Certa feita, veio visitar-me
um jovem que estava de amores com uma mulher casada. Ele me contou que em
várias ocasiões sonhava um sonho muito vívido no qual a visitava, e ela
sonhava simultaneamnente que recebia a sua visita. Ele estava ansioso
para aperfeiçoar a técnica dessa operação, daí o fato de vir procurar-me.
Receio que fui pouco simpática, e conseqüentemente não obtive qualquer
informação posterior a respeito dessa curiosa experiência .
Um caso
ainda mais curioso veio ao meu conhecimento alguns anos atrás. Uma mulher
contou-me que em sua juventude havia ficado noiva de um homem a quem
estava profundamente ligada, e que foi assassinado enquanto trabalhava
como missionário na África Ocidental. Tendo perdido o único homem que
sentia que poderia amar, ela consentiu em casar-se com um primo em
segundo grau que há muito estava apaixonado por ela e que era
semi-inválido. Todas as vezes que tinha relações com o marido, ela
visualizava a forma de seu antigo noivo. Ela era pequena, morena e
delicada. Seu marido, um parente consanguíneo, era semelhante a ela
quanto ao tipo. Mas seus três filhos saíram homens loiros, altos e
encorpados, do tipo nórdico, e apresentavam uma forte semelhança com o
homem morto. A veracidade dessa história me foi garantida por um amigo da
família .
Eu conheci
pessoalmente dois pretensos changelings. O menino tinha as orelhas
pontudas de Pã, e se alguém alguma vez pareceu ser o filho do Demônio,
era ele. A menina era uma criatura curiosa e fascinante, essencialmente
nãohumana, e quando seu filho nasceu ele veio ao mundo com tanta facilidade
quanto um gatinho. Ambos os seres foram concebidos quando suas mães
estavam sob a influência da bebida, e ambos se caracterizaram por uma
acentuada insensibilidade que, num dos casos, se desenvolveu em
deliberada crueldade. Embora muito peculiares de se ver, nenhum deles era
deficiente, possuindo ambos, de fato, um cérebro superior ao da média .
Quem quer
que tenha algum conhecimento do aspecto esotérico do sexo, sabe que a
união é tanto etérea quanto física. É esse fato que constitui a diferença
real entre a união normal e a masturbação, e explica por que a primeira é
vitalizante e harmônica e a segunda é exaustiva e arruína os nervos. Não
podemos imaginar que seja possível, para alguém que pode projetar o corpo
etéreo ou para um ser cujo veículo mais denso é etéreo, exercer sob certas
condições um papel nas uniões sexuais? E se aceitamos a teoria da
mediunidade, ou da obsessão, que é uma forma patológica de mediunidade, o
que podemos dizer a respeito da possibilidade de uma relação sexual
enquanto um ou outro dos parceiros está sob controle? Que tipo de alma
poderia encarnar-se sob tais condições? A tradição medieval reconhecia
duas classes de demônios que invadem o sono, e chamava-os de Íncubos e
Súcubos. Eram ambos os responsáveis pelos sonhos lascivos. A psicologia
moderna despreza seus serviços e dá vôos menos altos. O sensitivo
acredita, no entanto, que a tradição antiga tem a sua parte de verdade e
que os pensamentos libidinosos dos corações dos homens (e das mulheres,
naturalmente) podem de fato produzir elementais artificiais de acordo com
o método descrito num capítulo anterior, e que esses elementais são algo
mais do que imagens subjetivas, mas têm uma existência etérea objetiva e
desempenham seu papel na gênese de certas experiências. Por exemplo, uma
pessoa pode ter sonhos e fantasias de natureza lasciva, e esses podem dar
origem às suas formas mentais características; essas formas mentais, que
agora existem independentemente da mente que as concebeu, penetram a aura
dessa mesma pessoa e dão-lhe sugestões do mesmo modo como quaisquer
outras formas mentais projetadas telepaticamente da mente de outra pessoa
poderiam fazê-lo. Não percebemos absolutamente o quanto nos sugestionamos
telepaticamente por meio de formas mentais projetadas. Somos, na verdade,
envolvidos por nossas próprias atmosferas, emanadas por nós mesmos.
Lembro-me de que quando eu era criança disseram-me que se uma gaiola
fosse suspensa bem acima do dossel de uma antiga cama de quatro colunas,
o pássaro seria encontrado morto na manhã seguinte, envenenado pelo gás
carbônico que as pessoas adormecidas sob a gaiola exalaram. Pouco
percebendo o quanto somos envenenados pelas nossas próprias emanações de
pensamentos imprudentes e maculados .
É sabido
que o orgasmo ocorre durante os sonhos, acompanhado de imagens oníricas
apropriadas. Os antigos acreditavam que tal experiência resultava da ação
dos demônios. Os modernos acreditam que ela se deve à tensão física. Não
é tão sabido, porém, que existem pessoas, homens e mulheres, que podem
produzir voluntariamente a mesma reação apenas por meio de sonhos. Não
podemos perguntar se essa reação pode também ser produzida por meio da
sugestão telepática, e se esta não pode ter desempenhado algum papel nas
operações de muitos bandos de treze feiticeiras? Há uma outra fase
curiosa desse aspecto do Caminho da Mão Esquerda, de que tive
conhecimento através de um caso que me chegou às mãos. Uma jovem ingênua
e simples, que levava uma vida muito isolada com a mãe viúva, foi
consultar-se com um médico muito conhecido, que chamaremos de Sr. X. No
círculo em que a Srta. Y. e o Sr. X. se moviam havia uma outra figura
ilustre, a quem chamaremos de Sr. Z., e que era muito reputado por seus
conhecimentos de magia. O Sr. X. disse à Srta. Y. que havia lido os
registros de suas vidas passadas, e que existia um laço cármico entre ela
e o Sr. Z., e que ela deveria ajudá-lo em seu trabalho, derramando amor e
magnetismo sobre ele. Ela foi instruída a meditar sobre o Sr. Z. todas as
noites quando já estivesse na cama, até adormecer. A pobre moça,
solitária e crédula, entregou-se sem reservas a essa tarefa. Logo em
seguida, contudo, ela começou a ficar agitada. O senso comum fazia valer
seus direitos, pois ela descobriu que as meditações solicitadas estavam causando
um efeito perturbador sobre ela; mas o Sr. X. dissipou seus temores e
reconquistou sua obediência, assegurando-lhe que ele havia olhado o
futuro e vira que o Sr. Z. poderia eventualmente desposá-la. Ela se
defrontava, assim, com um caso de amor pungente que a estava tornando muito
infeliz e incapaz para o trabalho. Muitas cartas sobre o assunto foram
trocadas entre a Srta. Y. e o Sr. X., sei disso porque eu mesma as li.
Fiz o que pude para persuadi-la a pôr um fim em todo o caso. O Sr. X.
continuou a persuadi-la a continuar, aproveitando-se de seus sentimentos
e dizendo-lhe quão terrível seria a situação do Sr. Z. se ela retirasse
seu apoio psíquico, e renovando a sua afirmação de um laço cármico que
resultaria, por fim, num casamento, se ela fosse fiel. A Srta. Y.,
angustiada de dar pena e desnorteada, dirigiu-se a certos líderes da
organização à qual os três pertenciam. Esses líderes secundaram meu conselho de
que ela deveria parar com essas práticas, mas persuadiram-na a
entregar-lhes as cartas comprometedoras que estavam em sua posse. Quando
a Srta. Y. lhas entregou, porém, eles declararam que todo o ocorrido era
imaginação de sua parte, e, ao invés de expulsarem esse par de canalhas
de suas fileiras, permitiram que ambos continuassem normalmente em suas
funções .
Esse seria
um caso estranho se fosse apenas um caso isolado, mas não é. Outra mulher
veio a mim por essa mesma época num estado que beirava a insanidade, e
disse-me que ela também havia consultado o Sr. X., que lhe disse que ela já havia
recebido a iniciação nos Planos Interiores, embora ela não fosse
consciente disso, e que suas faculdades psíquicas estavam prestes a
desabrochar (uma observação rotineira de sua parte), mas que se ela
desejasse fazer um progresso real no Caminho deveria abandonar o marido, e ele
(Sr. X.) a poria em contato com o seu companheiro astral. Esse precioso
conselho teve por resultado quebrar o seu lar e transtorná-la. Um dia,
caminhando no parque, ela encontrou o Sr. Z., e declarou-lhe ser a sua
amante astral, afirmação que o Sr. X. confirmou e embelezou com a
informação de que o Sr. Z era também o Mestre que a iniciaria .
Tentei
persuadi-la a dar um fim sumário a toda a aventura e a voltar ao seu
marido, mas ela replicou que nunca poderia fazê-lo depois das
experiências astrais por que tinha passado. O Sr. X. restabeleceu a
sua influência sobre ela, ela deixou o endereço no qual eu a conhecera e
nunca soube o que lhe aconteceu depois. Seu estado, quando a vi pela
última vez, era deplorável — emaciada, fora de si e contorcendo-se em
movimentos convulsivos .
Acreditaria
alguém na história de uma mulher assim? Obviamente, não, a menos que
visse as curtas que eu vi. E esse não é um caso isolado; uma companheira
de trabalho contou-me dois casos exatamente iguais que chegaram ao seu
conhecimento, relacionados com o Sr. X. São casos como esses que fazem o
investigador honesto dos fenômenos ocultos agradecer a existência de uma
lei nos códigos jurídicos que permite aos magistrados lidarem efetivamente
com os ocultistas que prostituem seus poderes. É geralmente tão sabido
que nenhum iniciado pode utilizar as artes ocultas para o ganho, que é
difícil simpatizar com as pessoas que pagam a algum ocultista de anúncios
a sua meiacoroa ou o seu meio-guinéu e depois se vêem em apuros .
Que
conclusões podem ser tiradas dos incidentes que relatei, para cujos fatos
posso dar o testemunho do conhecimento pessoal? Quatro mulheres foram
persuadidas a envolver-se num processo de meditação cujo objetivo é
emitir força. A natureza da força que foi emitida é indicada pelo fato de
que as mulheres casadas foram instruídas a não viverem com os maridos e a
jovem solteira foi encorajada a apaixonar-se pelo homem que era o foco da
operação. Esse homem é o cabeça de um grupo de pessoas que se ocupam
sabidamente de ocultismo prático e cerimonial. A conclusão que extraio é
a de que uma experiência oculta estava em curso e que, indiferentes às
conseqüências para elas, essas mulheres foram utilizadas na execução da
experiência, sendo o alcoviteiro o famoso médico, Sr. X., e o operador o
notório Sr. Z .
O mesmo
grupo tem a seu crédito uma série reincidente de escândalos relacionados
com vícios desnaturais. Se se tratasse apenas de um vício como esses, ele
não estaria no raio de ação destas páginas, mas parece que ele foi
utilizado sistematicamente para obter poder oculto. Aqueles que possuem
algum conhecimento dos aspectos mais profundos do ocultismo sabem que a
força do sexo é uma das manifestações da kundalini, o fogo da serpente
que, de acordo com a filosofia tântrica, jaz enrolada na base da espinha, ou,
nos termos do ocultismo ocidental, no plexo sacro. O controle e a
concentração da força kundalini é uma parte importante da técnica do
ocultismo prático. Há uma maneira correta de dirigi-la por meio do
controle mental, cuja técnica expliquei em meu livro Time Problem of
Purity (Rider); mas há também outro método, que consiste em estimular
essa força, e assim dirigi-la para canais anormais onde ela não será
absorvida, mas permanecerá disponível para propósitos mágicos. É por essa razão
que em certas formas da Missa Negra o altar é o corpo nu de uma mulher
que pode ainda estar viva ou foi assassinada sacrificalmente. A. E. W.
Mason dá um relato de tal operação em seu livro, ThePrisoner in the Opal
.
Operadores
menos experientes, contudo, não conseguem controlar essa forma de força;
assim que eles a geram, ela se encaminha ao seu fim lógico. Por
conseguinte, esses operadores empregam outro tipo de estímulo, não a
mulher, mas o menino ou o rapaz. A prática da pederastia relacionada com
o ocultismo é muito antiga, e foi uma das causas da degeneração dos
Mistérios gregos .
Cuidei em
detalhes desse assunto em outro livro meu, Sane Occultism. Pormenores dos
casos reais podem ser encontrados pela referência nos catálogos de Truth,
o jornal a que já me referi anteriormente .
OUTROS
MOTIVOS DO ATAQUE PSÍQUICO
Sabem muito bem
os ocultistas que não é coisa agradável ir alguém contra uma fraternidade
oculta da qual se tornou membro por meio da iniciação cerimonial e à qual
se vinculou por juramento. Como já vimos, a mente maligna de um ocultista
treinado é uma arma asquerosa; quanto não o será a mente grupal formada
por várias mentes treinadas, especialmente quando concentradas através do
ritual? Mas além da força mental individual dos membros de uma fraternidade, e
além da força coletiva de sua mente grupal, há um outro fato a considerar
quando uma genuína organização oculta está envolvida em operações de
proteção ou destruição. Toda organização oculta depende para seu poder de
iniciar aquilo que se chamam seus “contatos”, ou seja, de um ou mais de
seus líderes estarem em contato com certas forças. Se, além disso, a
organização tem uma longa linha de tradição atrás de si, uma potentíssima
coleção de formas mentais estará reunida em sua atmosfera. Toda cerimônia
de iniciação contém, de uma forma ou outra, o Juramento dos Mistérios,
que proibe o candidato de revelar o segredo dos mistérios ou de abusar
dos conhecimentos que eles fornecem. Esse juramento sempre contém uma
Cláusula de Penalidade e uma Invocação, em que o candidato de submete à
penalidade quando há abuso de confiança, e invoca algum Ser para cumprir
a penalidade. Alguns desses juramentos são coisas formidáveis, e eles são
administrados com toda a solenidade que a encenação pode arquitetar. A
maneira pela qual as fraternidades ocultas conseguiram preservar os seus
segredos mostra como raramente esses juramentos foram quebrados .
No caso de
uma disputa com uma fraternidade oculta, a força invocada nesse juramento
pode entrar em ação automaticamente. Se o irmão recalcitrante está no
espírito da tradição e são seus líderes que estão errados, o poder invocado no
juramento será uma poderosa influência protetora contra a qual os próprios
líderes colidirão. Se, por outro lado, o irmão falta com a palavra aos
Mistérios, essa corrente punitiva entrará em ação, embora a sua defecção
possa passar despercebida. Contou-me uma testemunha ocular um incidente
que ocorreu numa iniciação, na qual o candidato, um homem absolutamente
normal, ao que parecia, depois de fazer o juramento da maneira usual,
subitamente gritou de maneira terrível, espantando a todos, e ficou
enfermo por algumas semanas como se tivesse sofrido um severo choque nervoso,
e nunca mais se dedicou a nada que se relacionasse ao ocultismo. Nenhuma
explicação jamais foi dada para o incidente. Eu estava presente numa
certa ocasião em que um grupo de três candidatos estava sendo preparado,
e subitamente fomos informados no curso da cerimônia que o número dos
candidatos havia se reduzido a dois. Soubemos depois que o terceiro se
apavorara e fugira .
O que
aconteceu nesses dois casos, eu não sei; se houve uma quebra de palavra
ou se uma estava planejada, ninguém pode dizer; mas algo lançou o medo do
Senhor sobre esses dois indivíduos e de modo bastante efetivo. Que esse
choque não é inerente à cerimônia, prova-o o fato de que há apenas dois
casos em minha experiência, e posso afirmar que presenciei um grande
número de cerimônias. Pessoalmente, quando recebi minha própria
iniciação, senti como se tivesse chegado ao porto após uma viagem
tempestuosa .
Outro
homem de minhas relações, que eu acreditava ser um ocultista superior,
foi expulso da Ordem à qual pertencia, por que eu não sei, mas pelo que
vi depois posso imaginar que houve razões suficientes. Em desafio ao seu
juramento de iniciação, ele começou a edificar uma loja independente.
Aconselharam-no a desistir, e ele o fez, desmantelando o templo. Mas
começou imediatamente a construir outro templo num lugar cuidadosamente
oculto; e dessa vez ele foi mais ambicioso, pois se achou pronto para
tentar os Grandes Mistérios. Ele era um artesão muito hábil e fez todo o
equipamento do templo com as próprias mãos, de modo que ninguém podia
saber o que estava em ação. Escondido atrás de cortinas de renda de
Nothingham, numa rua comum de West London, levantava-se um belo e pequeno
templo dos Mistérios Maiores. Ele completou sua obra após meses de árduo
trabalho, e ninguém sabia dela, a não ser os seus amigos íntimos. Mas
antes de começar o trabalho ritual verdadeiro, ele foi à costa para um
pequeno descanso, e lá sofreu um ataque do coração enquanto estava
deitado na praia e morreu em quatro horas. Os segredos da Ordem não foram
revelados .
Outro
homem que tivera uma disputa com a mesma famosa Ordem imprimiu e divulgou
seus segredos como um ato de vingança. Ele era um homem de boa posição
social, riquezas consideráveis e brilhantes habilidades literárias, e alcançara
um nome como escritor. Desde então ele começou a declinar, e chegou à
pobreza e à desgraça. A maldição de Ahasuerus parecia tê-lo alcançado, e
ele foi acossado de país em país, não encontrando um lugar para morar.
Nenhum editor publicou seus livros, nenhum jornal os noticiou .
Contarei,
por fim, as minhas próprias experiências numa escaramuça astral. Eu
escrevera uma série de artigos sobre os abusos que ocorrem nas
fraternidades ocultas, e eles foram publicados na Occult Review.* Minha
escrita é largamente inspirada, e muito do que escrevo me “vem” sem
que eu tenha um conhecimento prévio do assunto, e nesse caso particular
eu divulgara muito mais do que sabia, e me vi em sérios apuros. O
primeiro sinal disso foi uma sensação de desassossego e inquietação.
Passei depois a ter a sensação de que as barreiras entre o Visível e o
Invisível estavam, por assim dizer, cheias de fendas, e continuei tendo
vislumbres do Astral misturando-se com a minha consciência desperta.
