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15 de julho de 2012

Afrodite – uma força para os novos tempos


Situada na costa sudoeste da ilha de Chipre, a maior ilha do Mar Mediterrâneo, vamos encontrar a velha cidade de Paphos, hoje conhecida como Kauklia. De acordo com a transmissão mitológica grega, foi nestas redondezas que a bela Afrodite emergiu das espumas do mar, dando início a um culto que iria perdurar até os dias de hoje.
As paragens por onde caminhou a deusa sobre a terra se tornaram conhecidas como Geroskipou, uma palavra que significa Jardins Sagrados, formado pela junção de Geros=sagrado e Kipos=jardim. A conexão entre as práticas de seu culto e as belezas naturais da região se expressa em sua nomeação como ‘Afrodite nos Jardins’ (Kipis).
Nesta sua versão oriental, Afrodite era cultuada como propiciadora de toda fertilidade animal e vegetal e, sob este aspecto, uma deusa específica das mulheres. Como deusa do impulso sexual, está na origem do nascimento, do casamento e da vida familiar.
A região de Pafos, que abrange a parte mais a oeste da ilha, caracteriza-se pela beleza de suas rochas, pelo brilho de suas verdejantes campinas e pela tranquilidade de seu mar azul, justificando sua reputação como os Jardins de Afrodite.
Nestes jardins era realizado o festival anual de Aphrodisia, em honra à deusa. Ele marcava seu nascimento em abril, exatamente no período do renascimento da natureza, após o descanso invernal. No dia anterior ao festival, os devotos de todo o mundo antigo percorriam o caminho desde os Jardins até a cidade de Palepaphos (Paphos Antiga), onde ficava a famosa Igreja de Afrodite, seu centro de culto no Chipre.
Mas seu lugar de culto e seu altar em Paphos já estavam bem estabelecidos muito tempo antes que as primeiras estruturas fossem erguidas, no final da Idade do Bronze. Vestígios de assentamentos humanos na ilha de Chipre, provavelmente tribos oriundas da Anatólia, existem desde 10 mil aec, como comprovam poços localizados a oeste da ilha, considerados os mais antigos do mundo. O hino homérico a Afrodite lhe atribui a regência sobre todas as coisas vivas na terra, no ar e na água, sua influência se estendendo até sobre os deuses.
Em Paphos, a deusa era representada por uma pedra meteórica cônica, relíquia indicativa de sua origem como a antiga deusa fenícia da fertilidade que, assimilada pelos gregos conquistadores, tornou-se a deusa grega do amor e da beleza. Suas raízes como deusa da fertilidade, contudo, permencem no mito grego, que nos relata como, ao emergir das águas e apoiar seus pés sobre a terra, ela fez a vida e a beleza irromper no mundo. Seu caráter como uma deusa da vegetação aparece claramente no culto e ritual de Adonis, derivado do culto a Átis, filho/amante/parceiro da grande deusa da Anatólia, conhecida pelo nome de Cibele.
Os mais famosos ritos de fertilidade, contudo, não se originaram na Grécia e sim nos países ribeirinhos da parte oriental do Mar Mediterrâneo. Foram os povos do Egito e da Ásia Ocidental que representaram o declínio e o ressurgimento da vida vegetal na figura do deus que anualmente morre para ser trazido à vida novamente pela grande deusa da vida e da morte. A deusa e seu filho/amante são conhecidos sob nomes diversos, como Isis e Osíris no Egito, Inanna e Dumuzi na Suméria, Ishtar e Tamuz na Babilônia, Cibele e Átis na Anatólia e, finalmente, Afrodite e Adonis na Grécia.
Assim como Afrodite Urania é a versão grega da Deusa da Montanha da Anatólia, Adonis é a versão grega de Átis, um deus da vegetação, que nasce e morre com as estações, estas representadas pelas Horas que, no mito grego, recepcionam Afrodite quando ela emerge do mar em Chipre.
Nas línguas semíticas, Adonis significa ‘Senhor’, título que os gregos, por um mal-entendido, adotaram como nome próprio para o deus.
Conta o mito grego que, um dia, a esposa do Rei de Chipre se vangloriou de que sua filha Smyrna era mais bela que a própria Afrodite. Diante do insulto, a deusa fez com que Smyrna se apaixonasse pelo próprio pai e o procurasse disfarçada e secretamente durante a noite. Grávida, ela é expulsa pelo pai que a persegue pelos campos. Para protegê-la, Afrodite a transforma em uma árvore de mirra que, ao ser partida ao meio pela espada paterna, liberta a criança Adonis. Afrodite então ocultou Adonis em uma arca, que confiou a Perséfone, a rainha dos mortos, para que a guardasse em um lugar escuro.
Curiosa, Perséfone abriu a arca e, ao se deparar com a bela criança, retirou Adonis e o criou em seu palácio, tornando-o seu amante. Ao se inteirar disto, a enciumada Afrodite requisitou Adonis para si. Para resolver o impasse, foi convocada uma corte divina que decidiu que ele ficaria um terço do ano com Perséfone, um terço do ano com Afrodite e um terço do ano ficaria por conta própria. Usando de sua magia, Afrodite conseguiu persuadi-lo de passar esse terço com ela.