Isso, para mim, é incomum, pois eu não sou naturalmente sensitiva, e na
técnica em que fui treinada aprendemos a manter os diferentes
níveis de consciência rigorosamente separados e a utilizar um método
específico para abrir e fechar as portas. É raro alguém obter um
psiquismo espontâneo. A nossa visão assemelha-se ao emprego de um
microscópio no qual examinamos material preparado .
A sensação
de vaga inquietação transformou-se gradualmente numa sensação definida de
ameaça e antagonismo, e comecei, então, a ver rostos demoníacos em
lampejos que se assemelhavam àquelas imagens-retratos que os psicólogos
chamam pelo nome antipático de hipnagógicas, lampejos de sonhos que
aparecem no limiar do sono. Eu não suspeitava em absoluto de nenhum
indivíduo particular, embora estivesse ciente de que meus artigos haviam
irritado profundamente alguém; qual não foi a minha surpresa então,
quando recebi de uma pessoa a quem considerava uma amiga e por quem tinha
o maior respeito uma carta que não me deixou dúvida alguma quanto à fonte
do ataque e sobre o que eu poderia esperar se mais artigos fossem
publicados. Posso honestamente dizer que até receber essa carta eu nunca
tivera a menor suspeita de que essa pessoa estava implicada nos
escândalos que eu atacara .
Eu estava
numa posição delicada; havia lançado uma carga de artilharia sobre
princípios gerais, e havia aparentemente “apanhado” muitos amigos e
confrades e causado um grande reboliço no pombal. Minha posição era ainda
mais delicada porque eu não sabia o tanto que eles suspeitavam que eu
soubesse; eu sabia, é claro, que esses abusos existiam esporadicamente no
campo do ocultismo como todos no movimento o sabem; mas saber dessa
maneira vaga é uma coisa, e pôr o dedo na ferida de casos específicos é
outra. Eu descobrira evidentemente algo muito mais considerável do que
supunha. Eu me sentia como um menino que, pescando peixinhos, fisgasse um
tubarão. Eu tinha que decidir se tentaria recuperar os meus artigos da
Occult Review, ou se os deixaria correr o seu curso natural e sofrer as
conseqüências. Eu tinha tido um fortíssimo impulso para escrever esses
artigos, e agora eu podia ver por que isso ocorria. Direi algo, em outro
capítulo, a respeito dos Vigilantes, essa curiosa seção da Hierarquia
Oculta que cuida do bem-estar das nações. Uma parte de seu trabalho está
aparentemente relacionada com o policiamento do Plano Astral. Pouco se
sabe realmente sobre eles. Deparamo-nos esporadicamente com o seu
trabalho e juntamos as peças. Eu cruzei seu caminho em várias ocasiões,
como contarei mais adiante. Sempre que a magia negra está em ação, eles
se põem em ação para entravar-lhe os planos. Seja como for, cheguei à
conclusão de que, em face do que havia transpirado, o impulso que eu
tivera para fazer aquele trabalho poderia ter emanado dos Vigilantes. De
qualquer maneira, o trabalho precisava continuar. Alguém tinha que atacar
esses pontos empesteados, a fim de purificá-los, de modo que resolvi
manter minhas idéias e resolver a questão, e, portanto, deixar os artigos
em questão seguirem o seu curso .
Algumas
coisas realmente curiosas começaram a acontecer. Passamos a sofrer uma
desagradável invasão de gatos negros. Não eram gatos alucinatórios, pois
nossos vizinhos partilhavam da mesma aflição, e trocávamos lamentos com o
vigia da casa ao lado, que se empenhava em retirar bandos de gatos negros
dos degraus da porta e do peitoril da janela com uma vassoura, e que
declarava nunca ter visto em sua vida tantos e tão medonhos espécimes.
Toda a casa foi invadida pelo terrível mau cheiro dos animais. Dois
membros de nossa comunidade saiam para trabalhar diariamente, e em seus
escritórios, em diferentes partes de Londres, eles encontravam o cheiro
penetrante dos gatos.No início, atribuímos essa perseguição a causas naturais,
e concluímos que éramos parentes próximos de alguma fascinante felina,
mas os incidentes se sucediam e sentimos que as coisas não estavam
absolutamente no curso ordinário da natureza. Estávamos nos aproximando
do Equinócio Vernal, que é sempre um tempo difícil para os ocultistas;
havia uma sensação de pressão e tensão na atmosfera, e todos nós nos
sentíamos decididamente inquietos. Certa manhã, subindo ao andar de cima
após o desjejum, eu subitamente vi, descendo as escadas em minha direção,
um gigantesco gato malhado, de duas vezes o tamanho de um tigre. Ele
parecia absolutamente sólido e tangível. Eu o encarei petrificada por um
segundo, e então ele desapareceu. Compreendi instantaneamente que era um
simulacro, ou uma forma mental que estava sendo projetada por alguém com
poderes ocultos. Não que a aparição fosse de alguma maneira agradável,
mas era muito melhor do que um tigre real. Sentindo-me realmente
inquieta, pedi a uma de minhas companheiras para juntar-se a mim, e
quando nos sentamos em meu quarto em meditação ouvimos o grito de um gato
vindo de fora. Esse grito foi respondido por outro, e outro. Olhamos pela
janela, e a rua, como podíamos ver, estava salpicada de gatos negros, e
eles gemiam e gritavam em plena luz do dia como o fariam nos telhados à
noite. Eu me levantei, reuni minha parafernália e realizei um exorcismo.
Ao terminar, olhamos novamente pela janela. Não havia nenhum gato à
vista, e jamais os vimos novamente depois. As visitas tinham chegado ao
fim. Apenas a população normal de ratos convivia normalmente conosco .
O
Equinócio Vernal estava então sobre nós. Devo explicar que essa é a estação
mais importante do ano para os ocultistas. Grandes ondas de força flutuam
nos Planos Internos, e elas são difíceis de manipular. Se há algum
distúrbio astral para eclodir, ele normalmente arrebenta como uma
tempestade nessa estação. Há também certos encontros que ocorrem no Plano
Astral, e muitos ocultistas a eles comparecem fora de seus corpos. Para
fazer isso, o indivíduo precisa entrar em transe, pois dessa maneira a
mente fica livre para trabalhar. É comum pedirse a alguém que compreende esse
método de trabalho para vigiar o corpo enquanto este está desocupado e
impedir que lhe sobrevenha qualquer dano .
Via de
regra, quando um ataque oculto está sendo executado, procuramos manter a
consciência a todo custo, dormindo de dia e permanecendo despertos e
meditando enquanto o sol está sob o horizonte. Por azar, contudo, fui
obrigada a fazer uma dessas viagens astrais nessa estação. Minha atacante
sabia disso tanto quanto eu. Portanto, fiz meus preparativos com todas as
precauções em que pude pensar, reuni um grupo cuidadosamente escolhido e
fechei o local da operação com a cerimônia comum. Eu não tinha muita fé
nessa operação em face das circunstâncias, pois a minha atacante era de
um grau muito mais elevado do que o meu, e poderia romper qualquer selo que eu
colocasse. Contudo, esse procedimento dava proteção contra aborrecimentos
menores .
O método
de fazer essas viagens astrais é altamente técnico, e não posso entrar
neste assunto aqui. Na linguagem da psicologia, trata-se de uma
auto-hipnose obtida por meio de um símbolo. O símbolo age como uma porta
para o Invisível. De acordo com o símbolo escolhido, assim será a seção
do Invisível cujo acesso é obtido. O iniciado experiente, portanto, não
erra no astral como um fantasma inquieto, mas caminha por corredores bem
conhecidos .
A tarefa
de minha inimiga não era, portanto, difícil, pois ela sabia a ocasião em
que eu deveria empreender essa viagem e o símbolo que eu deveria utilizar
para sair do corpo. Preparei-me, por conseguinte, para sofrer a oposição,
embora não soubesse a forma que ela tomaria .
Essas
viagens astrais são na verdade sonhos lúcidos nos quais o indivíduo
conserva todas as suas faculdades de escolha, força de vontade e
julgamento. As minhas sempre começam com uma cortina de cor simbólica por
cujas dobras eu passo. Nem bem eu tinha atravessado a cortina nessa
ocasião quando vi minha inimiga esperando por mim, ou, se preferirmos
outra terminologia, comecei a sonhar com ela. Ela surgiu com todos os
trajes de seu grau, que eram magníficos, e barrou minha entrada,
dizendo-me que graças à sua autoridade ela me proibia de fazer uso dessas
viagens astrais. Repliquei que não admitia o seu direito de me fechar os
caminhos astrais apenas porque ela fora pessoalmente ofendida, e que eu
apelara aos Chefes Interiores, por quem éramos responsáveis. Seguiu-se
então uma batalha de vontades, na qual experimentei a sensação de ser
girada pelo ar e cair de uma grande altura, e achei-me em seguida de
volta ao meu corpo. Mas meu corpo não estava onde eu o deixara, e sim num
dos cantos da sala, a qual parecia ter sofrido um bombardeio. Através do
fenômeno bem conhecido da repercussão, a batalha astral tinha aparentemente se
comunicado ao corpo, que havia dado um salto mortal enquanto um agitado
grupo retirava a mobília de seu caminho .
Fiquei
abalada por essa desagradável experiência. Reconheci que havia levado a
pior e que fora efetivamente expulsa dos caminhos astrais; mas eu também
compreendi que se aceitasse essa derrota minha carreira oculta estaria no
fim. Assim como uma criança que foi derrubada de seu pônei precisa
imediatamente retomá-lo e remontar, se pretende montá-lo novamente, eu
sabia também que eu devia a todo custo empreender essa viagem astral se
quisesse conservar meus poderes. De modo que pedi a meu grupo para
recompor-se e refazer o círculo porque devíamos fazer outra tentativa;
invoquei os Chefes Interiores, e saí novamente. Desta vez houve uma
pequena e brusca batalha, mas consegui terminar o trabalho. Tive a Visão dos
Chefes Interiores e retornei. A batalha havia terminado. Desde então,
nunca mais tive qualquer complicação .
Mas ao
tirar minhas roupas para ir à cama, senti que minhas costas estavam muito
doloridas e, tomando um espelho de mão, descobri que eu estava marcada de
arranhões do pescoço à cintura, como se tivesse sido arranhada por um gato
gigantesco .
Contei
essa história a alguns amigos, ocultistas experientes, que àquela época
estavam estreitamente associados à pessoa com quem eu tivera esse
transtorno, e eles me disseram que ela era bem conhecida por esses
ataques astrais, e que uma pessoa de quem eram amigos havia tido uma
experiência exatamente igual, tendo sido coberta, após uma disputa com
ela, pelas mesmas marcas de arranhões. Em seu caso, contudo, ela ficou
enferma por seis meses e jamais teve qualquer contato novamente com o
ocultismo .
Há um
curioso epílogo para essa história, que pode ou não explicá-la. Já contei
a história da morte misteriosa que ocorreu em lona. E que o corpo nu da
infeliz jovem foi descoberto sobre uma cruz cortada na relva. Nenhuma
causa pôde ser descoberta para a sua morte, e o veredicto foi de que ela morreu
por exposição ao frio. Mas se ela estivesse perdida, como viria ela a
morrer de maneira ritual, e não andando? Por que despiu ela todas as
roupas antes de deixar a casa, cobrindo-se apenas com uma capa negra? E
por que conservou consigo uma grande faca com a qual cortou a cruz na
relva? Não conheço a sua história posterior, pois eu a perdi de vista
durante os dois ou três últimos anos de sua vida, mas na época em que a
conheci ela estava associada com a mulher à qual me referi. As únicas
marcas que se encontraram em seu cadáver eram arranhões .
MÉTODOS
DE DEFESA CONTRA O ATAQUE PSIQUICO
Distinguimos já
vários tipos de ataque psíquico, descrevemos os métodos que podem ser
empregados para executá-los, e observamos também as várias formas de
delírio, de fraude e de auto-sugestão que podem complicar o problema.
Estamos, agora, em posição para discutir a questão da diagnose.
Consideremos todo o assunto do ponto de vista prático. Supondo-se que um
estranho nos venha com uma história de ataque psíquico, qual deveria ser
o nosso procedimento? Devemos em primeiro lugar ter em mente que é
preciso ter cautela em presumir que um ataque psíquico está sendo
efetuado. Os ataques psíquicos são coisas relativamente raras. Não
devemos presumir que estamos lidando com um até que tenhamos excluído
todas as outras hipóteses. Não muito tempo atrás deparei-me com um caso
de pretensa obsessão, que era na verdade uma constipação negligenciada e
que foi efetivamente exorcizada com óleo de rícino. Quando se observam
sintomas físicos no caso, mesmo que eles se resumam a uma cor má ou a um
mau hálito, um médico qualificado deveria fazer um diagnóstico, pois
mesmo que a perturbação tenha um elemento psíquico predominante, a sua
origem pode ser física. Os focos sépticos são realmente centros de
decomposição, e como tal eles abrem a porta para formas inferiores de
vida elemental cuja função é tomar parte na volta do pó ao pó. As
impurezas da corrente sanguínea podem envenenar o cérebro. Tumores e
abscessos podem desregular suas funções. Essas coisas só podem ser
reconhecidas pelo homem que compreende o corpo; diante de sintomas
semelhantes, o homem treinado é o melhor homem, e o homem com o melhor
treinamento é o homem certo, e o único lugar em que um treinamento
adequado em diagnose pode ser obtido é um hospital geral. Além disso, se
as coisas não correrem bem, a única pessoa que pode tirar a sardinha com
a cauda do gato é a pessoa cuja assinatura as autoridades aceitarão num
certificado. Supondo-se que o paciente se revele um lunático, o que é que
o praticante não-qualificado pode fazer com ele? Muitos casos de pretenso
ataque psíquico são na verdade casos de insânia e histeria. A sandice
incipiente é algo muito difícil de detectar; a histeria é muito astuciosa
e plausível; um médico que lida com a natureza humana todos os dias de
sua vida detectará esses dois estados muito mais rapidamente do que o
leigo que jamais os viu antes .
Pode-se
objetar que é muito difícil encontrar um médico que tenha uma atitude
simpática para com o ocultismo. Utilizar esse argumento é falsear a
questão .
Não se
pede ao médico que coopere com qualquer operação oculta, mas que examine o
distúrbio físico e, quando o encontrar, que o cure. Ele está tão preocupado
com as medidas ocultas que se tomam em benefício do paciente quanto com a
igreja que este freqüenta .
Se o
médico não encontra nenhuma evidência de um distúrbio orgânico, ou de
alguma doença como veias varicosas, que obviamente nada tem a ver com o
estado mental, pode-se dizer que o caso passou pelo primeiro teste, e
podemos estar certos de que cumpre-nos passar à investigação psíquica. Se
o caso tem mau aspecto, ou se a perturbação dura já há muito, o médico
provavelmente descobrirá que o paciente está debilitado, mesmo que não
haja nada definitivamente errado, e irá proceder ao tratamento adequado.
Isso é muito bom, pois, quanto melhor for o estado físico do paciente,
maior controle mental e resistência ele terá. Os soporíferos deveriam ser
evitados, se possível, mas, se forem necessários, o paciente deverá então
ser vigiado enquanto dorme por alguém que saiba como manter uma guarda
ocultista, e o quarto em que ele dorme deverá ser purificado e selado.
Normalmente, se uma pessoa que está no astral depara com um ataque
oculto, ela volta para o seu corpo como um coelho para a toca e desperta
como que de um pesadelo; mas se o sono se tornou artificialmente
profundo devido à ingestão de um soporífero, ela não poderá despertar, e
ficará presa no astral, por assim dizer, que é a última coisa que se
deseja no caso de um ataque psíquico. Se o soporífero é considerado
absolutamente necessário, já que é impossível ficar sem dormir
indefinidamente, a pessoa que está vigiando o paciente deverá observar
cuidadosamente todos os sinais de que o sono está sendo perturbado por
sonhos, e se ela perceber resmungos e contorções, deverá imediatamente
realizar os esconjuros necessários e sussurrar em seus ouvidos sugestões
calmantes e tranqüilizadoras como as que Coué recomenda que se façam no
caso das crianças. Uma das características mais aflitivas de um ataque
psíquico consiste no fato de que a vítima teme dormir porque sente que no
sono ela está indefesa. Aqueles que leram a terrível história de Kipling,
“The End of Passage”, devem lembrar-se de que a vítima do ataque oculto
nela descrito sempre ia para a cama usando esporas para que com
elas pudesse ferretear-se e despertar na eventualidade de estar pelejando
com o seu inimigo invisível durante o sono .
Há muitas
coisas que se podem fazer no piano físico para auxiliar a pessoa que está
sofrendo um ataque oculto, e esses métodos físicos estão dentro das
providências que um médico pode tomar quando o caso está aos seus
cuidados. A luz do sol é extremamente valiosa porque fortalece a aura e a
toma muito mais resistente., As pessoas são sempre aconselhadas a se
retirarem para o campo por essa razão, mas, para a vítima de um ataque
oculto, a reclusão no campo pode não ser a atitude mais sábia, pois as
forças elementais são muito mais potentes fora das cidades, e se essa
vítima corre o perigo de sofrer uma investida de forças atávicas, o
melhor que ela tem a fazer é agarrar-se à morada dos homens. O mar é igualmente
uma força elemental que será melhor evitar, pois a água é um elemento que
está intimamente associado ao psiquismo. Quando se recomenda uma
recuperação saudável para uma pessoa que sofre de um distúrbio psíquico,
as grandes massas de água e as montanhas elevadas devem ser evitadas. O
melhor lugar é um balneário no interior do país. Jogos, treinamento
físico, massagens, tudo que melhora o estado do corpo é útil, mas as
longas caminhadas solitárias devem ser evitadas porque ela sempre o risco do
suicídio. A pessoa que sofre de um ataque psíquico deveria a todo custo
evitar a solidão .
Há uma
outra medida simples que proporciona imenso alívio nos casos de
interferência psíquica. E óbvio que o ataque é feito através dos centros
psíquicos, portanto tudo que feche esses centros tornará a vítima
relativamente imune. É sabido que uma pessoa embotada e materialista pode
viver impunemente em casas assombradas que levam o sensitivo à
loucura e ao suicídio. É também sabido que o trabalho psíquico não pode ser
realizado se há. alimento no estômago; os melhores resultados são sempre
obtidos em jejum. O corolário óbvio desses fatos é que, se desejamos
manter os centros psíquicos fechados, não deveríamos permitir que o
estômago ficasse vazio. A pessoa que está enfrentando um ataque psíquico
não deveria ficar mais do que duas horas sem ingerir algum alimento .
Certos
importantes centros psíquicos localizam-se na cabeça. Uma das maneiras
mais simples de testar a sua atividade é retirar o sangue da cabeça. Isso
pode ser feito tomando-se um banho quente ou colocando-se os pés em água
e mostarda quente. Outro importante centro psíquico é o plexo solar;
durante um ataque psíquico, sente-se que ele está quase sempre tenso e
confrangido. Uma grande garrafa de água quente, bem cheia de modo que
seja tão pesada quanto quente, deposta sobre o plexo solar, que é o
espaço da largura da mão entre a boca do estômago e as costelas, aliviará
efetivamente a tensão nesse ponto. Além disso, a pressão sem calor trará
alívio, e eu soube de casos em que uma almofada firme presa no local por
um cinto de espartilho trouxe muito conforto .
Acima de
tudo, os intestinos deveriam ser mantidos livres enquanto se enfrenta um
ataque psíquico, porque não há nada que ponha alguém em tão grande
desvantagem quanto a acumulação de matéria estéril no corpo .
Todos
esses simples remédios físicos são absolutamente úteis. Eles não darão
uma cura para as patologias psíquicas, nem uma completa defesa contra o
ataque psíquico, mas podem trazer um grande alívio para a aflição; eles
permitem à vítima oferecer uma resistência muito mais efetiva, e
aliviando a tensão eles aumentam a sua resistência. Em muitos casos de
ataque psíquico, aquele que resiste por mais tempo triunfa; os ataques
psíquicos realizados por seres humanos não são coisas que podem ser mantidas
indefinidamente, pois utilizam muita energia .
Diz um
velho adágio: “Nunca utilize uma grande pá se uma pequena pá pode fazer o
serviço”. Os métodos físicos de defesa envolvem muito menos dispêndio de
energia do que os métodos psíquicos, portanto é psiquicamente econômico
fazer tanto uso dela quanto possível. Por que devemos nos preocupar com
exorcizar os elementos da terra por meio de um ritual se podemos fazê-lo
com uma pílula? A questão da dieta também precisa ser considerada a esse
respeito. A propaganda muito difundida da Sociedade Teosófica fez com que
o vegetarianismo fosse visto como um sine qua non do treinamento
ocultista. Isso, contudo, não é verdade. A Tradição Esotérica ocidental
não inclui o vegetarianismo como parte de seu sistema, mas ensina que um
homem deveria comer frugalmente e moderadamente os alimentos da terra em
que se acha. Pessoalmente, estou propensa a pensar que ocultismo e
vegetarianismo podem constituir uma mistura insensata para um europeu,
tendo como conseqüência uma super-sensibilidade que torna a vida muito
difícil em nossa árdua civilização .
O
vegetarianismo deve ser absolutamente bem compreendido e extremamente bem
realizado para ser bem sucedido, e mesmo assim há muitas pessoas que são
incapazes de digerir as proteínas vegetais, que não são tão facilmente
assimiláveis quanto as substâncias animais. Nada a não ser a experiência
pode mostrar se uma dieta vegetariana se adapta a uma dada pessoa. A
indigestão não é o único indício de que algo não vai bem. A perda de
apetite, a perda de energia, a perda de peso ou uma flácida corpulência
podem causar uma má saúde crônica. Uma pessoa pode dar-se muito bem com o
vegetarianismo no início, mas pode descobrir, depois de um considerável
período de tempo, possivelmente anos, que estão se tomando sujeitas a
neurites, a nevralgias, a dores ciáticas ou a uma ou outra das dores
nevrálgicas. Essa é uma indicação segura de que uma dieta vegetariana
está fornecendo insuficiente nutrição, não porque ela não contenha as
unidades alimentícias necessárias, mas porque a digestão é incapaz de
assimilá-las e elas estão passando inalteradas pelo organismo. Sempre que
há uma história de dores nevrálgicas complicando um caso de distúrbio
psíquico, costumo suspeitar de uma má nutrição crônica como causa de um
psiquismo hipertrofiado. Nesses casos, descobrir-se-á provavelmente que
uma volta gradual à dieta mista trará uma redução da hipersensiblidade, os
contatos indesejáveis que se formaram desaparecerão e o estado orgânico
voltará ao normal. A mudança de dieta, no entanto, deveria ser sempre
feita gradualmente para que a digestão não seja perturbada.Todo aquele
que está tendo problemas com um distúrbio psíquico deveria imediatamente
cessar todas as práticas ocultistas e abandonar suas meditações
habituais, retornando às preces de sua infância ou aos métodos do Novo
Pensamento. Não é hora de abrir os centros psíquicos quando há uma
perturbação astral. A coisa a fazer nesses casos é regressar ao plano
físico e aí ficar, resolutamente. Havia um desenho num velho número de
Punch que no meu modo de ver expressa a atitude correta para uma pessoa
atormentada pela perturbação psíquica. Á frente de uma antiga cama de
baldaquino está uma feroz mulher armada com um rolo de pastel, e embaixo
da sanefa aponta a cabeça do marido, que diz: “Você pode me bater e me
quebrar, mas não pode reprimir a minha personalidade, pois eu não
sairei”. Se a vítima de um ataque oculto se concentra em coisas mundanas,
ela se transforma num osso duro de roer para qualquer feiticeiro. O que
pode o feiticeiro fazer se no momento em que opera a arte negra, a sua
vitima está no cinema rindo às gargalhadas com as momices de Carlitos?
Reza o velho ditado que um prego empurra o outro. Se você tem medo de
perigos invisíveis, dedique-se a um esporte que tenha algum elemento de
risco .
DIAGNOSE
DA NATUREZA DE UM ATAQUE
Após termos
considerado os fatores puramente físicos de uma perturbação psíquica,
podemos agora passar à consideração dos fatores genuinamente psíquicos.
Devemos ter sempre em mente, contudo, que descobrir o distúrbio físico
não elimina necessariamente o fator psíquico. Um fator físico, tal como
um estado anormal do sangue, pode causar uma forma inferior de psiquismo
e pôr a sua vítima em contato com más condições astrais. A ciência pode
chamá- lo de delírio ou alucinação, mas o ocultista chama-o de psiquismo
patológico e pode muito fazer para suavizá-lo, seja fechando os centros
psíquicos, seja extirpando as más influências psíquicas do meio ambiente
do paciente, de modo que os espíritos que ele vê sejam angélicos em vez
de demoníacos, e lhe causem alegria e não angústia. Os centros psíquicos
abertos à força por uma corrente sanguínea enferma percebem tudo que está
no âmbito de sua visão. Portanto, asseguremo-nos de que nada, a não ser o
que seja agradável, se aproxime deles. Podemos não ser capazes de
afastá-los inteiramente do Astral, mas pelo menos podemos nos assegurar
de que as suas viagens se fazem numa parte segura e agradável do Astral.
As pessoas não compreendem o quanto as peregrinações dos delírios podem
ser dirigidas e controladas pelas sugestões sussurradas nos ouvidos de
uma pessoa doente. Podemos acompanhar o homem doente em suas viagens
astrais e fazer com que a nossa voz seja ouvida entre as suas visões, com
o nosso conhecimento expulsando as presenças maléficas que o ameaçam e
guiando os seus sonhos no caminho da paz .
No início
de nossa diagnose, devemos distinguir as três classes principais de
distúrbio psíquico: aqueles que são um subproduto do distúrbio físico,
aqueles que se devem à ação humana maligna, e aqueles que se devem à
interferência não-humana. O primeiro tipo seria prontamente detectado
pelo médico, se, como já se aconselhou, recorrêssemos a ele como medida
essencial. Além disso, o médico seria útil também para eliminar as
fraudes, pois as pessoas que se movem nos círculos psíquicos e estão
familiarizadas com a sua terminologia podem simular um ataque psíquico,
seja para ganhar dinheiro ou obter hospitalidade, seja por puro amor à
notoriedade, um motivo muito mais comum para as aberrações humanas do que
geralmente se pensa. As fraudes normalmente desaparecem com muita rapidez
quando ameaçadas por um exame físico. Aqueles que decidem arriscar a
sorte são rapidamente apanhados pelo homem que trabalhou no ambulatório
de um hospital geral .
O
diagnóstico que o ocultista deve fazer consiste, portanto, em distinguir o
ataque de uma mente encarnada e o ataque de uma mente desencarnada. Há
duas maneiras pelas quais o ocultista pode fazê-lo, e ele deveria
utilizar ambas, para que elas se contraprovem mutuamente .
Ele
deveria recorrer pelo menos a dois sensitivos independentes para
psicometrizarem o caso, e ele próprio deveria fazer seu diagnóstico a
partir da história do caso interpretada à luz dos primeiros princípios. É
um grande erro misturar o sensitivo e o cientista. Eles podem
neutralizar-se mutuamente. Deixemos que uma pessoa faça o psiquismo e a
outra, a observação, e tomemos as precauções adequadas para impedir que
os resultados da investigação do clarividente sejam viciados pela
sugestão, ou pela leitura mental das opiniões previamente concebidas e
conservadas no cérebro de qualquer uma das pessoas envolvidas. É, portanto,
uma boa coisa enviar os sujeitos para um exame psicométrico no início de
uma investigação ocultista, antes de formar qualquer opinião.Não é a
coisa mais simples do mundo manipular adequadamente os objetivos para
exame psicométrico. Eu vi certa vez um homem tirar um cacho de cabelos,
pertencente a outra pessoa, de seu bolso, onde ele o tinha mantido por
alguns dias, e o entregar para a psicometria. O cacho estava naturalmente
tão impregnado com as suas próprias emanações que era inútil. Um espécime
encaminhado para exame deve ser algum objeto que esteja completamente
impregnado com as vibrações de uma pessoa. Uma roupa usada recentemente e
habitualmente, um cacho de cabelos, uma peça de joalheria, todos esses
objetos podem servir, desde que adequadamente preservados. Substâncias
cristalinas, tais como pedras preciosas, conservam o magnetismo melhor do
que tudo o mais; os metais são igualmente bons; preciosos ou não. Um
canivete, por exemplo, conservará adequadamente o magnetismo. A madeira
conserva-o mal, assim como o papel, a lã, o algodão e a seda artificial,
especialmente esta última. A seda e o linho são bons. A borracha é
inútil. O vidro depende da forma para manter seus poderes. Se está
cortado de modo que refrate a luz, ele é muito bom; se é liso e
transparente, como o vidro das janelas, é quase inútil. A pedra é média.
A cerâmica, pobre. Um artigo trabalhado não é tão bom quanto um artigo
simples. Por exemplo, um anel cravejado não é tão bom quanto um anel de
sinete. As cartas podem confundir porque contêm tanto do magnetismo do
envelope quanto do autor. Alguns sensitivos podem trabalhar a partir de uma
fotografia, mas esse método não é, estritamente falando, psicométrico,
pois a imagem mental evocada pela fotografia é utilizada para apanhar a
imagem correspondente no éter refletor .
É preciso
ter muito cuidado para manipular um espécime a psicometrizar, pois ele
será facilmente contaminado pelo magnetismo de quem o tocar ou permanecer
nas suas proximidades, ou mesmo pensar nele com concentração. Por
exemplo, se enquanto estiver embrulhando esse espécime para enviá-lo,
você pensar no problema que ele apresenta e elaborar a sua própria
teoria, o psicometrista pode apanhar a sua forma mental ao invés de ler o
estado da pessoa a quem pertence o objeto. Os materiais que são
utilizados no embrulho deveriam também estar livres de magnetismo. Num
certo caso, de que tive conhecimento, o sensitivo afirmou que um certo
berloque pertencia ou a uma enfermeira ou a alguém que trabalhava em
hospitais. Na verdade, ele não pertencia a nenhum dos dois, mas havia
sido embrulhado em algodão cirúrgico .
Quando
embrulhar um espécime psicométrico, faça-o da maneira mais rápida
possível e manipulando-o o menos que puder. Pegue um pedaço de seda
“virgem” branca ou preta (não colorida), grande o bastante para servir
como um invólucro. Coloque-a sobre o artigo e embrulhe-a
rapidamente, manipulando-o através da seda. Em sentido oculto, “virgem”
significa algo que nunca foi utilizado para qualquer outro propósito. Por
exemplo, você não deve utilizar um retalho de um velho vestido ou de uma
capa de almofada. Um artigo que não se presta para manipular por esse método
pode ser seguro por pinças ou pelas pontas de um par de tesouras e
colocado no pedaço de seda no qual será enrolado. Guarde o artigo embrulhado
numa caixa de madeira, assegurando-se de que todo enchimento utilizado
seja também virgem. Não se deve confiar no relato de um único
psicometrista. É também conveniente, ao enviar os espécimes, e especialmente
ao enviar uma hora de nascimento para um horóscopo, que o nome do
paciente não seja conhecido, para que o boato não se espalhe. Os
astrólogos gostam muito de traçar mapas circulares e de discuti-los. Eu
soube de coisas muito desagradáveis que ocorreram por essa razão .
Um
horóscopo feito por alguém que compreende a natureza desse trabalho é de
grande valor, pois a posição dos planetas nas casas celestes não apenas
serve para auxiliar o diagnóstico, mas é também um guia muito importante
para o tratamento. É melhor, portanto, explicar ao astrólogo a natureza
do caso, e a espécie de informação desejada, para que ele possa estudar a
carta de acordo com esses dados. Um horóscopo é para um terapeuta
ocultista o mesmo que uma chapa de raio X para um médico .
Enquanto
espera esses relatórios, e enquanto a sua mente ainda não está
influenciada por eles, o ocultista deve fazer o seu próprio
diagnóstico independente. Para fazê-lo, ele deveria ter pelo menos duas
entrevistas com o paciente. Na primeira, deveria ouvir a história do
caso, deixando o paciente apresentar os fatos à sua própria maneira, sem
direção ou questões condutoras. Assim que o paciente saísse, o operador
deveria escrever a história do caso com todos os detalhes de que possa se
lembrar. É extremamente indesejável tomar notas na presença do paciente,
pois isso o deixa nervoso, por pressentir que, nas palavras dos
tribunais, “tudo que disser poderá ser utilizado como prova contra ele” .
Ao se
preparar para a segunda entrevista, o ocultista deveria estudar
cuidadosamente o seu registro e ter bem claro em mente os seus pontos e a
sua seqüência. Agora é a hora de questionar os pacientes a respeito das
discrepâncias e dos hiatos. Esse procedimento revelará a mentira,
deliberada ou histérica, mais rapidamente do que qualquer outro método,
pois as discrepâncias de sua segunda história se chocarão claramente
contra o registro escrito da primeira. Se ele está falando a verdade, as
duas histórias concordarão. Se está distorcendo os fatos, ele logo cairá
em contradição .
Lembre-se
de que você está lidando com uma pessoa que tem características
sensitivas ou neuróticas, ou talvez ambas, em sua personalidade, e que
sua atitude para com ele, e mesmo seus pensamentos não-expressos, o
influenciarão profundamente. Se ele sente que você está duvidando de suas
palavras, ele perderá a autoconfiança e começará a pensar que suas
experiências podem, afinal, ser fruto de sua própria imaginação.
Conseqüentemente, ele suprimirá coisas que podem ser importantíssimas do
ponto de vista do diagnóstico. É nesse despejar de detalhes relevantes e
irrelevantes que você descobrirá suas pistas .
Há certos
pontos de referência em que você precisa prestar atenção ao ouvir esse
histórico, mas não deixe que o seu paciente compreenda que você os está
buscando, pois se você ganhou a sua confiança ele poderá perceber o seu
ponto de vista, e se ele descobrir que você já tem uma opinião formada,
distorcerá inconscientemente os acidentes para que concordem com essa
opinião. Não permita que ele adivinhe o propósito de suas questões, e
assim você obterá dele respostas imparciais. Para impedir que ele
adivinhe o que você pretende dizer, não faça uma série de perguntas que
elucidem a informação sobre um ponto especifico. Faça perguntas primeiro
sobre um ponto e depois sobre outro. Por exemplo, se você suspeita que a
perturbação pode ser devida à casa em que o paciente mora, a última coisa
que você deve fazer é despertar-lhe as suspeitas a esse respeito, a menos
que você esteja numa pista falsa. E mesmo se você descobrir que está na
trilha correta, você não deve apresentar-lhe os fatos antes de estar
pronto para agir, pois aumentando suas apreensões você aumentará seus
sofrimentos. Se você suspeita que o sexo exerce um papel em sua
perturbação, e o paciente desconfia do rumo de suas perguntas, ele
imediatamente ocultará as pistas, e você descobrirá que é muito difícil
obter todos os fatos. Ao passo que se as suspeitas do paciente não forem
despertadas, ele se revelará a um estrevistador astuto e experiente que
se aproxima indiretamente sem que ele se dê por isso. Aproxirnando-se
indiretamente, você não apenas obtém todos os fatos reais do caso, mas
poupa os seus sentimentos .
Ao tomar o
histórico de um caso, você deve buscar pelas correlações entre a
experiência psíquica de seu paciente e as circunstâncias de sua vida.
Datas e lugares, por conseguinte, devem ser diligentemente pesquisados.