Mas Perséfone foi ter com Ares para lhe contar que Afrodite agora preferia Adonis a ele que, então, se disfarçou de javali e matou Adonis diante de Afrodite. Do sangue de Adonis que penetrou na terra brotaram anêmonas, a primeira das flores a florescer na primavera. Pesarosa, Afrodite foi pedir a intervenção de Zeus, para que Adonis passasse com ela a metade ensolarada do ano, ou seja, o verão.
Vemos no mito de Adonis a eterna alternância entre verão e inverno, entre a vida e a morte da natureza e de todas as coisas vivas. É justamente esta alternância que põe em evidência a dualidade característica de toda criação humana. Se nos primórdios, esta ambivalência era inerente à figura da grande deusa, que corporificava ambos os aspectos, com a evolução da consciência humana, a totalidade da existência representada pela grande deusa foi desmembrada em suas partes constituintes.
Esse desmembramento certamente representou um processo evolutivo, caracterizado pela capacidade de discernimento da razão humana. Foi a emergência do princípio masculino, que se diferencia a partir da totalidade característica do princípio feminino primordial. Surge inicialmente como filho da grande deusa-mãe, para ela retornando sazonalmente, apenas para renascer no devido tempo. É a consciência da morte que põe a vida em perspectiva.
Como deusa da fertilidade, do amor e da beleza, Afrodite foi cultuada sem interrupção até o ano de 391 da era comum, quando o imperador romano Teodosio I proibiu as religiões pagãs. Sem os seus ritos e festivais, aos poucos seu poder e suas qualidades de fertilidade, amor e beleza foram desvirtuadas e banalizadas.
À medida que o princípio masculino foi se expandindo e assumindo o poder, o discernimento se tornou separação. E com ela surge a consciência do bem e do mal, expulsando-nos dos Jardins de Afrodite.
Afrodite representa o poder erótico, a força de atração que mantém o universo coeso. Na ausência de ritos que honram este poder divino, a beleza fundamental da própria vida foi gradualmente dessacralizada e, nas palavras de Rollo May, “a crescente banalização do amor na literatura e na arte, e o fato de o sexo ser, para muita gente, cada vez mais acessível e desprovido de significado, o ‘amor’ tornou-se progressivamente difícil, senão uma completa ilusão”. Como consequência, todos sofremos a falta de amor verdadeiro e nos tornamos incapazes de nos comprometer com ele e com o resto do mundo.
Esse processo de banalização das qualidades representadas pela deusa Afrodite é amplamente discutido pelo psicanalista Rollo May, em seu texto Eros e Repressão de 1969, e continua atual nos nossos dias tão tumultuados.
A força de atração representada por Afrodite não é um impulso da personalidade, mas emerge do fundamento do Ser e se apossa da pessoa em sua inteireza, como bem o sabemos quando nos apaixonamos verdadeiramente. Essencialmente criativa, essa força fundamental e arquetípica da experiência humana era concebida pelos antigos gregos como demoníaca, no sentido derivado do conceito de ‘daimon’ ou do latim ‘genii’. O demoníaco é nossa genialidade. É o impulso do Ser para se firmar, perpetuar e ampliar, nos libertando da dualidade e nos conectando com o divino em nós mesmos.
Mas, como qualquer força natural, pode ser destrutiva ou criativa, razão pela qual precisa ser orientada e canalizada para um objetivo, em vez de simplesmente ser reprimida até o ponto de apatia e indiferença para, com o tempo, explodir como violência. Quando lhe damos passagem livre, não levando em consideração as consequências de nossas ações na vida de outras pessoas, podemos causar muito dano. Mas quando a utilizamos com sabedoria para realizar nossos propósitos, seus efeitos construtivos se manifestarão em seu esplendor divino.
"Em sua justa proporção”, escreve May, “o demoníaco é o impulso para alcançar os outros, ampliar a vida por meio do sexo, criar, civilizar; é alegria e encantamento, ou a simples segurança de saber que somos importantes, que podemos afetar os outros, formá-los, exercer um poder significativo. É um modo de nos certificarmos de que nos dão valor.”
Reprimimos de tal forma essa força primordial, que nossos relacionamentos não passam de contatos rasos, baseados mais em aparências superficiais do que em algo profundo, aquilo que é demoníaco em cada um de nós. É preciso mergulhar nas profundezas da ambivalência, onde vida e morte estão presentes, para recuperarmos a força natural que nos conecta com a totalidade da vida. Precisamos acolher e direcionar o demoníaco em nós mesmos, para ele não se tornar algo que nos persegue e se apossa de nós.
Mais do que nunca, precisamos caminhar como Afrodite, para que cada passo que dermos desperte o amor, a paixão e a beleza da vida, de seu estado de apatia e superficialidade, fazendo a vida renascer em sua abundância. Assim criaremos Jardins de Afrodite onde quer que nos encontremos.




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