Quando começou a perturbação, e onde? Tendo obtido todas as informações
que puder sobre esses dois pontos, comece a investigar se elas apresentam
qualquer significado oculto. Verifique cuidadosamente as datas, e
examine-as numa efeméride daqueles anos, e observe como estava a lua em
relação a elas, e também os planetas. Observe se as datas caíram nos
equinócios ou nos solstícios. Observe também os dias da semana que lhes
correspondem. Se você descobrir que todas as crises do caso ocorreram nas
quintas-feiras, ou por ocasião do Equinócio Vernal, ou na lua cheia, você
terá uma informação de extraordinário significado. Você terá a certeza,
pelo menos, de que está lidando com um caso em que as marés psíquicas
invisíveis desempenharam algum papel.É preciso procurar informações
também a respeito do lugar ou lugares em que as diferentes crises da
perturbação ocorreram e especialmente as circunstâncias que acompanharam
a sua primeira manifestação. É extremamente útil visitar, se possível, o
lugar e sentir a sua atmosfera. Pode-se saber muita coisa visitando-se os
lugares em que o paciente está vivendo .
Tendo
obtido toda a informação geográfica que conseguir, estude-a
cuidadosamente em um mapa de artilharia de grande escala. Pode-se
facilmente ter acesso a ele, e a todas as informações desejadas, numa
biblioteca pública. Observe se há qualquer vestígio pré-histórico na
vizinhança e, se houver, qual a relação existente entre a casa e ele.
Levante a história do distrito, e veja se ela traz qualquer informação
adicional. Os vestígios romanos estão amiúde no fundo da perturbação,
pois as legiões trouxeram consigo alguns cultos muito estranhos nos dias
da decadência de Roma. Deve-se suspeitar também dos vestígios druidas, se
há algum deles nas cercanias .
Informe-se
também sobre quaisquer objetos incomuns da casa, como imagens de
divindades de cultos primitivos ou armas selvagens .
É possível
que poderosos elementais estejam relacionados com eles. Pergunte se a
perturbação desaparece quando o paciente se vai para outro lugar. Se a
resposta é afirmativa, pode-se com segurança presumir que as condições
ambientais estão no fundo da perturbação. Mas se a resposta é negativa,
isso não significa necessariamente que o contrário é verdadeiro. Pode ser
que a perturbação não dependa do local, mas de alguma pessoa que reside
no local. Nunca se esqueça de que na grande maioria dos casos essa
influência nociva da pessoa deve-se antes a uma constituição psíquica
infeliz do que ao abuso deliberado do conhecimento oculto. Demore para
aceitar esta última hipótese, pois a sua ocorrência é relativamente rara.
E mesmo que se saiba que a pessoa suspeita tem conhecimentos ocultos e
que se possa provar que ela é hostil ao paciente, isso não significa necessariamente
que o ataque é consciente e deliberado. Ele pode ser inconsciente e
reflexo. E bem verdade que um ocultista deveria ter suficiente controle
sobre seus veículos para impedi-los de agir independentemente de sua
vontade e de sua consciência; mas esse nem sempre é o caso. As pessoas
estão em estágios muito diferentes de desenvolvimento. Há sempre um
período difícil entre o despertar dos poderes superiores e o pleno
controle sobre eles .
Dever-se-ia
investigar, também, a natureza dos sonhos, e se o paciente é sujeito a
pesadelos, mesmo fora da questão estrita do ataque oculto. E também se ele já
teve outras experiências psíquicas, e, em caso positivo, de que
natureza.Finalmente, uma cuidadosa pesquisa deveria ser feita a respeito dos
amigos do paciente, para se saber se algum deles é sensitivo ou estudioso
do ocultismo. Seja muito cauteloso, contudo, para não lançar suspeitas
sobre qualquer pessoa, a menos que você tenha provas conclusivas, e é
essencial fazê-lo para poupar o paciente. Lembre-se de que é sempre
possível que você possa estar errado. Os jornais relataram, não faz muito
tempo, o caso de um homem que cometeu suicídio porque um médico o
informou de que sofria de uma doença cardíaca congênita e que não deveria
desposar a jovem de quem estava noivo. Na autópsia, descobriu-se
que ele nada tinha em absoluto no coração. Imagine os sentimentos do
médico que deu esse precipitado diagnóstico. Uma pessoa já transtornada
por um ataque psíquico terá medo da própria sombra. É preciso tratá-la
muito discretamente. Seja muito cauteloso ao anunciar suas suspeitas,
mesmo que elas já estejam conclusivamente comprovadas. Quanto tudo foi
dito e feito, o objetivo principal de seu trabalho é uma cura, não uma
explicação. É de pouco valor para seu paciente apurar a responsabilidade,
a menos que o assunto possa ser esclarecido. Ele ficará consideravelmente
pior se as suas suspeitas forem dirigidas contra alguma pessoa de seu
ambiente, de quem ele não pode escapar, e é melhor deixá-lo atribuir a
sua perturbação e influências psíquicas não-identificadas. O ditado “onde
a ignorância é bem-aventurança é loucura ser sábio” é mais verdadeiro nos
assuntos psíquicos do que em qualquer outro. Nunca abra os olhos de seu
paciente a um perigo para o qual você não pode lhe dar uma defesa eficaz.
O cirurgião que está prestes a operar cobre os seus instrumentos com uma
toalha para que o paciente não os veja. O ocultista sábio faz o mesmo.
Não esqueça que o invisível é sempre suspeito para o nãoiniciado .
Tendo conduzido
a pesquisa nas linhas esboçadas nas páginas anteriores, você terá
adquirido uma considerável quantidade de material para investigação.
Examine-o cuidadosamente em busca de correlações de causa e efeito.
Observe se qualquer exacerbação da perturbação está regularmente
associada a qualquer incidente, lugar ou pessoa. Considere também os
vários casos típicos que dei como exemplos nos capítulos anteriores, e
veja se você pode descobrir algum que se assemelhe ao caso que está
investigando. Observe as explicações dadas, e veja se elas lançam alguma
luz sob o problema, ou se sugerem linhas pelas quais a pesquisa possa ser
desenvolvida .
Trabalhando
dessa maneira, você será capaz de chegar a um diagnóstico provisório. Se
ele é confirmado pelas descobertas dos sensitivos a quem você
enviou espécimes para psicometria, então você pode confiar em que está na
trilha correta e prosseguir confiantemente .
Lembre-se,
contudo, de que embora os sensitivos possam concordar quanto aos pontos
principais de sua investigação, você não pode esperar uma concordância completa
quanto aos detalhes. Eles inspecionam uma fotografia composta de toda a
vida do paciente, e há tanto para ver que não é provável que eles vejam
tudo. As coisas que eles confirmam podem ser dadas por estabelecido, mas
as coisas que um vê, e o outro não, não são necessariamente ilusórias .
MÉTODOS
DE DEFESA
Ao escrever para
o leitor comum uma exposição dos métodos a utilizar no combate a um
ataque psíquico, eu me lembro daqueles excelentes manuais de medicina e
cirurgia que um esclarecido Ministério da Indústria e do Comércio insiste
que devem ser fornecidos aos capitães de navio, juntamente com um armário
cheio de remédios, inofensivos ou não. Quando surge uma emergência, o
digno capitão lê do princípio ao fim o capítulo que ele acredita ser indicado
para o caso em questão e se põe ao trabalho como melhor pode .
Assim é
quando se lida com a perturbação psíquica. Para se fazer um diagnóstico é
necessário ter uma larga experiência e para se enfrentar os possíveis
acidentes cumpre ter sobretudo faculdades treinadas e, mais do que isso,
poderes desenvolvidos. Este livro tem mais a natureza de um manual de
primeiros socorros do que de um tratado sobre o tratamento .
Devemos
ter também em mente que assim como a droga potente é eficaz nas mãos de
um perito mas perigosa nas mãos do amador, do mesmo modo as fórmulas
ocultas mais poderosas exigem um equipamento especial para a sua
utilização. Além disso, uma fórmula que é utilizada indiscriminadamente
pelo não-iniciado tende a perder a sua potência e a tornar-se inútil. A
imprecação popular que Bernard Shaw introduziu na sociedade cortês em sua
peça Pigmaleão é o retalho puído da adjudicação outrora poderosa “Por
Nossa Senhora”. Além disso, dois casos nunca são iguais, e o caso típico
e bem definido é uma raridade e um tesouro. O senso comum, a aptidão
natural e a experiência são o melhor equipamento do exorcista.Tendo feito seu
diagnóstico e estando pronto para cuidar do caso, o exorcista deverá
cumprir três obrigações: precisará reparar a aura do paciente, clarear a
atmosfera de seu ambiente e quebrar o seu contato com as forças que estão
causando a perturbação. Essas três coisas são interdependentes, e nenhuma
delas é a primeira ou a última. É quase impossível levar uma aura
avariada à cura se você não purificar a atmosfera; e a atmosfera não
permanecerá limpa por muito tempo se você não conseguir quebrar os
contatos .
Teoricamente,
o ideal é quebrar os contatos como ponto de partida. Mas infelizmente, na
prática real, é às vezes muito difícil descobri-los, e é muito difícil
manipulá-los depois que foram descobertos. Entretanto, algo deve ser
feito para manter o paciente vivo. Compete ao exorcista purificar o local
em que trabalha. Ou, se a vitima do ataque está se defendendo sem ajuda,
cumpre-lhe construir rapidamente algumas defesas temporárias enquanto
cava trincheiras .
A primeira
coisa a fazer quando se lida com um ataque oculto é fazer uma purificação
temporária da atmosfera e, assim, ganhar uma pausa para respirar e refazer
as fileiras destruídas. Isso é obtido mais prontamente por um ritual
organizado do que pela força de vontade sem auxilio, Todo ato realizado
com intenção torna-se um rito. Podemos tomar um banho tendo em mente
apenas a limpeza física; nesse caso o banho limpará nossos corpos e nada
mais. Ou podemos tomar um banho visando à limpeza ritual, e nesse caso
sua eficácia se estenderá para além do plano físico. Portanto, realizamos
certas ações físicas não apenas como um meio de purificar as condições
etéreas, mas também como um meio para produzir definitivamente pela
imaginação as condições astrais necessárias, uma arma potentíssima em
todas as operações mágicas .
Os objetos
físicos impregnam-se com as emanações etéreas e as retêm por períodos
consideráveis como uma faca retém o odor de cebolas e contamina tudo que
cortamos com ela. Essas emanações, ou magnetismo como são chamadas na
terminologia da ciência oculta, afetam profundamente toda pessoa
sensitiva que está em contato com elas. Há um fundo de verdade na velha
superstição de que traz desgraça colocar as botas sobre uma mesa. É
igualmente desaconselhável colocar roupas externas sobre uma cama. Você
não sabe em quem roçou os ombros no ônibus ou no trem, então por que dar
ao magnetismo de alguém a chance para contaminar o seu lugar de dormir?
Felizmente para todos nós, o magnetismo é uma força muito fugidia, e embora
essa força possa ser poderosa quando fresca, ela desaparece rapidamente,
a não ser que tenha sido deliberadamente criada por meio do ritual. Não é
difícil livrar-se da terrível atmosfera que cerca a vítima de um ataque
oculto e permeia todos os seus pertences, embora ela rapidamente se
recomponha quando as condições que a originaram não foram purificadas.O
meio mais eficaz de livrar a vítima do magnetismo é movê-la para um local
fresco e não deixá-la levar nenhum de seus pertences. Isso, contudo, é
uma coisa muito difícil para muitas pessoas. Felizmente, há outros
expedientes que nas permitem atingir nossos fins tão rapidamente quanto
eficazmente. Se for possível, deixemos que a vítima de um ataque oculto
se mude temporariamente para outro ambiente, levando consigo apenas os
pertences indispensáveis, e façamos com que ele se mude com novas roupas,
ou em roupas que acabaram de chegar da lavanderia. Obriguemo-lo, além
disso, a manter o seu paradeiro tão secreto quanto lhe seja possível .
Diz uma
velha superstição que uma bruxa pode ser expulsa da trilha se encontrar
em seu caminho água corrente. Sou da opinião de que muitas dessas antigas
crenças populares têm uma base real, embora revestida pela superstição.
Certa vez eu tive uma curiosa experiência que dá apoio a essa opinião. Eu
estava prestes a tomar parte num importante trabalho oculto ao qual eu sabia
que haveria oposição. Uma amiga que estava a par do assunto pediu-me para
jantar com ela na noite anterior ao dia fixado para a operação. Estávamos
ambas conscientes da tensão da atmosfera, e ela sugeriu que eu deveria
permanecer à noite em seu apartamento em vez de retornar ao meu, não
informando a ninguém do meu paradeiro a fim de tirar o ataque da trilha.
A manobra não foi inteiramente bem sucedida, e tivemos uma noite
exasperante, e no dia seguinte eu podia perceber a grande tensão psíquica
que me oprimia. Decidi, portanto, caminhar no Hyde Park a fim de me
refrescar. Quando tinha caminhado parte do caminho, senti subitamente que
a tensão diminuíra, e pude entregar-me ao trabalho sem interferências.
Narrei esta experiência à minha amiga, e ela me fez perguntas quanto ao
local em que eu estava quando isso ocorreu. Observamos o ponto num mapa e
descobrimos que eu havia atravessado a tubulação subterrânea pela
qual passa a água oriunda da Serpentina. Eu não conhecia a antiga
superstição concernente à água corrente, nem sabia da existência da
tubulação. Não obstante, a sensação de alivio foi suficientemente forte
para fazer-me falar dela quando vi novamente minha amiga, e para poder
indicar o ponto em que ele havia ocorrido .
Temos
pouco conhecimento exato a respeito dessas forças sutis que são a base do
ataque oculto e da cura espiritual, mas temos boas razões para acreditar que
em sua natureza elas são estreitamente análogas à eletricidade. Não são
forças inanimadas, mas têm em sua natureza algo que é afim à vida, embora
de um tipo inferior. Sei por experiência que se trabalhamos numa analogia
entre a eletricidade e a bacteriologia, chegamos mais perto dos fatos;
tão perto, pelo menos, quanto o permite o estado atual. de nossos conhecimentos.
Em outras palavras, se agirmos como se possuíssemos as qualidades
combinadas da eletricidade e da bactéria, poderíamos ter um método
suficientemente acurado de governar por vôo cego na ausência de certo
conhecimento e de compreensão real. Se analisamos os vários métodos
utilizados na magia popular de todas as épocas e raças, poderíamos
observar que elas concordam com essas hipóteses .
A água
corrente, como sabemos, tem peculiares qualidades elétricas, como o
testemunha o efeito que ela causa sobre uma varinha de rabdomante nas
mãos de uma pessoa sensitiva. Seja o que for que afete o adivinho,
trata-se provavelmente da mesma coisa que afeta o ataque oculto. Quando
nos lembramos, contudo, de que a água corrente afasta os sabujos da pista
assim como a pretensa bruxa, não podemos ser acusados de superstição
grosseira se minamos a antiga tradição popular e observamos os seus
resultados .
A água,
além disso, é o veículo da purificação. Ela é utilizada no rito do
batismo pela Igreja e na Preparação do Lugar pelo ocultista antes do
início de uma cerimônia. Estritamente falando, deve haver um pouco de sal
na água empregada para esse fim, e o sal e a água são abençoados pelas
poderosas invocações quando o sacerdote prepara água benta, seja para um
batismo, ou para colocá-la na pia para uso da congregação .
No que
concerne ao ocultista, o sal é para ele o emblema do elemento da terra. É
também uma substância cristalina, e as substâncias cristalinas, em suas
diferentes formas, recebem e mantêm o magnetismo etéreo melhor do que
qualquer outro veículo. A água, por outro lado, é o emblema da esfera
psíquica. Esses dois remos, entre todos, contêm, sem dúvida alguma, o
maior quinhão do mal oculto. É de fato raro que a maldade espiritual em
lugares elevados chegue até os reinos aéreos da mente ou os reinos
ardentes do espírito. Se desejamos entrar em contato com uma esfera particular
ou operar por seu intermédio, utilizamos como base uma substância que lhe
seja apropriada. Consequentemente, uma solução de sal e água fazem uma
base melhor do que o fariam a água e o sal em separado, porque isso nos
permite cobrir toda a esfera das operações prováveis num único ato. É
interessante notar, a propósito das propriedades mágicas das substâncias
cristalinas, que os cristais são utilizados nos aparelhos de rádio para
captar as vibrações sutis do éter. Mais uma vez estamos perto da trilha
de nossa analogia eletrobacteriológica .
É um ótimo
expediente, quando se tenta quebrar um contato psíquico indesejável,
imergir o paciente num banho de água que foi especialmente consagrada
para esse fim; vesti-lo em seguida com roupas novas ou pelo menos limpas,
e, se for possível, mudá-lo para um quarto diferente. Se isso não pode
ser feito, desloque a cama de lugar, cuidando para que ela fique num
ângulo diferente do anterior; ou seja, se o paciente tinha o hábito de
dormir deitado no sentido norte-sul, coloque sua cama de modo que ele
agora durma no sentido leste-oeste.As seguintes preces podem ser
utilizadas na bênção do sal e da água: “(Apontando o primeiro e o segundo dedos
para o sal.) Eu te exorcizo, ó criatura da terra, pelo Deus vivo ( ),
pelo Deus sagrado ( ), pelo Deus onipotente ( ), para que te purifiques
de todas as influências malignas, em Nome de Adonai, Que é o Senhor dos
Anjos e dos homens .
“(Estendendo
a mão sobre o sal.) (Ó criatura da terra, adora teu Criador. Em Nome de
Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, e no de Jesus Cristo,
Seu Filho, nosso Salvador, eu te consagro ( ) para o serviço de Deus, em
Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém .
“(Apontando
o primeiro e o segundo dedos para a água.) Eu te exorcizo, ô criatura da
água, pelo Deus vivo ( ), pelo Deus sagrado ( ), pelo Deus onipotente (
), para que te purifiques de todas as influências malignas, em Nome de Elohim
Sabaoth, Que é o Senhor dos Anjos e dos homens .
“(Estendendo
a mão sobre a água.) (ó criatura da água, adora teu Criador. Em Nome de
Deus, Pai Todo-Poderoso, Que estendeu um firmamento no meio das águas, e
de Jesus Cristo, Seu Filho, nosso Salvador, eu te consagro ( ) para o
serviço de Deus, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém .
“(Derramando
o sal na água.) Nós te suplicamos, ó Deus, Senhor do Céu e da Terra, e de
tudo que existe neles, visível e invisível, que Tu possas estender a mão
direita de Teu poder sobre essas criaturas dos elementos e santificá-las em Teu
santo Nome. Permite que este sal ajude a saúde do corpo e esta água a
saúde da alma, e que todo poder da adversidade e toda ilusão e artifício
do mal sejam banidos no lugar em que ambos forem utilizados, por amor a
Jesus Cristo nosso Salvador. Amém.” A água assim consagrada pode ser
utilizada num banho, ou para fazer o Sinal da Cruz sobre a testa, ou para
espargir sobre algum local. No momento de sua utilização, pode-se
empregar a seguinte oração: “Pelo Nome que está acima de todos os outros nomes,
e pelo poder do Pai, do Filho e do Espírito Santo, eu exorcizo todas as
influências e sementes do mal e derramo sobre elas o conjunto da Santa
Igreja de Cristo, para que possam ser presas rapidamente com as correntes
e arrojadas nas trevas exteriores, que elas não perturbem os servos de
Deus.” Apontando ou fazendo o Sinal da Cruz ( ), os dedos indicador e médio são
estendidos e o anular e o mínimo são dobrados contra a palma da mão, com
o polegar repousando sobre suas unhas. Quando a mão é estendida para abençoar
o sal e a água, conservamo-la plana, com os dedos juntos e paralelos, o
polegar estendido em ângulo reto ao indicador .
Se há
bastante força oculta em ação para produzir fenômenos físicos, é
aconselhável precaver contra a ocorrência de materializações. Os
fenómenos físicos apresentam vários tipos de manifestação. Eles podem
tomar a forma de ruídos, normalmente rangentes ou surdos, ou mais
raramente notas de sinos ou sons de lamentos. Se a vítima ouve palavras
reais, devemos suspeitar de alucinações auditivas, pois, na ausência de
um médium, as mensagens dos espíritos são comunicadas ao ouvido interno,
e não ao nervo auditivo. Luzes podem também ser vistas, tomando comumente
a forma de esferas opacas de névoa luminosa levitando como bolhas de
sabão. Essas esferas podem ser de qualquer tamanho, desde pequenos pontos
de luz até corpos de dimensões consideráveis, atingindo seis pés ou mais
de diâmetro. Nessas esferas de luminosidade opaca, os sensitivos costumam
ver formas humanas ou do reino animal. Nuvens de cor
cinzento-esbranquiçada podem também às vezes ser vistas, emergindo do
chão na forma de colunas de fumaça. Essas nuvens se fixam num lugar e não
se movem sobre o quarto como o fazem as esferas de luz, mas giram sobre
si mesmas como redemoinhos de fumaça dentro de um copo. Pode-se observar mais
raramente um odor marcante. Pode haver também precipitações de
substâncias polvorentas ou de lama, mas esses casos são ainda mais raros.
Objetos luminosos podem também cair e espalhar-se pelo quarto .
Há certas
substâncias que a experiência provou serem eficazes para impedir a
condensação de energia etérea. Sal consagrado dissolvido em vinagre e
colocado num pires no quarto poderá dissolver baixos graus de força, mas
para potências mais elevadas é conveniente utilizar ácido nítrico,
derramando uma pequena quantidade deste num pires e expondo-o ao ar.
Convém utilizá-lo em forma diluída para prevenir acidentes, pois não é a
força do ácido no pires que é eficaz, mas sim a sua evaporação no ar, e o
ácido evaporará tanto diluído quanto puro. De que maneira ele opera, eu não
tenho a menor idéia, mas seu valor é bem conhecido entre os sensitivos .
Os métodos
do ataque oculto empregados na Europa moderna são exclusivamente mentais,
pelo menos no âmbito de minha experiência. Ou seja, neles a mente opera
sobre a mente, e só incidentalmente afeta os estados físicos. No Oriente
e entre os povos primitivos, contudo, outros, aspectos devem ser
considerados, pois muitos tipos etéreos de magia são utilizados sob
condições primitivas de vida e sob solos virgens. Nessas operações
etéreas, lança-se mão de substâncias materiais para utilizar o magnetismo
que lhes é afim. Fios de cabelo, aparas de unhas, roupas usadas, objetos
de uso familiar, tudo isso contém magnetismo. Conseqüentemente, é preciso
cuidar para que essas coisas sejam efetivamente destruídas quando fora de uso.
Fios de cabelo e aparas de unha deveriam ser rapidamente queimados. As
roupas usadas nunca deveriam sair da posse de seu proprietário senão
depois de três dias de exposição ao sol e ao ar livre. O magnetismo
dispersar-se-á mais eficazmente se as roupas ficarem sobre a terra,
especialmente sobre terra recém-revolvida, e não penduradas num varal. O
mesmo se aplica à mobília. A poltrona que era o assento costumeiro da
vítima e, acima de tudo, a cama, devem ser arejadas e postas ao sol antes
de partirem. As mesmas precauções são úteis se qualquer objeto de segunda
mão foi adquirido .
A
destinação de excrementos humanos deveria ser cuidadosamente organizada e
confiada a criados dignos de confiança, com a utilização constante e
farta de desinfetantes e desodorantes. Devem-se tomar precauções para
impedir que algum nativo tenha acesso a excrementos frescos. Depois que o
calor animal saiu deles, o seu valor mágico diminui grandemente. Um lenço
sujo é também um vínculo magnético efetivo, e assim também os curativos
de uma ferida. Em suma, tudo que tem os traços de qualquer um dos
subprodutos do corpo .
Mas, à
parte a questão do ataque psíquico, há duas substâncias que são
especialmente apreciadas para objetivos mágicos, a saber, o líquido
seminal e o sangue menstrual. O primeiro é utilizado nos ritos da
fertilidade e o segundo, em certas formas de evocação. Constitui extremo
perigo essas substâncias caírem em terras primitivas, pois os nativos,
que conhecem o seu significado, guardam-nas com muito escrúpulo; mas a
mem-sahib * de nada suspeita, e permite que as roupas do corpo e das
camas vão às mãos do lavandeiro para que faça delas o que bem entender,
satisfazendo-se simplesmente com que as roupas retornem a salvo no fim da
semana, e jamais pensando em investigar o que acontece à água na qual
foram lavadas. Há muitas partes do mundo em que a venda dessas substâncias
mágicas é uma rendosa atividade suplementar das lavanderias .
Na Europa,
o sangue menstrual e as fezes fazem parte das substâncias mágicas na
Missa Negra, sendo preparados nas pátenas com farinha de trigo .
Um método
tradicional de purificar a má atmosfera psíquica de uma casa, método que
posso dizer que é eficaz devido à minha própria experiência, é espalhar
alho sobre o local, deixá-lo durante a noite e recolhê-lo e queimá-lo.
Entre as pessoas do campo, quando se aguardam visitas desagradáveis, uma
cebola é às vezes colocada num vaso sobre o consolo da lareira, como se
fosse um bulbo de jacinto, e solenemente queimada no fogo da cozinha após
a partida dos visitantes, pois se acredita que a cebola tem a propriedade
de absorver emanações nocivas. É curioso observar a esse propósito que
numa mina de carvão que conheço os mineiros foram proibidos de trazer
cebolas para o trabalho como parte de seus lanches, porque as cebolas absorvem
os gases subterrâneos e se tornam venenosas. Meu informante me disse que
ele e outros haviam levado cebolas escondidas para baixo e
aprenderam por amarga experiência a sabedoria dessa norma .
OUTROS
MÉTODOS DE DEFESA
Há dois tipos de
trabalho prático que podem ser utilizados em separado ou em combinação, e
o segundo método, em minha opinião, dá melhores resultados, embora os
representantes de um estejam prontos para depreciar o outro. O método que
distinguiremos como meditativo consiste na meditação sobre qualidades
abstratas, tais como paz, harmonia, proteção e o amor de Deus. É o método
da escola do Novo Pensamento, e seu valor reside no efeito harmonizador
que exerce sobre o estado emocional e na sua capacidade de neutralizar as
auto-sugestões nocivas. O outro método, que chamaremos de invocativo,
consiste na invocação das potências externas e no emprego de
métodos formais para a concentração de sua força. Esse método tem
muitas gradações de complexidade e uma infinita variedade de técnicas.
Elas vão desde a oração mais simples que evoca o Cristo com o Sinal da
Cruz até os rituais mais elaborados de exorcismo realizados com sineta,
livro e vela. A essência do sistema reside no esforço de extrair da força
geral do bem o aspecto particular de energia necessário, e na utilização
de algum símbolo para agir como veículo mágico dessa força no plano da
forma. Esse símbolo pode ser um retrato mental do manto azul de Nossa
Senhora; pode ser o ato de fazer o Sinal da Cruz; pode ser a água
consagrada espargida em sinal de limpeza; ou pode ser algum objeto especialmente
magnetizado para agir como um talismã. No método invocativo, o objetivo é
concentrar a força, e por conseguinte algum símbolo de forma deve ser
empregado. No método meditativo, o objetivo é penetrar, para além das
amarras da forma, na atmosfera do puro espírito, glorioso demais para que
o mal possa nela entrar, e portanto a utilização de qualquer forma ou fórmula é
descartada, uma vez que impede a alma de elevar-se a esse puro ar .
Em minha
opinião, e com todo o respeito aos praticantes desse último método,
resultados muito melhores seriam obtidos se o método invocativo, com o
seu emprego das fórmulas, fosse utilizado para permitir que a mente
subisse ao ar puro da consciência espiritual, onde o mal não existe.
Somente aqueles que estão altamente treinados na meditação conseguem
elevar-se aos planos sem ajuda. É extremamente difícil “decolar” da
consciência dos sentidos sem a utilização de alguma espécie de
estratagema psicológico para agir como trampolim. Há pouco sentido em
recusar por razões puramente acadêmicas um método de comprovada eficácia.
Se compreendemos que a utilização de formas e simbolos é simplesmente um
estratagema para permitir à mente controlar o intangível, não cairemos no
erro das observâncias supersticiosas. Uma superstição pode ser definida
como a utilização cega de uma forma cujo significado foi esquecido .
Por outro
lado, seríamos insensatos se contássemos exclusivamente com métodos
formais ou cerimoniais sem dispor ao mesmo tempo de métodos meditativos
para purificar e harmonizar a nossa própria consciência. Se
negligenciamos esse aspecto de nosso trabalho, recontaminaremos tão
rapidamente o círculo mágico com as nossas próprias vibrações quanto o
purificamos. De nada nos vale selar um círculo com os Nomes protetores,
se permitimos que uma imaginação em pânico se descontrole, retratando
toda espécie concebível de mal e deixando espaços em branco para a
possibilidade de espécies inconcebíveis. Da mesma forma, contudo,
descobriremos que é muito mais fácil realizar a meditação harmonizadora
se estamos trabalhando com a proteção de um círculo mágico. Tentar
realizar um trabalho de exorcismo apenas por meio da meditação é como
levantar um peso pelo esforço apenas de nossas mãos. O emprego do método
mágico assemelha-se à utilização de uma alavanca, ou uma roldana e uma
plataforma. Nossos músculos são ainda a única fonte de energia, mas pelo
emprego de princípios mecânicos redobraremos o seu poder. Utilizemos,
portanto, na meditação, símbolos que concentrem nossa atenção;
descobriremos que isso é muito mais fácil do que a meditação nos termos
do pensamento abstrato. Além disso, em épocas de cansaço e crise, o
pensamento abstrato pode ser impossível para nós, a não ser que tenhamos
muita experiência em sua utilização; mas raramente atingiremos um estado
quando não imaginamos a Cruz e invocamos o Nome de Cristo .
Os ataques
ocultos podem ser divididos em dois tipos, aqueles que ocorrem por meio
das formas mentais, e aqueles que operam por meio de uma corrente de
força. Mas mesmo neste último caso a corrente de força reúne ou germina
formas mentais semelhantes à sua natureza. Por conseguinte, em todo
distúrbio psíquico a forma mental é um fator que deve ser considerado e
enfrentado, e que constitui, na verdade, um dos dados mais disponíveis
para a diagnose, pois é pela percepção das formas mentais associadas que
o sensitivo experiente é capaz de detectar a natureza do ataque .
A força
mental é algo que não tem relação com a posição geográfica, pois é um
assunto de pura consciência e de sintonia com a sua nota tônica. Podemos
captar as forças de crenças mortas uma centena de anos depois da morte de
seu último devoto, e no lado oposto do globo daquele em que floresceram.
Mas as formas mentais são uma coisa diferente. Elas têm uma posição no
espaço, e embora possam mover-se com a velocidade do pensamento, e possam
ser lançadas ao nível mais sutil do astral e aí ancorar-se numa idéia,
evitando assim os choques com os planos da forma, não obstante, para
todos os propósitos práticos, embora essas formas mentais não ocupem
espaço, elas podem prenderse a posições definidas no espaço. Elas podem, por
exemplo, associar-se a um objeto particular e, permanecendo em seu campo
magnético, seguir-lhe as deslocações. O campo magnético imediato tem
cerca de quatro a dez metros; o campo magnético remoto, cem a trezentos
metros. Locais santos poderosos, como Glastonbury ou Lourdes, têm um
campo magnético bem maior do que isso, estendendo-se possivelmente a um
par de milhas; esses centros interligamse também entre si por linhas de força.
Essas coisas devem ser consideradas no trabalho oculto prático .
Quando nos
defrontamos com uma influência que emana de um foco de força, como o
sítio de um velho templo, temos que enfrentar o campo magnético remoto
por meio do rito. Como isso é um método que só pode ser utilizado por um
iniciado de grau superior, não o consideraremos aqui Para os fins práticos,
num ataque psíquico é o campo magnético imediato que deve ser considerado
.
O melhor
método para enfrentá-lo é fazer um círculo mágico. Um simples esconjuro
não é tão eficaz quanto um esconjuro realizado dentro de um círculo, pois
este impedirá efetivamente as forças banidas de retornarem. Há várias
maneiras de realizar essa operação, mas o princípio de todos os métodos
válidos é o mesmo. As conjurações mais potentes não podem ser dadas nestas
páginas, porque a sua utilização efetiva depende do grau de iniciação da
pessoa que se propõe a utilizá-las, e possuir uma fórmula sem o grau ao
qual ela pertence é tão inadequado quanto possuir um revólver sem
qualquer conhecimento de seu manejo. A fórmula dada a seguir será efetiva
em todas as condições ordinárias. As condições extraordinárias só podem
ser conjuradas por uma pessoa experiente .
Ao fazer o
círculo mágico, o operador permanece de pé, com a face voltada para o
leste. Ele encara o leste porque a corrente magnética sobre a qual pretende
operar corre no sentido leste-oeste. Como primeiro procedimento, ele deve
fixar as próprias vibrações e purificar a sua aura. Para isso, ele desenha a
Cruz Cabalística sobre o peito e sobre a testa. Tocando a fronte, ele
diz: “Para ti, ô Deus (tocando o plexo solar) seja o Reino, (Tocando o
ombro direito) e o Poder (tocando o ombro esquerdo) e a Glória, (juntando
as mãos) para os séculos dos séculos. Amém” .
Por meio
dessa fórmula, o operador afirma o poder de Deus como único criador e lei
suprema do universo diante de quem todas as coisas devem curvar-se, e ele
instala magneticamente essa fórmula em sua aura pelo ato de fazer o Sinal
da Cruz sobre si. Este sinal não é um símbolo exclusivamente cristão, e pode
ser utilizado tanto pelo judeu quanto pelo católico, pois a cruz
empregada é a Cruz de quatro braços iguais e não a Cruz do Calvário, cuja
haste tem o dobro do comprimento da trave e que é o símbolo do
sacrifício. A Cruz de quatro braços uniformes refere-se aos quatro pontos
cardeais do globo e aos quatro elementos, e a fórmula que lhe está
associada proclama o domínio de Deus sobre eles, estabelecendo dessa
forma o Seu reino na esfera do operador .
A seguir,
o operador imagina estar segurando em sua mão direita uma grande espada
em forma de cruz, tal como é representada nas imagens dos cruzados. Ele a
levanta com a ponta para cima e diz: “Em Nome de Deus, detenho a Espada
do Poder que defende contra o mal e a agressão”, e imagina ter o dobro de
sua altura, uma poderosa figura armada e vestida com cota de malha,
vibrando com a força do Poder de Deus com a qual foi investida pela
formulação da Espada do Poder .
Ele traça
em seguida, no chão, com a ponta da Espada do Poder, o Círculo Mágico, e
deve ver em sua imaginação uma linha de chamas seguindo a ponta da
Espada, iguais àquelas que o álcool metilado produz quando é aceso, mas de
cor ouro-pálido. Com um pouco de prática, esse círculo de luz será
formulado eficazmente. Continue a traçar o círculo até que ele seja
completado. O círculo deverá ser sempre traçado de leste para sul, de sul
para oeste, de oeste para norte, da mesma maneira que os ponteiros de um
relógio se moveriam se o relógio estivesse com a face para cima no chão.
A direção contrária é como as bruxas dançavam nos Sabás. O movimento
horário afirma o governo da lei de Deus sobre a Natureza, porque é o
Caminho do Sol; o movimento anti-horário nega-lhe o governo sobre a
Natureza, movendo-se contra o sol. Ao resistir a um ataque oculto, toda a
fórmula deveria ser sintonizada pela nota tônica da afirmação do domínio
de Deus sobre toda a existência, sendo o objetivo do operador alinhar-se
com a Lei Cósmica e fazer com que o Poder de Deus destrua a interferência.Tendo
formulado o círculo, o operador cessa de visualizar a espada, mas, ainda
visualizando o círculo, junta as mãos em oração e, erguendo-as sobre a
cabeça para o leste, ora: “Que o poderoso arcanjo Rafael me proteja de
todo mal que se aproxima do leste”. Voltando-se para o sul, ele repete a
mesma fórmula numa prece a Miguel. Voltando-se para o oeste, invoca
Gabriel. Voltando-se para o norte, invoca Uriel. Encarando o leste
novamente, e assim completando o círculo, ele repete a fórmula da Cruz cabalística
.
Esta
formulação do círculo mágico é especialmente valiosa para proteger o local
onde se dorme, traçando-se o círculo em redor da cama. Não precisamos nos
mover de um lado para outro do quarto, ou mudar a disposição- da mobilia
para traçar o círculo, pois este será formulado onde quer que o
visualizemos .
É
necessário reafirmar este círculo todas as vezes que as correntes mudam, ou
seja, um círculo feito depois do poente se manterá até o nascer do sol, e
um círculo feito após o nascer do sol manterá a sua potência até o ocaso.
Depois de o círculo ter sido afirmado várias vezes no mesmo lugar, a sua
influência persistirá por um período considerável, mas é aconselhável
reformulá-lo de manhã e à tarde durante a fase ativa do ataque .
Queimar
incenso no círculo é uma medida útil, mas é preciso tomar cuidados ao
escolhê-lo. Incensos chineses de composição desconhecida jamais deveriam
ser utilizados, pois eles são geralmente compostos visando a prestar
auxílio à manifestação. Incenso eclesiástico de boa qualidade, tal
como o que pode ser adquirido em muitos fornecedores de igreja, é seguro
e satisfatório, pois é composto de acordo com receitas tradicionais;
qualidades inferiores podem não preencher essas condições .
Para
enfrentar entidades elementais ou não-humanas, o Pentagrama, ou Pentalfa,
é a melhor arma. Trata-se de uma estrela de cinco pontas desenhada de
modo particular. Apontando o primeiro e o segundo dedo da mão direita e
dobrando os outros na palma e tocando suas pontas com o polegar, comece a
traçar o Pentagrama no ar, mantendo o cotovelo rijo e suspendendo os
braços em toda a extensão. Comece com o braço direito ao lado do corpo, a
mão ao nível do quadril esquerdo, os dedos estendidos, apontando para
baixo e para fora. Dirija a mão para o alto, como se desenhasse uma linha
reta no ar, até que os dedos apontem para cima, sobre a cabeça, na
extensão do braço. Deslize-a para baixo novamente, mantendo o cotovelo
preso, até que a mão ocupe a posição oposta no lado direito, àquela com
que começou à esquerda. Você traçou um gigantesco V de cabeça para baixo.
Em seguida, levante diagonalmente o braço ao lado do corpo, até que ele
atinja o mesmo nível do ombro esquerdo, apontando para a esquerda.
Conduza-o através do corpo horizontalmente, até que ele esteja na mesma
posição na direita, com os dedos apontando para fora do corpo. Desça o braço
pelo corpo até que a mão volte ao ponto no quadril esquerdo de onde
começou. Esse é um sinal extraordinariamente potente. O valor da Estrela
de Cinco Pontas, o símbolo da Humanidade, é amplamente conhecido entre os
ocultistas, mas seu poder depende da maneira pela qual é traçado. O
método que ensinei é o método correto para o esconjuro. A potência
do sinal pode ser ilustrada por uma experiência pela qual eu mesma
passei, mas os céticos estão livres para duvidar de sua veracidade; eu a
menciono apenas em beneficio daqueles que podem estar interessados .
Eu
participava certa vez de um trabalho com um ocultista indiano, quando
suspeitei que algo não estava certo, fiz meu protesto e fui convidada a
me retirar. Eu o fiz, determinada a observar os acontecimentos à
distância, e, caso as minhas suspeitas se confirmassem, a ter um exposé.
Poucos dias depois, estava eu sentada em meu quarto numa tarde,
conversando com uma amiga; escurecera há pouco e falávamos à luz de gás.
Repentinamente, tomamos ambas consciência ao mesmo tempo de uma presença
no quarto e nos voltamos espontaneamente para a mesma direção. Minha
amiga sentiu uma presença adversa, e eu, sendo mais sensível, vi quem
era, e não tive nenhuma dificuldade para perceber a forma de meu confrade
indiano numa esfera ovalada de difusa luz amarela. Pedi a minha amiga
para deixar o quarto e esperar no corredor, e assim que a porta se fechou
atrás dela fiz uso do Pentagrama que descre vi, juntamente com certos
Nomes de Poder que não é conveniente divulgar nestas páginas.
Imediatamente, a aparição no canto próximo à porta se desfez e
desapareceu, e ao mesmo tempo houve um forte estalo, que minha amiga
ouviu no corredor. Chamei-a de volta e quando entrou ela exclamou: “Veja
o que aconteceu à porta!”, e descobrimos que uma de suas almofadas se
havia partido inteiramente em dois. Foi isso que causou evidentemente o
forte estalo que ambas ouvimos. Não ofereço nenhuma explicação para esse
incidente pela boa e suficiente razão de que não sei qual possa ser. Eu
simplesmente relatei o que aconteceu. Meus leitores podem explicá-lo como
bem entenderem .
Quando não
é possível selar o quarto, a melhor coisa a fazer é selar a aura. Fique
de pé e faça o sinal da cruz, tocando a testa, o peito, o ombro direito e o
ombro esquerdo, dizendo “Pelo poder do Cristo de Deus em mim, a quem
sirvo com todo o meu coração e com toda a minha alma e com toda a minha
força” (estenda ambas as mãos para a frente até alcançar o nível do
plexo solar, juntando a ponta dos dedos, e dirija-as para trás das
costas, tocando novamente as pontas dos dedos atrás de si), e diga “Eu me
cerco com o Círculo Divino de Sua proteção, em torno do qual nenhum
pecado mortal ousa colocar seu pé”. Essa é uma antiga fórmula monacal. É
muito eficaz, mas seu poder dura apenas cerca de quatro horas.Há vários
outros estratagemas que são úteis, não apenas para enfrentar os ataques
psíquicos, mas em qualquer caso de influência ou domínio indevidos .
Se você
tem que entrevistar-se com pessoas cuja influência você acha
irresistível, imagine que elas estão separadas de você por uma folha de
vidro laminado. Você pode vê-las e ouvi-las, mas o magnetismo delas não
pode alcançá-lo. Visualize essa folha de vidro até que ela lhe pareça ser
absolutamente tangível. Se você tem que associar-se a pessoas que o
afligem, e que não estão em sua presença, imagine que elas se acham separadas
de você por um muro de tijolos, e diga a si mesmo “Você não está aqui. Eu
não posso vê-lo ou ouvi-lo, e você simplesmente não existe” .
Quando
estiver negociando com uma pessoa que mina a sua vitalidade, cruze os
dedos, e deponha as mãos entrelaçadas sobre o plexo solar, mantendo os
cotovelos pressionados contra os flancos. Conserve os pés juntos. Assim
você pôs em contato todos os seus terminais e fez de seu corpo um
circuito fechado. Nenhum magnetismo escapará de você enquanto mantiver
essa atitude. Seu amigo provavelmente se queixará de seus modos, mas você
pode sempre falar com gentileza .
Se alguém
tenta dominá-lo fixando-o propositadamente nos olhos, não tente retribuir
olhar com olhar, pois isso apenas conduz a uma exaustiva batalha na qual
você pode levar a pior, mas olhe fixamente o ponto imediatamente acima do
nariz de seu adversário, entre as pontas internas das sobrancelhas. Se você
estiver enfrentando apenas um valentão ordinário, você imediatamente terá
o domínio da situação. Se, no entanto, o seu antagonista tem
conhecimentos do poder mental, você pode não ser capaz de dominá-lo, mas
ele certamente não será capaz de dominar você, e o resultado será um
empate. Não tente dominá-lo, mantenha simplesmente os seus olhos no ponto
e espere que ele se canse de sua tentativa. Você não precisará esperar
muito tempo .
Utilizando
os métodos descritos nas páginas anteriores, qualquer pessoa de coragem e
mentalidade normal, desde que evite drogas, álcool e longos períodos de
jejum, pode, se não perder o sangue-frio, vencer qualquer ataque psíquico
ordinário; ou, no caso dos ataques de potência anormal, pode pelo menos
ganhar tempo para conseguir escapar e buscar ajuda .
Os
sacramentos são também uma fonte muito potente de poder espiritual, e uma
igreja em que o Santo Sacramento é conservado, ou que é suficientemente
antigo para ter sido consagrado antes da Reforma, é um santuário eficaz.
METODOS
AVANÇADOS DE DEFESA
Não é
incomum que a perturbação psíquica ocorra devido à formação de um vínculo
indesejável. Para compreender a natureza desse problema, devemos
considerar o tema dos vínculos .
Já
analisamos com algum detalhe a questão da sugestão telepática. Poderíamos
considerar o vínculo como o aspecto passivo daquilo de que a sugestão
telepática é o aspecto ativo. Ele forma, de fato, a condição básica
necessária para que a sugestão telepática ocorra. Duas pessoas que estão
relacionadas poderiam ser descritas como irmãs gêmeas astrais. Embora os
corpos físicos sejam unidades independentes, os corpos astrais estão
ligados de tal maneira que a força astral circula livremente entre ambas,
assim como o sistema circulatório da mãe está ligado pelo cordão
umbilical à criança que vai nascer, com o mesmo sangue circulando
livremente entre ambas .
Esse fato
explica muitos fenômenos ocultos importantes. É a chave real para o
matrimônio, e explica muitos fatos no relacionamento entre pais e filhos.
Ele justifica também alguns aspectos importantes da relação entre
professor e aluno .
Mas um
vínculo pode estabelecer-se não apenas entre dois indivíduos, mas entre
um indivíduo e um grupo. Esse fato exerce um papel importante no trabalho
das fraternidades. É também possível estabelecer--se um vínculo entre um
ser humano e outros reinos da natureza; com entidades desencarnadas, com
seres super-humanos, e, de fato, com qualquer forma de vida com a qual um
indivíduo pode formar um entendimento simpático. Deve haver alguma razão
de simpatia como base para a formação de um vínculo, mas, uma vez
formado, ele pode ser desenvolvido até o extremo. É um fato curioso que
se um vínculo persiste por muito tempo, as pessoas assim unidas começam a
se tornar gradualmente semelhantes. Todos conhecemos o homem de aspecto
“cavalar”; e também o filho da terra sobre quem se disse expressivamente:
“O pai está no chiqueiro. Você o reconhecerá por seu chapéu” .
Quando
dois seres estão vinculados, o menos positivo dos dois tende a perder sua
própria individualidade, tornando-se um pálido reflexo do outro. É por essa
razão que o ocultista ocidental, que valoriza altamente a individualidade, não
tem discípulos pessoais da mesma maneira que o guris oriental, mas
prefere trabalhar pelo ritual com um grupo, porque esse método é mais
impessoal. Mas mesmo assim os membros individuais de um grupo sofrerão
certas mudanças, através das quais eles se afinam com o tom do grupo, de
modo que haverá um certo denominador comum que todos possuem. Quem não
pode reconhecer a marca do Cientista Cristão, do Teósofo, do Quacre? Todo
sistema que tem meditação grupal imprime rapidamente uma marca sobre seus
membros .
Nesse
fato, naturalmente, reside muito do valor da associação com um grupo
digno. E nele, igualmente, reside o prejuízo da associação com um grupo
indigno. Consideremos o que acontece quando uma pessoa de caráter comum
se associa com um grupo de tom moral degenerado. Ele se verá em tal
antagonismo com a mente do grupo que não terá opção a não ser retirar-se,
ou então se afinará rápida mas inconscientemente com o diapasão de seus
novos associados. Sem se aperceber do fato, seu senso moral se tornará
embotado e ele aceitará na verdade aquilo de que teria originalmente
fugido enojado .
Uma vez
estabelecido o vínculo, outras coisas além do tom geral dos sentimentos
podem ser partilhadas. Idéias reais podem ser transferidas de uma mente à
outra como na telepatia; e, da mesma maneira, a força vital pode ser
transmitida. É esse fato que explica certos tipos de cura espiritual.
Quando a vitalidade etérea está sendo transmitida, é necessário que as
pessoas envolvidas estejam no campo magnético imediato uma da outra; mas
quando a força astral está em questão, a proximidade não é necessária. A transmissão
independe do espaço .
Não
estamos considerando agora o uso legítimo dessa força para curar, ou para
ensinar e desenvolver os neófitos, de modo que não analisaremos em
detalhes o seu modus operandi. Já dissemos o bastante para mostrar de que
maneira ela opera. Passaremos agora à consideração dos métodos práticos
para quebrar esse vínculo se por qualquer razão se deseja desfazê-lo .
Para a
visão astral, o vínculo telepático surge como um raio de luz, ou como um
fio brilhante, ou alguma forma mental semelhante, pois é assim que ele é
comumente formulado pela pessoa que produz o vínculo magnético. Acontece
às vezes, no entanto, se o operador tem um elevado grau de iniciação, que
ao invés de ligar o raio diretamente à pessoa com quem deseja entrar em
contato, ele formula um animal astral para o qual transfere uma pequena
quantidade de sua própria consciência. Essa forma animal chama-se
Observador; ele não age por sua própria iniciativa, a não ser quando
atacado, e nesse caso ele se defende com a natureza das espécies a cuja
semelhança foi feito. Utiliza-se o Observador para obter-se um relato do
que está acontecendo sem a necessidade de concentrar a consciência sobre um
foco. Quando a substância psíquica do Observador é reabsorvida pelo
adepto, este fica a par do conteúdo da consciência da forma que criou. A
desvantagem desse método repousa na vulnerabilidade do Observador ao
ataque psíquico, e no fato de que seu projetor é afetado se ele for
injuriado ou desintegrado .
Ao lidar
com uma forma mental, tenha sempre em mente que ela é produto da
imaginação,, e que não tem em absoluto uma vida independente. O que a
imaginação fez a imaginação pode desfazer. Se o criador da forma mental
lhe deu vida retratando-a imaginariamente, você também pode tirar-lhe a
vida retratando-a claramente e imaginando que ela está se desfazendo em
mil pedaços, ou que está se consumindo em chamas, ou se dissolvendo na
água e sendo absorvida pela terra. O que vem à vida pela imaginação pode
sair dela pela imaginação .
Se o que
se tomou por uma forma mental resiste à destruição por esse método,
trata-se então, provavelmente, de um elemental artificial. Há dois tipos
de tais elementais, uma espécie que é animada pela invocação da essência
elemental numa forma mental, e a outra pela projeção sobre ela de algum
elemento da própria natureza do mágico. Se ela é animada pela essência
elemental, a utilização do Pentagrama servirá para expulsá-la; mas se é
da espécie que é animada pela própria força do mágico, deve-se utilizar
outro método, conhecido como absorção .
A absorção
é um método de grau muito elevado, e a sua utilização proveitosa depende
do estado de consciência de quem a emprega. Cada indivíduo deve decidir
por si próprio se num dado caso, num dado momento, está em condições de
tentá-la. A não ser que possa fixar completamente as suas próprias vibrações
e chegar a um estado de perfeita serenidade, livre de toda sensação de
esforço, ele não deve fazer a tentativa .
Não
obstante, descreveremos o método em proveito daqueles que desejem
tentá-lo .
Harmonizando-se
pela meditação em Cristo, o adepto, assim que estiver convencido de que
as suas próprias vibrações estão firmes, começa por invocar diante de sua
visão astral a imagem da forma que pretende destruir. Ele a vê claramente
em todos os seus detalhes e procura adivinhar-lhe a natureza, se é um
veículo para o mal ou para a luxúria, ou para a ação vampiresca: esses são
os três tipos mais comuns, e pode-se com muita certeza atribuí-la a uma
ou outra dessas classes. Tendo discernido o tipo da força com a qual tem
de lidar, o adepto começa então a meditar sobre o seu posto,
concentrando-se na pureza e na generosidade se a força for luxuriosa; na
compaixão e no amor, se for maligna; e em Deus como criador e mantenedor de
toda a vida, se for vampiresca .
Ele
continua essa meditação até sentir-se banhado com a qualidade em que está
meditando, até sentir-se tão imbuído de pureza e generosidade que a
luxúria não o faz sentir nada a não ser piedade, que a malignidade não o
faz sentir nada a não ser compaixão, e em face do vampirismo, que está
tão seguro de que sua vida está abrigada com Cristo em Deus que ele
deixaria de bom grado o vampiro terminar sua refeição em paz se pudesse
ajudá-lo dessa forma. Na realidade, o adepto que se propõe a realizar uma
absorção mágica deve atingir o ponto em que compreende claramente a
nulidade do mal que está disposto a absorver, e não mais tenha nenhum
sentimento para com ele a não ser piedade pela ignorância que pensa poder
obter algo bom para si dessa maneira. Ele deseja enaltecer, educar e
libertar a alma desencaminhada de seu cativeiro. Enquanto o adepto não
chegar ao ponto em que não tem nenhum outro sentimento além desse para com
o seu perseguidor, não lhe é seguro tentar uma absorção .
Estando
seguro de que está pronto para a tentativa, ele começa por atrair a forma
mental, puxando o cordão prateado que a liga ao seu plexo solar se for
uma forma mental vampiresca, ou abrindo a sua aura e envolvendo-a se ela
for de um dos outros dois tipos. Ele a suga, literalmente. Esse processo
deve ser feito lenta e gradualmente, durante alguns minutos. Se for feito
rapidamente, o adepto pode não conseguir manter firmes as suas próprias
vibrações, e então estará numa situação deveras desagradável .
Quando a
forma mental for absorvida, o adepto sentirá uma reação em sua própria
natureza que corresponde ao tipo da forma mental. Se esta é uma força
luxuriosa, ele sentirá o desejo despertar dentro de si; se é uma força
maligna, ele sentirá raiva; e se é um vampiro, ele sentirá desejo de
sangue. O adepto precisa dominar imediatamente esse sentimento e retornar
à sua meditação sobre a qualidade oposta, conservando-a até que as suas
vibrações sejam uma vez mais completamente harmonizadas. Ele saberá,
então, que a força maligna foi neutralizada e que há muito menos mal no
mundo. Ele sentirá um grande acesso de vigor e uma sensação de força
espiritual, como se pudesse dizer a uma montanha: “Jogue-se ao mar”, e
isso se realizasse. É essa sensação de exaltação e poder espiritual que o
informa que o trabalho foi realizado com sucesso. No entanto, é
aconselhável repetir a meditação em intervalos de dois ou três dias no
caso de outra forma mental ter sido formulada e enviada após a primeira .
Quanto ao
emissor da forma mental, quando a absorção tiver lugar, ele sentirá que
“a virtude o abandonou”, e poderá mesmo ser reduzido temporariamente a um
estado de semicolapso. Ele se recuperará em breve, mas com o seu poder para o
mal de seu tipo particular consideravelmente reduzido por algum tempo, e
se ele tem a possibilidade de reformar a sua natureza, pode ocorrer que ele
próprio fique permanentemente livre desse tipo de mal .
A
grande vantagem desse método é que ele destrói realmente o mal, por completo,
ao passo que a simples destruição de uma forma mental é como cortar a
ponta de uma erva daninha. Por outro lado, esse método só pode ser
realizado por um ocultista de alto grau afinado por sublime diapasão. Se
alguém se perturbou ou se esgotou ou perdeu de alguma maneira o
sangue-frio, não deve tentá-lo de novo .
Se
percebemos que o vínculo se estabeleceu na forma de uma linha de luz, um
cordão ou outra forma similar, presa ao plexo solar, à fronte, ou a
qualquer outra parte do corpo, a melhor maneira de cortá-lo é forjar uma
aura mágica. De fato, se percebemos um vínculo, a primeira coisa a fazer
é visualizar o cordão e tentar ver onde ele está preso; o plexo solar é o
local mais comum .
Formule em
seguida a espada em forma de cruz, como se descreveu anteriormente, e
invoque a bênção de Deus sobre ela. Visualize então uma tocha flamejante,
e invoque o poder do Espírito Santo, cujo símbolo é essa mesma tocha. Com
a espada, serre o cordão ou o raio até que todo ele tenha sido cortado.
Em seguida, queime a sua ponta com o fogo consagrado da tocha até que ele
murche e caia do ponto em que se liga ao seu corpo .
Após
efetuar esse corte, deve-se, naturalmente, tomar as precauções humanas
ordinárias para impedir que o vínculo seja reformado. Recuse encontrar-se
com a pessoa responsável por sua formulação, ou ler ou responder a suas
cartas. Corte de fato, por um período de alguns meses pelo menos, as
comunicações físicas, da mesma maneira completa e resoluta como se
cortaram as comunicações astrais .
Há
ocasiões, contudo, quando uma pessoa está tão completamente ofuscada e
dominada, que ela não pode realizar por si mesma essa operação. A
operação mágica da Substituição pode, então, ser executada se se pode
encontrar um amigo apto a empreender a tarefa .
Para
executar essa operação, os dois amigos concordam que ela será feita, mas
aquele que será o substituto não deve dizer à vítima original quando
pretende realizar a operação, pois ela pode estar tão completamente nas
mãos do dominador que correria o risco de revelar involuntariamente o
segredo .
Escolhendo
uma hora em que esteja certo de que o amigo está dormindo, o substituto
se concentra nele e imagina estar ao seu lado, e visualiza o fio ou cordão do
vínculo que se estende do amigo ao espaço. Se puder visualizar o outro
ponto de ligação no dominador, tanto melhor .
Ele então
formula a espada e a tocha acima descritas e, empunhando as duas, imagina
colocar-se no meio do cordão do vínculo, de modo a parti-lo com o corpo.
Ele não deve utilizar a espada ou a tocha nesse processo, mas quebrá-lo
com a sua própria carne, por assim dizer. Tendo assim cortado o cordão de
seu amigo, ele deve então atingi-lo com a espada e a tocha com toda
a sua força, quando o cordão tentar envolvê-lo, pois certamente o
fará, uma vez que se assemelha exatamente aos tentáculos de um polvo. O
substituto deve atingi-lo violentamente, apresentando em zelo o que lhe
falta em conhecimento, até que ele tenha tido o bastante, e comece a se
enrolar e a retirar-se. O combate, naturalmente, ocorre na imaginação,
mas se uma imagem clara e vivida for produzida ele será eficaz .
Para
ilustrar esse método, posso mencionar um caso que manipulei certa vez por
esse meio. Perguntaram-me se podia ajudar uma mulher que era uma inválida
vitalícia, mas cujo caso os vários médicos que ela havia consultado não
eram capazes de diagnosticar satisfatoriamente, nem de trazer-lhe ajuda.
Todos concordavam em que nada havia de orgânico com ela, e depois de tentar
em vão curá-la, diziam geralmente em uníssono que era um caso de histeria
pura. Ela sofria de um crônico estado de exaustão, de indigestão, de
ataques de vômito, de dores de cabeça enceguecedoras e de palpitações
cardíacas. Ela não tinha, contudo,’ nenhuma disposição neurótica,
sendo, ao contrário, uma mulher tranqüila, sensível e intelectual, que
suportava seus sofrimentos com coragem .
Fiz um
diagnóstico psíquico e cheguei à seguinte conclusão. Durante muitas vidas
passadas, ela trilhou o Caminho e, em sua última vida, uma encarnação
masculina, a fim de apressar o seu progresso, ela viajou para o Oriente,
e recebeu a iniciação numa das Ordens Tibetanas, que infelizmente revelou
ser do Caminho da Mão Esquerda. Aí ela aprendeu o Hatha Yoga, que dá
controle sobre as funções do corpo .
Em sua
vida atual, ela reteve os poderes que o seu treinamento lhe havia dado,
mas não a lembrança da técnica. Consequentemente, os seus estados
emocionais afetavam os sistemas automáticos do controle nervoso, cujas
funções não estão normalmente sob a direção da mente. Portanto, todas as
vezes que ela era emocionalmente perturbada, sua atividade mental
subconsciente transbordava para a mente automática e desregulava alguns
dos sistemas funcionais do corpo. Acredito que esta explicação dá uma
chave para muitos casos de distúrbio funcional. Muitas pessoas no curso
das práticas meditativas ocultas obtêm controle da mente automática que
controla o funcionamento dos órgãos físicos. Pode-se lembrar que o famoso
cientista, Sir Francis Galton, o fundador da ciência da eugenia, fazia
experiências com o controle mental da respiração, e que, ao consegui-lo,
descobriu que a função automática havia caído num estado de latência, e
ele teve que despender três ansiosos dias respirando pelo poder da
vontade e por atenção voluntária até que a função automática fosse
restabelecida .
Nesse caso
particular, contudo, havia mais do que um distúrbio de função; havia uma
exaustão crônica peculiar e muito marcante. Concluí que ainda existia um
vínculo entre ela e a Ordem tibetana da qual ela havia sido uma iniciada
em sua vida anterior. Como sabem os ocultistas, o indivíduo retorna vida
após vida à Ordem da qual é um iniciado, pois o vínculo é muito forte.
Essa é uma das razões por que as grandes Escolas de Mistério não precisam
fazer-se conhecidas pela publicidade; elas conhecem os seus, e os
arrebanham no plano astral .
Mas se é
uma coisa valiosíssima estar sob a proteção de uma Ordem respeitável, é
extremamente desagradável persistir num relacionamento similar com uma
Ordem infame. Nesse caso particular, eu era da opinião de que a Ordem à
qual essa senhora havia pertencido numa vida anterior mergulhara em
profunda decadência e de que os seus dirigentes estavam deliberadamente
drenando a vitalidade dos membros que pertenciam a ela .
Trabalhando
com base nessa hipótese, projetei-me astralmente da maneira que já
descrevi, e visitei essa senhora à noite. Percebi que, enquanto dormia, de seu
plexo solar emanava uma substância negra, elástica e viscosa, que se
assemelhava muitíssimo a um bastão de alcaçuz espanhol que foi mascado
por uma criança. Essa substância se perdia no espaço. Ao tentar descobrir
a sua outra extremidade, tive uma breve e longínqua visão de um monastério
com um telhado chinês empoleirado num penhasco entre grandes montanhas .
Enfrentei
a situação pelo simples expediente de passar meu corpo astral pela linha
de substância negra, quebrando-a. Ela se transferiu imediatamente para o
meu plexo solar, e por um instante senti uma onda de pensamentos
tentadores instigando-me a deixar essa mulher sob o meu domínio e a
explorá-la em toda a sua capacidade financeira. Expulsei essa idéia e
“ataquei” a corda de alcaçuz astral da maneira que descrevi, cortando-a e
queimando-lhe a ponta, e tive a satisfação de vê-la enroscar-se e
desaparecer nas trevas. Caí, então, no que considerei um sono bem
merecido .
Nada falei
a essa senhora de minhas idéias, porque desejava descobrir se podia
esclarecer o caso trabalhando sem ajuda na hipótese oculta e sem
deixar-me induzir por qualquer sugestão. Na manhã seguinte, eu a visitei
para saber como estava passando, e a encontrei sentada na cama comendo um
farto desjejum e com o semblante de uma mulher completamente diferente da criatura
pálida e exausta que havia visto no dia anterior .
Sem
esperar por qualquer pergunta de minha parte, ela disse: “Não sei o que
houve, mas sinto-me como se algo tivesse sido quebrado e estou livre” .
Depois do
desjejum ela se levantou, saiu para um passeio e encontrou o médico que a
estava atendendo, na rua. Tão grande era a mudança de sua aparência que
este não conseguiu reconhecê-la até que ela lhe dirigisse a palavra .
Eu lhe
disse que em minha opinião ela não deveria dedicar-se aos estudos ocultos
para não refazer o vínculo magnético com a antiga Ordem, e também lhe
ensinei como impedir que a sua mente subconsciente enviasse sugestões
destruidoras aos seus sistemas orgânicos de controle funcional. Por
alguns anos, ela se manteve com boa saúde, mas depois, infelizmente,
retomou o estudo do ocultismo e recaiu num estado semelhante ao anterior,
tendo provavelmente refeito os contatos com a Fraternidade tibetana que
tantos transtornos lhe causara .
Anjos,
heróis e outros agentes de defesa
Há tantas
histórias a respeito do aparecimento de anjos da guarda-nos momentos de
crise, que mesmo os mais céticos devem admitir que esse é um caso a ser
considerado .
Existe uma
tradição em Devon, de acordo com a qual, se o Tambor de Drake, conservado
na Abadia de Buckland, nas proximidades de Tavistock, é batido num tempo de
crise, o próprio Drake retornará para conduzir a armada britânica.
Newbolt imortalizou essa lenda em seu famoso poema: ‘Toma meu tambor em Devon e
leva-o para o litoral. Toca-o quando tua força escasseia .
Se os Dons
mirarem Devon, deixarei o porto do Céu, E como outrora reunirei a toque
de tambor o Canal da Mancha.” A idéia do herói que retorna para conduzir o seu
povo, ou a do anjo da guarda que aparece nas horas de crise, está
profundamente entranhada no coração de todas as nações, e nada a
extirpará. Inúmeros exemplos foram relatados pelos homens que retomavam
das trincheiras durante a guerra .
Voltemos
uma vez mais à antiga sabedoria da Cabala, esse depósito de conhecimentos
ocultos. Aprendemos aqui sobre o Anjo Bom e o Anjo Mau da alma do homem,
que ficam atrás de seu ombro direito e esquerdo, um tentandoo e o outro inspirando-o.
Traduzamos o Anjo Sombrio nos termos do pensamento moderno e teremos o
subconsciente freudiano .
Mas os
freudianos não compreendem que há também um Anjo Luminoso que permanece
atrás do ombro direito de todos os homens. Trata-se da superconsciência
ou, em outras palavras, do Eu Superior, o Santo Anjo da Guarda que
Abramelin buscava com tanto ardor e esforço .
Todos
sabemos que quando baixamos nossa guarda uma negra tentação surge das
profundezas de nosso eu inferior, que algo atávico se agita e que temos
pensamentos, ou mesmo fazemos coisas de que nunca nos teríamos julgado
capazes. Ouvimos a voz do Anjo Sombrio falando .
Da mesma
maneira, nas horas de terrível tensão, quando estamos encostados na
parede e estamos lutando por mais do que nossas vidas físicas, outra Voz
se faz ouvir, a voz do Anjo Luminoso. Eu nunca soube que isso tenha
ocorrido quando um homem estava lutando simplesmente por sua vida física.
Para aqueles que vêem além do véu, a morte não é nenhum grande mal; mas
nas horas de crise espiritual, quando o verdadeiro eu está sendo
arrebatado, então é o grito da alma que é ouvido, e Algo se manifesta das
névoas do Invisível, manifesta-se numa forma que é compreensível a quem
chama. Se a pressão intensa provoca uma expansão temporária da
consciência, um psiquismo fugidio, ou se um Ser de sua própria vontade
atravessa o véu e se manifesta, eu não sei; nunca há detalhes disponíveis
desses incidentes. Eles ocorrem apenas nas horas de terrível tensão e vão
tão rapidamente quanto vieram, não deixando nenhum traço a não ser sobre
a alma.Eu afirmo que assim como o Ser Inferior pode elevar-se em momentos de
tentação, o Eu Superior pode descer nos momentos de crise espiritual. O
objetivo do místico é viver exclusivamente no Eu Superior. O objetivo do
ocultista é trazer esse Eu Superior para manifestar-se na consciência do
cérebro: “Em minha carne verei a Deus”. Assim como o Eu Inferior pode
levantar-se e induzir-nos a algum ato horrível, o Eu Superior pode vir em
nosso socorro, “terrível’ como um exército embandeirado” .
Já falei
da voz misteriosa que me instruiu sobre como livrar-me de grave perigo
psíquico. Em outras ocasiões de tensão e violento esforço experimentei
uma súbita expansão ou alteração do nível de consciência. O Eu Superior
desceu e assumiu o controle. Quando estamos no meio do tumulto, somos
subitamente elevados para cima deste e vemos todas as circunstâncias da
vida desenrolaremse num relance, como se víssemos uma região de um local elevado,
e sabemos intuitivamente o resultado do assunto. Todo tumulto emocional
cessa, e somos como um navio à capa, suportando seguramente a tempestade.
Quando isso me ocorre, as lembranças de minhas encarnações passadas são
sempre muito vividas. É esse ‘despertar simultâneo do passado que me faz
sentir que a voz é a do meu Eu Superior, e não de outra entidade .
Creio que
nas horas de crise espiritual o homem que tem fé na lei de Deus pode
levantar-se e invocar a sua proteção e um aparente milagre será realizado
em seu benefício. Entretanto, pode não haver nenhuma infração da lei
natural; portanto, esse milagre deve simplesmente ser um exemplo da
operação de uma lei com a qual ainda não estamos familiarizados, como um
eclipse se afigura ao selvagem como um milagre, mas ao astrônomo como um
fenômeno natural que pode ser previsto com exatidão .
O que
induz essa mudança de controle em nossas vidas? Estamos famiiarizados com
o fato de que o motor de um carro tem três marchas à frente e uma à ré.
Não é possível que as nossas mentes também tenham marchas, e que é uma
mudança de marcha que induz o psiquismo? Não há ocasiões em que
marchamos à ré e o macaco e o tigre em nós assumem o comando? Atrás do
plano físico está o plano astral, e atrás do plano astral está o plano
mental, e atrás do plano mental está o plano espiritual, e cada plano age
como um plano causal para o plano inferior, e cada um por sua vez é
controlado do plano mais sutil. Quando “mudamos de marcha”, a consciência
é deslocada de um plano mais denso para um mais sutil e começamos a pôr
em movimento causas muito remotas de que os acontecimentos no plano
físico são resultados finais; manipulamos essas causas e os resultados se
produzem imediatamente.Quando mudamos de marcha do físico para o astral,
achamo-nos no plano da consciência psíquica e da magia menor. Supondo-se
que um combate psíquico ocorra entre dois ocultistas, se um deles é de um
grau que lhe permite mudar a marcha, de modo que a consciência se eleva
do plano astral para o mental, ele estará na esfera da magia maior e terá
pleno controle da situação. O outro nada pode fazer contra ele. Mas o que
acontece no caso da rara e mística alma que pode mudar outra vez a
consciência e engatar a marcha de um poder puramente espiritual? Ele desbanca
o adepto. Há muitas almas que têm essa mística consciência espiritual,
embora não tenham nenhum conhecimento oculto. Entre os modos de
pensamento superiores e inferiores, há um grande abismo que elas saltam
temerariamente. Se numa hora de crise elas são capazes de elevar-se na fé
e penetrar essa consciência mística e ficar em silêncio, elas terão o ar
superior de qualquer ocultista que não conta com nada a não ser a técnica
do ocultismo .
A questão
da consciência mística está, contudo, fora do objetivo de nossa presente
investigação, que diz respeito aos métodos psíquicos e à técnica
tradicional do ocultismo. Temperamentos diferentes empregarão métodos
diferentes, e o método místico não interessa a todos .
O
ocultista não ignora a força de Cristo; ele sabe que ela se enquadra na
hierarquia das forças supremas do universo, embora possa não estar
preparado para conferir-lhe a posição exclusiva que essa força ocupa no
coração do místico cristão. Na Tradição ocidental ela é simbolizada por
Tiphareth, a Sephira central dos Dez Sephiroth Sagrados da Árvore da Vida
Cabalística .
A força de
Cristo é o fator equilibrante, compensador, curativo, redentor e
purificador do universo. Ela deveria ser invocada em toda operação de
autodefesa psíquica, na qual qualquer elemento humano, encarnado ou
desencarnado, está envolvido. Quando se tem que enfrentar elementos
nãohumanos, tais como elementais, formas da mente ou o Qlippoth, é o poder de
Deus Pai, como Criador do universo, que é invocado, afirmando-se a Sua
supremacia sobre todos os remos da natureza, visível e invisível. Deus
Espírito Santo é a força que é empregada nas iniciações, e não deve ser
invocada durante as horas de dificuldade psíquica, pois sua influência
tenderá a intensificar o estado e tornar o Véu ainda mais fino .
Há um
aspecto muito curioso do mundo oculto a respeito do qual se deve dizer
algo nas presentes páginas, embora não muito possa ser revelado e, para
ser franca, eu própria não saiba o bastante sobre ele, mas apenas os
aspectos com que, deparei realmente. Eu já ouvi chamarem-no de Polícia
Oculta; outros podem conhecê-lo por nomes diferentes, mas acredito que se
trata de uma coisa real e concreta, embora a sua organização não esteja
no plano físico, nem, até onde eu saiba, estejam as suas atividades
mundanas concentradas num único par de mãos. Eu cruzei o seu caminho em várias
ocasiões, e cumpri meu papel em suas atividades, e conversei com outras pessoas
que também estiveram envolvidas com ela, e todos disseram o que eu disse,
que é a voz interior e as circunstâncias que dirigem as nossas atividades
quando cooperamos com essa misteriosa organização .
Penso que
ela está organizada em unidades nacionais, pois as pessoas parecem entrar
e sair das jurisdições, ou passar de uma para outra. Pelo que sei, ela não
tem nenhuma tendência política particular, estando envolvida
exclusivamente com os métodos ocultos aplicados para fins criminosos e ofensivos
à sociedade .
Um ou dois
casos ilustrativos podem nos ajudar a esclarecer o assunto. Um ocultista
indiano que estava visitando a Inglaterra, a fim de fundar uma escola,
experimentou alguns problemas. Ele estava profundamente envolvido na
política de seu próprio país e não havia dúvida de que antipatizava
radicalmente com os ingleses. Penso que fui a única anglo-saxônica de
sangue puro a entrar em contato com ele. Até onde sei, ele não se
interessava pelas atividades políticas mundanas, mas era sua idéia organizar
um grupo de meditação que deveria despejar a força espiritual
regenerativa do Oriente sobre a alma grupal do Império Britânico, que,
segundo afirmou, estava em péssimo estado. Eu afirmei, contudo, que a
alma grupal não estava morrendo, como ele afirmava, mas exausta, pois
havíamos saído há pouco da Guerra. Além disso, eu não podia ver como
alguém que antipatizava tanto com ela poderia ser capaz de regenerá-la.
Eu não estava certa também de que a regeneração seria de nosso agrado,
caso a recebêssemos. Esse homem, que chamarei de X., tinha um intenso
orgulho espiritual, e sua idéia básica era que a Inglaterra devia
reconhçcer a supremacia espiritual da índia e receber sua inspiração
espiritual do Oriente. Eu era jovem e inexperiente, mas comecei a me
perguntar que espécie de força espiritual estava para ser despejada
através do canal que estávamos construindo. Supondo-se que durante a
Guerra um grupo de ocultistas ingleses tivesse tentado realizar um
serviço semelhante para a Alemanha, que linha teria sido adotada? Não teriam
eles tentado influenciar a mente grupal alemã a abandonar seus ideais
militaristas e a concentrar-se na Liga das Nações? Não era exatamente o
mesmo que tentava fazer o nosso amigo indiano ao tentar dissuadir-nos de
nossas tendências imperialistas? Não lhe teria parecido, sofrendo como
sofria sob o preconceito racial do homem branco, que o mundo seria um
lugar bem melhor para a humanidade se o inglês cuidasse de seu próprio
jardim e deixasse os outros povos em paz? Fiquei mais e mais inquieta e
X., sendo um bom sensitivo, detectou minha inquietação, e fui convidada a
me retirar do grupo que ele estava organizando .
Eu sentia
que algo sinistro estava sendo tentado contra a mente grupal de minha
raça, mas não tinha meios de avaliar a sua extensão ou potência. Essa não
era uma história que se pudesse contar à Scotland Yard; além disso, muitos de
meus amigos pessoais acreditavam na bona fides de X. e estavam tomando
parte no grupo que ele organizava, e eu estava aflita para não
envolvê-los em qualquer aborrecimento. Em minha perplexidade, resolvi
nada fazer no plano físico e invocar os Mestres dos Planos Internos .
Nessa
época, eu não era de um grau que tem acesso direto aos Mestres, mas
resolvi tentar entrar em contato telepático com eles, embora não soubesse
se aqueles com quem procurava comunicar-me telepaticamente fossem
entidades humanas ou não, encarnadas em corpos físicos ou desencarnadas,
pois àquele tempo eu não havia avançado muito em meus estudos ocultos .
A única
coisa em que podia basear-me era uma idéia abstrata e o reconhecimento de
que nas dificuldades anteriores eu tinha sido capaz de entrar em contato com
Algo nos Planos Internos que mostrara ser um amigo poderoso .
Na
telepatia, o método usual para estabelecer contato é visualizar a pessoa com
quem se deseja comunicar e chamá-la pelo nome. Eu nada tinha para
visualizar e não conhecia nenhum nome. Entretanto, resolvi fazer a
tentativa o melhor que podia e, falando metaforicamente, pus minha cabeça
para fora da janela deste tabernáculo carnal e chamei a polícia. E recebi
uma resposta. A Voz Interior respondeu-me clara e distintamente: “Procure
o Coronel.” Fiquei muito surpresa, pois o Coronel Y. era uma pessoa muito
ilustre a quem eu fora apresentada uma vez, e a última pessoa no mundo a
quem alguém convidaria para’ contar coisas do arco da velha. Eu não tinha
a menor intenção de passar ridículo enfrentando esse formidável guerreiro
em sua toca. Meus estudos psicológicos me haviam familiarizado com os
trabalhos da mente subconsciente e o que ela pode fazer quando
dissociada, e senti que a situação precisava ser tratada com extrema
cautela, pois os resultados de um passo em falso poderiam ser
desagradáveis .
Repliquei,
portanto, à Voz Interior: “Não acredito em você, a menos que me dê um
sinal” .
A réplica
não tardou: “O Coronel Y. estará em sua próxima conferência. Falelhe então” .
Repliquei:
“Eu sei que o Coronel Y. não irá à minha conferência, pois o seu
regimento está no exterior e ele não voltará antes que a conferência se
realize”.A resposta foi: “O Coronel Y. estará em sua próxima conferência” .
“Muito
bem”, disse eu, “esse será o meu sinal. Se o Coronel Y. estiver lá, eu lhe
falarei, e se não estiver, deixarei que o caso siga o seu curso” .
Quando
chegou o dia aprazado, fui dar a minha conferência numa certa cidade.
Cheguei ao salão na hora devida, e a primeira pessoa que vi foi o Coronel
Y. subindo as escadas! Resolvi, portanto, pegar o touro à unha e
imediatamente após a conferência fui diretamente a ele e lhe disse:
“Tenho uma mensagem para o senhor .
“Eu sei”,
respondeu ele, “pois me disseram para aguardá-la” .
Parece que
ele estava em seus aposentos uma tarde com seus dois cães. Eles
subitamente ficaram perturbados e começaram a investigar algo que não
estava lá. O Coronel Y. ouviu’ uma voz dizer-lhe distintamente ao ouvido
interior que eu pediria sua ajuda e que ele deveria dá-la. Ele ficou tão
impressionado com essa ocorrência que se dirigiu a uma amiga comum e lhe
perguntou se eu estava em alguma confusão. A seu pedido, ela me escreveu
para saber como eu estava passando, mas não mencionou nenhum nome, e eu,
não compreendendo o significado do incidente, dei-lhe uma resposta
evasiva .
Ele ouviu
a minha história e pediu-me para deixar o assunto em suas mãos, o que eu
fiz .
Essa é uma
história de coincidências bastante estranhas, mas a conclusão é ainda
mais estranha. Depois de deixar o Coronel Y., perguntei uma vez mais ao
Invisível se eu deveria fazer mais alguma coisa. A resposta que chegou
era a de que no momento eu não devia fazer nada, mas que eu seria
informada quando a ação posterior devesse ser empreendida. Soube, depois,
que X. havia deixado o país poucos dias após a minha entrevista com o
Coronel Y .
Nada
aconteceu durante cinco meses, e então uma tarde, estando eu sentada
diante da lareira na penumbra, ouvi distintamente a Voz Interior dizer-me
que agora era a hora de tomar providências em relação ao caso de X., e
que eu devia ir ao Sr. Z. e contar a minha história. Ora, o Sr. Z. era
uma pessoa muito ilustre, que eu sabia ser um ocultista elevado, mas a
quem eu nunca havia encontrado. Repliquei à voz interior que era
impossível aproximar-me do Sr. Z., que me mostrariam a porta e que a não
ser que abrissem o caminho para esse fim, eu não via como isso pudesse se
realizar. A resposta, muito nítida, foi de que o caminho estaria livre. E
foi verdade.Dois dias depois anunciaram uma visita, um velho amigo a quem
eu via ocasionalmente, e após as saudações usuais e a troca das
novidades, ele disse: “Eu gostaria muito que você encontrasse um amigo
meu que, acredito, teria muito interesse por seu trabalho. Posso
apresentá-la a ele? Seu nome é Sr. Z.”. Não é preciso dizer que concordei
.
Quando
cheguei ao encontro combinado, disse ao Sr. Z., após ter sido
apresentada: “Tenho uma mensagem para o senhor”, pensando que me
poderiam tomar tanto por uma demente quanto por uma basbaque. Ele me
ouviu atentamente, e quando mencionei o nome do indiano, meu amigo, que
estava presente, exclamou: “E curioso que você esteja tratando desse
assunto neste momento. X. regressou à Inglaterra há dois dias” .
Note-se
que assim que X. deixou a Inglaterra, eu fui instruída a nada fazer, e
que assim que ele retornou, após uma ausência de cinco meses, eu fui
instruída a agir novamente. A não ser que estejamos preparados para
arrancar o longo braço da coincidência de seu bolso, devemos concluir que
alguma inteligência diretiva estava em ação. Esse é apenas um exemplo
entre muitos de minha experiência. As limitações de espaço me proibem
mencionar muitos outros .
Além da
Policia Oculta, que funciona apenas nos Planos Internos, existem também
certos grupos de ocultistas que se reúnem no propósito de combater o Ocultismo
Negro. Suponho que eles se dêem diferentes nomes, mas não sei quais são;
já ouvi referirem-se genericamente a eles como Pavilhões de Caça. Em
várias ocasiões, travei escaramuças em seus flancos e presenciei algumas
animadas pilhagens. Imagino que eles estão organizados em associação com
a Polícia Oculta, pois possuem meios de obter informação que sugerem uma
cooperação oriunda dos Planos Internos. Eles parecem possuir alianças em
quadrantes inesperados e ser capazes de puxar um considerável número de
fios. Não sei que armas psíquicas utilizam, mas no plano físico parecem
contar grandemente com os relatos dos jornais, vigiando os indesejáveis
em trânsito e nunca os deixando estabelecer-se e organizar-se. Sabendo o
que sei de seus métodos, de tempos em tempos reconheço a sua marca em
várias transações pelas quais os cidadãos decentes têm toda a razão de
serem gratos .
Eu os
encontrei certa vez numa circunstância que serve para ilustrar a maneira
pela qual os ocultistas podem “pedir” as informações de que necessitam, e
a trilha fortuita de circunstâncias as fornece .
Quando eu
era jovem, no início do meu interesse pelo ocultismo, entrei em contato
com um adepto que logo compreendi estar no Caminho da Mão Esquerda, e com
quem logo cortei o meu contato. Pouco depois de ter rompido com ele, eu
estava assistindo a uma gincana com alguns amigos, entre eles um estudante de
ocultismo, e começamos a discutir assuntos de interesse mútuo. Impelida
por não sei que impulso para confiar a ele o que jamais havia falado a
ninguém, contei-lhe as minhas experiências com o adepto a que me referi.
Para minha surpresa, ele sabia tudo sobre essa pessoa. Parece que meu
novo amigo estava ligado a um grupo de ocultistas que tinha por tarefa
caçar as Lojas Negras; eles já haviam cruzado o caminho de meu adepto
negro e o haviam obrigado a cessar totalmente as atividades, e ele havia
jurado não reorganizar a sua Ordem. Eles haviam tido razões recentemente
para acreditar que esse juramento não estava sendo mantido e que ele tinha
novamente organizado uma Loja e estava operando seus rituais, mas não
sabiam onde lhe pôr as mãos. E aí fui eu, um pedaço dos destroços
lançados num campo esportivo, a dar-lhe a informação de que precisavam no
exato momento em que dela precisavam. Essas coisas acontecem regularmente
demais no ocultismo para que alguém possa considerá-las como fortuitas .
Acredito
que é possível, para quem quer que dela tenha necessidade, entrar em
contato telepático com essa força policial oculta. O símbolo que me
ensinaram a usar era uma Cruz do Calvário negra sobre um círculo
escarlate. Devemos formulá-la na imaginação, e enquanto a miramos
mentalmente o pedido é enviado para o Invisível, emanando do centro da
testa .
Várias
tentativas foram feitas para provar que as fraternidades ocultas são
dirigidas de algumas sedes, pretensamente situadas na Alemanha, no
Tibete, na Mongólia e na América do Sul. Pessoalmente, não acredito
nisso. Suponho que tenho um conhecimento bastante variado dos trabalhos
interiores do movimento oculto, e nunca vi qualquer coisa que indicasse
um controle centralizado, seja para o bem, seja para o mal. Na verdade,
tudo aponta para o contrário, e indica que não há um vínculo unificador,
a não ser o de uma literatura comum, um idealismo comum e um conjunto de
símbolos que, se não são comuns a todas as seções, são facilmente
traduzíveis por meio de equivalentes bem compreendidos. A situação no mundo
oculto é análoga à da Cristandade Protestante, não à da Cristandade
Romana. O ocultista não tem um Papa .
Penso
também que o bolchevismo jamais instalou qualquer cabeça de ponte nas
Lojas, embora eu acredite que tenha tentado, como o testemunha a
solicitação à minha própria fraternidade. O ocultista comum não se interessa
por política, seu interesse é pelas coisas invisíveis. Além disso, as
fraternidades ocultas estão desorganizadas e dispersas demais para
constituírem formidáveis armas políticas, mesmo se fossem imbuídas de
bolchevismo .
Diz-se
também que as fraternidades ocultas são controladas pelos judeus no
interesse do sionismo. Isso é totalmente falso. Há pouquíssimos judeus no
movimento oculto. É verdade, no entanto, que a Cabala, o misticismo
tradicional da raça judia, é uma das fontes principais do ocultismo ocidental,
e que todo ocultista que trabalha sobre essa tradição deve pelo menos
conhecer um pouco de hebraico para poder transliterar a escrita hebraica.
O estudo da moderna Cabala mística está quase exclusivamente nas mãos dos
gentios e os eruditos judeus ortodoxos pouco ou nada sabem de sua
literatura e absolutamente nada de seu sentido místico .
Ninguém
disse coisas mais pesadas sobre o movimento ocultista do que eu, e se eu
pensasse que há qualquer sistema organizado de más influências, não
hesitaria em dizê-lo, pois prezo bastante a integridade do movimento; mas
não acredito honestamente que exista qualquer organização generalizada do
movimento ocultista, seja para o bem ou para o mal, qualquer que seja a
concepção de bem e mal que tenhamos. Só podemos, naturalmente, falar
daquilo que vemos, mas penso que seria impossível para mim estar tão
intimamente associada ao movimento como estive e nunca ter cruzado o seu
caminho em algum lugar. Eu cruzei muitos caminhos, e vi, não o negarei,
muitas coisas más, mas esse mal particular eu jamais testemunhei, e não
acredito que ele exista a não ser na imaginação das pessoas que vêem a
mosca azul. O verdadeiro vínculo do movimento ocultista é a devoção a um
ideal comum, mas esse ideal é alcançado por uma infinita diversidade de
caminhos, tantos quanto as vidas dos filhos dos homens .
Lamento
pela hipotética pessoa que tem a tarefa de organizar o movimento
ocultista, pois os ocultistas das diferentes escolas não podem ser
induzidos a cooperar. Toda técnica que difere da que eles utilizam é
suspeita; todo contato estranho é negro. A grande maioria dos líderes das
escolas que conheci senta-se cada qual em seu próprio círculo de luz e
amaldiçoa tudo o mais. Como a velha senhora que observava o filho
desfilar com os soldados, eles exclamam: “Estão todos em passo errado,
menos o meu João”. Eu sonhei outrora com uma federação de sociedades
ocultas com uma convenção anual, mas logo compreendi que ela era
impraticável. Se os ocultistas não podem ser convencidos a se organizar
para servirem aos seus próprios interesses, é muito improvável que eles
se organizem para servir aos de outros .
Os abusos
que mais ocorrem no ocultismo ocidental são a imoralidade, o uso de drogas
e a mistificação de mulheres estúpidas. Suas piores faltas são a
credulidade, uma cultura relaxada que raia à ignorância, e uma tolice
intelectual muito difundida. A leitura da sorte em todas as suas formas e
algumas curas espirituais espúrias constituem outra mancha sobre o que
deveria ser um campo santo. É difícil fazer justiça aos ideais que não
partilhamos, mas sempre me pareceu que o humanitarismo grandemente
colorido de que certas seções do movimento estão saturadas não é um
ornamento. “Há de conhecê-los por seus frutos.” Os frutos desse que eu vi
pareceram-me um tanto quanto passados.As mentes mais finas do ocultismo são
totalmente desconhecidas fora de suas próprias Ordens. Uma cláusula muito
comum nos juramentos de iniciação intima o candidato a não revelar os
nomes de seus companheiros. Se esse juramento fosse quebrado, o público
em geral teria uma grande surpresa. Como o ocultismo não tem uma boa
reputação para o público em geral, os homens em posições públicas não
podem permitir que os seus nomes se associem a ele; seu interesse é,
portanto, cuidadosamente dissimulado, e eles só falam disso àqueles com
cuja simpatia e discrição podem contar .
Aqueles
que sabem o que buscar, contudo, podem reconhecê-los facilmente. Todo
aquele que está acostumado com a análise do estilo literário pode detectar
o leitor habitual da Bíblia. Todo aquele que conhece os rituais
ocultistas detectará o seu aroma no estilo literário ou oratório do homem
que está habituado à sua utilização. Será que depois de tanto tempo eu
possa ser perdoada se quebrar o Juramento dos Mistérios que proíbe a
divulgação dos nomes dos iniciados e sugerir que a chave para a
controvérsia BaconShakespeare pode residir no fato de que Bacon e Shakespeare
eram membros da mesma Ordem?
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